25 de abril de 2007

Sempre Abril


...e hoje apetece-me dar-te a mão de novo companheira R...Abril somos todos...E ainda bem que o somos sempre!!!

Em 25 de Abril de 1974, Portugal reencontrou-se com os seus valores de liberdade, de esperança, de futuro...A esses homens que interpretando fielmente a vontade de um povo dorido responderam PRESENTE... Minha queria R, é tão bonito rever o rosto juvenil de um saudoso Salgueiro Maia, é tão bonito revermos-nos nas ruas apinhadas de gente numa Lisboa feliz com lágrimas de contentamento, é tão...Tanta coisa que nunca mais esqueceremos como um dos dias mais importantes da nossa vida colectiva. Ver os cravos vermelhos no cinzentismo de uma Lisboa que virava as costas para um rio que ia dar a um mar onde tão poucos fizeram tanto mal a tanta gente...Hoje já nada disso interessa, porque sentimos a nossa auto-estima a crescer nos floridos canos das armas que encheram Lisboa numa manhã cinzenta, mas que se tornou na tarde mais gostosa de todas as tardes da nossa vida. Sentimos aqui que era o fim de qualquer coisa mau e o princípio do fim porque tanto lutámos...A Independência do nosso País. Em Angola Abril fez-se em 11 de Novembro de 1975, e a nossa rubra e preta bandeira com a dentada, a catana e a estrelinha subiram ao mastro, com a guarda de honra merecida, pelos sobreviventes do 4 de Fevereiro de 1961. Aquele largo de Luanda, chegou a todo o mundo, e quando se hasteou uma bandeira, foi o subir um grito de liberdade e de dignidade para um povo que há muito o desejava, porque lutou por ela, e porque sentiu a sua liberdade...As naus de outrora deixaram-nos o tecido para a bandeira e a língua com que nos entendemos, mas também essas naus levaram muito da tralha que nunca mais desejaríamos e desejamos ter.

30 e tantos anos de Abril, olho para ti , minha querida R, e continuas linda como naquela manhã em que nos abraçámos numa qualquer praça de Lisboa libertada...A tua boca continua como duas pétalas de cravo vermelho, e o teu sorriso continua a ser o mesmo...a Liberdade...Nunca deixarás de ser bonita, porque nunca deixaremos que te toquem...Porque Abril somos mais que tu e eu, Abril somos milhões e nunca ninguem parou o que milhões quiseram...Deixa-me abraçar-te R...no Abril que temos dentro de nós...eternamente Abril, eternamente nós...

Fernando Pereira

24 de abril de 2007

25 de Abril de 1974


25 DE ABRIL
Esta é a madrugada que eu esperava

O dia inicial inteiro e limpo

Onde emergimos da noite e do silêncio

E livres habitamos a substância do tempo

Sophia de Mello Breyner Andresen


Minha querida amiga R.

Lembras-te quando chegámos de Luanda,naquele Outono frio de 197...??? Lembras-te concerteza, meu amor...O cinzento das casas, das pessoas, dos polícias, dos governantes,de tudo....Portugal era pintado de cinzento....O nosso pequeno quarto, num 3º andar de um prédio com uma entrada lugrube,onde uma enfezada passava dias inteiros a apanhar malhas de meias de nylon??Lembras-te das nossas primeiras aulas e o que por lá acontecia??Lembras-te da primeira carga policial que apanhámos, só porque resolvemos ir ver onde é que outros colegas nossos iam manifestar-se, sem percebermos bem o quê??Lembras-te dos comunicados que começámos a distribuir ??Lembras-te da eternização das noites de discussão que tínhamos em casa de L....???E a aflição que foi quando a Pide foi a casa de L.... naquela manhã cinzenta e triste???Os dias de angustia que se seguiram, com aqueles dois sempre junto aquela cabine telefónica amarela da esquina da praça, com uma gabardina e um chapéu enterrados, sem que nunca lhe conseguíssemos ver a cara???Lembras-te de A...vir ter connosco certa noite e dizer que eu teria de bazar, pois L...falou e não havia hipótese...Ainda por cima comigo era pior, porque era das colónias...Lembras-te??? Apartir dessa noite lembro-me eu...Fui para os lados de O...numa casa relativamente distante da aldeia, onde a comida era coisa que só se via de tempos a tempos, e chegar à janela era do pior...No rádio da sala íamos ouvindo coisas ...mas por cá tudo na mesma...Recebi e ainda guardo a tua carta, e não hesito em colocá-la, pq ainda a guardo...."Às vezes, apetece-me estar a conversar contigo ao pé da lareira (que bonita é a luz que dá aos nossos rostos), com tu gostas.Às vezes, tenho vontade de estar contigo na praia, em Luanda, como eu gosto.Às vezes podia ser na ribeira do teu jardim, onde tu gostas, mas também ao fim do dia olhando o nosso mar de Angola, porque é especial.Podia dar-te a mao e até encostar a cabeça no teu ombro. Teria vontade de te abraçar com forca e dizer-te ao ouvido... que gosto bue de ti.Mas, e depois?"....de facto....Tanto chorei quando a recebi...e compreendi que de facto....nada...a resignação....Numa qualquer madrugada de Abril,que não foi bem qualquer, foi o princípio de tudo...Abril, 25/1974...Lembro-me bem querida R., peguei na carta que me tinhas enviado amargurada e eis-me a caminho de uma Lisboa, que vi diferente, vi pela primeira vez, Lisboa diferentemente bonita, gente linda, alegria,e o frenetismo de uma liberdade que tanto ousámos e que afinal estava ali.Lembras-te como nos beijámos nesse dia....Lembras-te como vagueamos numa Lisboa que era enfim nossa, e que sentimos que pele de galinha por todos nós de termos medo de tanta euforia....Mas não esta liberdade tínhamos que a gozar , querida R, podia ser efémera e não podíamos perder um minuto que fosse que não a desfrutássemos...Pela primeira vez sentimos liberdade, e pela primeira vez olhamo-nos nos olhos e sentimos que a nossa Angola, a Angola independente estava perto.Querida R...o tempo e as circunstancias da vida separaram-nos, mas ambos vimos subir a nossa bandeira bi-color com a roda dentada,catana e estrelinha no Novembro do nosso mui grande contentamento. Escrevo-te 30 e alguns anos depois...depois de muita coisa, para te agradecer o que passámos nesses anos de lutas, alegrias, angustias, incertezas e tanto ou quase muito oportunismo....Mas não interessa, quero pegar na carta já amarelecida pelo tempo, e fazer tudo aquilo que desejávamos fazer nos anos da ditadura e do ostracismo...O 25 de Abril não foi nosso, mas tb foi nosso e por isso querida R...hoje sinto-te como ontem a desfilar por Lisboa de mãos dadas a cantar e a ebriar-nos por aquela contagiante amálgama de gente que sentia a diferença da linda palavra....LIBERDADE....Querida R, lembras-te quando os dois declamávamos Eluard, façamo-lo sempre onde quer que estejamos...porque de facto Estamos juntos...sempre e por perto!!!!Fernando

Só o vinho do Porto nos dá estas alegrias!

