7 de maio de 2010

PALAVRAS CRUZADAS/ Ágora/ Novo Jornal / Luanda- 7/5/2010




«Não tem direitos por isso compra favores. Fica a dever favores. Faz favores. Para pagar os favores. Compra novos favores. Fica a dever favores. Faz novos favores. Para pagar os favores faz favores. Paga favores. Gosta assim. Não tem direitos. Prefere favores. Gosta assim. Os direitos não se vendem nem se compram e ele tem alma de traficante».
Alberto Pimenta (1973)
Este poema traz-me à memória, um conjunto de poetas, que em determinados momentos das suas vidas, resolveram não calar o inconformismo por tudo o que estaria à sua volta.
Hoje, dei uma volta a pé pela cidade de Coimbra, e quando me sentei no café Tropical, que anda em comemorações dos seus sessenta anos, lembrei-me de várias pessoas que me ajudaram a moldar ideias, a fortalecer valores e objectivamente a fazer escolhas ideológicas, e uma clara afirmação de opção de classe, algo que desapareceu quase por completo do léxico político, do comum dos cidadãos com responsabilidades políticas de mando.
Está diferente, o Café Tropical, mas não o suficientemente diferente, para olhar para os locais, onde revi sentado o Joaquim Namorado (o tal do “Aviso à Navegação”), o Orlando de Carvalho, que embora falando para si com os ouvidos dos outros, era um verdadeiro senhor, culturalmente do melhor com quem tive o privilégio de conviver, o Soveral Martins, que com o Manuel Rui Monteiro e outros “românticos” puseram de pé “A Centelha”, editora marginal, talvez inspirada no poema do Sebastião da Gama: “Pelo sonho é que vamos/ comovidos e mudos… . Era lá que encontrava Zeca Afonso nas suas vindas a Coimbra, para tentar atrasar a doença que o minava, e ainda é por lá que vou encontrando o Fernando Martinho o Henrique Faria, o Ferreira Mendes, dedicadíssimos amigos, excelentes esculápios, sempre disponíveis para tratar da sua gente de Angola, que os procura porque os conhece, ou porque conhece alguém que os conheça a eles. Parou por lá Orlando Rodrigues, Fernando Sabrosa, Óscar Monteiro, Aníbal Espírito Santo, Garcia Neto, Eurico Gonçalves, Roberto Monteiro, Luís Filipe Colaço e seu irmão, Nene Pisarro, Saraiva de Carvalho e tantos de muito boa gente que não fazendo vida de café, ajudou à mesa do café Tropical decidir muito da vida colectiva de muitos, e de cada um.
Carlos de Oliveira, João Cochofel, Fernando Assis Pacheco, José Carlos de Vasconcelos, tiveram poiso certo no Tropical antes de debandarem para outras paragens. Em determinada altura 60m2 de sala, distribuídas por oito mesas, apertadíssimas conseguiam reunir um pouco da elite intelectual de Portugal e colónias, em circunstancias que as pessoas terão pensado que nunca se chegaria a situações que vamos vivendo, sintetizada na velha frase do nosso descontentamento, e do esboroar dos sonhos: “Não foi isto que combinámos!”
Porque me apetece recordar Joaquim Namorado, que tanto me ensinou, menos Matemática, e convenhamos bem tentou, aqui fica o seu poema: “Fábula”
No tempo em que os animais falavam/ Liberdade! / Igualdade! / Fraternidade!
Fernando Pereira
2/5/2010
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