24 de setembro de 2010

C'est un joli nom, camarade!/Ágora/ Novo Jornal / Luanda / 25-9-2010

Alves Redol (1911-1969), foi um dos emblemáticos precursores do neo-realismo em Portugal, movimento cultural de inspiração marxista que teve enorme importância entre a crise de 1929 até ao fim dos anos 50, um pouco por toda a Europa, particularmente na literatura, artes plásticas e cinema (“Roma, Cidade Aberta” de Rosselini é a obra mais emblemática nesta arte)

Um escritor fascinante, Alves Redol, descreve a miséria e a pobreza de um Portugal, principalmente os que vivem nos tugúrios das margens do Tejo a escassas dezenas de km da Lisboa, capital do Império. Gaibéus, Avieiros e Barranco de Cegos, são algumas das obras de um escritor que descreveu de forma inigualável, as margens, o sofrimento, a vida, a luta e a morte de um “Tejo que levas as águas”, que bem cantou esse esquecido amigo de Angola, Adriano Correia de Oliveira.

Redol parte aos 16 anos para Angola em 1928, entusiasmado na aventura de uma vida que dizia “busco, e não encontro cá”, da sua Alhandra tão glosada nas suas obras. Deslumbra-se com a viagem, onde do alto do seu beliche, num habitáculo pequeno e sórdido, que era a terceira classe dos navios, observava tudo ao mínimo detalhe para descrever a viagem minuciosamente no “Vida Ribatejana”, jornal com que colaborou.

Aqui há um hiato na historiografia de militância de Alves Redol, inicialmente do MUD (onde andaram também Agostinho Neto e Lúcio Lara, entre outros nacionalistas africanos), e posteriormente no Partido Comunista Português, já que o jovem Alves Redol, tornou-se um entusiasta das colónias portuguesas, particularmente da obra discutível de Norton de Matos. Sobre este assunto, refira-se a propósito que só no seu V Congresso do PCP, em 1957 no Estoril, se afirma peremptoriamente anti-colonialista, assumindo desde então um alinhamento com os movimentos independentistas das colónias portuguesas, mantendo um importante apoio à sua luta, hoje muitas vezes esquecida e distorcida injustamente.

Alves Redol, começa por trabalhar na Direcção de Fazenda da colónia, e saúda algumas posições então tomadas pelo então ministro das finanças da ditadura, Oliveira Salazar, nomeadamente nos apoios aos colonos “testemunho às virtudes religiosas e cívicas, que de fracos mortais fizeram história”.

Regressa em 1932 a Portugal, com uma imagem muito marcada da importância do Império Colonial, assumindo uma posição quase homérica da afirmação de Portugal no mundo, em frases do tipo “…singravam ao mar em busca de florestas de oiro, de quimeras encantadas, donde qualquer outro povo não tivesse chegado, onde só a bandeira das quinas pudesse governar”.

Só em 1936, Redol começa a despir alguma do seu entusiasmo pró-colonialista, e isso revela-se num conto, “Kangondo”, publicado num jornal do PCP, “o Diabo”, onde ele faz o corte com África, para se dedicar ao seu Ribatejo e à luta do seu povo por ter uma dignidade que já não teve oportunidade de ver, já que a morte não o deixou assistir ao Abril de 1974.

Houve quem tivesse visto alguma similitude, na obra de Alves Redol com a de Castro Soromenho (1910-1968), principalmente em “Homens sem Caminho”, “A maravilhosa Viagem”, mas sinceramente nunca vi grandes convergências, nos pressupostos do neo-realismo, embora assuma que sou um leigo na matéria.

No passado dia 13 de Setembro comemoraram-se os oitenta anos da festa do L’ Humanité, órgão central do PC Francês, onde me deslumbrei quando em 1978, vi ao vivo os míticos Pink Floyd, no palco central de um espaço de cerca de 70 hectares no “Parc Départamental de La Courneuve”, nos arredores de Paris.

Gostava de lá ter estado, para ver a grande homenagem que a “Fete de L’Huma” fez a Jean Ferrat, um dos grandes da canção francesa de intervenção falecido há uns meses (13 de Março de 2010), e também ao enorme José Saramago, o Nobel português recentemente desaparecido.

