16 de novembro de 2012

Coimbra, a Angola Utópica! (I)/ Ágora/Novo Jornal nº252/ Luanda 16-11-2012






(Parte de uma intervenção que fiz a 7 de Novembro de 2012 na Universidade de Coimbra numa homenagem a Agostinho Neto e comemorativo do 37º aniversário da independência de Angola)
Quando eclodiu o 25 de Abril de 1974 começou um movimento de ocupação das estruturas físicas onde estavam instaladas organizações do regime salazarista. Os estudantes das colónias, com alguns angolanos que em Coimbra trabalhavam e aqui recordo os médicos Manecas Balonas e Fernando Martinho, e o advogado Manuel Rui Monteiro, resolveram ocupar na Rua Guerra Junqueiro um andar onde estava instalado o CEU (Centro de Estudos Ultramarinos), o responsável era o mediático José Adelino Maltês, logo transformando na Casa dos Estudantes das Colónias.
Não me vou alongar sobre esses tempos, as múltiplas atividades que se desenvolveram, as discussões que se multiplicaram, mas evocar uma situação marcante para nós estudantes angolanos em Coimbra, e que teve a ver com a presença do Luandino Vieira e do saudoso N’Dunduma (Costa Andrade), primeiros a visitarem-nos entusiasmando-nos para o princípio de uma luta que seria longa e difícil como se previa. Eram os nossos escritores de referência principalmente o Luandino, um preso com muitos anos de Tarrafal e o orgulho partilhado de ter ganho o prémio que o regime não queria que se atribuísse. Foi uma agradável tarde de Junho desse 1974 não esquecido em que ouvimos gente nossa.
José Alberto Teixeira é um antigo estudante de direito de Coimbra, capitão da seleção de Angola de voleibol, jurista e administrador de uma importante empresa agroalimentar angolana, bom amigo e cúmplice de muitas lutas. Certa vez, estávamos a recordar umas gentes de Coimbra e fomos vendo umas fotos desses anos que partilhámos por cá. A determinada altura começámos a ver as fotos do cerco que se fez à sede da PIDE-DGS, na Antero Quental, um pouco acima da “República do Quimbo dos Sobas”, e numa dessas fotos reparo que estou num telhado num edifício contíguo sentado com o José Luis Carrilho, que entretanto regressa a Moçambique onde durante anos foi Procurador-Geral da Republica e com Guilherme Pousser da Costa, ex-primeiro ministro de S. Tomé e Príncipe. Não estávamos a cercar nada, estávamos a assistir ao estertor do regime. Serve apenas esta história para ilustrar a grande cumplicidade que havia entre as poucas dezenas de estudantes das colonias em Coimbra.
As nossas cumplicidades estendiam-se às farras, aos jogos de futebol, às discussões políticas à surdina, aos piqueniques e aos passeios pelos arredores, porque o dinheiro era pouco mas partilhado.
O nacionalismo angolano passou por aqui, é o que se oferece dizer e desde o dealbar do seculo XX com Alfredo Troni, ilustre poeta e advogado de causas em Luanda, o famoso Dr. Videira causídico e maçom dos anos 30 e 40 a Eugénio Ferreira, ex-director da revista Coimbrã do neo-realismo “A Vértice”, advogado, Presidente da Sociedade Cultural de Angola e Presidente do Tribunal da Relação de Luanda, até ao surgimento do Tribunal Supremo em 1991 , cabouqueiro da angolanidade a partir dos anos 40 foram marcos importantes de gente que apoiou sempre a causa independentista.
Com a instalação em Coimbra da Casa de Estudantes do Império, inicialmente numa casa no Penedo da Saudade, inaugurada por Marcelo Caetano então ministro das colónias e fundador da CEI, começa a surgir um movimento aglutinador de ideias em torno de uma independência começando a ultrapassar-se o atávico e vago conceito da “autodeterminação progressiva” onde cabiam as propostas colonialistas de Norton de Matos, as rebuscadas de Armindo Monteiro e as tardiamente colocadas em prática por Adriano Moreira.
(Continua no próximo numero)
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