21 de novembro de 2007

Acho que vou debitar umas anti-clericanices!


Resolvi criar este texto, porque ao ver que religião é um tema pouco apetecível para aqui, onde às vezes se clama por liberdade, podendo ser mal interpretado quando se põe em causa "o princípio da infabilidade do Papa"...Portanto este tema é meu e escreve só quem quiser...Pode ser o jornal de parede do Vaticano, numa versão da "revolução cultural" chinesa ao "Observattorio Romano".
Bem sou João Paulo I...morri ao fim de um mês quando quis ver como funcionavam as contas do Vaticano, quem financiava, quem controlava, enfim pequenos pormenores que acabaram por me pôr a dormir definitivamente com a graça de eu por ser Papa nunca poder ser autopsiado, em circunstancia alguma...Mas graças a isso muitos antecessores meus baikaram, como se diz na minha buala. A partir deste momento passarei a ser Torquemada...um santo, que só séculos mais tarde tive um sucessor com igual pedigree...Escrivá de Balaguer, um rapaz aliado de Franco (o tal que ergueu o Vale dos Caídos com prisioneiros republicanos, feitos escravos, na ascensão por ilegitimidade democrática e força de apoios alemães, italianos e portugueses, no dealbar da 2ª guerra).O Balaguer foi beatificado por SS o Papa J.P.2.Continuando...Hoje sou SS o Papa e visito Timor Leste a 23ª província Indonésia, onde até parece que houve um raio de um bispo que foi Prémio Nobel da Paz, e que cumprimentei de soslaio (Consta-se que as razões da saída desse bispo de Timor não foram as mais curiais! Sou o Cardeal Cerejeira que assinou o Acordo Missionário, que foi anexado ao Acto Colonial, em que distinguia portugueses de 1ª , de segunda, assimilados e indígenas!!!Nem no campo da retórica eram todos iguais face à Igreja!!! Sou Pizarro ou Cortez, que a mando dos reis católicos de Espanha resolvi exterminar os pagãos dos Índios e Astecas, que queriam o ouro e a prata para divindades esquisitas, quando o Vaticano precisava tanto desse material. Sou o gestor do Banco Ambrosiano, estou exilado no Vaticano (Um estado criado por Mussolini para ter a SMIGREJA aliada na luta contra os rojos, porque ninguém percebeu que a fraude que fiz foi para apoiar os desígnios do Papa nas missões do mundo...o reino dos homens é cruel às vezes!! Sou Pio XII, e tenho umas fábricas de armas que vendo a Mussolini porque é boa pessoa (um pouco devasso como nós, mas mais estapafúrdio) e detesta os vermelhos!!Sou florentino de gema, sou Papa por vontade de Médicis e tive milhares de devaneios sexuais com muita mulher, até com a minha filha..meu apelido Bórgia!!Sou o Cardeal de Boston...um padre Frederico em versão americana..mas são todos bons rapazes!!Valha-nos Baden Powell adulterado que já aceita meninas para escuteirada.
Mas também sou o Papa Paulo VI que recebeu Amilcar Cabral, Marcelino dos Santos e Agostinho Neto e fui a Goa quando em Portugal ainda estultamente se dizia que “Os sinos da Velha Goa e as bombardas de Diu serão sempre portuguesas” (Como sempre lixou-se Damão, de quem se dizia que Damão ninguém o tira).Sou o Cardeal Romero baleado pelos Somozistas na Nicarágua, sou Helder da Câmara, sou o Bispo de Nampula...Afinal sou tanta e tanta coisa na história...Mau afinal sou eu..
Fernando Pereira

Contos Velhos, Rumos Novos





Publicado por mim no blog "Noite Vertical" do meu amigo Ged





Nestas coisas de andarmos com tralhas às costas, vão-se perdendo muitas coisas, menos as lembranças, ou como se diz em Angola, a "lembradura".


Acontece que aqui há muitos anos, em 1981 eu fui ao Kuito, na missão de reunir com os clubes e associações desportivas, para a construção do primeiro documento legislativo sobre a carta desportiva de Angola, e a lei das associações desportivas, entrei numa loja que era a mais "compostinha" do conjunto de lojas de um prédio, que era o orgulho dos habitantes do Silva Porto colonial, e que passou a ser o emblema mais marcante da ferocidade da guerra desencadeada pela UNITA em 1992. Essa loja era "compostinha" porque efectivamente não vendia nada que pudesse ser utilizado pela população local; De facto esta loja pertencia à CDA (Companhia de Discos de Angola), uma fábrica de discos que existia em Silva Porto, e que salvo erro pertencia à Valentim de Carvalho. Entrei, e fiquei maravilhado com o que por ali vi, o que comprei, e o que tive pena de não ter dinheiro para comprar. Convirá esclarecer que na Angola daquele tempo, se não andássemos com dinheiro atrás de nós, não podíamos comprar nada, e nem o vulgar cheque era possível trocar (Em muitas dependencias do BPA nem o cheque visado em Luanda era aceite).