“C'est un joli nom, camarade


C'est un joli nom, tu sais


Dans mon coeur battant la chamade


Pour qu'il revive à jamais

Se marient cerise et grenade


Aux cent fleurs du mois de mai”

Jean Ferrat (1930-2010) “Camarade”

Havemos de voltar!



Fernando Pereira

21/09/2010

17 de setembro de 2010

Queria não ter tido razão! / Ágora/ Novo Jornal/ Luanda 18-09-2010


Numa das últimas crónicas, neste espaço fui premonitório sobre o livro de Leonor Figueiredo dedicada a Sita Valles.


Disse nessa crónica: “ Recebi um convite para o lançamento do livro de Leonor Figueiredo, com o título de “ Sita Vales – Revolucionária, Comunista até à morte”. Conheci Sita Vales, e lembro-a como uma mulher notável, inteligência brilhante, combativa, algo sectária, determinada como poucos, e sempre lamentei o seu precoce desaparecimento… Não vou ao lançamento, porque acho que a Sita Vales merecia melhor biógrafa, que a autora de uma estulta obra: “ Ficheiros Secretos da Descolonização de Angola”, e porque mereceria melhor editora que a “Aletheia”, uma editora do tipo “Perspectivas e Realidades” com saias!” (SIC)

Li o livro, e digo-o com toda a sinceridade, preferiria não ter tido razão antes do tempo. Pareceu-me uma versão avermelhada de um livro da Condessa de Segur, o que é no mínimo lastimável, para quem tem memória do percurso combativo de Sita Valles.

Descontextualizado da realidade política e militar de Angola ao tempo, muita confusão nos depoimentos e uma tentativa pueril de fazer um libelo ao MPLA e ao governo da RPA de então, misturando factos que terão sido ali colocados, ao jeito de como um tanoeiro fecha uma pipa.

Desapetece-me perder tempo com o livro, e o mais sensato conselho que posso dar é nem o lerem, por razões profiláticas e porque nada traz de novo a algo que é importante ser explicado, sem ser com versões foto novelescas: O que foi o 27 de Maio de 1977.

Mudando a agulha, para temas mais sérios, assumidamente com maior qualidade dos intervenientes, fiquei agradado com a reedição pelo D. Quixote, de duas obras emblemáticas do brasileiro Machado de Assis (1839-!908), “Memórias póstumas de Brás Cubas”, e o “Dom Casmurro”, provavelmente o melhor poeta brasileiro.

O angolano Mário António de Oliveira (1934-1989), foi professor de literatura brasileira na faculdade de letras da Universidade de Lisboa, e invariavelmente começava a primeira aula do semestre com uma provocação: “A literatura brasileira é muito melhor do que a portuguesa”; Burburinho na sala, e ele volta-se a rir para o quadro onde escreve uns versos de Castro Alves. Nunca perdeu o seu ar de rebeldia e a sua costela provocatória!

Voltando a Machado de Assis, vale a pena elogiar a pessoa, ou o grupo de pessoas, que tinha o critério da escolha da importação dos livros no tempo do “Único”, pois importaram-se muitos livros do Brasil, dando a conhecer, José Alencar, Bernardo Guimarães, Olavo Bilac, Castro Alves, Graciliano Ramos, Jorge Amado e outros praticamente desconhecidos da maioria dos angolanos que se habituaram a ler depois da independência. Havia depois uns quantos opinativos, em que a configuração das orelhas não dava para colocar um lápis, que verberavam o que vinha para as livrarias, dizendo que só havia edições da Novosti e da Progresso, embora até houvesse lá uns quantos livros de um “desconhecido” chamado Saramago, que foi o único Nobel de língua portuguesa. Eu descobri livros que reli com o mesmo prazer que me deu quando os li pela primeira vez, como por exemplo “O Alienista” de Machado de Assis.

Continuando na saga de reedições, é excelente que tenham começado a reeditar “O Diário” de Miguel Torga (!907-1995), pseudónimo literário de Adolfo Correia da Rocha, meu antigo otorrinolaringologista, pessoa de ar austero, mas de lindas palavras, imaginadas muitas delas, num dos locais mais bonitos da Europa, em São Leonardo de Galafura, miradouro onde se avista toda a beleza e dureza das terras do Douro.

