12 de julho de 2009

Mas o pormenor mais suBreal…

Artigo retirado do blogue “subreal” de nome Aerograma
e de autor expatriado, além de “abuamado”  com a
versatilidade dos “dicúlos” da “banda” que o acolhe
e recolhe sem complexos nos amplexos dos kandandos.
 
Posted by Toke
Toke_Seixas_anim
 
 
 
 
 
 
 
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3 11 2008

Afonso Loureiro

Angola é um país de contrastes a todos os níveis. No meio da miséria vemos sorrisos abertos e crianças a dançar, ouvimos música e risadas. Por entre as valas, onde escorre o que já ninguém aproveita, há quem retire o seu sustento. No meio dos candongueiros ferrugentos surge um carro de vidros fumados e muitos cromados, pago a pronto em dólares. Na anarquia que é o trânsito, os semáforos são obedecidos e as passadeiras, largamente ignoradas, passam a ser respeitadas sempre que alguém estende a mão de fora da janela – crianças a atravessar!

Mas o pormenor mais surreal que encontrei até agora, é um programa de rádio inesperado. Na rádio Luanda Antena Comercial, há sete anos que é emitido um programa de uma hora semanal dedicado, imagine-se, aos Beatles! Um programa com sete anos é uma raridade em qualquer parte do mundo, especialmente com um tema tão específico. O certo é que, mesmo depois de esgotarem o reportório do quarteto várias vezes, agora passam gravações pouco conhecidas, concertos ao vivo e reportagem acerca dos Beatles todos os Sábados, das 18h às 19h.

O indicativo do programa é um excerto do Yellow Submarine e o programa tem o curioso nome de O Submarino Angolano.

Esta terra, definitivamente, não pára de me surpreender.

   Fim de citação.

;)

O Dia dos Prodígios (II)/ Ágora/ Novo Jornal/ Luanda 10-7-09




Na madrugada de 6 de Junho de 1944, por cima das nuvens ouviam-se o roncar de centenas de aviões, que levavam a primeira leva de pára-quedistas, e ao raiar do dia começam a encher-se os batelões que iam colocar os soldados nas praias.
Dos navios divisava-se mal a linha de costa, e só quando os primeiros batelões chegaram à praia, é que o ribombar da artilharia pesada alemã e as sirenes se começaram a sentir. A um ritmo frenético desembarcava-se gente, e veículos na praia de Omaha, onde se afigurava ser o local mais difícil, pois era uma praia escarpada, com falésias altas e defendida com uma bateria de canhões, e muito dependente de um bom trabalho de sapadores, que tinham de se aproximar perigosamente das trincheiras alemãs.
Eduardo, que há oito dias deixara de sentir as pernas, e com a cabeça à roda, chega à praia numa das últimas levas, com a praia já pejada de corpos, e numa altura em que a resistência alemã começava a fraquejar. Como não se aguentava muito nas pernas, agarrou-se a uns toros de madeira no areal, que acabaram por servir de resguardo perante o conjunto de explosões que se iam sucedendo ao longo da praia, onde um tenente de forma temerária, berrava para que só os “feridos e os mortos” ficassem na areia.
No dia anterior, Ed e alguns dos seus colegas mais próximos trocaram algumas coisas pessoais, para no caso de algum deles tombar, os outros levassem à sua família, em sinal de “qualquer coisa que nem nós próprios, sabíamos o porquê”, segundo esta sua interessante e imorredoira descrição.
Eduardo foi rendido dois dias depois numa vilazinha que me deslembro o nome, cinquenta Kms depois de Omaha, o verdadeiro cemitério das tropas aliadas, onde faleceram 4.500 soldados, e onde o famoso Patton gritava a plenos pulmões: “Façam das tripas dos alemães óleo para as lagartas dos tanques, com que os iremos derrotar”.
Passado um ano foi desmobilizado, e durante um mês e meio andou pelos EUA a levar pequenas coisas aos familiares de seus três colegas mortos em Omaha Beach, tendo-me dito de forma peremptória que foi a parte mais pungente de toda a guerra.
Quando há quinze anos visitou Omaha, a sua comoção foi tão grande que teve que ser observado num hospital próximo, prometendo nunca mais lá voltar.
Instado por mim a comentar o filme “The Longest Day”, baseado no testemunho do jornalista Cornellius Ryan, Ed disse que só no filme, que contém partes filmadas na própria batalha, se deu conta da imensidão dos meios envolvidos, porque “de facto naquele dia todos se sentiram sozinhos em cada momento do dia em que durou aquele inferno”.
Convém esclarecer que ainda hoje, esta invasão da Normandia é um golpe de enorme audácia militar de Dwight Eisenhower, contrariando o inglês Montgomery e o seu conterrâneo Patton, sobre os locais desembarque, e a estratégia inicial da ofensiva terrestre.
Há uma imensidão de livros, filmes, documentários, depoimentos, e outros documentos sobre a segunda guerra, mas não deixa de ser interessante o livro “A Europa em Guerra” ,1939-1945, de Norman Davies, editado pelas Edições 70, em que o autor descreve de forma descomprometida a guerra, o que pouco ou nada se escreveu sobre a guerra na Europa, pois eram alguns factos que não interessavam a historiografia dos vencedores, ou pelo menos não lhe foi dada grande importância, pois também não os glorificavam. Interessante obra!
Um pouco à margem disto, louva-se aqui mais uma posição corajosa do governo espanhol de Luis Zapatero, ao introduzir na “lei da memória histórica” a possibilidade de todos os sobreviventes da guerra civil que fizeram parte das brigadas internacionais, estrangeiros que combateram ao lado dos republicanos na Guerra Civil de Espanha, tenham direito à nacionalidade espanhola, tendo sido dada ordem para que todos os consulados espanhóis no mundo disponibilizem passaportes espanhóis a todos os que o requeiram.
Uma justíssima homenagem!
Fernando Pereira
7/06/09
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