6 de novembro de 2009

5º Ano de Praia/ Ágora/ Novo Jornal /6-11-09



Numa viagem recente ao Lobito, vi no início da Restinga, provavelmente a melhor denominação de uma casa de import-export no País. A casa localizada na Av. de Moçambique nº 4, tem o pomposo nome de “5º ano de praia”, que de facto é de uma originalidade enorme, e mesmo que não venha a ser uma sociedade com grande futuro comercial, ficará indelevelmente ligada ao léxico comercial da cidade.
Já que falamos em nomes de estabelecimentos comerciais, e recuando no tempo, o que vemos é que dos anos 40 ao fim dos anos 60, o nome mais apetecido para qualquer estabelecimento comercial era Império, e caso não fosse possível algum correlativo, tipo Imperial. No dealbar dos anos 70, já não dava grande emoção o nome, pois o estertor presumia-se próximo.
Houve o Salão Império, cabeleireiro afamado (antes da concorrência das cabeleiras postiças, do ainda não BANIF Roque), ao pé do actual MIREX, a foto Império, perto da Mutamba, o cine-Império, hoje Atlantico, a sapataria Império na baixa, o Hotel Império por cima do Centro Aníbal de Melo, que já foi o CITA e as primeiras instalações do Banco Comercial de Angola, em suma um conjunto de Impérios que se espalhavam de Cabinda ao Cunene, na esteira do Império do Minho a Timor.
Havia, onde hoje está o canibalizado Hotel Turismo, perto da Senhora dos Remédios, uma casa muito bonita que foi em tempos o restaurante Império, orgulho da família Oliveira, e que não tinha nada a ver com a cervejaria Imperial, situada até meados dos anos 60 na marginal, no local onde esteve a companhia russa de aviação Aeroflot.
O Zé Oliveira, um colono que depois de vários e bem sucedidos empregos, o ultimo dos quais no desaparecido Atlantic Palace Hotel, que teria merecido ser conservado para memória futura, já que era um dos poucos exemplares de arte nova na cidade de Luanda, tomou de trespasse o Império. Para ilustrar quais eram as dificuldades de um industrial de hotelaria nos anos 50 em Luanda socorro-me do depoimento de seu filho, José Carlos Oliveira: “Os artigos finos para a confecção de refeições vinham especialmente de três conceituados importadores: O Joaquim Valente, que tinha os enchidos e presuntos Mata, o leite em pó Klim, vindo dos EUA; a Casa Africana, com a sua afamada manteiga Zarco, recebida com frequência da Ilha da Madeira, o belo bacalhau e o fino azeite…; o Pinho e Arvela primava pelo melhor arroz, o melhor feijão manteiga, a marmelada e o excelente queijo da serra e flamengo, além de óptima mortadela; e a Royal conhecida pelo excelente fiambre e pasteis de nata; Todos estes estabelecimentos distavam escassas dezenas de metros uns dos outros, em plena baixa de Luanda”
Para abreviar o peixe era comprado aos pescadores da ilha do Cabo, ou aos “amadores de pesca” que usavam armadilhas de bordão, as “muzuas”, que eram assinaladas com bóias de mafumeira, num local onde hoje é o porto de Luanda, e que era uma língua de areia que ia até à casa de reclusão. Pargos, garoupas, linguados, cherne, carapaus eram as espécies que iam enriquecer a cozinha do Império.
Esta é uma parte da descrição que o José Carlos Oliveira, antropólogo, mestre em Estudos Africanos, faz desses anos 50, num livro interessante e muito pouco divulgado chamado “Comerciante do Mato”, prefaciado pelo Dr. José Carlos Venancio, ilustre catedrático da Universidade da Beira Interior, mas que talvez mereça uma leitura.
Este artigo sugere-me que um dia destes conte neste espaço, o que foram os grandes mixordeiros de vinhos e bebidas importadas numa determinada fase de Luanda, não esquecendo os peritos na contrafacção de rótulos, onde havia o maior mestre de seu nome Porfírio Martins.
Fernando Pereira
3/11/09
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