COLOQUEMOS A GARRAFA DE VINHO NO MUSEU EM SANTA COMBA DÃO COM UM AGRADECIMENTO DE UM PAÍS INTEIRO E COLÓNIAS!
Salazar não caiu da cadeira.
Conta o seu barbeiro- única testemunha do sucedido -que Salazar tinha por hábito pegar nos jornais e sentar-se. Naquele dia a cadeira não estava no sítio e Salazar deu com a cabeça no chão.Ajudado a levantar-se pelo barbeiro, logo proibiu o barbeiro de contar o que vira. Este, porém, não resistiu e contou à governanta D. Maria o que acontecera, tendo esta um ataque de fúria, destruiu a cadeira de lona e deitou os restos ao mar. Tudo se manteve em silêncio até que o médico pessoal o foi ver, numa visita de rotina, 20 dias após o acidente, e constatou o hematoma depois de alertado pela D. Maria. Quatro dias depois, como o Hematoma piorasse, o médico pessoal pediu conselho ao neuro-cirurgião, Dr. Vasconcelos, que foi de opinião que o paciente deveria ser imediatamente operado.A operação correu bem, no entanto, D. Maria que dava a comida ao enfermo, lembrou-se de lhe dar uns cálices de Vinho do Porto para ele arrebitar. Poucos dias depois Salazar teve o AVC...
"Máscaras de Salazar", de Fernando Dacosta, Casa das Letras, 14ª edição.


Para quem andava distraído, antes do 25 de Abril, lembro as "sábias palavras" do então mais alto magistrado da Nação...Américo Tomás, vulgo, cabeça de Tarro...Era só para lembrar que nessa altura ele era o Chefe de Estado do Minho a Timor....
"Memórias de Tomás" (I)"Eu por mim próprio, não me decidi a escrever as «Minhas Memórias». Decidiram-me. É que, estando quase toda a gente, ex-chefes de gabinete, ex-subsecretários de Estado, ex-secretários de Estado, ex-ministros, ex-chefes de Governo, escrevendo as suas memórias, a minha família começou a insistir comigo para que escrevesse as minhas «Memórias», na medida em que, disseram-me, mal me ficaria não escrever, também eu próprio, as minhas «Memórias».
Habituado a falar e não a escrever, contando, segundo as minhas contas, nove mil trezentos e sessenta e quatro alocuções por sobre o território nacional, isto é, continente, ilhas adjacentes e províncias ultramarinas, não minto!, nove mil trezentos e sessenta e cinco alocuções por sobre o território nacional e internacional, ligadas ao meu cargo de Presidente da República, - eu nunca me afoitei a usar a caneta, coisa que disse repetidamente a minha família.
Não tive sucesso, como é obvio, dado que me compraram uma caneta e ma deixaram fechada na mão.Foi então que, pegando na caneta, carreguei no botão do gravador e comecei: "Senhor bispo da diocese, senhor ministro das Obras Públicas, senhor governador civil, senhor presidente da câmara municipal, senhor presidente da junta de freguesia, minhas senhoras e meus senhores" [in, revista Opção, Ano II, nº 30]"É esta, portanto, a ultima cerimónia que se passa na cidade da Guarda e eu não quero deixar passar esta oportunidade sem agradecer ao bom povo desta terra o seu entusiasmo, o carinho com que recebeu o Chefe do Estado. A chuva não teve qualquer influência no entusiasmo das populações. Elas vivem numa terra de granito, e a chuva não as apoquenta (...) A Guarda é um distrito de bons portugueses, de portugueses de uma só face, portugueses, portanto, sempre prontos a defender a terra que os viu nascer. E a Guarda tem uma particularidade: é a cidade mais alta da Metrópole" [ididem, discurso na Guarda, in Século]"... É uma terra [Gouveia] bem interessante, porque estando numa cova, está a mais de 700 metros de altitude. Pois o que desejo, sr. Presidente, para poder pagar, de qualquer forma a dívida que contraí, é que esta gente tenha um futuro feliz, abençoado por Deus. Que assim seja, para contentamento vosso e para contentamento meu... " [ibidem, em Gouveia, segundo O Século, 1/6/1964]

Oxalá seja sempre Abril!


Para não desvirtuar alguns fios,e depois de ler o que algumas pessoas aqui tem escrito sobre o 25 de Abril, resolvi criar este fio, de forma a que se possa debater com alguma serenidade uma data importantíssima na história contemporânea de Portugal, e determinante para uma alteração do mapa geo-político do mundo.As revoluções não surgem por decreto.O 25 de Abril de 1974 é o corolário lógico do fim das indecisões que o fascismo de Salazar e sem Salazar tinham alimentado de forma doentia e sem qualquer tipo de solução.O 25 de Abril é o corolário lógico, da fraude eleitoral de 1958, do Santa Maria, do 4 de Fevereiro,da queda de Goa, Damão e Diu, da Abrilada de 1961,do início e recrudescimento da luta armada em três palcos de guerra, e por aí fora.No plano interno é a luta pelo horário de trabalho por parte dos trabalhadores rurais, horário de 8h, são as greves nas fábricas e empresas por melhores direitos, são as greves académicas de 1962 e 1969, é a crescente fuga de gente para a Europa e o isolamento crescente de Portugal na cena política mundial.O 25 de Abril de 1974 é uma data que devolve aos cidadãos portugueses e aos povos sob dominação colonial uma nova identidade e uma nova dignidade.Não foi feito por aventureiros, como aqui já se insinuou, mas sim por aqueles que esperaram e desesperaram por uma solução tardia para os problemas que se arrastavam para um pântano de consequências perversas.Hoje quase trinta anos, podemos dizer que valeu a pena, e que podemos dar aos nossos filhos em Portugal ou no resto dos novos países de expressão portuguesa,um mundo melhor, de liberdade, de participação cívica e de perspectivas de futuro assente na melhoria da qualidade de vida de todos os cidadãos.Podemos dar as voltas que quisermos, pessoalizar as razões para se afirmar o contrário, mas de facto foram esses muitos homens fardados, que imediatamente tiveram uma adesão popular extraordinária, a quem se devem liberdades fundamentais, sem as quais não conseguimos respirar.

Como em todas as revoluções ou processos políticos, há avanços e recuos,há situações mais obscuras e menos, há aproveitamentos dos oportunismos que capeiam em qualquer sistema político, mas temos de ter em conta que Abril valeu a pena...Por Tudo.....!!
Fernando Pereira

22 de abril de 2007

Procissão que não vai ao adro...


