27 de fevereiro de 2009

Aplauso: Um eco do lugar-comum/ Novo Jornal /Ágora- Luanda 27/02/09



Numa das minhas recentes deambulações pelas livrarias, comprei o recente livro do Manuel Rui Monteiro, editado pela Caminho, “ A Janela de Sónia”.
Ainda não o li, e espero fazê-lo rápidamente na adiada esperança de fazer o que nunca consegui: dizer mal de um livro do Manuel Rui. Nãoé só por corporativismo coimbrão, a verdade é que acho o Manuel Rui o melhor escritor angolano, e procuro não perder nada do que ele vai escrevendo, desde artigos de opinião a livros ou trabalhos diversos.
Em 1973, na montra da Bertrand em Coimbra,a poucos metros do consultório do Dr.Adolfo Rocha, vulgarmente conhecido no mundo das letras por Miguel Torga, estava uma primeira edição de um livro de capas verdes titulado de “Regresso Adiado”, editado pela Centelha. Uma editora, que era pouco mais que um armário do cartório do Soveral Martins e do Manuel Rui perto da praça da Republica, que ia editando o bom que podia. Comprei esse livro por 20 escudos, o que era muito para o tempo e por uma obra de um desconhecido.
Por interpostas pessoas fui acompanhando o que o Manuel Rui tinha escrito na Vértice, revista de literatura e ideias que se tem mantido com alguma irregularidade ao longo de quase 70 anos, e onde muitos e bons poetas debutaram, e onde se partilharam boas ideias.
Não vim aqui fazer nenhuma crónica sobre o Manuel Rui, até porque em boa verdade vou guardar algumas coisas sobre o seu trabalho literário para ulteriores oportunidades.
Sou um rato de papeis, livros e correlativos, e quando entro numa livraria vasculho, e acabo por comprar muito além do que pretendia. Acontece-me invariávelmente isso numa grande livraria, como também pode acontecer num sórdido vão de escada onde um tipo de óculos com lentes garrafais e pieira nos pulmões está sentado num “mocho” atulhado de livros que nem sequer faz ideia do que tem, mas que foram comprados com discussões do preço à medida infinitesimal.
Tenho por isso comprado muita coisa boa, mas raras vezes barata, porque normalmente o tipo alfarrabista, se nos vê muito interessado num livro, é porque tem a certeza que o vou levar.
Isto não vem a propósito de quase nada, mas aqui há uns tempos comprei alguns livros de três “amaldiçoados” autores portugueses: Luis Pacheco, Cesariny e Alberto Pimenta. Confesso que recomendo uma leitura “desta gente”, porque tem coisas deliciosas.
Num livro de Alberto Pimenta, “ A repetição do caos” da “&etc.”, vem uma história curiosa que teimo em reproduzir, sobre a gasosa em 1948!!!
“1948- o meu pai foi às finanças fazer um requerimento, e como de costume fez questão que eu o acompanhasse. Para “aprender a vida”. Em casa explicou-me minuciosamente a fórmula e o motivo do requerimento. No fim, meteu dentro da folha uma nota de 50 escudos e disse-me:- Esta é a parte mágica da fórmula. Quando tiveres um pedido a fazer, já sabes, o segredo é este.
Passados uns meses enviei a minha primeira declaração de amor e, como 50 escudos era muito para as minhas posses, juntei uma moedinha de 2$50. Nunca tive resposta, decerto foi por ser tão pouco”
Quero também referir que a D. Quixote fez sair uma obra que urge comprar, que é nem mais nem menos que a compilação num volume só, de tudo do Nuno Bragança, onde para além de outros romances surge a incontornável “ A Noite e o Riso”, considerada, largos anos após a morte do poeta, como um dos 100 melhores livros portugueses de sempre. A obra chama-se Nuno Bragança (1929-2009).
Já que estamos a falar de livros, se tiverem arrojo, comprem o “Dicionário do Diabo” , de Ambrose Bierce, editado pela Tinta da China, e que tem as definições exactas para quando certas coisas nos correm mal, e mais tarde verificámos que ainda bem que isso aconteceu.
Dinheiro, neste dicionário:”Uma benção que só se torna vantajosa quando a damos a ourtra pessoa. Um sinal exterior de cultura e um passaporte para a sociedade elegante. Bem suportável”
Para que conste, o Manuel Rui nunca me deu nenhum livro, nem nunca me pediu para dizer bem dele, mas que escreve bem, não haja a menor dúvida.

