20 de agosto de 2010

O Colonialismo nunca existiu!/Ágora/ Novo Jornal/ Luanda/ 21-8-2010



“Sobre a nudez crua da verdade, o manto diáfano da fantasia”
Eça de Queiroz


Saiu recentemente um livro do jornalista e escritor cabo-verdiano José Vicente Lopes, nascido na cidade do Mindelo em 1959, Tarrafal- Chão Bom, Memórias e Verdades (II Volumes). Editado pelo Instituto de Investigação e do Património Culturais, (2010).
Li o livro, e na realidade estamos perante mais uma tentativa, ainda que dissimulada de branquear o fascismo e o colonialismo.
Em dois volumes, e apesar de ter ficado com a convicção que é um trabalho valoroso, na busca de alguma seriedade, acaba por centrar grande parte do leitmotiv do sua pesquisa, no relatório das visitas da Cruz Vermelha Internacional ao tenebroso Tarrafal, símbolo maior da repressão do colonial-fascismo português desde a década de 30 do século XX.
Contraria milhares de depoimentos escritos e gravados ao longo de mais de trinta e cinco anos, e no caso de Angola contraria os minuciosos trabalhos de Dalila Cabrita Mateus, “Memórias do Colonialismo e da Guerra” ASA (11-2006), ou a PIDE- DGS na Guerra Colonial 1961-74, edições Terra Mar (5-2004). Mendes de Carvalho, em várias obras e depoimentos, centenas de outros em boletins da MUNAF, e outros que conheço, e por lá passaram muito mal não mereciam esta afronta.
O Tarrafal era para uns observadores suíços, que não falaram com os prisioneiros um ressort de luxo! Enfim… Comparados com prisões africanas era um paraíso! Desculpem mas já agora cumpre-me perguntar ao autor deste panegírico de prisões, se alguém perguntou que delitos tinham os tais” beneficiados com prisão em local paradisíaco”,e o que é que objectivamente tinham feito! O único crime que cometeram foi o de delito de opinião, e por apoiar a independência dos seus países sob tutela do colonialismo português.
Começo a ficar um pouco farto desta “lavagem “ do que foi o colonialismo, de que nem Portugal nem as colónias tinham culpa.
O José Vicente Lopes parece não ser suficientemente crescido, para perceber que a uma missão da CVI, ou outra estrutura internacional que fosse a uma prisão com as autoridades coloniais, era muito fácil sair ludibriada, e nem precisavam de lhe enviar umas meretrizes aos quartos do hotel, para que a infidelidade no relatório fosse tão grande.
O José Vicente Lopes, pegue no “Alvorada em Abril” do Otelo Saraiva de Carvalho, e veja como ele explica como é que os jornalistas estrangeiros, e os observadores da ONU, foram a Madina do Boé, em plena Guiné Bissau, sem nunca saírem dum périplo de 40km ao redor de Bissau!
José Vicente Lopes, olhe que anjos há nos altares, e a maior parte das vezes estão cheios de pó e teias de aranha!
Não há prisões boas para prisioneiros de consciência. A gente que “Tarrafalou”, foi gente que queria que a sua terra tivesse um percurso coerente, com a história contemporânea, e Adriano Moreira e todos directores do Tarrafal, mais não foram gente que não merece a menor comiseração, por muito bons chefes de família que fossem, e talvez mesmo benfiquistas e tementes a Deus.
Penso poder dizer-vos que estão perante um livro a evitar!
Recebi um convite para o lançamento do livro de Leonor Figueiredo, com o título de “ Sita Vales – Revolucionária, Comunista até à morte”.
Conheci Sita Vales, e lembro-a como uma mulher notável, inteligência brilhante, combativa, algo sectária, determinada como poucos, e sempre lamentei o seu precoce desaparecimento, para além da forma hedionda como ocorreu. Nada, mas rigorosamente nada, vale mais que a vida de uma pessoa, e embora divergente nalgumas posições, o seu desaparecimento ainda faz sangrar o coração dos angolanos, e ainda hoje me lembro dela, com um lindo sorriso de esperança numa Angola sonhada para ser diferente. Era muito bonita a Sita!
Não vou ao lançamento, porque acho que a Sita Vales merecia melhor biógrafa, que a autora de uma estulta obra: “ Ficheiros Secretos da Descolonização de Angola”, e porque mereceria melhor editora que a “Aletheia”, uma editora do tipo “Perspectivas e Realidades” com saias!
Que me desculpem, mas o Colonialismo existiu e as marcas ficaram, e desapetece-me um dia ir visitar o Crown Plazza Tarrafall!


Fernando Pereira
20/8/2010
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