Em primeiro lugar não digo que sou isento...aliás ninguém o é em circunstancia alguma, ou melhor são-o quando não tem conhecimento absolutamente algum de qualquer assunto, e nem sequer se interessa por ele.Eu sou crítico da gestão de João Paulo II...Mas sou um crítico circunstancial, pois em termos históricos não posso ter nada documental e factual que me permita analisar com objectividade a sua acção, nem tão pouco posso saber se de facto algo que ele faça será relevante na história da igreja e na sociedade ao longo destes dois milénios!!
Não defendo o islamismo,como não defendo nenhuma outra religião, embora eu possa afirmar do que conheço, e admito que não é muito, que em certos aspectos a prática do islamismo é menos hipócrita que a prática da igreja, nomeadamente no que concerne aos seus rituais. Por exemplo, não conheço nada na religião islâmica que seja paralelo às bulas.Reconheço que nenhuma destas religiões é tolerante com determinadas práticas, hoje aceites na sociedade moderna, e de certa forma o papel do islamismo é pior pois faz da religião o tema central de estado, desde os estados mais fundamentalismos aos aparentemente "moderados"...Mas será que ao querer-se incluir na constituição europeia a referencia ao judaico-católico, não se estará a fazer o mesmo, duma forma mais "clandestina", passando por cima de constituições de Países que assumem cabalmente o seu laicisismo??
Para ilustrar determinados exemplos sobre algumas formas de desrespeito pelos cidadãos por parte de alguns "soldados" da igreja, vou contar uma cena que se passa quotidianamente à minha porta...
Moro numa aldeia e com uma igreja ao pé da minha casa...Durante o dia e noite ouço as horas do relógio da torre sineira, que de meia em meia hora debita de forma roufenha umas "avé-marias"...Nos dias de missa a população é chamada por uns sinos que tocam várias vezes ao longo do dia por períodos longos, atingindo décibeis muito acima de tudo que a lei prevê, e cumulo dos cúmulos, o padre faz a missa toda cá para a rua através de potentes altifalantes...
Instado pelo padre sobre este verdadeiro desrespeito pelos valores das pessoas, ele respondeu-me que era para que os que estão em casa ouvissem a missa...Não tenho nada quanto aos locais de culto, eu próprio gosto de os visitar pela arte e magnificência da sua arquitectura,adoro o silencio dos claustros,mas de facto acho que o local de culto é dentro dos templos e nunca obrigar as pessoas a tamanho exercício de obrigar a ouvir o que não se procura nem o que se deseja...A igreja não pode pactuar com situações deste tipo pois este desrespeito da lei e da constituição, só a prejudica aos olhos ...neste caso ouvidos...dos cidadãos!!

O JPS do Vaticano!






Este fio não foi feito para fazer julgamentos a nada, foi feito para se discutir de uma forma "suave" o enquadramento geral da Igreja na história recente da humanidade...Discutir João Paulo II seria desvirtuar o fio, pois ainda se encontra em funções e qualquer análise peca por não ter fundamentos documentais que possam provar se foi importante ou não a sua passagem pelo Vaticano.É óbvio que ao longo do fio foi citado por diversas vezes, mas para além do subjectivismo da opinião que cada qual possa ter da sua obra,ela será apenas isso pois do ponto de vista histórico a sua relevancia actual é pouco importante já que não há forma de se fazer elaborar nada com método e ciencia!! Eu tenho uma opinião sobre JP, mas não passa disso mesmo!!Os que o quiserem elogiar, não farão mais que um pangírico que a sua fé e a sua crença obrigam, mas sem relevancia na análise objectiva dos factos!! Quem o quiser denegrir fará o mesmo mas de forma contrária, e com os mesmos nulos resultados em termos de objectividade histórica, tendo em conta que a história é uma ciencia, com método e objecto próprio!!Há uma coisa pelo menos que não faria ao JP..seria beijar-lhe os pés,porque acho que a reverencia que se tiver de prestar a alguém deve ser olhos nos olhos, e não com gestos de quase humilhação. Sou também contra a "infalibilidade do Papa", pois entendo que ele é um homem, com defeitos e virtudes, aconselhado por homens, alguns deles com mais defeitos que virtudes, e por isso engana-se como todos nós iguais a ele...Os comuns dos mortais!!


O consulado de JP (Eu propositadamente não digo pontificado)não será relevante num futuro longíquo pois não promoveu um debate sobre a Igreja tendo em conta que no ultimo século tudo avançou a um ritmo vertiginoso, desde as tecnologias, aos sistemas políticos, às relações sociais e à modificação de valores e costumes.Teria sido importante um concílio que compatibilizasse a Igreja com tudo isso, e de facto pouco ou nada se fez na alteração dos conceitos...Os ultimos 40 anos (depois de VaticanoII) foram anos de grandes transformações e alterações e a Igreja continua ligada a conceitos que a tornam cada vez menos relevante na dinamica da sociedade como se prova na afluencia cada vez menor das pessoas aos templos nas sociedades mais desenvolvidas do planeta!!Um abraço

Fernando Pereira

Latinices que a SMI nos reserva!



De facto é saudável vermos que em determinadas religiões se procura alterar os procedimentos de forma a que possam acompanhar a evolução da história.
É relevante que isto tenha sucedido em Marrocos,pois o Islamismo é em todas as suas vertentes pouco disponível para mudanças abruptas nas suas concepções de base. Mesmo onde o islamismo já assume alguns foros de modernidade, como por exemplo em França onde 14% dos franceses são islâmicos, há um conjunto de princípios que sendo alterados, só com muita relutância são recebidos pela comunidade...E de facto a mulher no islamismo é colocada em situação de perfeita subserviência em relação ao homem e inerentemente à masculinização da sociedade!!Se tivermos em conta que nos Países islâmicos não há separação entre Igreja e Estado, ou melhor o Estado não é laico nem tão pouco se aceita uma sociedade laicizada, temos de admitir que poderemos esperar desenvolvimentos desagradáveis em Marrocos, o que de certa forma é preocupante, já que para além da Espanha,Marrocos é o país mais perto geograficamente de Portugal e o que maior importância teve na cultura ibérica...
Na análise que faço de certas coisas, e posso dize-lo que em algumas não estou muito seguro...acho que o islamismo com toda a dureza com que trata as mulheres, assume, assim como noutras coisas, menos hipocrisia que por exemplo a religião católica.
Para o quê vejamos...Na recente revisão do código dos ofícios da Igreja, a que preside o todo poderoso fascistóide Ratzinger,o homem que na hierarquia do Vaticano assume a importância de numero 2..entre várias alterações, já postas de lado por Vaticano II, e agora recuperadas numa cedência aos Lefébrianos, proíbe explicitamente as mulheres de darem missa (apenas lhes estava vedado o sacramento da comunhão), o que relega a mulher para um lugar inferior da Igreja, e que a sociedade vai acompanhando, sem que haja qualquer tipo de contestação por parte delas que são marginalizadas em muitas referencias bíblicas.
Por ora fico-me por aqui...e cumpre-me informar que o 1º livro da Bíblia foi escrito 200 anos depois da sua morte, o que revela que certas passagens foram empoladas q.b, dentro da lógica de que"quem conta um conto acrescenta-lhe um ponto", e que a proibição dos padres casarem, foi estabelecida quase mil anos depois.Importa referir que a Inquisição, um "MacCartismo" feudal fez desaparecer definitivamente muitas passagens da Bíblia, o que desvirtuou os fundamentos da Igreja de Pedro,já que foi esse apóstolo o primeiro a ter esse estatuto!!