Fernando Pereira
21/02/09

24 de fevereiro de 2009

Boletim do CNDI da Secretaria de Estado da Educação Física e Desportos/ Outubro 1982


Quando fui director do Centro Nacional de Documentação e Informação da Secretaria de Estado de Educação Física Desportos da Republica Popular de Angola, começou a editar-se este boletim regular. Fui o 1º Director do CNDI.

21 de fevereiro de 2009

Turismo talvez tenha hora / Novo Jornal /Luanda/ Economia/

Por razões profissionais, já que sou um pequeno empresário de turismo, e simultaneamente agente dinamizador do associativismo nessa área, faço normalmente um périplo anual por um conjunto de eventos de promoção turística.
A título de exemplo, em finais de Novembro do ano passado visitei uma interessante feira de turismo da natureza, aventura, enologia e rural, na cidade espanhola de Valladolid. A INTUR, realiza-se todos os anos e é um evento interessante na promoção de um segmento de turismo que começa a ser cada vez mais procurado, em alternativa ao que vulgarmente é denominado por turismo massificado, aglutinador de recursos e gentes e factor de crescente relevância no PIB de muitos Países.
Em Janeiro, eis-me “peregrino” a duas feiras que acompanho há muitos anos, a bem dizer desde a sua primeira edição no caso da Bolsa de Turismo de Lisboa (BTL), a partir da 3ª edição da Feria Internacional de Turismo (FITUR) em Madrid, que é das maiores feiras de promoção turística do mundo, a par da World Travel Market de Londres, em princípios de Novembro, da BIT em Milão, e da ITB em Berlim, entre Fevereiro e Março.
Sucintamente, posso dizer que a BTL, é quase que um aperitivo para a grande mostra de Madrid, uma semana depois. A maior parte dos expositores são autarquias, regiões de turismo, algumas cadeias hoteleiras portuguesas , organismos institucionais, e um conjunto de pavilhões estrangeiros, cada vez menos diga-se de passagem, pois o mercado português é comercialmente pouco atractivo, e depende fundamentalmente de operadores espanhóis com outra capacidade financeira para intervenção no agressivo mercado do turismo.
Angola, na BTL teve o seu pavilhão, pouco diferente do que tinha no ano anterior, mas substancialmente melhor que os pavilhões que marcaram a presença do País nas primeiras participações neste evento que decorre anualmente na Feira Internacional de Lisboa.
Obviamente que é um pavilhão concorrido, não só pelas expectativas comerciais, mas acima de tudo, por todo o conjunto de sentimentos que se misturam entre agentes turísticos, visitantes e entidades diversas.
Não sei se os negócios foram muitos, mas o pavilhão pareceu-me com a apresentação pouco apelativa na sua decoração, se compararmos por exemplo com Cabo-Verde. Não se consegue perceber muito bem, se o objectivo era motivar pessoas para fazerem turismo em Angola, ou investir em infra-estruturas ou assumirem-se parecerias.
Acho que estava gente a mais no interior do pavilhão, e apesar da cordialidade e simpatia do pessoal presente, quem deveria explicar estava sempre ausente. Penso que são coisas a corrigir, e nesta minha opinião subjectiva, não gostaria de deixar a ideia que me parece algo descabido mostrar-se um artesanato que hoje se encontra em qualquer esquina de uma cidade média europeia, como factor de apelo ao visitante que vai olhando os diferentes pavilhões de países presentes.
Na FITUR, em Madrid, no Campo Ferial Juan Carlos, num faraónico espaço, fiz uma cuidada visita à feira, onde a Espanha mostra a razão de ser o terceiro destino turístico mundial.
