13 de junho de 2025

"De olho Neles" / O Interior/ Guarda 12-6-2025

 


                                    


                                                DE OLHO NELES

 

                               “Por trás de todo o paladino da moral, vive um canalha”

                               Nelson Rodrigues

Aí temos o tempo dos Santos Populares. Confesso que despercebo quais são mesmo os santos impopulares, ou melhor terei percebido em parte pela votação no Pedro Nuno Santos!

                Este ano para além dos santos populares vão aparecer os andores de indivíduos (as) que se querem afirmar resolvedores de todos os problemas nas urbes pelo País todo. Vai ser um fartar de febras, entremeada, imperiais em copos de plástico, vinho de qualidade duvidosa, e sorrisos em barda para tentar agradar a gregos, troianos e beócios!

                Para abrilhantar o período vão aparecer uma parafernália de candidatos presidenciais de todos os tamanhos, cobertos de ética e sobretudo “assumidores” convictos da defesa de uma Constituição da República que muitos não conhecem. Mas começa a ser o quotidiano dos atores da política espetáculo a que nos fomos ambientando nos últimos anos. “O essencial é invisível aos olhos” Saint Exupery

                Vamos ter festa redobrada e a sensação que teremos tudo resolvido. Como diria alguém, “não há nada tão monótono como a perfeição”!

                Como o Verão se aproxima, vamos aligeirar as vestes e tentemos voltar a irritar-nos com coisas pequenas para ficarmos um pouco mais confortáveis.

                Uma das coisas que mais me “perplexam” é o facto de quando há uma alteração significativa do quotidiano dos portugueses a primeira reação é uma corrida desenfreada ao papel higiénico. Sinceramente gostava que me explicassem este assalto às prateleiras dos supermercados. Desculpem a brejeirice, mas o português parece que perante uma situação anómala gosta do olho limpo! Verdadeiros herdeiros do “semiótico” Camões!

                Esta história do papel higiénico faz-me lembrar uma conversa com um velho amigo português que se manteve em Angola depois da independência. Eu tentava mostrar-lhe as virtudes da revolução, do que então se chamava, “trincheira firme da revolução em África” e ele calmamente ouvia-me e rematou uma vez com esta: Enquanto Angola não resolver o problema donde entra e donde sai não há revolução que aguente. Falava disto pela falta quotidiana de pão e papel higiénico nas lojas estatais então criadas no dealbar da revolução.

                Uma outra coisa que me irrita é encontrar as pessoas nos supermercados a abrir tampas de detergentes, amaciadores, sabonete líquido e correlativos para cheirarem e depois fecharem mal, para o cliente seguinte ficar com as compras cheias de produto no saco. Que sagradas pituitárias que tanto mal vão fazendo.

                Hoje é uma crónica leve, ao saber do sol num Portugal que em certos casos foi bem definido por José Cardoso Pires no Alexandra Alpha: “Isto não é um País, é um sítio mal frequentado”.

Fernando Pereira

6/6/2025

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