25 de agosto de 2008

A Morte e Quase!


Desgostosamente dou-me conta de uma série de eventos, que ocorreram neste Agosto em campanha.
Morreu Dorival Caymmi, um baiano nado em 1914, que fez muito boa musica, trauteada por várias gerações. Músicas como “Que é que a baiana tem”, “Modinha para Gabriela”, imortalizarem um homem que fazia o culto do fruir a vida na sua plenitude. Grande companheiro de Jorge Amado, juntos os maiores divulgadores de uma Baia de uma garridice inigualável.
Recordo aqui um episódio de Dorival Caymmi na sua passagem por Angola em 1979, integrado numa enorme delegação de músicos brasileiros, donde saiu a imortal “Morena de Angola” do Chico Buarque. No decorrer da digressão pelo País, o governador de Benguela, ao tempo Dino Matross, ofereceu um almoço na Catumbela, numa bonita casa hoje em ruínas, no morro sobranceiro ao rio, na ex-casa de visita da administração do Cassequel. Como sempre foi normal nestas ocasiões, e perpetuamente permanecem, os angolanos convidados resolveram vestir-se com o desconfortável fato e gravata; A comitiva brasileira, também usou alguma sobriedade nas vestimentas, de forma a não melindrar os anfitriões, mas Dorival Caymmi, ao tempo já com uma provecta idade, entrou com uns calções, uma t-shirt cavada e umas chinelinhas de enfiar o dedo, e não mostrando qualquer embaraço, disse logo a todos:” Desculpem a vestimenta, mas não sabia que era uma coisa tão informal”.
Com a sua morte e a de Tom Jobim, ocorrida há anos, fica a musica brasileira mais pobre, sobrando João Gilberto, um baiano que teima em continuar a cantar encantadoramente.
Outra notícia, prende-se com o estado terminal de saúde do Paul Newman, um dos mais brilhantes e talentosos actores de Hollywood, protagonista de filmes notáveis como “Gata em telhado de zinco quente”, onde contracena com uma fulgurante Elizabeth Taylor, “Corações na Penumbra” também de Richard Brooks, e também numa adaptação notável de um texto de Tennesse Williams, “ A cortina rasgada” de Hitchcock e a “Golpada” de George Roy Hill, “ A Cor do dinheiro”, e tantos outros filmes.
Com um cancro nos pulmões, com prognóstico reservadíssimo, este octogenário (n.1925), foi nomeado para os Óscares sete vezes desde 1959, mas só recebeu a estatueta de ouro em 1986, à giza de homenagem, o que o levou a não estar presente, com um argumento curioso: “a sensação de receber esse Óscar era idêntica à de alcançar uma mulher que se perseguiu durante 80 anos”.
Paul Newman é um actor coerente, e um cidadão de causas, e nunca dissociou uma coisa da outra. O cinema quis fazer dele um sex symbol, mas ele sempre rejeitou, o que o star system da industria do cinema pretendia, num braço de ferro que lhe valeu algumas contrariedades, mas a forma assertiva da sua vida cobriu-o de respeito.
Uma vez uma amiga, numa conversa sobre Paul Newman citou uma frase, de que me deslembro o autor, que dizia exactamente isto, e que sintetizava a sua enorme vida vivida: Nunca conheci nenhuma mulher que não amasse profundamente Paul Newman e nenhum homem que não amasse superficialmente Marilyn Monroe.
Duas lições de vida que vão ficar!

Fernando Pereira
18/08/08
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