Quando o lazer passou a ser olhado como complemento de uma actividade laboral com melhores resultados, houve um conjunto de países que imediatamente se lançaram na rentabilidade dos seus recursos naturais, na sua cultura, na gastronomia e na amenidade do seu clima como forma de aumentarem as suas fontes de receita e equilibrarem a balança comercial com países terceiros. A Espanha que dispunha de todos estes recursos, iniciou nos anos 60 uma agressiva campanha promocional, que associada a uma rigorosa regulamentação e aplicação legislativa continuada, um melhoramento de infra-estruturas de apoio, a um ciclópico esforço de construção de empreendimentos turísticos de boa qualidade e acima de tudo com a criação de muitas escolas médias e superiores de formação de técnicos de turismo, permitiu ser dos países onde a percentagem de importância no seu PIB, é das maiores do mundo, tudo na ordem entre os 8 a 11%.
Naturalmente que uma parte significativa da minha curiosidade, ia para o pavilhão de Angola, patrocinado pelo Ministério do Comércio e Turismo, e o que desde já importa realçar foi o ter encontrado um pavilhão mais calmo, com gente muito simpática e nos momentos de conversa que mantive achei que havia uma sintonia perfeita entre as minhas duvidas e expectativas, num quadro de algum realismo no futuro do turismo de Angola.
Em Madrid, achei o pavilhão de Angola ainda mais pobre, talvez iludido pelo facto dos termos de comparação serem maiores. Acho despiciendo que se continuem a utilizar referencias a fotos e cartazes, iguais às do CITA dos anos 60. A iconografia do turismo mudou, o marketing é diferente, e acho que deveria haver um cuidado acrescido ao dar uma visibilidade a um País como o nosso, que durante muito tempo foi notícia pelos piores motivos.
Saliento que esta é uma opinião subjectiva, e com propósitos construtivos, já que há pelo menos algo de muito bom, que não me canso de realçar, que é o factor humano, presente nesta FITUR 2009, gente muito boa e com enorme vontade de ver trabalho realizado.
Acho completamente descabido que continuemos a divulgar posters pouco vincados, com imagens dos megatéreos que enchem a baixa de Luanda de hoje, e que fazem fugir a sete pés alguém de bom gosto; a Welwitchia desenquadrada do seu habitat, e umas imagens de uns hotéis, que são iguais a qualquer edifício de classe média-baixa em qualquer parte do mundo.
Questionei-me a título de exemplo, ao relevo dado a um cartaz com a foto do Cristo-Rei que está no Lubango, que é uma cópia algo miserável do Cristo-Rei de Almada, que por sua vez é uma decalque pechisbeque do Cristo-Rei do Rio de Janeiro,;Aquele Cristo-Rei levará alguém a Angola? Tem de ser muito criteriosa a escolha, e talvez se chegue à conclusão que temos por ora pouca coisa de diferente para vender, que é disso que se trata quando se vai a um evento com estas características.
A presença de Angola neste tipo de eventos, merecerá um cuidado supletivo, mas antes de tudo temos de reflectir sobre que turismo queremos, que investimentos estamos disponíveis a fazer, que trabalho se há-de fazer na formação dos recursos humanos, e acima de tudo explicar às pessoas que se vão alterar hábitos comportamentais, e que vai haver assimetrias regionais, que devem ser percebidas e entendidas. Isto é um trabalho que tem de ser partilhado pelo Ministério da Cultura, Educação, Administração do Território, Interior, Ambiente e naturalmente o Comércio e Turismo.
Frases do tipo de que “daqui a dez anos Angola será um país de turismo” são fáceis de dizer, mas já não estou tão certo na sua materialização, enquanto o turismo não for encarado como uma industria, a do lazer, grande conquista dos trabalhadores no século XX, e objectivamente imporem-se regras, e uma enorme seriedade na captação de investimentos, e assumirem-se vontades de algumas mudanças de mentalidades e inerentemente comportamentais.
Tanto o que julgo saber este jornal, está a preparar um conjunto de conferencias sobre vários temas, que poderão ser estruturantes no quadro de desenvolvimento de Angola nos próximos dez anos, e também sei que um dos debates previstos será o turismo, pelo que a controvérsia pode começar a passar por aqui.

