29 de novembro de 2008

Adivinha quem vem jantar/Ágora/ Novo Jornal / Luanda 28-11-08



Muito antes de os EUA sonharem sequer que teriam um presidente mestiço, um actor negro nascido nas Bahamas( 20 de Fevereiro de 1927), conseguiu uma proeza impressionante: um Óscar de Hollywood pelo melhor desempenho masculino em Lírios do Campo (1963). Precisamente no ano em que Martin Luther King fazia um dos mais belos discursos de todos os tempos, declarando em Washington que sonhava com um mundo onde os homens não pudessem ser julgados pela cor da pele.
Sidney Poitier estava então para o cinema como Barack Obama está hoje para a política. Impôs-se desde muito jovem em filmes como No Way Out (Joseph L. Mankiewicz, 1950), Sementes de Violência (Richard Brooks, 1955) e Um Homem tem Dez Metros de Altura (Martin Ritt, 1957). Contracenou com Paul Newman, Tony Curtis, Glenn Ford, Richard Widmark - todas as vedetas da época. E continuou a romper barreiras raciais em filmes como Adivinha Quem Vem Jantar e No Calor da Noite, ambos de 1967. Neste, ficou célebre uma réplica sua a Rod Steiger, que fazia de polícia racista: "Chamam-me Mister Tibbs." Uma das frases mais memoráveis do cinema, pronunciadas pelo senhor Poitier. Antes dele, os negros em Hollywood apenas podiam ser mordomos, porteiros de hotel ou pianistas de bar. Depois dele, puderam ser tudo.
Convém também recordar que o filme de 1967 Guess Who’s Coming to Dinner /Adivinha quem vem jantar, de Stanley Kramer, só conseguiu ser estreado em Portugal já durante o ano de 1969, pois Sidney fazia de Dr. Prentice, o noivo de Joey, uma jovem WASP, com uns pais conservadores que rejeitavam o seu amor. Ver um negro e uma branca beijando-se no grande ecran, foi para muitos algo que não dá hoje muito para acreditar, foi um acto quase de militância anti-racista e anticolonialista.
Nasceu a 20 de Fevereiro de 1927 (tem 81 anos).
Já que estamos a “efemerizar”, convém lembrar que se comemoraram em 22 de Novembro de 08, os quarenta anos da publicação do “Álbum Branco” dos Beatles, e não gostaria de deixar de relevar uma efeméride, que até o Vaticano se associou quando “despenalizou” John Lennon, por ele ter dito ao tempo que “ Os Beatles eram mais importantes que Jesus Cristo”, o que lhe valeu a ira dos cristãos e ameaças do Ku-Klux-Klan, para além de manifestações publicas de partir discos ao que o baterista Ringo Starr, terá dito:” Partam mais, porque quanto mais partirem mais tem que comprar”, (pragmatismo q.b..
Porque era importante ouvir um depoimento, resolvi aproveitar o de Rui Pato, que acompanhou todos os álbuns de Zeca Afonso, exceptuando dois já aqui referidos noutra Ágora: “É complicado contribuir para esta efeméride com um qualquer depoimento, porque só muito tarde descobri o valor musical dos Beatles, assim como o papel relevante que eles tiveram na mudança dos estilos musicais da época, até na mudança das mentalidades.
E porquê? Porque eu fiz parte daqueles que, na altura, desprezavam toda a cultura artística anglo-saxónica, virando-nos apenas para os que faziam da arte uma arma de contestação ao poder "imperialista", tal como os músicos e poetas franceses, italianos, espanhóis, cubanos e alguns poucos americanos.
Ensaiavam-se os primeiros passos da música de intervenção, em confronto com o nacional cançonetismo, com o Zeca, o Cília o Adriano, o Sérgio Godinho, etc, etc.
O planeta estava repleto de injustiça social e de conflitos graves; estávamos no rescaldo da guerra civil espanhola, começara há pouco a guerra colonial, o Vietname, a Índia tinha-se revoltado contra os colonialismos, Fidel e Guevara eram os heróis da altura.
O aparecimento dos Beatles, não foi apreciado nos primeiros tempos, já que aparentava, numa análise que então fazíamos, reconheço agora, preconceituosa e um pouco dogmática, ser um produto da cultura urbana de jovens ingleses sem qualquer preocupação social.
Só mais tarde, eu e todo esse "cluster" de músicos contestatários nos viemos a aperceber da verdadeira dimensão musical, também social e política, desses meninos de Liverpool”.
Vale apenas dizer que em 1963 (22 de Novembro) foi assassinado em Dallas, o presidente americano John F. Kennedy, e recordo-me da minha professora da 2ª classe na escola, chorar copiosamente, e eu ter-lhe perguntado porque chorava e ela me ter dito que “morreu um homem que gostava muito de Angola”! Na altura fiquei na mesma!
Em nota de rodapé resolvi aqui colocar a capa do livro editado pela Minerva em Luanda (1961) porque o achei graficamente patusco, apenas por isso, e agradeço ao Pedro Correia a ajuda que me deu neste preguiçoso artigo.

Fernando Pereira
23/11/08
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