19 de setembro de 2008

Martin Luther King/ Ágora/ Novo Jornal/ Luanda/ 20-9-09





Martin Luther King

Foi no passado dia 4 de Abril que fez quarenta anos, em Memphis, estado do Tennessee, que Marthin Luther King foi cobardemente assassinado, num cenário de grande efervescência racial, nos EUA, principalmente nas cidades do Sul, onde o segregacionismo racial era vincadíssimo, apesar de se ter passado um século da abolição da escravatura, e cento e oitenta anos da ratificação da constituição americana.
Em 28 de Agosto de 1963, o reverendo Luther King, prémio Nobel da paz em 1964, faz um dos discursos mais importantes da história contemporânea da luta pelos direitos humanos, em Washington, perante uma multidão estimada em duzentas mil pessoas, e em que as suas palavras de “Eu tenho um sonho que um dia esta nação se levantará e viverá o verdadeiro significado de sua crença nós celebraremos estas verdades e elas serão claras para todos, que os homens são criados iguais” , foram uma bandeira, na difícil e permanente luta para a erradicação do racismo no mundo.
Em Memphis, cidade emblemática da cultura americana, já que foi nela que viveu e morreu Elvis Presley, e que com New Orleans e Nashville fazem o triangulo maior do jazz, do rock e do blues, a realidade é que, nesse dia 4 de Abril de 1968, os sectores mais abjectos da sociedade racista e falsamente moralista dos EUA, perpetraram um crime que ainda acicatou mais os tumultos raciais, em estados como o Alabama, o Nebraska e o Mississípi. Este incidente somado às provocações e desmandos do Ku-Klux-Klan e seus acólitos, com a complacência das autoridades e até com alguma cumplicidade de alguma magistratura, acabou por dar alguma “legitimidade” a seguidores radicais de Malcom X (assassinado em 1965, como já tinha sido seu pai, quando ele tinha apenas seis anos), e a outros grupos que acusavam Luther King de brandura, pela sua busca de soluções através do diálogo e da paciência.
Uma das maiores manifestações de denuncia das disparidades raciais que eram sujeitos os negros nos EUA, surgiram pelos atletas da sua equipa olímpica nos Jogos Olímpicos do México, disputados na Cidade do México de 12 a 27 de Outubro de 1968, os primeiros na América Latina e numa altitude a 2500m do nível do mar.
Para além de Dick Fosbury e a sua inovador técnica do salto em altura, dos resultados surpreendentes na velocidade e no salto em comprimento, com recordes a permanecerem imbatíveis 30 anos, principalmente o de Jim Hinnes nos 100m, e o de Bob Beamon no comprimento, a imagem forte dos jogos, foi sem duvida a saudação do “Black Power” no podium de Tommy Smith e John Carlos, que empunharam a luva negra ao som do hino dos EUA. Muitos outros atletas negros dos EUA se solidarizaram com a luta de Luther King e outros combatentes dos direitos humanos, o que levou o Comité Olímpico Americano a tirar medalhas a alguns atletas e a criar uma campanha conseguida para estigmatizar outros, sendo que alguns, não aguentaram a tortura psicológica que foram vítimas e viram as suas vidas desfeitas pela droga e pelo álcool.
O ano de 1968 foi um ano particularmente importante no século passado, pois foi um ano que assistiu ao recrudescimento da guerra do Vietname e a uma contestação em crescendo nos EUA e um pouco por todo o mundo, a Revolução Cultural na China na sua plenitude, a Primavera de Praga e o seu inerente colapso motivado pela invasão da Checoslováquia pelas tropas de Moscovo, o que levou à maior cisão no movimento comunista internacional e não ignorando as revoltas estudantis, que em jeito de efeito dominó irromperam pelo mundo.

Fernando Pereira
14 /09/08
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