21 de abril de 2007

Serviço Militar quase obrigatório


Meus caros
Não venho para aqui para disputas...Se as quisesse procurar bastava-me entrar em certos locais e dizer uma "frase assassina" e estava a coisa montada...Estou aqui para opinar e aceitar as opiniões, que na maior parte das vezes divergem das minhas...
Eu quando falei do canto IX dos Lusíadas não quis falar dos velhos do Restelo, que acho que está no canto IV, mas sim na descrição de certos actos pecaminosos, e daí a Igreja sempre ter olhado com enorme desconfiança a maior peça literária da língua portuguesa...
Vou-vos reproduzir uma coisa engraçada de um poeta português que poucos conhecem e que se chama Mário Henriques Leiria....
"Torah
Jeová achou que era altura de pôr as coisas no devido lugar.Lá em cima acenou a Moisés.
Moisés foi logo, tropeçando por vezes nas lajes e evitando o mais possível a sarça ardente.
Quando chegou ao cimo, tiveram os dois em conferencia, cimeira, claro.A primeira se não estou em erro.
No dia seguinte Moisés desceu.Trazia umas tábuas debaixo do braço.Eram a Lei.
Olhou em volta, viu o seu povo aglomerado, atento, e disse para todos os que estavam à espera:
-Está aqui tudo escrito. Tudo.è assim mesmo e não há qualquer duvida.Quem não quiser que se vá embora.Já.
Alguns foram
Então começou o serviço militar obrigatório, e fez-se o primeiro discurso patriótico.
Depois disso é o que se vê"

Um abraço
Fernando Pereira

O HIV é um castigo para as tentações do Demo?


Este texto e um conjunto deles são alguns que escrevi num site, donde fui expulso por "indecente e má figura", e donde consegui tirar o pouco do muito que escrevi. Naturalmente que muitas coisas estarão desinseridas, e pontualmente há aqui referencias que podem ser desajustadas, mas acho que seria intelectualmente desonesto copiar as intervenções de outra gente, sem autorização para isso...Convenhamos que na maioria das vezes os comentários ao que eu escrevia revelavam muito de pouco bom em termos de honestidade intelectual e nalguns casos a nescialidade era evidente...
O tempo disto foi entre 2003/2006


Meus caros..isto são pequenos exemplos para o debate, e alguns deles nem são da minha lavra.....O Conselho das Igrejas Sul-africanas declarou-se anteontem indignado com o apelo do Vaticano, revelado no dia 9 pela BBC, para que os católicos contaminados pelo vírus da sida renunciem ao uso do preservativo.
«Estou chocado e desgostado com a Igreja católica», afirmou o padre Joe Mdhlela, porta-voz do Conselho, referindo-se ao apelo do Vaticano contra o uso do preservativo, justificado por razões de índole moral.

Mdhlela sustentou que na perspectiva do SACC, incluindo os representantes da Igreja Católica que o integra, o Vaticano não está a tomar em consideração «as realidades do mundo». «Existem provas médicas indiscutíveis de que os preservativos podem ajudar a salvar vidas», sublinhou.

«A HIV/sida é uma pandemia, e a nossa convicção é tudo fazer para salvar vidas e conter a propagação da doença», acrescentou.

JP2 há 25 anos no cargo mais importante da ICAR, proclamou 476 santos e 1314 beatos enquanto os seus antecessores, todos juntos, se ficaram por 300 canonizações e 1310 beatificações.
Sabendo-se que a sua principal ocupação é rezar e dar conselhos sobre moral, fica-se estupefacto com a produtividade deste emigrante polaco que criou ainda 232 cardeais.
Se não fossem os esforços despendidos a combater o preservativo e a promover a castidade poderia ter ido ainda mais longe nesta onda de santidade.
Percorreu uma distância equivalente a quase 29 vezes a volta à Terra e quase três vezes a distância entre a Terra e a Lua, a promover a ICAR e a espantar o demo.
Apesar da avançada idade e do seu débil estado de saúde recusa a reforma e demonstra uma notável capacidade intelectual, continuando a distinguir a água benta da outra.
«O Estado também não pode ser ateu, deísta, livre-pensador; e não o pode ser, pelo mesmo motivo porque não tem o direito de ser católico, protestante, budista. O Estado tem de ser céptico, ou melhor dizendo indiferentista.»
(Sampaio Bruno, in «A Questão Religiosa», 1907)
Eu não sou detentor da razão,já aqui foi provado, e por pessoas que duma forma séria contestam as minhas opiniões...Gosto de debates...e que eles sejam protagonizados por pessoas com argumentos convincentes que me façam calar em determinada altura, o que prova que o debate está a ser conseguido com uma carga argumentativa assente em conhecimentos fundamentadamente científicos.
Não pretendo discutir ou beliscar a fé das pessoas, por muitas coisas que vá vendo e que não acredito...Eu suporto-me em factos históricos.
Acho que quem leu a minha introdução no fio sempre me ouvia falar de homens..Não falo de divindades, nem ataco a religião católica...Ataco pessoas que em determinados momentos se apropriaram da Igreja, essa sim, actor principal da história dos últimos dois mil anos!!
Não sei se leram o ultimo parágrafo da introdução ao fio onde elogio João 23, PauloVI,D. Helder da Camara, o Bispo de Nampula, podendo acrescentar D. António Ferreira Gomes, D. Eurico do Nascimento,"Os padres brancos" de Moçambique, Felicidade Alves,Mário de Oliveira,Cónego Manuel das Neves, Padre Joaquim Pinto de Andrade,Desmond Tutu e tantos outros que foram vozes incómodas da Igreja e dos regimes totalitários a quem a Igreja prestava subserviência.
Não peguei no Canto IX dos Lusíadas para ilustrar o que quer que fosse,não peguei em Alberto Caeiro (heterónimo de Pessoa) como 2menino desceu à terra", nem peguei nas versões de Alberto Pimenta para ilustrar o que quer que fosse!! Nem sequer fui ao ponto de pegar nos "Ballett Rose" descritos na Time em 1967.
Eu procurei criar um fio em que se discutisse,em que se tornasse possível saber que há gente que talvez não pense segundo determinados padrões quase comuns, e que se possibilitassem novos debates sobre coisas que são o nosso quotidiano, ou que de certa forma foram o nosso quotidiano...nalguns casos de mistificação histórica!!
Por exemplo alguém sabe quanto custou o reconhecimento papal pela independência de Portugal?? E quando Portugal pagou simultaneamente ao Papa de Roma e Avignon para que as fronteiras fossem determinadas,ao contrário do que fez Castela que só pagou ao Papa de Roma!!...Como foi a verdadeira conquista de Lisboa aos mouros???...São pequenos detalhes que importaria serem conhecidos, caso alguém quisesse!!
Porque é que a carta do achamento do Brasil de Pero Vaz de Caminha chegou a Portugal truncada???
Pequenos detalhes...e por tudo isso não vale a pena pegar nas palavras dos outros e desconstrui-las, vale a pena sim apelar a algum cartesianismo discursivo para podermos discordar no factual e não na pequena trica subjectiva, sempre mais fácil..mas que não leva a lado algum!!
Um abraço
Fernando Pereira

