14 de março de 2013

“E Depois do Adeus” / O Interior/ 14-3-2012




“E Depois do Adeus”
Na RTP, o tal canal de “serviço publico”, aos domingos roda uma série sobre a vida dos muitos, que em 1975 abandonaram as colónias portuguesas e regressaram de forma intempestiva a Portugal.
A série, “E depois do Adeus” excluindo os tiques normais de qualquer historieta, que precise de clichés que agarrem audiências tenta de uma forma canhestra dar a imagem caótica de um PREC, em que os maus são as gentes do MFA, os militares do 25 de Abril de 1974 e os trabalhadores que à tentativa de boicote económico por parte de patrões resolveram tomar nas suas mãos o destino de fábricas, bancos, empresas e campos que se perpetuavam no abandono.
Eu comecei a ver a série, na expectativa de poder assistir a um conjunto de episódios romanceados que evidenciassem uma realidade que alguns de nós viveram muito de perto, de forma voluntariosa e militante e que não tem nada a ver com este “pastelão”, uma mistura de “Noivo das Caldas” com o “Grande Elias” e um pouco de “Revolução de Maio” para condimentar ideologicamente a novela.
Naturalmente com a plêiade de “guionistas” que arranjaram era pouco expectável que fosse melhor que isto, mas realmente fico estupefacto quando vejo na série que quem conduziu o processo revolucionário foi o MRPP, onde ao tempo andava o Franquelim, o Barroso, Lamego e outra gente que hoje se passeia nos antípodas das convicções (ou eram as mesmas, ainda que travestidas?). As imagens são de um país a ferro e fogo, o que efetivamente só sucedeu quando Carlucci e Soares resolveram congeminar a estratégia para que Portugal chegasse ao século XXI com uma significativa percentagem de pessoas a aspirar ter um Salazar que os ponha na ordem. Não recomendável opção por muito má que alguns tornem a democracia!
A RTP poderia ter “agarrado” no excelente livro de Dulce Maria Cardoso “ O retorno”, que apesar de algumas reservas ideológicas acho um livro muito bem escrito e contextualizado num tempo em que se desejava que cada dia fosse diferentemente melhor que o anterior. Não o fez, e num horário nobre faz-nos entrar pela casa dentro uma “cabotinice” que não consegue alinhar com a história, de um tempo que passou e que se viveu com todo o entusiasmo e empenho que tínhamos para dar.
Na Guarda a chegada dos “retornados” das ex-colónias foi talvez o facto mais marcante da região nos últimos cinquenta anos e assistimos às alterações do quotidiano desde a cidade capital à mais recôndita aldeia do distrito. Para além do inevitável choque de mentalidades revitalizou-se a economia local e desenvolveram-se novos hábitos que em determinada altura se miscigenaram, com uma realidade muito próxima da hegemonia do púlpito e na esfera dos poderosos de cada terra, sustentáculos ideológicos e económicos do bafio salazarento.
Inicialmente vistos com desconfiança foram sendo integrados e durante alguns anos foram-se paulatinamente atenuando as divergências e as desconfianças entre os que por cá penaram e os que cá aterraram e aos seus lugares se devolveram.
Politicamente foram aproveitados pelas forças políticas de direita, e o ódio permanente aos partidos de esquerda nomeadamente ao PCP foram por demais evidentes. Naturalmente que uma força de quatrocentos mil votantes novos no País inclinou claramente a tendência do poder que se tem mantido desde o “Noutembro” de 1975.
Quando assistimos ao progressivo definhar do interior, ao cada vez maior distanciamento das pessoas à prática política obrigamo-nos a refletir se merecemos que certa gente nos governe, sem que haja uma clara objeção de consciência para que muitas das suas desacertadas decisões não sejam acatadas, porque não é a democracia que está a mais são pessoas que não merecem a democracia onde se insinuam e aninham perante a nossa indiferença e silencio.
Fernando Pereira
11/3/2013
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