2 de abril de 2010

Desculpem qualquer coisinha/ Ágora/ Novo Jornal / Luanda 2-4-2010



Nada do que está a acontecer, sobre os usos e abusos da Igreja Católica me tem surpreendido, e convenhamos que só ainda estamos perante a ponta do icebergue, porque diariamente, as notícias de actos de sordidez sexual por parte do clero, fazem novas manchetes na imprensa internacional.
Sou agnóstico, embora aceite como positivo, uma parte da doutrina social da Igreja, mas sinceramente sou muito relutante, em aceitar os desígnios nebulosos onde se refugiam as religiões para perpetuar a sua influência, e manter o seu estatuto de aparente neutralidade, de igual forma a servir democracias ou totalitarismos, como se pode ver ao longo da história da humanidade.
Nenhuma religião assenta os seus fundamentos numa democracia, algumas até se violentam, quando tem de conviver com os exercícios de cidadania, inerentes à diafonia exigível num espaço de intervenção democrática quotidiana.
No caso da Igreja Católica, assente no primado da infalibilidade do Papa, há toda uma sucessão de situações que me intrigam, e por mais que tente que o silogismo seja certo, desconsigo.
Para além da inspiração divina para a nomeação do Papa, e isso não faz parte do silogismo, mas por obra do Espírito Santo, a verdade é que são os cardeais que nomeiam o Papa, que por sua vez nomeia os cardeais que irão eleger um ou mais Papas, dependendo das circunstâncias versas ou adversas. Porque isto também não é tudo a sério, há cardeais que são pontos, e há Cardeais que são uns verdadeiros pontos. De uns preciso deles, nem me dando a oportunidade de gostar, dos outros sinceramente não gosto, embora reconheça que faço parte de uma minoria, mas paciência.
A maioria habituou-se a gostar deles, porque foi a cultura judaico-cristã que definiu o mapa da Europa e concomitantemente os Novos Mundos, onde Angola se insere, desenhando mapas que na maior parte dos casos estimularam a destruição de sociedades mais justas.
Constantino, Imperador Romano, quando se dá conta que os “bárbaros “, ameaçam as fronteiras do que resta do Império, resolve aderir ao cristianismo, e assim reforça os exércitos e consegue alianças que lhe permitem lutar contra os Otomanos. Manda o Baco, Júpiter, Minerva, Saturno e outros Deuses da mitologia romana” às malvas”, e ei-lo na adesão ao monoteísmo, deixando esses deuses para nomes de marisqueiras, barcos, casas de espectáculos, hotéis e por aí fora.
Anda muita ebulição, nos 44ha do Estado da Cidade do Vaticano, que pelo Tratado de Latrão, assinado em Fevereiro de 1929 entre o Papa Pio XI e o fascista Mussolini, se constituiu como País.
O conjunto de acusações relativas á pedofilia por parte da Igreja Católica, não são de agora, são práticas continuadas há séculos, só que o medo e a possibilidade de manter tudo entre as sólidas paredes da instituição, impediram que a divulgação assumisse a dimensão que estamos a ver, e a expectativa que paira é que nada vai ser como antes.
Hoje, o laicismo dos Estados, a forte dinâmica dos media, a busca de uma cada vez maior liberdade e consequentemente o encontrar novas respostas, leva que a Igreja Católica tente desesperadamente alargar um espartilho por si próprio criado, e não vale a pena dizer-se que há uma ofensiva contra a Igreja, porque na realidade já há demasiados “ casos isolados” , para que as pessoas fiquem indiferentes.
Nada tenho a ver com a Igreja Católica, mas como cidadão acho que uma reflexão sobre o desenvolvimento acelerado da ciência no ultimo século, exige que se acabem dogmas e que não se partilhem silêncios cúmplices, que como já se viu só o são por períodos limitados de tempo, e ninguém está disposto já a guardá-los para o “Juízo Final”.
Aos Estados cumpre apoiar as vítimas, deste sórdido exercício de mentecaptos, que a coberto de uma sotaina, provocam danos irreparáveis em crianças e jovens colocados a seu cuidado.
Devem ser punidos exemplarmente, para que sirvam de exemplo a futuras tentativas de devaneio por parte de quem, muitas vezes se acha com superior autoridade moral, para fazer apreciações sobre algo que recusam no seu próprio seio: a utilização plena da liberdade!
Desculpem-me, mas estou irritado e enojado com tudo isto!

Fernando Pereira
30/3/2010
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