Fernando Pereira
14 /2/09

Turismo talvez tenha hora / Novo Jornal /Luanda/ Economia/ 21-2-09



Por razões profissionais, já que sou um pequeno empresário de turismo, e simultaneamente agente dinamizador do associativismo nessa área, faço normalmente um périplo anual por um conjunto de eventos de promoção turística.
A título de exemplo, em finais de Novembro do ano passado visitei uma interessante feira de turismo da natureza, aventura, enologia e rural, na cidade espanhola de Valladolid. A INTUR, realiza-se todos os anos e é um evento interessante na promoção de um segmento de turismo que começa a ser cada vez mais procurado, em alternativa ao que vulgarmente é denominado por turismo massificado, aglutinador de recursos e gentes e factor de crescente relevância no PIB de muitos Países.
Em Janeiro, eis-me “peregrino” a duas feiras que acompanho há muitos anos, a bem dizer desde a sua primeira edição no caso da Bolsa de Turismo de Lisboa (BTL), a partir da 3ª edição da Feria Internacional de Turismo (FITUR) em Madrid, que é das maiores feiras de promoção turística do mundo, a par da World Travel Market de Londres, em princípios de Novembro, da BIT em Milão, e da ITB em Berlim, entre Fevereiro e Março.
Sucintamente, posso dizer que a BTL, é quase que um aperitivo para a grande mostra de Madrid, uma semana depois. A maior parte dos expositores são autarquias, regiões de turismo, algumas cadeias hoteleiras portuguesas , organismos institucionais, e um conjunto de pavilhões estrangeiros, cada vez menos diga-se de passagem, pois o mercado português é comercialmente pouco atractivo, e depende fundamentalmente de operadores espanhóis com outra capacidade financeira para intervenção no agressivo mercado do turismo.
Angola, na BTL teve o seu pavilhão, pouco diferente do que tinha no ano anterior, mas substancialmente melhor que os pavilhões que marcaram a presença do País nas primeiras participações neste evento que decorre anualmente na Feira Internacional de Lisboa.
Obviamente que é um pavilhão concorrido, não só pelas expectativas comerciais, mas acima de tudo, por todo o conjunto de sentimentos que se misturam entre agentes turísticos, visitantes e entidades diversas.
Não sei se os negócios foram muitos, mas o pavilhão pareceu-me com a apresentação pouco apelativa na sua decoração, se compararmos por exemplo com Cabo-Verde. Não se consegue perceber muito bem, se o objectivo era motivar pessoas para fazerem turismo em Angola, ou investir em infra-estruturas ou assumirem-se parecerias.
Acho que estava gente a mais no interior do pavilhão, e apesar da cordialidade e simpatia do pessoal presente, quem deveria explicar estava sempre ausente. Penso que são coisas a corrigir, e nesta minha opinião subjectiva, não gostaria de deixar a ideia que me parece algo descabido mostrar-se um artesanato que hoje se encontra em qualquer esquina de uma cidade média europeia, como factor de apelo ao visitante que vai olhando os diferentes pavilhões de países presentes.
Na FITUR, em Madrid, no Campo Ferial Juan Carlos, num faraónico espaço, fiz uma cuidada visita à feira, onde a Espanha mostra a razão de ser o terceiro destino turístico mundial.
Quando o lazer passou a ser olhado como complemento de uma actividade laboral com melhores resultados, houve um conjunto de países que imediatamente se lançaram na rentabilidade dos seus recursos naturais, na sua cultura, na gastronomia e na amenidade do seu clima como forma de aumentarem as suas fontes de receita e equilibrarem a balança comercial com países terceiros. A Espanha que dispunha de todos estes recursos, iniciou nos anos 60 uma agressiva campanha promocional, que associada a uma rigorosa regulamentação e aplicação legislativa continuada, um melhoramento de infra-estruturas de apoio, a um ciclópico esforço de construção de empreendimentos turísticos de boa qualidade e acima de tudo com a criação de muitas escolas médias e superiores de formação de técnicos de turismo, permitiu ser dos países onde a percentagem de importância no seu PIB, é das maiores do mundo, tudo na ordem entre os 8 a 11%.