Vaticano


Este texto e um conjunto deles são alguns que escrevi num site, donde fui expulso por "indecente e má figura", e donde consegui tirar o pouco do muito que escrevi. Naturalmente que muitas coisas estarão desinseridas, e pontualmente há aqui referencias que podem ser desajustadas, mas acho que seria intelectualmente desonesto copiar as intervenções de outra gente, sem autorização para isso...Convenhamos que na maioria das vezes os comentários ao que eu escrevia revelavam muito de pouco bom em termos de honestidade intelectual e nalguns casos a nescialidade era evidente...
O tempo disto foi entre 2003/2006





Resolvi criar este fio, porque ao ver que religião era um tema pouco apetecível para a sanzala, eu poderia ser mal interpretado quando se põe em causa "o princípio da infalibilidade do Papa"...Portanto este fio é meu e escreve só quem quiser...Pode ser o jornal de parede do Vaticano, numa versão da "revolução cultural" chinesa ao "Observattorio Romano".
Bem sou João Paulo I...morri ao fim de um mês quando quis ver como funcionavam as contas do Vaticano, quem financiava, quem controlava, enfim pequenos pormenores que acabaram por me pôr a dormir definitivamente com a graça de eu por ser Papa nunca poder ser autopsiado, em circunstancia alguma...Mas graças a isso muitos antecessores meus baikaram, como se diz numa terra chamada Angola. A partir deste momento passarei a ser Torquemada...um santo, que só séculos mais tarde tive um sucessor com pedigree...Escrivá de Balaguer, um rapaz aliado de Franco (o tal que ergueu o Vale dos Caídos com prisioneiros republicanos, feitos escravos na ascensão por ilegitimidade democrática e força de apoios alemães, italianos e portugueses, no dealbar da 2ª guerra).O Balaguer foi beatificado por SS o Papa J.P.2.Continuando...Hoje sou SS o Papa e visito Timor Leste a 23ª província Indonésia, onde até parece que houve um raio de um bispo que foi Prémio Nobel da Paz, e que cumprimentei de soslaio!!Sou o Cardeal Cerejeira que assinou o Acordo Missionário, que foi anexado ao Acto Colonial, em que distinguia portugueses de 1ª , de segunda, assimilados e indígenas!!!Nem no campo da retórica eram todos iguais face à Igreja!!! Sou Pizarro ou Cortez, que a mando dos reis católicos de Espanha resolvi exterminar os pagãos dos Indios e Aztecas que queriam o ouro e a prata para divindades esquisitas, quando o Vaticano precisava tanto desse material. Sou o gestor do Banco Ambrosiano, estou exilado no Vaticano, porque ninguém percebeu que a fraude que fiz foi para apoiar os desígnios do Papa nas missões do mundo...o reino dos homens é cruel às vezes!! Sou Pio XII, e tenho umas fábricas de armas que vendo a Mussolini porque é boa pessoa e detesta os vermelhos!!Sou florentino de gema, sou Papa por vontade de Médicis e tive milhares de devaneios sexuais com muita mulher, até com a minha filha..meu apelido Bórgia!!Sou o Cardeal de Boston...um padre Frederico em versão americana..mas são todos bons rapazes!!
Mas também sou o Papa Paulo VI que recebeu Amilcar Cabral, Marcelino dos Santos e Agostinho Neto e fui a Goa quando em Portugal ainda estultamente se dizia que Goa, Damão e Diu eram portugueses. Sou o Cardeal Romero baleado pelos Somozistas na Nicarágua, sou Helder da Camara, sou o Bispo de Nampula...Afinal sou tanta e tanta coisa na história...Mau afinal sou eu..Fernando Pereira

8 de abril de 2007

Homenagem a Nuno Bragança 1929/1985





NUBO BRAGANÇA
A NOITE E O RISO

Os Vimioso e a Banda de Bucelas
Quando nas suas iras, o Rudolfo gostava imenso de bater. Arrumar um adversário despachável à primeira, nem pensar. Organizava as lutas de molde a chegar à última trancada nuns vagares, gourmet de sexo a retardar o orgasmo. Escolhia as vítimas a dedo, sem as estudar antes de lhes saltar em cima. Tinha a pontaria de quem se movimenta em função do puro instinto.
O homem de Bucelas mostrava-se uma presa ideal. Porque tinha agilidade e força, e era corajoso.
[...] Durante um naco de tempo, o Rudolfo foi demolindo o outro, camponesa de bons dentes absorvendo um cacho de Ferral
Os bucelenses extra-banda, estarrecidos, não tinham receita apropriada. De cada lado dos contendores(1) , uma fila de tocadores de Banda desfilava, narizes no papel pautado.
Foi um saxofonista quem virou a página. Ao ver o sucedente, passou o instrumento ao companheiro de trás. Atravessando tudo e todos numa implacabilidade de furão em rasto certo, chegou-se ao Zé-Rudolfo e deu-lhe uma na nuca com o talhe da mão.
O Rudolfo fez plaff no asfalto, como um sapo despejado do sétimo andar. «Este é músico», disse o Simão, olhando o saxofonista atenciosamente, nuns carinhos. Após o que, chegou-se a ele e foi-lhe às ventas, com o sorriso duma Madre Superiora afagando noviça que promete.
A intervenção do [Simão] C. C.: copo de gasolina entornado em chama de caruma. Num já-está, a selecção de Bucelas e o meu grupo defrontaram-se num vale-tudo incluindo instrumentos musicais servindo de matracas. Para os polícias, que andavam pela orla dos passeios de cacetete em erecção constante, esta oportunidade de molhar a sopa em nova frente foi éclair de chocolate à mão de uma madame.


