A vingança do selo.
Vinte e alguns anos depois vejo
abrir serviços noticiosos sobre a indignação de políticos e gentes da capital
da macrocefalia por causa do encerramento das estações do CTT.
Entre
alguns indignados vi a sempre determinada Catarina Martins a juntar-se a uns
populares porque os CTTs decidiram encerrar a estação da Rua da Palma em
Lisboa, precisamente ao lado da sede do Bloco de Esquerda. Tarde piaste!
Pediram-me
para assinar uma petição para a nacionalização dos CTTs e eu disse liminarmente
que não. Fi-lo há vinte anos quando era publico, agora é tarde!
Confesso
que me dá algum gozo ver fechar em Lisboa coisas que no interior, e no caso na
aldeia onde vivo, os serviços dos CTTs há quase vinte anos, e ninguém se
importou com isso.
A malta
de Lisboa entretém-se com coisas bem mais importantes de certeza, para não
terem dado conta de tudo isto. Estou pesaroso por terem sido apanhados de
surpresa! Enfim!
A
estratégia de encerramento de balcões dos CTT é um processo que já vem de há
muito, é transversal a um conjunto de governos e faz parte do pacote que
Bruxelas exigiu a Portugal privatizar nos termos da adesão à União Europeia.
Digam as coisas sem subterfúgios, que a malta entende!
Esta
irritação dos tipos das cidades de Lisboa e Porto por ficarem sem o seu balcão,
que nem selos vende, é só uma pequena “vingançazinha” pelo facto de estarem a
passar pelo mesmo que pessoas em centenas de povoações do interior passaram,
quando viram impotentes encerrar sem justificação o balcão, que era fundamental
para o seu quotidiano de uma vida dura, difícil e longe dos holofotes das Tvs e
microfones das rádios.
Confesso
que me estou perfeitamente borrifando para que fechem os balcões de Lisboa, ou
Porto, e talvez numa linguagem quase brechtiana me apetece dizer: “Que me
importa, eu nem lá vivo”!
Hipocrisia
quanto baste, porque de facto o esbulho do que foram alvo empresas publicas e
determinantes no desenvolvimento do País, que foram liminarmente desbaratadas e
entregues aos privados que ficaram com os serviços que lhe convinham, ou melhor
que interessavam aos acionistas sem rosto, e levou a que hoje se esteja
completamente à mercê da agiotagem económica do capital, que recruta os seus
sipaios e capatazes entre os ex-governantes do País. Estes governantes por
acaso são curiosamente os mesmos que trataram de dividir as empresas, empurrar
trabalhadores para reformas antecipadas, descapitalizá-las e por fim privatiza-las,
com o argumento fátuo de que o sector publico não tem condições para gerir uma
estrutura deste tipo!
Não
assino mais petições nenhumas e quero é que os CTTs não me percam mais
encomendas. Se querem nacionalizar os CTTs façam-no, ao mesmo tempo de muita
empresa que arruinou um interior que vai morrendo, e onde apenas sobrevivem
aldeias vazias onde de meia em meia hora umas vuvuzelas roufenhas instaladas
nas torres sineiras vão debitando “avés marias” e “pai-nossos” (não são
padre-nossos que esses também já se piraram) para rigorosamente quase ninguém.
Por este
atentado ao direito que todos têm ao silencio assino a petição! O resto olhem
vão para a REN que os parta!
Fernando Pereira
1/2/2018