Naturalmente que uma parte significativa da minha curiosidade, ia para o pavilhão de Angola, patrocinado pelo Ministério do Comércio e Turismo, e o que desde já importa realçar foi o ter encontrado um pavilhão mais calmo, com gente muito simpática e nos momentos de conversa que mantive achei que havia uma sintonia perfeita entre as minhas duvidas e expectativas, num quadro de algum realismo no futuro do turismo de Angola.
Em Madrid, achei o pavilhão de Angola ainda mais pobre, talvez iludido pelo facto dos termos de comparação serem maiores. Acho despiciendo que se continuem a utilizar referencias a fotos e cartazes, iguais às do CITA dos anos 60. A iconografia do turismo mudou, o marketing é diferente, e acho que deveria haver um cuidado acrescido ao dar uma visibilidade a um País como o nosso, que durante muito tempo foi notícia pelos piores motivos.
Saliento que esta é uma opinião subjectiva, e com propósitos construtivos, já que há pelo menos algo de muito bom, que não me canso de realçar, que é o factor humano, presente nesta FITUR 2009, gente muito boa e com enorme vontade de ver trabalho realizado.
Acho completamente descabido que continuemos a divulgar posters pouco vincados, com imagens dos megatéreos que enchem a baixa de Luanda de hoje, e que fazem fugir a sete pés alguém de bom gosto; a Welwitchia desenquadrada do seu habitat, e umas imagens de uns hotéis, que são iguais a qualquer edifício de classe média-baixa em qualquer parte do mundo.
Questionei-me a título de exemplo, ao relevo dado a um cartaz com a foto do Cristo-Rei que está no Lubango, que é uma cópia algo miserável do Cristo-Rei de Almada, que por sua vez é uma decalque pechisbeque do Cristo-Rei do Rio de Janeiro,;Aquele Cristo-Rei levará alguém a Angola? Tem de ser muito criteriosa a escolha, e talvez se chegue à conclusão que temos por ora pouca coisa de diferente para vender, que é disso que se trata quando se vai a um evento com estas características.
A presença de Angola neste tipo de eventos, merecerá um cuidado supletivo, mas antes de tudo temos de reflectir sobre que turismo queremos, que investimentos estamos disponíveis a fazer, que trabalho se há-de fazer na formação dos recursos humanos, e acima de tudo explicar às pessoas que se vão alterar hábitos comportamentais, e que vai haver assimetrias regionais, que devem ser percebidas e entendidas. Isto é um trabalho que tem de ser partilhado pelo Ministério da Cultura, Educação, Administração do Território, Interior, Ambiente e naturalmente o Comércio e Turismo.
Frases do tipo de que “daqui a dez anos Angola será um país de turismo” são fáceis de dizer, mas já não estou tão certo na sua materialização, enquanto o turismo não for encarado como uma industria, a do lazer, grande conquista dos trabalhadores no século XX, e objectivamente imporem-se regras, e uma enorme seriedade na captação de investimentos, e assumirem-se vontades de algumas mudanças de mentalidades e inerentemente comportamentais.
Tanto o que julgo saber este jornal, está a preparar um conjunto de conferencias sobre vários temas, que poderão ser estruturantes no quadro de desenvolvimento de Angola nos próximos dez anos, e também sei que um dos debates previstos será o turismo, pelo que a controvérsia pode começar a passar por aqui.

