O Internacionalismo
Olimpico
Há quase cinquenta anos que
assisto a cerimónias de aberturas dos Jogos Olímpicos, e em cada quadriénio
tento comparar umas e outras com a mais recente.
No
fim-de-semana assisti à cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos do Rio de
Janeiro, corolário de uma vitória da persistência do Presidente Lula da Silva
há sete anos, que não merecia tamanha vilania ao ver um fantoche golpista abrir
os jogos, debaixo de uma monumental vaia, algo jamais visto desde 1896.
Temer
merece isso e muito mais, porque as golpaças em democracia tem que ter
consequências agravadas, para os que querem subverter a legitimidade
constitucional, albardados em expedientes miseráveis e soezes. A assobiadela
que “aplaudiu” a sua intervenção deixou-me muito contente, e como diria João
Ubaldo Ribeiro ao titular a sua obra-prima de contos: “Viva o Povo Brasileiro”!
Gostei
da sobriedade da abertura dos Jogos Olímpicos do Brasil, do seu extraordinário
compromisso com o passado da sua história, da passagem da sua afirmação de
ritmos musicais, a referência descomplexada da miscigenação de culturas de
povos de origens tão díspares e sobretudo adorei as mensagens que foram sendo
transmitidas com a simplicidade e a alegria que os brasileiros são capazes de
dar. Gostei de ver um dos meus heróis da adolescência, o queniano Kipchoge
'Kip' Keino, que recebeu, e muito justificadamente o primeiro laurel olímpico,
galardão criado pelo COI para homenagear alguém que encarne os valores do ideal
olímpico.
É fácil
entender que o interesse pela competição desportiva aumenta, dum modo
particularmente agudo, por ocasião dos Jogos Olímpicos. A sua periocidade
quadrienal e demais características tradicionais, bem com o a presença da
totalidade dos países do mundo, faz deles a competição desportiva de
excelência.
Resolvi
folhear “As bases filosóficas do Olimpismo moderno”, o texto de Pierre de
Coubertin (fundador do movimento Olímpico e o pioneiro dos Jogos Olímpicos da
Era Moderna) que autentica os valores dos jogos Olímpicos, e que poderiam
inserir-se na defesa dos direitos fundamentais do Homem. Não só porque o
desporto-prática proporciona ao praticante inegáveis benefícios de ordem
fisiológica, psicológica, de integração social e ainda de expressão e
comunicação, mas porque as exigências do desporto-prática abraça mutações
pronunciadas ao nível das estruturas sociais, económicas e políticas injustas.
Entre
várias considerações sobre o olimpismo, e que seria fastidioso estar aqui a
referir, apesar de se revestirem do maior interesse, recordo algo que ele vai
formulando ao longo do texto: “Para que cem se dediquem á cultura física, é
preciso que cinquenta façam desporto; para que vinte se especializem, é preciso
que cinco sejam capazes de proezas espantosas”. E prossegue: “Mas ser uma elite
não chega; é preciso que essa elite seja uma cavalaria. Os cavaleiros são,
antes de tudo, irmãos de armas, homens corajosos, enérgicos, unidos por um
vínculo mais forte que a simples camaradagem, já tão poderoso por si próprio; à
ideia de ajuda mútua, base da camaradagem sobrepõe-se no cavaleiro a ideia da
concorrência, de esforço, oposto ao esforço por amor do esforço, de luta cortês
e no entanto violenta”.
Acho que vão ser uns bons Jogos
Olímpicos e o Brasil merece que o sejam
Vivam
os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro 2016!
Fernando Pereira
7/8/2016