9 de novembro de 2011

Chefe,Precisamos de mentiras novas/ O Interior / Guarda 10-11-2011




“Quando a nossa festa s'estragou
e o mês de Novembro se vingou
eu olhei p'ra ti
e então entendi
foi um sonho lindo que acabou
houve aqui alguém que se enganou”
José Mário Branco (Eu vim de longe)

Recordo com saudade um PREC nunca esquecido, e que os tempos seguintes foram transformando numa cabala de proporções enormes, que ainda hoje vai prevalecendo como verdade em muita gente que tampouco viveu esse período entusiasmante da sociedade portuguesa.
O 25 de Novembro de 1975 marca a derrota clara da esquerda militar, empurrada que foi para uma aventura golpista sem objectivos claros, mas não foi a derrota do 25 de Abril de 1974 como muitos então saudosos do salazarismo assim o desejavam.
O PREC (Processo Revolucionário Em Curso) emerge no 11 de Março de 1975, data em que uma tentativa de golpe spinolista é travada, e inicia-se um período de nacionalizações de múltiplos sectores da sociedade portuguesa, que curiosamente hoje a maioria das pessoas acha que deveriam permanecer na mão do estado, e a sua privatização é o definitivo entregar aos sucessores do xerife de Nothingham, na versão caseira dos montes Hermínios.
Os governos neo-liberais que governam o País nas duas últimas décadas dedicaram-se a desbaratar esse conjunto de empresas que foram nacionalizadas em 1975, como forma de evitar que as “sete famílias” que dominavam economicamente Portugal atrofiassem e boicotam-se as “conquistas de Abril”, a caírem infelizmente no baú das recordações, e nas palavras de ordem das cada vez maiores manifestações de rua.
Hoje quando vou ouvindo algumas opiniões particularmente dos “senidores” da democracia como é o caso de Cavaco, Soares ou Almeida Santos, e quejandos, fico com a sensação que são alienígenas, pois acho que nunca estão ou estiveram em lugares de responsabilidade e que o Varas, Loureiros, Oliveiras, Coelhos, Melancias e outros seres que povoam o mundo vegetal e animal, nunca foram seus companheiros de estragos.
Quando recordo Vasco Gonçalves e um conjunto de militares de Abril voluntariosos na vontade de contribuir para a elevação económica social e cultural dos cidadãos do País, e vejo quanto foram aviltados na sua dignidade, sem que alguém pudesse dizer que esta gente se aproveitou do lugar para benefício pessoal, de familiares próximos ou comanditas que regem a partidocracia reinante desde as estruturas autárquicas ao poder central passando por todo um conjunto sinuoso de patamares, alguns deles fechados a sete chaves e inacessível ao obscuro objecto de certos desejos.
Não sei bem porquê mas veio-me à lembradura o tipo que faz um biscate numa casa e enquanto vai fazendo o trabalho, com uma loquacidade espantosa vai desferindo em todos os sentidos, “contra os aldrabões que nos governam”, “faz falta aqui um Salazar”, “ Querem ir para lá para se abotoarem”, “cambada de vigaristas” e por aí fora. Acabado o trabalho pedes-lhe a “venda a dinheiro” e ele vocifera como lhe estivesses a fazer o maior insulto: “Você tem que me pagar o IVA, mas se eu soubesse que queria factura levava-lhe mais, porque este ano já tive que passar umas poucas e levo com o aumento de imposto no fim do ano, para dar de comer a estes vígaros”.
Talvez os culpados fossem mesmo os do 25 de Abril de 1974, porque afinal depois deles entregarem isto aos politiqueiros o País vai de vento em popa!

Fernando Pereira 7/11/2011
Related Posts with Thumbnails