Já que se fala em reedições de coisas bonitas, o que o início da crónica não permitia antever, relembro que toda a obra de Aquilino Ribeiro está a sair ainda que paulatinamente, recomendável e quiçá encomendável.

Foi o Dr. Eugénio Ferreira, que me meteu o “bichinho “ do Aquilino, e nunca esquecerei que me emprestou “o Malhadinhas”, que li num ápice.

Aquilino Ribeiro, foi uma figura controversa da história de Portugal, sendo mais um combatente que um resistente, e que desde o estertor da monarquia ao dealbar do fascismo lutou sempre com tenacidade, pelos valores da liberdade, da solidariedade e da cidadania plena dos portugueses.

“Olhos brancos em cara portuguesa ou é filho da puta ou erro da natureza”, dizia Aquilino, e com esta acabo, numa crónica que foi feita por ter tido razão antes do tempo!

Fernando Pereira

14/09/2010

10 de setembro de 2010

Ao Correr da Pena/ Ágora/ Novo Jornal/ Luanda 11-09-2010


Na alta de Luanda, onde começa a haver finalmente alguma preocupação em preservar alguns edifícios emblemáticos, lembro-me de ir várias vezes, contrariado, ao Palácio do Prado, propriedade do comerciante, filantropo e comendador José Maria do Prado, doado à sua morte em 1889 ao “Instituto Feminino D. Pedro V”, onde se manteve até ser transferido para novas instalações em 1971.


No início dos anos sessenta, a minha mãe tinha o hábito de fazer voluntariado no instituto, e já sabia que uma vez por semana, se estivesse em Luanda sem aulas, era coagido a acompanhá-la a uma casa de aspecto sórdido, pejada de crianças, com umas freiras de permeio, e uns quartos com dezenas de camas empoleiradas. Esta casa ficava na confluência da ruas do Casuno com a do Sol, precisamente no lado oposto do largo onde hoje está instalado o Tribunal Constitucional na cidade Alta.

Era uma tarde roubada às minhas brincadeiras de rua, e nem algumas lamúrias junto de minha mãe, conseguiam demovê-la para que eu pudesse ao menos ir até ao “Parque Heróis de Chaves”, hoje “Parque da Independência”, onde em vez de vasos, flores e caminhos bem cuidados, vemos carros estacionados, lixo e a prova cabal da inexistência de toilettes públicas na cidade, montes de moscas varejeiras deleitando-se perante excrementos, que nauseiam as pituitárias menos sensíveis.

O “Asilo” assim chamado foi inaugurado com toda a pompa e circunstância, em 1854, num prédio chamado Casa das Torres, em frente à Sé de Luanda, surgiu de um movimento de comerciantes, amanuenses e governantes na sequencia de uma situação em que eram protagonistas duas jovens brancas de 12 e 13 anos, tendo ficado órfãs, e para sobreviver permitiam-se a todos os expedientes, o que colocou a cidade num estado de exaltação, e daí a mobilização para a construção de um lar de desvalidos.

Com o tempo e a frequência das visitas, fui fazendo algumas amigas, que abandonei no início da puberdade, já que deixei de ter idade para ser autorizado a entrar no “D. Pedro V”, tendo a minha mãe dado a alforria, quando efectivamente eu começava a não o desejar, por razões óbvias.

No ano de 1965, tive um choque enorme, quando ao ouvir o noticiário da Emissora Oficial, soube que vinte e oito das muitas que conhecia, tinham morrido, porque numa drogaria por traz do Ministério das Finanças, que ardeu misteriosamente há poucos anos, foi vendido um líquido para os piolhos, tendo o “droguista” dado por engano DDT. Fiquei muito triste, e tentei saber quem tinham sido as infelizes, que naturalmente conhecia, e várias vezes tentei subir ao prédio da Mercearia Delgado, que era o único edifício contíguo alto q.b., para ver se conseguia ver alguém para lá dos altos muros da mansão do Prado, prédio já demolido há uns anos.

Tive que recorrer aos bons ofícios de uma vizinha minha, que estudava no S. José de Cluny, onde andavam algumas das raparigas do orfanato, para saber se algumas das minhas amigas tinha morrido; Não fiquei parcialmente aliviado, porque uma das de quem gostava mais, tinha sucumbido.

Foi uma tragédia enorme, que provocou grande consternação em Luanda, há precisamente quarenta e cinco anos.

