30 de agosto de 2008

O MEU MERCEDES É MAIOR QUE O TEU/ ÁGORA/ NOVO JORNAL/lUANDA /29-8-08





O MEU MERCEDES É MAIOR QUE O TEU

Decidi apropriar-me deste título, de um livro magnífico, do poeta Nkem Nwankwo, que com Wole Soyinka, Chinus Achebe, Amos Tutuola, Ken Saro-Wiwa e Ciprian Ekwensi, constituem o conjunto dos mais conhecidos poetas da literatura nigeriana.
Aproveitei este título, porque era apelativo e muito identificado com o quadro de valores na sociedade angolana actual, para além de ser um notável romance, para chamar à atenção para um artigo que nada tem de roncos de motores.
Este livro era um dos títulos de uma excelente colecção, “Vozes de África”, editado pelo INALD, que ao nível da edição, conseguiu com a União de Escritores Angolanos colocar Angola na dianteira no continente africano no fim dos anos 70, na esteira do prémio da UNESCO atribuído ao País em 1978, pelo esforço na tentativa de erradicar o analfabetismo.
A colecção “Vozes de África”deu a conhecer ao leitor angolano, autores que anos mais tarde foram prémios Nobel, e estou a recordar Soyinka e Nadine Gordimer por exemplo, mas também outros como Diop, Béti, Gabriel Okara, Worku, Henri Lopes, Mongo Beti, entre muitos, e que foram surpresas bem agradáveis.
Nesta passagem pela edição do livro no dealbar da Angola independente, não podemos ignorar a colecção das “Vozes da América Latina”, onde lemos autores como Alejo Carpentier, o “Nobelado” Miguel Anjel Astúrias, Juan Rulfo, Augusto Roa Bastos, e a outros fiquei a conhecer e a admirar.
O INALD ainda promoveu algumas colecções de livros juvenis africanos, nomeadamente a “Colecção Grande Sol”, e também um grande enfoque aos livros infantis e infanto-juvenis, com edições excelentes e graficamente apelativas para as crianças.
A União de Escritores Angolanos, conseguiu editar praticamente tudo que havia da literatura angolana, que naturalmente tinha um espaço limitado na Angola colonial. A UEA foi um instrumento determinante no emergir de novos valores nas letras angolanas, e que hoje tem uma expressão de grande notoriedade nas letras lusófonas.
Há alguns críticos desse período, afirmando que a UEA publicava “autores menores”, mas não é despiciente a qualidade de muitos que debutaram na escrita, pelo facto de terem uma instituição que apoiava e estimulava a criação literária, algo que continua a ser feito hoje.
No conto, no romance, na biografia, na história, no ensaio, a UEA deu-nos a possibilidade de conhecermos o país, as suas múltiplas idiossincrasias, e acima de tudo de ter sido o “espólio” de tanta história que se perderia inevitavelmente, pelas sucessivas levas de valores vividos e desvividos.
Para tantos que esquecem que o trabalho do intelectual é inerente ao desenvolvimento de um país, é salutar lembrar que a UEA, o INALD e o Ministério da Educação fizeram um esforço tremendo para que as letras angolanas chegassem a todo o País, num esforço que hoje é algo esquecido pela voragem do betão, do vidro fosco e da negociata.
Talvez mesmo por essa ordem de razões, me lembrei que “O meu Mercedes é maior que o teu”!
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