14 de dezembro de 2012

Há mais mundo (II) /Ágora/ Novo Jornal nº256/ Luanda 14-12-2012



Os próximos anos vão determinar se as opções dos nossos filhos serão maiores ou menores. Temos hoje um manancial de informação que qualquer geração anterior sonhou ter sobre as interações entre a população, os recursos e o desenvolvimento. Dispomos de base para agir. O combate definitivo tem que passar por tomar medidas decisivas para combater a pobreza, o crescimento populacional e proteger o ambiente.
Há três décadas havia um indício que o ritmo da população estaria a abrandar em todo o mundo excetuando a África e o Sul da Ásia. Então foi estimado que até final do século XXI a população estabilizaria nos 10,2 mil milhões de pessoas.
Hoje a situação é bem menos prometedora. Os progressos na baixa da natalidade foram mais lentos do que se esperava, pelo que as Nações Unidas já acham 11 mil milhões de pessoas a estimativa otimista, falando-se já nos 14 mil milhões, caso não resultem os planos que visem a redução de fertilidade, que continuam longe do projetado. A título de exemplo, em quinze países, treze dos quais em África, as taxas de natalidade cresceram na última década; nesta amostra houve vinte e três países, com grandes campanhas de fertilidade a taxa de natalidade caiu apenas menos de dois por cento.
Atualmente, o nosso planeta tem “só” sete biliões de seres humanos, dos quais mais de mil milhões vivem na pobreza mais aviltante. A pergunta que urge colocar é o que fazer para estancar esta “hemorragia” que vive ao nosso lado?
O impacto do Homem já foi bastante para degradar o solo de milhões de hectares, pôr em risco manchas de florestas tropicais, milhares de espécies que nelas vivem, reduzir a camada de ozono e criar um aquecimento global cujas consequências vamos ignorando deliberadamente.
Os “mil milhões do topo”, os que vivem nos países industrializados, são responsáveis pela maior parte dos recursos utilizados e dos desperdícios gerados. Esses países são esmagadoramente responsáveis pelos danos na camada de ozono e pela acidificação, bem como por cerca de dois terços do aquecimento global.
Contudo, nos países em desenvolvimento o efeito combinado da pobreza e do crescimento populacional desses “últimos mil milhões” afeta o ambiente nalguns dos domínios mais sensíveis, provocando nomeadamente a continuada desflorestação e concomitante degradação progressiva dos solos.
Restabelecer o equilíbrio exige ações em três grandes áreas:
1º- Todos os países, mas em especial aqueles que albergam o quarto mais rico da população mundial, devem optar por tecnologias mais limpas, pela suficiência alimentar e pela conservação dos recursos.
2º-Combate sem tréguas à pobreza.
3º-Redução da taxa global do crescimento populacional.
A qualidade de vida humana é inseparável da qualidade do ambiente. Torna-se cada vez mais claro que ambas são inseparáveis da questão do número e concentração de pessoas. Uma das lições a reter de duas últimas décadas de trabalho no domínio da população é a de que os investimentos no desenvolvimento dos recursos humanos (melhoria da condição feminina, no acesso à educação, na saúde e nos meios de planeamento familiar, por exemplo) não só melhoram a qualidade de vida como também constituem a maneira mais rápida de reduzir as taxas de crescimento populacional. Abrindo opções no presente, fazem-no também para o futuro.
O investimento em recursos humanos propicia uma base sólida de rápido desenvolvimento económico, e pode ter consequências significativas na crise ambiental. É essencial para a segurança global. No entanto, num passado recente, a este tipo de investimento tem sido atribuída menor prioridade do que à despesas militares ou com a industria ou agricultura.
É altura de definir nova escala de prioridades: não existe mais nenhuma área de desenvolvimento em que o investimento possa dar maior contribuição para as opções e qualidade de vida, tanto atuais como futuras.
Fernando Pereira
5/12/2012