Nuno Bragança, A noite e o riso

7 de abril de 2007

Cooperação

2ºS Jogos da África Central





Comissão Organizadora dos 2ºs Jogos da àfrica Central,em scanner do documento oficial dos jogos.
Participaram os seguintes países, distribuídos por 8 modalidades colectivas e 7 individuais: Angola,S.Tomé e Princípe, Gabão, Zaire, Congo, Gabão, Burundi, Rwanda,Camarões, Tchade,Guiné Equatorial e Republica Centro Africana.
Para que conste fui com muita honra adjunto de um ilustre homem do desporto angolano, probo, bom amigo e afinal que é um dos muitos que merece uma Angola melhoradamente diferente...José Rocha Sardinha de Castro.

Fernando Pereira

4 de abril de 2007

FMI /José Mário Branco



Ouça o FMI - clique aqui

Por favor desperca este trabalho do José Mário Branco com 30 anos!

Vou, vou-vos mostrar mais um pedaço da minha vida, um pedaço um pouco especial, trata-se de um texto que foi escrito, assim, de um só jorro, numa noite de Fevereiro de 79, e que talvez tenha um ou outro pormenor que já não é muito actual. Eu vou-vos dar o texto tal e qual como eu o escrevi nessa altura, sem ter modificado nada, por isso vos peço que não se deixem distrair por esses pormenores que possam ser já não muito actuais e que isso não contribua para desviar a vossa atenção do que me parece ser o essencial neste texto.
Chama-se FMI.
Quer dizer: Fundo Monetário Internacional.
Não sei porque é que se riem, é uma organização democrática dos países todos, que se reúnem, como as pessoas, em torno de uma mesa para discutir os seus assuntos, e no fim tomar as decisões que interessam a todos...
É o internacionalismo monetário!





FMI

Cachucho não é coisa que me traga a mim
Mais novidade do que lagostim
Nariz que reconhece o cheiro do pilim
Distingue bem o mortimor do meirim
A produtividade, ora aí está, quer dizer
Há tanto nesta terra que ainda está por fazer
Entrar por aí a dentro, analisar, e então
Do meu 'attachi-case' sai a solução!

FMI Não há graça que não faça o FMI
FMI O bombástico de plástico para si
FMI Não há força que retorça o FMI

Discreto e ordenado mas nem por isso fraco
Eis a imagem 'on the rocks' do cancro do tabaco
Enfio uma gravata em cada fato-macaco
E meto o pessoal todo no mesmo saco
A produtividade, ora aí está, quer dizer
Não ando aqui a brincar, não há tempo a perder
Batendo o pé na casa, espanador na mão
É só desinfectar em superprodução!

FMI Não há truque que não lucre ao FMI
FMI O heróico paranóico 'hara-quiri'
FMI Panegírico, pro-lírico daqui

Palavras, palavras, palavras e não só
Palavras para si e palavras para dó
A contas com o nada que swingar o sol-e-dó
Depois a criadagem lava o pé e limpa o pó
A produtividade, ora nem mais, célulazinhas cinzentas
Sempre atentas
E levas pela tromba se não te pões a pau
Num encontrão imediato do 3º grau!

FMI Não há lenha que detenha o FMI
FMI Não há ronha que envergonhe o FMI
FMI ...

Entretém-te filho, entretém-te, não desfolhes em vão este malmequer que bem-te-quer, mal-te-quer, vem-te-quer, ovomalt'e-quer, messe gigantesca, vem-te vindo, vi-me na cozinha, vi-me na casa-de-banho, vi-me no Politeama, vi-me no Águia D'ouro, vi-me em toda a parte, vem-te filho, vem-te comer ao olho, vem-te comer à mão, olha os pombinhos pneumáticos que te orgulham por esses cartazes fora, olha a Música no Coração da Indira Gandi, olha o Muchê Dyane que te traz debaixo d'olho, o respeitinho é muito lindo e nós somos um povo de respeito, né filho? Nós somos um povo de respeitinho muito lindo, saímos à rua de cravo na mão sem dar conta de que saímos à rua de cravo na mão a horas certas, né filho? Consolida filho, consolida, enfia-te a horas certas no casarão da Gabriela que o malmequer vai-te tratando do serviço nacional de saúde. Consolida filho, consolida, que o trabalhinho é muito lindo, o teu trabalhinho é muito lindo, é o mais lindo de todos, como o astro, não é filho? O cabrão do astro entra-te pela porta das traseiras, tu tens um gozo do caraças, vais dormir entretido, não é? Pois claro, ganhar forças, ganhar forças para consolidar, para ver se a gente consegue num grande esforço nacional estabilizar esta destabilização filha-da-puta, não é filho? Pois claro! Estás aí a olhar para mim, estás a ver-me dar 33 voltinhas por minuto, pagaste o teu bilhete, pagaste o teu imposto de transação e estás a pensar lá com os teus botões: Este tipo está-me a gozar, este gajo quem é que julga que é? Né filho? Pois não é verdade que tu és um herói desde de nascente? A ti não é qualquer totobola que te enfia o barrete, meu grande safadote! Meu Fernão Mendes Pinto de merda, né filho? Onde está o teu Extremo Oriente, filho? Ah-ni-qui-bé-bé, ah-ni-qui-bó-bó, tu és 'Sepuldra' tu és Adamastor, pois claro, tu sozinho consegues enrabar as Nações Unidas com passaporte de coelho, não é filho? Mal eles sabem, pois é, tu sabes o que é gozar a vida! Entretém-te filho, entretém-te! Deixa-te de políticas que a tua política é o trabalho, trabalhinho, porreirinho da Silva, e salve-se quem puder que a vida é curta e os santos não ajudam quem anda para aqui a encher pneus com este paleio de Sanzala e ritmo de pop-xula, não é filho?
A one, a two, a one two three

FMI dida didadi dadi dadi da didi
FMI ...