Fernando Pereira
14 /2/09

16 de fevereiro de 2009

O Senhor Cuca / Novo Jornal / Luanda / Ágora 13-02-09







Esta crónica de hoje pode parecer desfasada do tempo, mas acho-a pertinente, apesar de esperar críticas quanto à sua oportunidade. Achei que era um tema interessante, no quadro do reduzido espaço industrial angolano no tempo colonial, e sobretudo porque há uns quantos vivos e com boa memória, para falarem de um homem que foi o símbolo maior da industria na colónia.
Manuel Carvalho Brito das Vinhas nasce em Lisboa em 1920, e faleceu no Brasil em 1977, oriundo de uma família tradicionalmente ligada às bebidas nomeadamente aos vinhos, às águas engarrafadas e acima de tudo às cervejas.
É nesta actividade que Manuel Vinhas se implanta em Angola, criando o grupo Cuca, inicialmente ligada á lisboeta Fábrica Imperial de Cervejas, mas que para além das fábricas de cerveja Cuca em Luanda e no Huambo, vê o grupo alargar a sua intervenção para os refrigerantes, cápsulas, industria vidreira (em colaboração com Idelfonso Bordalo), agro-pecuária, transportes, comunicação social, imobiliário e numa determinada fase a entrada forte na Neográfica, editora da revista”Notícia” Entrou também no capital do” Comércio”de Luanda, algo que lhe terá custado alguns amargos de boca por parte da polícia política de Salazar, e também por parte de alguns sectores das autoridades coloniais, que gostavam pouco de alguma “liberdade”.
Recentemente surgiu nas livrarias um livro, editado pela “Oficina do Livro”, de Filipe Fernandes e Luis Villalobos, “Negócios Vigiados”, que mostra com algum detalhe as reservas por parte das autoridades coloniais às movimentações económicas, à actividade cívica, editorial e política de Manuel Vinhas.
O livro, que surge com documentação inédita, motivada pela abertura dos arquivos da PIDE-DGS, mostra que Manuel Vinhas foi um industrial que não se terá deixado enlear pelas panaceias do sistema colonial, tendo sido um crítico fervoroso, através de edições suas, nomeadamente a controversa “ Para um diálogo sobre Angola”, opúsculo retirado pela censura, em que Vinhas é “enxovalhado” publicamente no Diário de Notícias de Lisboa. Esse artigo, não assinado é um ror de acusações a Manuel Vinhas chamando-o de colaborador com os “terroristas” do MPLA e da UPA, chegando ao ponto de o colocar na incómoda situação,de dizer que o industrial ter-se-ia deslocado a Leopoldville para jantar com uma amiga declaradamente militante do “MPLA”. Porque foi uma carta muito dura, em anos de repressão violenta, o empresário pediu o direito de resposta, que lhe foi concedido no interior do jornal em 20 de Abril de 1963, em que ele rebate todos os pontos em que é visado no artigo em questão, sem contudo deixar de polvilhar pontualmente algumas críticas à forma como era conduzida a política colonial.
Manuel Vinhas, teria a concepção de uma independência do tipo Rodésia, isto pelo menos é o meu entendimento da leitura que fiz do livro, “Profissão Exilado”, editado pela Meridiano em 1976, com prefácio de Agostinho da Silva e posfácio do intrépido Luis Pacheco.
Para além dessa vertente de industrial, de homem de convicções, Manuel Vinhas foi um verdadeira mecenas das artes e letras portuguesas, pois apoiou Julio Pomar, Vespeira, Neves de Sousa, Mário Silva, entre muitos que então debutavam na difícil caminhada da pequena notoriedade nas artes, como apoiou Luis Pacheco, Acácio Barradas, Edite Soeiro, Ary dos Santos, Cesariny e o grande O’ Neill, só para falar de alguns das letras, a quem deu guarida na sua “Notícia”, pois todos eles tinham as portas completamente fechadas noutros locais, motivado por reservas do seu posicionamento político.
Peguei, para fazer este pequeno percurso sobre um homem que desmereceria ser ignorado, no quadro da industria e da comunicação social angolana, em vários livros, um dos quais do Henrique Guerra “Angola, Estruturas económicas e Sociais” de 1973, bem como o da Maria Belmira Martins, “Sociedade e Grupos em Portugal” de 1972.
Manuel Vinhas, não foi só o fundador da Cuca, foi provavelmente o primeiro a fazer perceber que os trabalhadores merecem ordenados compatíveis com as suas necessidades básicas, a criar condições para que tivessem acesso à cultura e ao desporto e que não fossem apenas números, e tratados ao jeito de qualquer Kleenex , do tipo usa e deita fora.
Em alguns casos, e nalgumas coisas, no nosso País fazia bem um Vinhas revisited!

Fernando Pereira

14 de fevereiro de 2009

Angola: Trincheira firme da revolução em África! / Ágora / Novo Jornal/ Luanda /21-2-09