Por falar em sucumbir, fez esta semana setenta anos do início do Blitz (7-9-1940) o bombardeamento sucessivo, que a aviação alemã fez sobre Londres e outras cidades inglesas na IIª Guerra Mundial. Foi determinante para engajar a população inglesa na defesa do seu território, o maior esforço de mobilização de sempre do Reino Unido, liderado por um Winston Churchill, que invariavelmente perguntava todas as manhãs se” a cúpula da Catedral de S. Paulo estava intacta”? Como a resposta era afirmativa, Churchill cada vez mais entusiasmo colocava na defesa do seu território.

Bom para a guerra Winston Churchill, idolatrado pelos ingleses, perde as primeiras eleições em paz. Ironias do destino!



Fernando Pereira

7/9/2010

5 de setembro de 2010

Cabeças coroadas? /Ágora/ Novo Jornal / Luanda/ 4-09-2010


Muitas vezes escrevemos algumas das nossas crónicas numa pressinha! O resultado tem um denominador comum: É penoso para quem escreve e fundamentalmente para quem lê.


Quero pedir-vos desculpa pelo conjunto de vulgaridades desta crónica, mas a realidade é que estou sem um estímulo forte, que me permita escrever a parecer razoavelmente bem.

Ouvi recentemente uma conversa entre umas senhoras, já a caminharem para provecta idade, e que para as festas em Luanda nos anos sessenta, levavam as cabeleiras coreanas louras que o falecido Horácio Roque vendia, a lembrarem-se das “mises “ que faziam na “Ana Bolena”, para tentar resplandecer nas festas do Clube dos Caçadores e do Clube Naval, locais eleitos pela burguesia colonial para as suas noites mais badaladas.

A “Ana Bolena” era o salão de cabeleireiro mais afamado da cidade, perto do que é hoje o prédio da BP, e era uma autentica escola de cabeleireiros, já que quase todas as muito aperfeiçoadas profissionais que montavam salão desde a Cuca ao Catambor, referenciavam essa escola, a que não eram alheios os olhares libidinosamente encervejados do androceu“Amazonas”, do outro lado da avenida dos Restauradores, hoje Rainha Jinga!

Faz-me alguma confusão, um salão de cabeleireiro homenagear uma rainha de Inglaterra, que morreu decapitada na Torre de Londres. Eu acho uma situação no mínimo hilariante, como acharia dar o nome de Yull Brinner a uma barbearia. Ana Bolena era uma nobre francesa por quem Henrique VIII se apaixonou, exigiu que o Papa anulasse o seu casamento com Catarina de Aragão, e como o Papa Clemente VII excomungou o Rei, este resolveu fundar a Igreja Anglicana, e torná-la religião de estado, algo que ainda acontece hoje em Inglaterra, em que a rainha é a entidade máxima da Igreja. Para que conste foi mãe de Isabel I de Inglaterra (1533).

“Ana Bolena”, o cabeleireiro, destronou em fama o “Salão Império”, situado num primeiro andar ao lado do Hotel Avenida, que por sua vez está localizado numa rua (!!!) com o máximo de cem metros, ali para os lados do antigo Palácio do Comércio, hoje MIREX. Olhando a história, penso que esta alteração, foi premonitória sobre o futuro do que veio a acontecer em Angola: A cabeça do império acabou decepada!

Havia ao tempo uns malandros da vela, modalidade muito querida pela “BUFA” (designação “reviralhista” da Mocidade Portuguesa, que iam esperar as meninas da “Ana Bolena”, vogando à bolina.

Porque estamos em momentos de generalidades, hoje peguei num esquecido pacote de “Ouro Preto”, um tabaco de cachimbo que a FTU produziu, e que fumei até me assaltarem a casa e me terem roubado uma pequenina, mas preciosa colecção de cachimbos. Era um tabaco notável, e se estivesse muito seco, carregávamos-lhe com um bocado de whisky, e em nada era pior que o Mayflower, o Balkan Sobranie, Amphora, ou outros picados para cachimbo. Embora tenha deixado de fumar, não esqueço aquele aroma de um tempo em que nos primeiros tempos da independência, só alguns saboreávamos mesmo esse néctar.