Come on you son of a bitch! Come on baby a ver se me comes! Come on Luís Vaz, 'amanda'-lhe com os decassílabos que os senhores já vão ver o que é meterem-se com uma nação de poetas! E zás, enfio-te o Manuel Alegre no Mário Soares, zás, enfio-te o Ary dos Santos no Álvaro de Cunhal, zás, enfio-te o Zé Fanha no Acácio Barreiros, zás, enfio-te a Natalia Correia no Sá Carneiro, zás, enfio-te o Pedro Homem de Melo no Parque Mayer e acabamos todos numa sardinhada ao integralismo Lusitano, a estender o braço, meio Rolão Preto, meio Steve McQueen, ok boss, tudo ok, estamos numa porreira meu, um tripe fenomenal, proibido voltar atrás, viva a liberdade, né filho? Pois, o irreversível, pois claro, o irreversívelzinho, pluralismo a dar com um pau, nada será como dantes, agora todos se chateiam de outra maneira, né filho? Ora que porra, deixa lá correr uma fila ao menos, malta pá, é assim mesmo, cada um a curtir a sua, podia ser tão porreiro, não é? Preocupações, crises políticas pá? A culpa é dos partidos pá! Esta merda dos partidos é que divide a malta pá, pois pá, é só paleio pá, o pessoal na quer é trabalhar pá! Razão tem o Jaime Neves pá! (Olha deixaste cair as chaves do carro!) Pois pá! (Que é essa orelha de preto que tens no porta-chaves?) É pá, deixa-te disso, não destabilizes pá! Eh, faz favor, mais uma bica e um pastel de nata. Uma porra pá, um autentico desastre o 25 de Abril, esta confusão pá, a malta estava sossegadinha, a bica a 15 tostões, a gasosa a sete e coroa... Tá bem, essa merda da pide pá, Tarrafais e o carágo, mas no fim de contas quem é que não colaborava, ah? Quantos bufos é que não havia nesta merda deste país, ah? Quem é que não se calava, quem é que arriscava coiro e cabelo, assim mesmo, o que se chama arriscar, ah? Meia dúzia de líricos, pá, meia dúzia de líricos que acabavam todos a fugir para o estrangeiro, pá, isto é tudo a mesma carneirada! Oh sr. guarda venha cá, á, venha ver o que isto é, é, o barulho que vai aqui, i, o neto a bater na avó, ó, deu-lhe um pontapé no cu, né filho? Tu vais conversando, conversando, que ao menos agora pode-se falar, ou já não se pode? Ou já começaste a fazer a tua revisãozinha constitucional tamanho familiar, ah? Estás desiludido com as promessas de Abril, né? As conquistas de Abril! Eram só paleio a partir do momento que tas começaram a tirar e tu ficaste quietinho, né filho? E tu fizeste como o avestruz, enfiaste a cabeça na areia, não é nada comigo, não é nada comigo, né? E os da frente que se lixem... E é por isso que a tua solução é não ver, é não ouvir, é não querer ver, é não querer entender nada, precisas de paz de consciência, não andas aqui a brincar, né filho? Precisas de ter razão, precisas de atirar as culpas para cima de alguém e atiras as culpas para os da frente, para os do 25 de Abril, para os do 28 de Setembro, para os do 11 de Março, para os do 25 de Novembro, para os do... que dia é hoje, ah?

FMI Dida didadi dadi dadi da didi
FMI ...

Não há português nenhum que não se sinta culpado de qualquer coisa, não é filho? Todos temos culpas no cartório, foi isso que te ensinaram, não é verdade? Esta merda não anda porque a malta, pá, a malta não quer que esta merda ande, tenho dito. A culpa é de todos, a culpa não é de ninguém, não é isto verdade? Quer isto dizer, há culpa de todos em geral e não há culpa de ninguém em particular! Somos todos muita bons no fundo, né? Somos todos uma nação de pecadores e de vendidos, né? Somos todos, ou anti-comunistas ou anti-faxistas, estas coisas até já nem querem dizer nada, ismos para aqui, ismos para acolá, as palavras é só bolinhas de sabão, parole parole parole e o Zé é que se lixa, cá o pintas azeite mexilhão, eu quero lá saber deste paleio vou mas é ao futebol, pronto, viva o Porto, viva o Benfica, Lourosa, Lourosa, Marraças, Marraças, fora o arbitro, gatuno, bora tudo p'ro caralho, razão tinha o Tonico de Bastos para se entreter, né filho? Entretém-te filho, com as tuas viúvas e as tuas órfãs que o teu delegado sindical vai tratando da saúde aos administradores, entretém-te, que o ministro do trabalho trata da saúde aos delegados sindicais, entretém-te filho, que a oposição parlamentar trata da saúde ao ministro do trabalho, entretém-te, que o Eanes trata da saúde à oposição parlamentar, entretém-te, que o FMI trata da saúde ao Eanes, entretém-te filho e vai para a cama descansado que há milhares de gajos inteligentes a pensar em tudo neste mesmo instante, enquanto tu adormeces a não pensar em nada, milhares e milhares de tipos inteligentes e poderosos com computadores, redes de policia secreta, telefones, carros de assalto, exércitos inteiros, congressos universitários, eu sei lá! Podes estar descansado que o Teng Hsiao-Ping está a tratar de ti com o Jimmy Carter, o Brezhnev está a tratar de ti com o João Paulo II, tudo corre bem, a ver quem se vai abotoar com os 25 tostões de riqueza que tu vais produzir amanhã nas tuas oito horas. A ver quem vai ser capaz de convencer de que a culpa é tua e só tua se o teu salário perde valor todos os dias, ou de te convencer de que a culpa é só tua se o teu poder de compra é como o rio de S. Pedro de Moel que se some nas areias em plena praia, ali a 10 metros do mar em maré cheia e nunca consegue desaguar de maneira que se possa dizer: porra, finalmente o rio desaguou! Hão te convencer de que a culpa é tua e tu sem culpa nenhuma, tens tu a ver, tens tu a ver com isso, não é filho? Cada um que se vá safando como puder, é mesmo assim, não é? Tu fazes como os outros, fazes o que tens a fazer, votas à esquerda moderada nas sindicais, votas no centro moderado nas deputais, e votas na direita moderada nas presidenciais! Que mais querem eles, que lhe ofereças a Europa no natal?! Era o que faltava! É assim mesmo, julgam que te levam de mercedes, ora toma, para safado, safado e meio, né filho? Nem para a frente nem para trás e eles que tratem do resto, os gatunos, que são pagos para isso, né? Claro! Que se lixem as alternativas, para trabalho já me chega. Entretém-te meu anjinho, entretém-te, que eles são inteligentes, eles ajudam, eles emprestam, eles decidem por ti, decidem tudo por ti, se hás-de construir barcos para a Polónia ou cabeças de alfinete para a Suécia, se hás-de plantar tomate para o Canada ou eucaliptos para o Japão, descansa que eles tratam disso, se hás-de comer bacalhau só nos anos bissextos ou hás-de beber vinho sintético de Alguidares-de-Baixo! Descansa, não penses em mais nada, que até neste país de pelintras se acho normal haver mãos desempregadas e se acha inevitável haver terras por cultivar! Descontrai baby, come on descontrai, arrefinfa-lhe o Bruce Lee, arrefinfa-lhe a macrobiótica, o biorritmo, o euroscópio, dois ou três ofeneologistas, um gigante da ilha de Páscoa e uma Grace do Mónaco de vez em quando para dar as boas festas às criancinhas! Piramiza filho, piramiza, antes que os chatos fujam todos para o Egipto, que assim é que tu te fazes um homenzinho e até já pagas multa se não fores ao recenseamento. Pois pá, isto é um país de analfabetos, pá! Dá-lhe no Travolta, dá-lhe no disco-sound, dá-lhe no pop-xula, pop-xula pop-xula, iehh iehh, J. Pimenta forever! Quanto menos souberes a quantas andas melhor para ti, não te chega para o bife? Antes no talho do que na farmácia; não te chega para a farmácia? Antes na farmácia do que no tribunal; não te chega para o tribunal? Antes a multa do que a morte; não te chega para o cangalheiro? Antes para a cova do que para não sei quem que há-de vir, cabrões de vindouros, ah? Sempre a merda do futuro, a merda do futuro, e eu ah? Que é que eu ando aqui a fazer? Digam lá, e eu? José Mário Branco, 37 anos, isto é que é uma porra, anda aqui um gajo cheio de boas intenções, a pregar aos peixinhos, a arriscar o pêlo, e depois? É só porrada e mal viver é? O menino é mal criado, o menino é 'pequeno burguês', o menino pertence a uma classe sem futuro histórico... Eu sou parvo ou quê? Quero ser feliz porra, quero ser feliz agora, que se foda o futuro, que se foda o progresso, mais vale só do que mal acompanhado, vá mandem-me lavar as mãos antes de ir para a mesa, filhos da puta de progressistas do caralho da revolução que vos foda a todos! Deixem-me em paz porra, deixem-me em paz e sossego, não me emprenhem mais pelos ouvidos caralho, não há paciência, não há paciência, deixem-me em paz caralho, saiam daqui, deixem-me sozinho, só um minuto, vão vender jornais e governos e greves e sindicatos e policias e generais para o raio que vos parta! Deixem-me sozinho, filhos da puta, deixem só um bocadinho, deixem-me só para sempre, tratem da vossa vida que eu trato da minha, pronto, já chega, sossego porra, silêncio porra, deixem-me só, deixem-me só, deixem-me só, deixem-me morrer descansado. Eu quero lá saber do Artur Agostinho e do Humberto Delgado, eu quero lá saber do Benfica e do bispo do Porto, eu quero se lixe o 13 de Maio e o 5 de Outubro e o Melo Antunes e a rainha de Inglaterra e o Santiago Carrilho e a Vera Lagoa, deixem-me só porra, rua, larguem-me, zórpila o fígado, arreda, 'terneio' Satanás, filhos da puta. Eu quero morrer sozinho ouviram? Eu quero morrer, eu quero que se foda o FMI, eu quero lá saber do FMI, eu quero que o FMI se foda, eu quero lá saber que o FMI me foda a mim, eu vou mas é votar no Pinheiro de Azevedo se eu tornar a ir para o hospital, pronto, bardamerda o FMI, o FMI é só um pretexto vosso seus cabrões, o FMI não existe, o FMI nunca aterrou na Portela coisa nenhuma, o FMI é uma finta vossa para virem para aqui com esse paleio, rua, desandem daqui para fora, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe...

