14 de novembro de 2019

Essa é que é Eça / o Interior/ Guarda 15/11/2019




Essa é que é Eça
A 16 de Agosto de 1900, morre em Paris, o jornalista, escritor, jurista e diplomata português José Maria de Eça de Queirós (1845-1900), natural da Póvoa de Varzim. Hoje aqui deixo um pensamento seu que é um alerta continuado:"Todos nós hoje nos desabituamos, ou antes nos desembaraçamos alegremente, do penoso trabalho de verificar. É com impressões fluídas que formamos as nossas maciças conclusões. Para julgar em Política o facto mais complexo, largamente nos contentamos com um boato, mal escutado a uma esquina, numa manhã de vento. Para apreciar em Literatura o livro mais profundo, atulhado de ideias novas, que o amor de extensos anos fortemente encadeou—apenas nos basta folhear aqui e além uma página, através do fumo escurecedor do charuto. Principalmente para condenar, a nossa ligeireza é fulminante. Com que soberana facilidade declaramos—«Este é uma besta! Aquele é um maroto!» Para proclamar—«É um génio!» ou «É um santo!» oferecemos uma resistência mais considerada. Mas ainda assim, quando uma boa digestão ou a macia luz dum céu de Maio nos inclinam à benevolência, também concedemos bizarramente, e só com lançar um olhar distraído sobre o eleito, a coroa ou a auréola, e aí empurramos para a popularidade um maganão enfeitado de louros ou nimbado de raios. Assim passamos o nosso bendito dia a estampar rótulos definitivos no dorso dos homens e das coisas. Não há ação individual ou coletiva, personalidade ou obra humana, sobre que não estejamos prontos a promulgar rotundamente uma opinião bojuda E a opinião tem sempre, e apenas, por base aquele pequenino lado do facto, do homem, da obra, que perpassou num relance ante os nossos olhos escorregadios e fortuitos. Por um gesto julgamos um carácter: por um carácter avaliamos um povo." Eça de Queirós, in 'A Correspondência de Fradique Mendes'
Bem, parte do artigo está feito! Obrigado Eça de Queiroz!
Devo andar distraído, porque de há uns tempos a esta parte não tenho dado conta de realizações de um “movimento pelo interior”, que há pouco mais de um ano enchia as parangonas de órgãos de comunicação social, tendo até a inefável Fátima Campos Ferreira feito um programa em que no final vinha a velha frase batida, “Nada será como dantes a partir de agora”.
Este movimento volatilizou-se e alguns dos seus proeminentes membros espalharam-se por outros lugares, deixando o mesmo vazio que encontraram quando apareceram a dar a cara por este envolvimento quase cívico!
No caso de alguns distritos do interior perderam-se deputados, mas também não virá daí mal ao mundo, porque de facto não são eleitos por um círculo, mas circulam mais nos bastidores dos partidos que os trouxeram a concorrer pelos distritos “onde já não se passa nada”!
Vamos aqui a uns exemplos comezinhos. Num País onde se fala na instalação do 5G para uma mais rápida velocidade da internet, eu no interior aprofundado por certa gente ainda tenho a ADSL que cai e levanta-se, para desespero do utilizador. É precisa no mínimo alguma fibra para aguentar isto.
Com temperaturas mais baixas que o litoral “desenvolvido” sou obrigado a gastar mais energia, ou a encontrar soluções alternativas de aquecimento; O preço de tudo isso é igual ao de todo o País. Haja igualdade no frio também!
Poderia fazer aqui um rol de situações do tipo, mas as pessoas que são ouvidas na capital sabem do que se passa, e a cada ciclo fica tudo rigorosamente pior pela letargia dos poderes públicos, que pouco se importam com o interior, porque não dá votos, e por isso dou-lhes alguma razão em desimportarem-se com a malta daqui!
Já foi tempo em que me exasperava e desesperava por ver que tudo ficava mais na mesma, hoje limito-me a olhar com maior serenidade a inevitabilidade que rodeiam as circunstancias do local onde vivemos!
Vamos às castanhas que é tempo delas!
Fernando Pereira
10/11/2019

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