11 de janeiro de 2015

Para ti Maria



“De Bragança a Lisboa

São 9 Horas de distância

Q’ria ter um avião

P’ra lá ir mais amiúde(…)

(…)”Outra vez vim de Lisboa

Num comboio azarado”


Esta antiguinha musica dos “Xutos e Pontapés” deu-me o mote para regressar ao presente, das muitas vezes que sou obrigado a viver as peripécias de uma viagem de comboio entre Lisboa, Celorico da Beira e volta.

Aqui há uns anos a CP resolveu, e em boa hora, dotar o país de um serviço mais rápido e confortável de comboios intercidades, que se propunha ligar as cidades do interior a Lisboa e Porto.

O serviço funcionou razoavelmente bem nos primeiros anos. O material circulante era bom, os horários apelativos para que um cada vez maior número de pessoas utilizassem o intercidades, e raríssimas vezes havia atrasos. O preço era aceitável tendo em conta o esforço que a CP tinha feito para instalar esta oferta supletiva.

Com o passar dos anos começámos a assistir ao Intercidades a parar cada vez mais, em locais onde não entra nem sai ninguém, e estações que começam a estar praticamente abandonadas, a maioria das suas instalações com portas e janelas entaipadas e com um ar de desleixo e lúgubres. Da Guarda a Lisboa passou o comboio a sair cada vez mais cedo para chegar à hora inicial, quando o horário é cumprido, situação que não me lembro de ocorrer quer no sentido Lisboa-Guarda, quer Guarda-Lisboa nos últimos anos.

Hoje, o que assistimos é a degradação continuada do serviço, com carruagens cada vez mais sujas, logo no início da rota e cada vez se desespera mais pelas horas que se passam no comboio ou nas esperas em estações com cada vez menos condições de salubridade, para já não falar na pobreza dos serviços disponíveis a bordo.

A maior parte das estações intermédias só abrem as suas bilheteiras num período em que não passam comboios, o que não deixa de ser risível. No interior do comboio, no seculo XXI, não podemos comprar o bilhete por terminal de multibanco, máquinas que também não estão disponíveis na maior parte das estações do percurso. Já tive que pedir emprestado dinheiro a um conhecido para pagar o bilhete, senão arriscava-me a ser punido com coimas, no mínimo!

Já nem me atrevo a pedir wi-fi na carruagem, mas pelo menos que houvesse um local, para além da ficha da máquina de barbear das casas de banho, que permitisse carregar um “Tablet” ou um “hi-phone”, que não conseguem ter carga suficiente para suportar os atrasos “desconsideráveis” para os utentes das linhas de intercidades!

Por vezes apetece-me viajar em primeira classe e começa a ser recorrente chegar a Santa Apolónia para comprar o bilhete e dizerem-me que está esgotado. Resignado, apesar de agradecido por me obrigarem a poupar, lá vou em segunda, e na realidade no Entroncamento a carruagem de primeira classe fica praticamente vazia. Fiquei perplexo quando percebi que têm direito a bilhete a custo zero os trabalhadores da CP e da REFER, pois numa das viagens em ambiente demasiado ruidoso, que fiz no troço entre Lisboa e o Entroncamento, vi um dos bilhetes do meu companheiro do lado esquecido, que confirmou as minhas suspeitas.

Acho que os ferroviários devem ter direito a viagens gratuitas, o que devia ser prática comum nos trabalhadores de todas as empresas de transporte, mas também é meu entendimento que não deve a companhia sair prejudicada, já que o potencial cliente pagante acaba por ser preterido pelos funcionários da empresa. Voltarei a este tema muito em breve.


Por: Fernando Pereira
6-1-2015
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