Mãe, eu quero ficar sozinho... Mãe, não quero pensar mais... Mãe, eu quero morrer mãe.
Eu quero desnascer, ir-me embora, sem ter que me ir embora. Mãe, por favor, tudo menos a casa em vez de mim, outro maldito que não sou senão este tempo que decorre entre fugir de me encontrar e de me encontrar fugindo, de quê mãe? Diz, são coisas que se me perguntem? Não pode haver razão para tanto sofrimento. E se inventássemos o mar de volta, e se inventássemos partir, para regressar. Partir e aí nessa viajem ressuscitar da morte às arrecuas que me deste. Partida para ganhar, partida de acordar, abrir os olhos, numa ânsia colectiva de tudo fecundar, terra, mar, mãe... Lembrar como o mar nos ensinava a sonhar alto, lembrar nota a nota o canto das sereias, lembrar o depois do adeus, e o frágil e ingénuo cravo da Rua do Arsenal, lembrar cada lágrima, cada abraço, cada morte, cada traição, partir aqui com a ciência toda do passado, partir, aqui, para ficar...

Assim mesmo, como entrevi um dia, a chorar de alegria, de esperança precoce e intranquila, o azul dos operários da Lisnave a desfilar, gritando ódio apenas ao vazio, exército de amor e capacetes, assim mesmo na Praça de Londres o soldado lhes falou: Olá camaradas, somos trabalhadores, eles não conseguiram fazer-nos esquecer, aqui está a minha arma para vos servir. Assim mesmo, por detrás das colinas onde o verde está à espera se levantam antiquíssimos rumores, as festas e os suores, os bombos de lava-colhos, assim mesmo senti um dia, a chorar de alegria, de esperança precoce e intranquila, o bater inexorável dos corações produtores, os tambores. De quem é o carvalhal? É nosso! Assim te quero cantar, mar antigo a que regresso. Neste cais está arrimado o barco sonho em que voltei. Neste cais eu encontrei a margem do outro lado, Grandola Vila Morena. Diz lá, valeu a pena a travessia? Valeu pois.

Pela vaga de fundo se sumiu o futuro histórico da minha classe, no fundo deste mar, encontrareis tesouros recuperados, de mim que estou a chegar do lado de lá para ir convosco. Tesouros infindáveis que vos trago de longe e que são vossos, o meu canto e a palavra, o meu sonho é a luz que vem do fim do mundo, dos vossos antepassados que ainda não nasceram. A minha arte é estar aqui convosco e ser-vos alimento e companhia na viagem para estar aqui de vez. Sou português, pequeno burguês de origem, filho de professores primários, artista de variedades, compositor popular, aprendiz de feiticeiro, faltam-me dentes. Sou o Zé Mário Branco, 37 anos, do Porto, muito mais vivo que morto, contai com isto de mim para cantar e para o resto.

José Mário Branco - FMI

Nota: FMI foi editado originalmente em 1982 no maxi Som 5051106, e reeditado em 1996 em 'Ser Solidário' ( EMI-Valentim de Carvalho). Aconselha-se vivamente a sua audição.

Webmaster: franciscojmleitao@hotmail.com (08/2002)

Colonialisticamente africando e rindo!



Portugal em África




Em "O Esplendor de Portugal", Lobo Antunes define o labirinto crítico da situação política e econômica da colonização portuguesa em África, através da voz de uma das personagens evocadas pela filha:

O meu pai costumava explicar que aquilo que tínhamos vindo procurar em África não era dinheiro nem poder mas pretos sem dinheiro e sem poder algum que nos dessem a ilusão do dinheiro e do poder que de facto ainda que otivéssemos não tínhamos por não sermos mais que tolerados, aceites com desprezo em Portugal, olhados como olhávamos os bailundos que trabalhavam para nós e portanto de certo modo éramos os pretos dos outros da mesma forma que os pretos possuíam os seus pretos ainda em degraus sucessivos descendo ao fundo da miséria, aleijados, leprosos, escravos de escravos, cães, o meu pai costumava explicar que aquilo que tínhamos vindo procurar em África era transformar a vingança de mandar no que fingíamos ser a dignidade de mandar, morando em casas que macaqueavam casas européias e qualquer europeu desprezaria considerando-as como considerávamos as cubatas em torno, numa idêntica repulsa e idêntico desdém... (OEP, 255)
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