Foi um “Ouro Preto” que nunca trouxe muitas contas e interesses acrescidos ao País. Fumá-lo, vendo bem algumas coisas até foi uma coisa boa!

Fernando Pereira

31-8-2010

3 de setembro de 2010

Ceausescu em Paris! / Novo Jornal/ Luanda/ 4-9-2010


Assiste-se na Europa, a um recrudescimento de fenómenos de xenofobia e racismo, que abrem caminho, a cenários políticos perigosos num futuro não muito distante.
A recente decisão do governo francês de expulsar os cidadãos de etnia cigana, aliado ao veto de Paris, de impedir a entrada da Roménia no espaço Shengen, é um claríssimo recuo de uma vivencia inter-étnica e multicultural deve ser a comunidade de países.
As tímidas manifestações condenatórias a esta atitude, trazem-me à lembrança Brecht :”Levaram os ciganos, mas como não sou cigano, não me importei”, e na realidade a Europa, ciosa dos valores assentes na sua herança judaico-cristã, vai tentando assim, esconder a sua incapacidade de lidar com minorias, com hábitos e costumes dificilmente enquadráveis na dinâmica económica e social do espaço de uma União Europeia algo asséptica.
Não me surpreende quando uma bosta, um tal Jean Marie Le Pen, que para além de ter seguidores e votantes, tem entre a sua corja mais intima, uma filha, uma tal Pierrete Le Pen, tão fascista e racista como o seu asqueroso pai. Para justificar a compra de uma mansão de família, no campo, como alternativa à sua morada de Paris, disse que precisava de «uma casa onde os filhos vissem vacas, em vez de árabes». Para ver vacas, a descendência de Le Pen não precisa de ir para o campo. Basta deixar-se estar em casa, em família!
Cinquenta anos depois da morte, de um dos seus prémios Nobel da literatura, Albert Camus (1913-1960), não deixa de causar alguma apreensão, estas aleivosias dos responsáveis eleitos do país, onde eclodiu a primeira revolução burguesa da história, onde se estabeleceu a comuna de Paris, que lutou contra o nazismo e que tem como símbolos a Liberdade, a Igualdade e a Fraternidade.
A Argélia e a França disputam o tributo literário de Albert Camus, e a realidade é que no “Estrangeiro”, “a Peste”, “o Mito de Sisifo”, A Queda”, seus romances referenciais, encontramos uma identificação clara com a Argélia, para onde por circunstâncias dramáticas da sua vida familiar teve que viver grande parte da sua infância e juventude.
Embora um “Pied Noir”, foi sempre um simpatizante da causa da FLN Argelina, o que lhe terá valido alguns ódios, por parte dos colonos franceses que abandonaram a Argélia no fim da década de 50. “La Bataille d'Algiers” (1966), primeira longa-metragem argelina, é um excelente documento sobre esses tempos de esperança e fulgor independentista.
Albert Camus é um dos escritores que mais me entusiasmaram, e os seus romances e ensaios sobre o existencialismo foram decisivos, na afirmação política em determinado período da minha juventude. Nos anos sessenta e setenta do século XX, Sartre, Camus e Senghor, dominaram grandes discussões, em oposição a Aragon, Althusser,Marcuse, Krivine, e outros grandes do pensamento e da filosofia política Europeia.
Quando hoje assistimos aos deprimentes exemplos do pequeno Sarkosy, interrogamo-nos onde anda determinada gente, que projectou esperança naquele distante Maio de 1968, e que transformou a França, no País de caros valores dos cidadãos de todas as latitudes.
Porque esta história da expulsão dos ciganos romenos, já começa a ter muitas adesões de outros governos europeus, é motivo de preocupação quanto baste.
Também estou preocupado, porque neste caso estou de acordo com o Ratzinger, que talvez finalmente tenha uma oportunidade, de expiar os silêncios e as cumplicidades espúrias de Pio XII com Mussolini e Hitler.
Vou sentar-me de novo a rever “La Megio Gioventú” ( A Melhor Juventude) de Marco Tullio Giordana, um filme nostálgico, premiado em Cannes em 2003, sobre uma Itália e uma Europa percorrida em quarenta anos. Adquiram-no, vejam-no, e vão ver que no fim ficam a dizer muito menos mal de mim!
Fernando Pereira
30/08/2010
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