Há mais mundo (I) / Ágora / Novo Jornal nº255/ Luanda 7-12-2012




«Não sou suficientemente jovem para saber tudo.»
James Matthew Barrie (1860-1937)
A década que vivemos vai ser crítica. As opções dos próximos dez anos vão determinar o ritmo do crescimento populacional durante grande parte da primeira metade do século XXI; vão decidir se a população mundial triplicará ou apenas duplicará, antes de deixar de crescer. Vão determinar uma aceleração ou abrandamento do ritmo de destruição do ambiente.
Esta década por razões diversas vai decidir a fisionomia do que resta do seculo XXI e pode decidir o futuro da terra como lar da humanidade.
A população atual é de sete biliões (31 de Outubro de 2011) aumentam em média três pessoas em cada três segundos-cerca de um quarto de milhão por dia. Na atual década em cada ano estima-se que haverá mais 100 milhões de pessoas, mais ou menos a população da Europa Oriental ou da América Central ou seja mais mil milhões de pessoas, toda uma China durante a década.
Os maiores aumentos verificar-se-ão na Asia meridional e em África. O Sul da Ásia, que tem quase um quarto da população mundial, será responsável por 31 por cento do crescimento total até ao final do século e a África, que atualmente tem 12 por cento da população mundial, será responsável por 23 por cento desse mesmo crescimento. Em contrapartida o Leste da Ásia, que tem 25 por cento da atual população do mundo apenas contribuirá com 17 por cento do aumento global previsto. Da mesma forma aos países denominados desenvolvidos, Europa, Rússia e todas antigas repúblicas da ex-URSS, América do Norte e Japão representam 23 por cento da atual população do mundo e terão um aumento previsível de 6 por cento.
O problema persiste nos países de menores recursos, ou o inapropriadamente chamado de países pobres, os maiores aumentos serão aí refletidos, sendo os menos apetrechados para investir no futuro e fazer face às necessidades dos que irão nascer.
Se tivermos em conta que na última década a produção de cereais per-capita diminui em 51 países em desenvolvimento e aumentou apenas em 43 aliado ao facto do número total de pessoas mal nutridas passou de 512 milhões para 532 milhões ficamos com uma ideia perfeita do cenário terrível com que somos confrontados no nosso quotidiano global.
O número total de crianças analfabetas subiu de 300 milhões no início do século para 315 milhões atualmente, números pouco rigorosos e talvez a pecarem por defeito. O número de analfabetos subiu de 889 milhões no dealbar do século para quase um bilião. O número de pessoas sem instalações sanitárias de qualquer tipo passou de 1750 milhões para os 2.000.000 de pessoas.
Isto é sobejamente preocupante quando se assiste à globalização da informação com um acesso permanente a um aparecimento continuado de novas tecnologias e evoluções nos últimos cinco anos superiores a tudo que foi desenvolvido até então.
Registam-se sólidos progressos no domínio da saúde, educação e nutrição. A fertilidade e a dimensão das famílias diminuíram. Nas ultima década aumentou substancialmente o planeamento familiar e o de governos que o apoiam. Mas nos países e regiões mais vulneráveis, o crescimento populacional abafou os progressos realizados.
Esse crescimento tem vindo a desgastar o próprio planeta. O rápido aumento da população nos “países pobres” já começou a provocar alterações danosas irreversíveis no ambiente. Não estaremos longe de que se atinjam níveis críticos nalgumas regiões da Terra. São evidente o desmesurado crescimento dos centros urbanos, a degradação acelerada dos recursos terrestres e hídricos, a desflorestação mássica e o aumento dos chamados “gases com efeito de estufa”.
A falta de medidas que acautelassem a situação que prevalece em muitos casos com caracter de irreversibilidade levou a que situações já sejam irreversíveis. As decisões dos nossos predecessores tornaram pequeno o leque de opções que se oferecem à geração atual. A nossa gama de escolhas, como indivíduos ou nações, é não só mais estreita como também mais difícil.
(CONTINUA NO PRÓXIMO NUMERO)
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