Resolvi arrumar umas tralhas que cá vai havendo por casa, tentando que desta vez não me irritasse, e pegasse em parte das coisas que desarrumei e fosse colocar no lixo. Arrependo-me sempre mais tarde de o ter feito, porque nestas movimentações já se perderam verdadeiras pérolas.
Pego aqui numa bandeirinha, das que agitávamos aí nos anos 70 e 80,quando algum dignitário estrangeiro nos visitava, numa “manifestação espontânea”, assim do tipo “sábado vermelho” ou campanhas de “emulação socialista”, e vejo uma das frases mais extraordinárias dos nossos tempos revolucionários: “Antes morrermos todos que deixar passar o inimigo”. Esta frase é o máximo do kitschismo do léxico revolucionário. Assim do mesmo tipo, só esta: “Que importa que o inimigo ataque ao amanhecer se as FAPLAs não dormem.”
No ano de 1980 o slogan oficial era “Ano do Congresso Extraordinário do MPLA-Partido do Trabalho, e da Criação da Assembleia do Povo”, que precedeu o 1979 “Ano da Educação”e o de 1978, “Ano da Agricultura”. Em 1981 foi “o Ano da Disciplina e do Controlo”, e o em 1982, “Ano da Organização Económica e da Vigilância Popular” , 1983 o “Ano do Reforço da Organização” e por aí fora.
Frases do tipo “Somos independentes, Seremos socialistas”, “Mais Unidade, Melhor Organização, Maior Produção”, “No socialismo a agricultura é a base e a industria o factor decisivo”, ou “Fieis ao Presidente Neto lutemos pela independência económica” profusamente distribuídas em outdoors colocados pelo País , dentro do quadro geral do “Produzir para Resistir”.
Vem-me à memória, slogans que nos entusiasmavam num período em que muitos de nós tínhamos outras opções, e ainda hoje sentimos nostalgia de algumas do tipo: “Firmes nas trincheiras, decididos na produção”, “Estamos em guerra e cada cidadão é e deve sentir-se necessariamente um soldado”, frase do Presidente Agostinho Neto, de um discurso em que apelava para uma batalha generalizada pela mobilização de recursos humanos e materiais visando a defesa do território.
Continuando este artigo preguiçoso, recordo que “A disciplina é um factor determinante na vitória de toda a Revolução”,” Por cada combatente da liberdade que tomba mais aumenta a nossa raiva contra o inimigo invasor e imperialista”, e a quase trinta anos de distancia, estas e outras palavras de ordem fazem-nos recordar momentos imorredoiros na vida do debutar de um País.
Há várias palavras de ordem que foram mazinhas q.b, e uma delass sinceramente só me deixou descansado quando desapareceu, pois dizia isto apenas “A Produção liberta o homem”, e sinceramente associei sempre esta frase às palavras sinistras que encimavam a entrada do campo da morte de Aushwitz .
“A Luta Continua”, a “Vitória é Certa”, tem sido imagens de marca, depois de durante muitos anos terem acompanhado o “Viva o Poder Popular”, que começou a cair em desuso quando o fato de marca e a gravata, substituiu o interessante “safari”, mais adaptado aos rigores do clima, mas menos vistoso!
Como tudo isto foi decorrendo durante o período do “cinturão de FAPLA”, que era nem mais nem menos que o nome do peixe -espada , que a par do carapau frito, “personagens” emblemáticas e recorrentes de um determinado período de mingua da gastronomia angolana.
Um dia estava no Polo-Norte, uns dias antes de encerrar de vez, ali no prédio da Sonangol, e resolvi comer o carapau frito com arroz, que me dava direito a dois búlgaros de cerveja, tudo isto numa ponta do balcão, já que o snack bar não tinha mesas.
Ao meu lado estava um indivíduo, que dizia textualmente isto:” És um herói, os portugueses bazaram mas resististe, os sul-africanos foram e tu resististe, os zairenses fugiram e resististe, o socialismo científico instalou-se e tu resististe, és o único que nunca largou esta”trincheira firme da revolução em África”. Olhei para o lado para tentar ver com quem falava o meu companheiro ocasional de repasto, e vi que era um discurso para efectivamente um enorme resistente: O carapau que estava no prato, fritinho e emoldurado por um pastoso arroz branco.
Tempos bons, dos” 11 poemas em Novembro” do Manuel Rui Monteiro ,e do Zito, cozinheiro na casa do desportista, coordenador de célula do MPLA-PT nos Desportos, que me respondia às minhas duvidas sobre a implantação do socialismo em Angola, da seguinte forma: “Camarada Fernando Pereira, o nosso socialismo não é um socialismo qualquer, é diferente dos outros, é científico”!!!

