17 de dezembro de 2010

Crónica Molengona / Ágora / Novo Jornal / Luanda 18-12-2012



Uma das mais fascinantes obras do cinema documental é Olympia 1. Teil - Fest der Völker, Ídolos do estádio, filme de propaganda de 1938 de Leni Riefenstahl (1902-2003) documentando os Jogos Olímpicos de Verão de 1936, em Berlim.


Durante cerca de aproximadamente duas horas, assistimos à verdadeira montagem que Hitler e o nazismo fizeram de uns Jogos Olímpicos que procuravam exaltar os valores da superioridade da raça ariana. Apesar dos ângulos de multidão focarem primordialmente as manifestações nazis no estádio olímpico de Berlim, a forma como Riefenstahl mostra os corpos dos atletas “não arianos”, e as expressões de Hitler quando da vitória do afro-americano Jesse Owens, são motivo de alguma tolerância para uma simpatizante nazi, mas que acima de tudo era exigente nos conteúdos e nas técnicas empregues.

A técnica empregue nesse filme, foi tão inovadora que ainda hoje faz escola nas imagens das transmissões televisivas de eventos desportivos.

Leni Riefenstahl, passou uma boa parte da sua longa vida a fazer fotografia, dando-nos belíssimos trabalhos recolhidos em tribos do Sudão. Aos oitenta anos passou a dedicar-se à fotografia submarina e a filmes sobre a vida aquática, tendo estreado quando fez cem anos, o filme “Impressões subaquáticas”.

Quem me levou a conhecer Riefenstahl foi o professor José Esteves, hoje com mais de noventa anos e ao que julgo saber ainda com a lucidez suficiente para acompanhar alguns profissionais de Educação Física que com ele almoçam regularmente, onde encontramos os nossos conhecidos professores António Sousa Santos e Carlos Gonçalves, entre outros.

José Esteves em 1970 inaugurou uma colecção de história e sociologia do desporto da Prelo Editora com “O Desporto e as Estruturas Sociais” , ainda hoje uma obra obrigatória para a compreensão do que foram os anos da ditadura e do colonialismo na educação física e desporto escolar e federado. Já no fim da década de setenta publica pela Básica Editora o livro “Racismo e Desporto”, documento onde se denuncia a sordidez do espectáculo desportivo e a exploração que incide nos atletas, particularmente nos “favelados” do mundo, explorados por uma máquina que trucida valores ou regras minimamente aceitáveis.

Tentei enquanto primeiro director do CNDI da Secretaria de Estado dos Desportos da RPA, divulgar estes textos, promovendo até o piratear de alguns excertos das suas obras, bem como a de outros autores como Manuel Sérgio, Noronha Feio, Melo de Carvalho, Teotónio Lima, admitindo o meu tremendo insucesso.

José Esteves foi nos anos cinquenta “desterrado” para o Liceu Salvador Correia, por motivos de ordem política, onde conviveu com alguns alunos que entretanto optaram por ir para a guerrilha na luta pela independência de Angola. Também em Luanda foi incomodado, porque era incómodo e ei-lo de novo devolvido ao Liceu D. João III em Coimbra onde estava colocado antes da sua “campanha africana”.

Figura prestigiada no universo da educação física, no contexto histórico e sociológico, José Esteves, merecia que eu me lembrasse dele, porque ajudou-me a ver o desporto com outros olhos nos mesmos óculos.

Acabei de ler o livro do jovem investigador Fernando Tavares Pimenta, “Portugal e o Seculo XX – Estado-Império e Descolonização (1890-1975), editado pela Afrontamento (5-2010). Fernando Pimenta tem merecido neste espaço um reconhecimento da excelência do trabalho de investigação que faz sobre Angola, de uma pessoa que não conhece, nem tem qualquer tipo de ligação ao território, a não ser fazer trabalhos universitários cientificamente valorosos em que o tema é o nosso País.

Este livro é diferente no que li nas três obras anteriores já publicadas, mas penso ser interessante, e de linguagem acessível sobre alguns períodos “penumbrosos” da história contemporânea comum de Angola e Portugal.

Bom Dia da Família a todos vós!

Fernando Pereira

13/12/2010





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