10 de maio de 2009

Toponimando I / Ágora / Novo Jornal /Luanda 8-5-09



O cidadão de Luanda, há muito que se esqueceu de olhar para as placas indicadoras do nome das ruas e avenidas da cidade, porque senão seria motivo para criar novos dichotes, particularidade muito comum no estar normal do caluanda.
Deambular descontraído pela Luanda de hoje, que ao contrário do que diz certa gente, é possível fazer-se com alguns cuidados, nada que não seja comum noutras cidades grandes, noutras latitudes e noutros contextos económicos mais favorecidos, aqui as pessoas deparam-se com um verdadeiro caos no que se refere à toponímia da cidade.
Acho de elementar bom senso, que a toponímia da cidade capital do País passe a ser coerente, com o facto de termos mais de trinta anos de independência, e de sentirmos que Luanda é uma cidade de múltiplas referências, mas com a identidade da angolanidade bem vincada.
Despercebo porque razão as placas de toponímia tem que ser com azulejos, quando a azulejaria nunca foi marcante em período algum da nossa história, como também não entendo porque se escolhem cores que nada tem a ver com as cores da cidade, ou do País, ficando ao critério, e neste caso ao mau gosto, de alguém que só por um aumento desmesurado de “besuguice” urbanística , deixa de relevar o seu mau trabalho.
Não é pretensão minha elaborar a “carta guia da toponímia Luandense”, mas apenas tentar alertar que o que está feito, está muito mal feito, pois quando há trinta anos se ultimou a primeira fase de substituição da toponímia colonial, não houve a preocupação de tirar as antigas placas, e nalguns casos até é bizarro, ver-se a placa actual por baixo da denominação antiga (Facilmente constatável em muito lugar, como por exemplo na Rua Sequeira Lukoki, que tem a placa do Rua Governador Eduardo Costa precisamente ao lado!!).
Outro ponto em destaque, tem a ver com a total ausência de informações sobre a pessoa que dá o nome à rua! Refiro-me a Valódia, por exemplo, que tem justificadamente o seu nome numa das mais emblemáticas avenidas de Luanda, e que cada vez há menos gente a saber quem é. A sua perpetuação numa rua, é objectivamente para honrar a sua memória e ser lembrado por todos os cidadãos angolanos. Também sobre esta avenida, cumpre-me esclarecer que ela é Valódia até certa altura, depois volta a ser Combatentes da Grande Guerra, para novamente terminar como Valódia, tendo em conta as placas existentes ao longo da via.
Outro exemplo caricato, tem a ver com as placas recentemente colocadas, e que mais uma vez reflectem a falta de um critério uniforme nos “dizeres” . Na Rua do 1º Congresso do MPLA, que não percebo porque é que passou a rua, quando tem todo o perfil de avenida, há uma placa que diz “Rua do 1º Congresso” (sic), sem que alguém consiga perceber a que congresso se refere, quando foi, ou se de facto é uma rua que homenageia todos os 1ºs congressos passados e futuros, isto numa de devaneio humorístico.
Ainda outro exemplo, relativamente a placas, deve-se citar a da Rua Frederich Engels, que é a Rua da EPAL, e que tem aquilo que vulgarmente se chama excesso de informação: “Rua Frederich Engels 1820-1895, filósofo alemão que com Marx e Lenine criaram o socialismo”
Sinceramente estou a falar de evidências, e nem sei se Luanda tem uma comissão de toponímia a trabalhar com regularidade, se tem um regulamento aprovado, e quem tem assento nessa eventual estrutura. Só me cumpre dizer que se tem, está demasiado letárgica, se não existe, devia começar a trabalhar-se já para que começasse a produzir resultados de imediato.
A toponímia numa cidade capital reflecte a realidade histórica e social de um País, e só os eleitos tem pleno direito de figurar no quadro de honra da cidade que os resolveu eleger como seus cidadãos, ou parceiros no caso de cidades ou acontecimentos históricos.

(Continua)
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