17 de junho de 2011

FALTA SEMPRE ALGUMA COISA / Ágora/ Novo Jornal nº178 / Luanda 17-6-2011





Na passada semana João Gilberto fez oitenta anos, ele que é o último dos criadores da Bossa Nova vivo, que há uns anos se vai resguardando de toda a gente no seu apartamento no Leblon, resolveu para comemorar o seu aniversário dar um conjunto de oito espectáculos, raro nos últimos vinte anos.
Apesar do meu ouvido ser quase um mineral que cristalizaria no sistema ortorrômbico, tenho classificado entre os dez melhores álbuns de sempre, o Getz/ Gilberto, uma parceria entre os virtuosos Stan Getz, Tom Jobim, Astrud Gilberto e naturalmente João Gilberto. Foi aí que a “Garota de Ipanema” se tornou definitivamente uma canção pop intergeracional . A título de curiosidade, a “Garota de Ipanema” de Jobim é a canção em língua portuguesa mais tocada e ouvida no mundo.
Pontualmente percorro o “Portal do Governo de Angola”, que apesar de parecer revelar-se pouco expedito para consulta rápida, acho razoável para quem quiser ter uma ideia sobre a organização do poder executivo no País. Graficamente apelativo, o “Portal” tem o senão de ter poucas actualizações e pontualmente ter omissões e erros imperdoáveis.
A título de exemplo pego no caso do “Ministério da Juventude e Desportos” e sem nada de extraordinário aparece o perfil do Ministro Gonçalves Muandumba e seus vices, a surpresa está no “Histórico” do Ministério onde aparece esta pérola:”O Ministério da Juventude e Desportos é dirigido actualmente pelo Dr. José Marcos Barrica”, por sinal o actual embaixador de Angola em Portugal.
Continuando a “folhear” o site vê-se que há omissões e incorrecções que admito serem involuntárias, como por exemplo ignorar-se que o primeiro Director do Conselho Superior de educação Física e Desportos foi Pedro Augusto, demitido na sequência do 27 de Maio de 1977, substituído por Hermenegildo de Sousa e já empossado como Secretário de Estado de Educação Física e Desportos Ruy Mingas em 1979, organismo que tem o seu primeiro quadro orgânico aprovado no âmbito do decreto 89/81. A agenda de eventos do ministério precisa também de ser actualizada, pois as ultimas informações que existem é de 2010.
“A Filha Rebelde” é um livro de José Pedro Castanheira e Valdemar Cruz que conta a vida de Annie Silva Pais, filha do director da PIDE-DGS Fernando da Silva Pais, que casada com um diplomata colocado em Cuba acabou por aderir de corpo e alma à Revolução Cubana a viver então os seus dias mais agitados.
Annie, filha única do poderoso chefe da polícia política portuguesa afirmou-se como uma enorme entusiasta da revolução socialista, privando com Che e Fidel, participante de forma dedicada em todas as tarefas que o Partido Comunista de Cuba determinava, desde brigadas de alfabetização à apanha de cana do açúcar, tendo por lá falecido na década de 80.
O livro, que é um trabalho de jornalista, foi motivo de controvérsia quando foi apresentado, não sendo ignorado também pelo enfoque que o “Expresso” lhe deu.
Foi adaptado ao teatro pela escritora Margarida Fonseca Santos e apresentada no Teatro D. Maria II em Lisboa.
Os familiares de Silva Pais, decidiram pôr em tribunal os directores do Teatro, a escritora Margarida Fonseca Santos e os autores do livro, argumentando que a peça era ofensiva ao carácter do antigo director da PIDE-DGS.
No mínimo isto é bizarro já que um tribunal de um Portugal democrático, aceita que pessoas intelectualmente probas se sentem no banco dos réus porque “insultam a memória de um funcionário público com carreira excepcional”. Ignóbil descaramento!
Estamos a falar do chefe dos torcionários da PIDE-DGS, o homem que só acreditava na justiça dos tribunais plenários, que aceitava a prisão preventiva até três anos sem julgamento, que era o superior de uns títeres inferiores que tentavam obter confissões à custa de pancadaria, torturas várias e chantagem psicológica e emocional dos prisioneiros e familiares, em que a maioria das acusações eram crimes tão comezinhos como o delito de opinião e apego a valores democráticos.
Muito mau o que se está passar, e por isso a minha solidariedade com todos os réus deste processo da “Filha Rebelde” é acima de tudo um acto de revolta cívica na defesa de valores da liberdade, que quem está no banco dos réus representa.

Fernando Pereira
11/6/2011
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