Fernando Pereira

6 de fevereiro de 2009

DAR FUTURO AO PASSADO! / Ágora / Novo Jornal / Luanda 5-2-09



Presumo que muito em breve, nos escaparates das livrarias, vai surgir um livro de boas memórias do Dr. Eugénio Ferreira, com o título “Um cabouqueiro da angolanidade”.
Editada pelo “Campo das Letras” este trabalho de Eugénio Monteiro Ferreira (Eniuka) e Carlos Ferreira (Cassé) sobre o percurso de vida de seu pai como advogado, professor, dirigente associativo, interventor político, dinamizador cultural e como cidadão, é sobretudo um caminhar, com toda a honestidade, pela última metade do século XX em Angola.
Este trabalho, com fotos que mereciam melhor tratamento gráfico, é rica pela excelência da recolha documental, pela escolha do contexto dos assuntos descritos e merecedores dos maiores encómios pela escrita usada.
A obra é dividida por algumas vivencias na sua trajectória, fotografias, documentos diversos e uma miscelânea de opiniões, depoimentos, referências, correspondência variada, em síntese um acervo rigorosamente seleccionado, que nos consegue prender a uma personagem que foi um indiscutível “senador” da probidade, da liberdade, da cultura e do humanismo, num passado de uma Angola que teve visíveis transformações, em que Eugénio Ferreira foi protagonista de tomo.
O livro é feito de outros livros, que o Dr. Eugénio Ferreira foi publicando ao longo da sua vida, desde que em 1943 aporta a Angola, onde começa por trabalhar na Diamang, e de onde sai quando lhe é colocada a questão do casamento, já que ele queria desposar a mestiça Maria Áurea Monteiro, extremosa senhora, e “esse tipo de misturas não eram bem vistas pelos directores da companhia”. A opção foi óbvia, tendo em conta a sua formação humanista e o que lhe dizia o seu coração, prescindindo de um percurso profissional que lhe augurava enormes proventos, mas escolhendo a mãe dos seus filhos e a sua companheira até ao fim da vida.
Eugénio Ferreira foi dinamizador da Sociedade Cultural de Angola, onde ocupou o cargo de presidente da Direcção e da Assembleia Geral. Bobella Mota, Ilídio Machado, Mário António Fernandes de Oliveira, Viriato da Cruz, António Jacinto do Amaral Martins, Alfredo Margarido e outros, transformaram a Luanda dos anos quarenta e cinquenta no contexto cultural, através de concertos e audições de música, concursos literários, feiras do livro, saraus e conferencias, tudo olhado com desconfiança pelas autoridades locais, que viam este espaço como um verdadeiro viveiro de nacionalismos, justificadamente diga-se de passagem.
Neste contexto, o livro é muito útil para situar a sistematicamente ignorada Sociedade Cultural de Angola, no contexto da sociedade crioula de Luanda e no construir de uma consciência nacionalista por parte de muitos dos seus membros, frequentando-a simultaneamente com a Liga Africana e a Anangola.
O período que corresponde à eclosão do golpe militar de 25 de Abril de 1974 em Portugal, e a independência de Angola, é uma das partes seguramente mais importantes do livro, já que no contexto documental e de depoimentos diversos, “subverte “de forma verosímil, muito do que tem vindo a ser dito e escrito ao longo de décadas, com o intuito deliberado de fazer a história à medida das histórias e conveniências de uns quantos.
O Movimento Democrático de Angola, e o seu papel no dealbar dos dias do fim do Império, merecem uma detalhada atenção por parte dos autores, já que Eugénio Ferreira, foi o presidente desse primeiro movimento cívico a constituir-se em Angola, e surgiram sempre opiniões e versões díspares sobre o papel que o MDA teve na transição do poder colonial para a então RPAngola. Este livro traz alguma luz ao assunto, e talvez tenha reaberto uma nova frente para a memória futura da história de Angola.
Eugénio Ferreira foi uma pessoa serena, ponderada, nunca embarcou em demagogias, soube sempre manter à distância os poderes e as pessoas que aviltavam os seus valores. Sóbrio na sua vida quotidiana, era um homem imensamente culto, maçom como Aquilino Ribeiro, ligado à Seara Nova e Vértice, revistas onde se revelaram os nomes grandes do neo-realismo.
A Eugénio Ferreira foi-lhe outorgada a nacionalidade angolana pelo Dr. Agostinho Neto, o que terá sido a maior homenagem que Angola lhe podia ter feito, porque este ilustre causídico nunca se furtou de defender os injustiçados e os defensores da libertação do País.
Eugénio Ferreira, um verdadeiro cabouqueiro da angolanidade!
Fernando Pereira
26/01/09
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