Bom senso com o
censo.
Estive hoje a analisar com algum
detalhe o censo geral da população publicado em Março de 2016. Fico com a ideia
que é um trabalho sério e responsável e reúne todas as condições para que seja
um instrumento indispensável para nortear decisões políticas assertivas,
estratégias de desenvolvimento económico com razoabilidade e um planeamento
social mais rigoroso.
Este
trabalho, que tem um carater científico, pode transformar “ideias feitas”, do discurso
político prevalecente em “situações desfeitas”, baseada na evidência que são a
teimosia dos números!
Todos
sabemos que temos uma população jovem com 65% da população com idade até aos 24
anos, num universo de 25.789.24 pessoas, das quais perto de sete milhões vivem
em Luanda.
Desvalerá
pouco continuar a debitar números, porque eles estão acessíveis a todos os
cidadãos, mas há leituras que urgem ser feitas rapidamente, e encontrarem-se
algumas soluções na sociedade angolana num momento que o tempo urge, sob pena
de perdermos o futuro!
Será que
o discurso das assimetrias e segregação social, económica e cultural do
colonialismo continuam a ter eco na generalidade dos angolanos, quando apenas
7% dos angolanos teriam entre 18 e 21 anos à data de 11 de Novembro de 1975?
Quantos se lembram do enfático 4 de Fevereiro, ou do 15 de Março de 1961?
Com base
neste trabalho pergunto quantas pessoas se lembram da transição de poderes do
falecido presidente Agostinho Neto para José Eduardo dos Santos num cada vez
mais longínquo 1979? Quantas pessoas têm presente a institucionalização da
democracia pelo “decreto” que determinou o desaparecimento da sociedade
socialista de partido único? A própria guerra contra a UNITA já começa a entrar
no “esquecimento” das pessoas, e por isso hoje, eventuais sacrifícios pedidos
são mal compreendidos, o que não deixa de ser de todo natural.
A
própria UNITA, ou o seu sucedâneo CASA, também não conseguem que as pessoas se
lembrem do que foi politicamente Jonas Savimbi, porque quando ele morreu metade
da população do País ainda não tinha 12 anos! Isto é mau para a oposição, mas
também não é bom para os dirigentes do MPLA, a quem daria sempre um certo jeito
ter um inimigo externo, ou interno, para que assacasse com as culpas de muita
situação mal gerida e inapropriadas decisões na gestão da coisa pública.
Pode-se dizer
que a história transmite-se de umas gerações para outras, e que o facto da
pessoa não ter vivido determinado momento, não quer dizer que não saiba o que
aconteceu, nem que o valorize! Mas aqui também há muito pouco trabalho, de
divulgação de tudo que aconteceu em Angola nos últimos cem anos, e a própria
“história” recente de Angola é descrita um pouco de forma panfletária, e deixa
pairar muitas dúvidas e desconfianças justificáveis nas gerações mais novas.
O censo
evidencia números preocupantes sobre um conjunto de situações que o discurso
oficial tenta ignorar, nomeadamente no que concerne à esperança de vida dos
angolanos, situações de desemprego, condições de salubridade das habitações e
outras.
Obviamente
que este trabalho também reflete algum esforço que o executivo foi fazendo ao
longo dos anos no sentido de melhorar alguns números, nomeadamente os valores
da população alfabetizada e também a percentagem de homens e mulheres que
frequentaram o ensino médio nas diferentes províncias do País, e outros que
demonstram à saciedade que parte do caminho fez-se caminhando, e há números que
refletem esperança no futuro, se não se teimar trilhar caminhos que se
revelaram tortuosos ou sem rumo certo!
O que
ressalta disto tudo é a certeza que a Republica de Angola, nas suas amplas
diversidades tem necessidade de olhar para o futuro com respostas cabais,
porque cada vez se vê menos uma população remetida à sua condição de mera
assistente. É aliás desejável que seja assim, porque uma população jovem e
pouco exigente torna-se amorfa, e disponível para ser manobrada para propostas
de transformação politica, social e económica que redundam a maiorias das vezes
em “aventureirismo oportunizável”!
O
exercício do poder tem obrigação de dar cada vez mais respostas, porque as
pessoas com cada vez mais formação e maior informação assim o exigem. O
silêncio, as frases feitas, o panfletário, já não colhem no momento de
“afogadilho” económico e a desconfiança é crescente nas instituições do Estado,
o que leva a desacreditar a democracia que ainda dá tímidos e pouco resolutos
passos no nosso País.
Para Max Weber o Estado
Moderno era uma manifestação do movimento de racionalização da civilização
moderna. Tratava-se, portanto, da materialização de uma estrutura burocrática,
fundamentada em regras juridicamente estabelecidas e de poderes específicos
independentes: Executivo, Legislativo e Judiciário.
Pegue-se em Weber, trabalhem-se os dados
do censo e haja bom senso que talvez renasça uma esperança que se vai teimando
em manter à tona, mas com evidentes dificuldades de permeio!
Fernando Pereira
15/6/2016
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