Foi uma das lojas mais fascinantes que vi em Angola depois da independencia, e aí para além dos Kiezos,Carlos Lamartine,Rui Mingas,Jorge Manuel, Elias, conseguia ter verdadeiras preciosidades, que só me apetecia comprar essa loja, que em tempos se chamou Auto-Reparadora do Bié. Entre vários discos avultavam discos do tipo Luis Aguillé do "Quando Sali de Cuba", o Gabriel Cardoso e a sua "Ericeira",o "Adeus Guiné", o "Kanimambo" do Tudela, para já nem recuar um pouco mais, senão chegaria às nusicas preferidas por um topógrafo, que à frente de uma enorme manifestação, desafiou o governo português para pagar as compensações da descolonização (eheheh). Posso mesmo dizer que comprei lá um disco do meu querido e saudoso amigo, companheiro de tantas noites, o Mário Simões, que nunca vi vender em lado algum.


Podia continuar a falar dessa loja, e dos discos que por lá havia, mas o que aconteceu foi que encontrei um disco de José Afonso "Traz outro amigo também", e perguntei ao Laurindo (ex-jogador do Belenenses e Futebol Clube do Porto), que era na altura o delegado da Secretaria de Estado de Educação Física e Desportos, se sabia quem acompanhava o Zeca à viola? Ele dessabia, assim como todos os outros que por ali estavam a aguardar o início da reunião, inclusive o comissário municipal do Chinguar, terra donde o Carlos Correia, vulgarmente conhecido pelo Bóris (pela sua semelhança com Bóris Karloff, segundo Orlando Ferreira Rodrigues, que se assume como seu padrinho de alcunha) era natural.


O Bóris, andou pelo conjunto do Orfeon Académico de Coimbra, depois numa efémera passagem pelos Álamos e depois pelo conjunto académico Hi-Fi. O Bóris teve como companheiro até 1970, o viola-rimo, Luis Filipe Colaço, um homem de Luanda, que foi durante muitos anos director do Instituto Nacional de Estatística em Angola. O Bóris e Luis Filipe Colaço, foram os violas do José Afonso no disco já mencionado , como tinham sido nos "Contos Velhos, Rumos Novas". Para além disso o Colaço ainda participou nos arranjos do disco de Adriano Correia de Oliveira, o "Canto e as Armas", uma verdadeira pedrada no charco na musica portuguesa, pois o bom do Adriano resolveu dar a voz a um livro proibido pela censura, de um Alegre que clamava por liberdade directamente de Argel, nos negros anos do fascismo em Portugal e colónias.


Resolvi trazer aqui este episódio do Kuito, para poder falar-vos de dois angolanos, profissionais enormes em áreas que nada tem a ver com a musica, mas que fazem parte de um movimento importante da musica de intervenção, e simultaneamente participantes em conjuntos que marcaram o rock português na sua fase pré-histórica.


"Álamos" surgem em 1963, quando José Cid (o próprio, o das "favas com chouriço") decide largar o conjunto do Orfeon Académico para fundar os Babies. Da primeira fase, fazem parte o Daniel Proença de Carvalho (guitarra), o Rui Ressureição (piano) e o Luis Filipe Colaço (guitarra).Em 1968, os Álamos com a saída do Proença de Carvalho (o tal advogado de ca$$os difíceis), à formação anterior junta-se o Carlos Correia (Bóris), o José António Pereira (bateria),José Luis Veloso (guitarra-baixo) e António José Albuquerque (órgão). Quando em 1970 se dá a fuga de Portugal de Luis Filipe Colaço, os Álamos acabam e dão origem com o Bóris e o Ressureição ao Conjunto Universitário Hi-Fi, com a voz feminina da Ana Maria.


Espero ter-vos feito recordar, aos que sabiam deste episódio do muito que se fez por angolanos na Coimbra dos anos 60, e aos que desconheciam que comecem a procurar o "Stop that game", que é o album de referencia dos Álamos.
Related Posts with Thumbnails