14 de fevereiro de 2018

A vingança do selo./ O Interior/ Guarda/ 8-2-2018



A vingança do selo.
Vinte e alguns anos depois vejo abrir serviços noticiosos sobre a indignação de políticos e gentes da capital da macrocefalia por causa do encerramento das estações do CTT.
                Entre alguns indignados vi a sempre determinada Catarina Martins a juntar-se a uns populares porque os CTTs decidiram encerrar a estação da Rua da Palma em Lisboa, precisamente ao lado da sede do Bloco de Esquerda. Tarde piaste!
                Pediram-me para assinar uma petição para a nacionalização dos CTTs e eu disse liminarmente que não. Fi-lo há vinte anos quando era publico, agora é tarde!
                Confesso que me dá algum gozo ver fechar em Lisboa coisas que no interior, e no caso na aldeia onde vivo, os serviços dos CTTs há quase vinte anos, e ninguém se importou com isso.
                A malta de Lisboa entretém-se com coisas bem mais importantes de certeza, para não terem dado conta de tudo isto. Estou pesaroso por terem sido apanhados de surpresa! Enfim!
                A estratégia de encerramento de balcões dos CTT é um processo que já vem de há muito, é transversal a um conjunto de governos e faz parte do pacote que Bruxelas exigiu a Portugal privatizar nos termos da adesão à União Europeia. Digam as coisas sem subterfúgios, que a malta entende!
                Esta irritação dos tipos das cidades de Lisboa e Porto por ficarem sem o seu balcão, que nem selos vende, é só uma pequena “vingançazinha” pelo facto de estarem a passar pelo mesmo que pessoas em centenas de povoações do interior passaram, quando viram impotentes encerrar sem justificação o balcão, que era fundamental para o seu quotidiano de uma vida dura, difícil e longe dos holofotes das Tvs e microfones das rádios.
                Confesso que me estou perfeitamente borrifando para que fechem os balcões de Lisboa, ou Porto, e talvez numa linguagem quase brechtiana me apetece dizer: “Que me importa, eu nem lá vivo”!
                Hipocrisia quanto baste, porque de facto o esbulho do que foram alvo empresas publicas e determinantes no desenvolvimento do País, que foram liminarmente desbaratadas e entregues aos privados que ficaram com os serviços que lhe convinham, ou melhor que interessavam aos acionistas sem rosto, e levou a que hoje se esteja completamente à mercê da agiotagem económica do capital, que recruta os seus sipaios e capatazes entre os ex-governantes do País. Estes governantes por acaso são curiosamente os mesmos que trataram de dividir as empresas, empurrar trabalhadores para reformas antecipadas, descapitalizá-las e por fim privatiza-las, com o argumento fátuo de que o sector publico não tem condições para gerir uma estrutura deste tipo!
                Não assino mais petições nenhumas e quero é que os CTTs não me percam mais encomendas. Se querem nacionalizar os CTTs façam-no, ao mesmo tempo de muita empresa que arruinou um interior que vai morrendo, e onde apenas sobrevivem aldeias vazias onde de meia em meia hora umas vuvuzelas roufenhas instaladas nas torres sineiras vão debitando “avés marias” e “pai-nossos” (não são padre-nossos que esses também já se piraram) para rigorosamente quase ninguém.
                Por este atentado ao direito que todos têm ao silencio assino a petição! O resto olhem vão para a REN que os parta!
Fernando Pereira
1/2/2018


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