23 de setembro de 2011

Chato do Xissa! / Ágora/ Novo Jornal nº192 - Luanda 23-9-2011


Dessei se esta história é inventada mas a realidade é que faz parte das muitas que ia havendo entre os quadros da administração colonial colocados nos recônditos lugares da colónia de Angola nos anos que precederam a 2ª Guerra Mundial.
Contou-me um antigo administrador de Massango, Forte Republica, distante 155km de Kalandula, sede de administração, que os jornais e cartas de Luanda demoravam cerca de quinze dias a um mês a chegar-lhe à mão o que os obrigava a ler entusiasmados notícias que em princípio teriam tido desenvolvimentos, apesar de o tempo então correr devagar.
Ele dava-se por muito feliz em relação a outros, como por exemplo o administrador de Cahungula, sede da circunscrição de Camaxilo. Porque o administrador já estava meio contaminado com o isolamento, e vivia com a esposa, a sogra e dois filhos pequenos, teve uma ideia que pôs em prática e que foi a seguinte: para ter a impressão que vivia em Lisboa, todos os dias à noite, entregava um exemplar dos jornais diários de Luanda, que recebia em maços a um cipaio, e este logo de manhã cedo, passando por baixo da janela do quarto do administrador, todos os dias anunciava: “Olha o diário; Quem quer o diário!”.O administrador abria a janela e dizia:”Oh rapaz dá-me o Diário de Luanda." O cipaio entregava-lhe o jornal, o administrador entregava-lhe a respectiva moeda e fechava a janela. O cipaio ia para a administração, punha o dinheiro do jornal na secretária, para o voltar a receber no dia seguinte pelo mesmo trabalho. O administrador do concelho lia o jornal na cama como se estivesse em Lisboa, depois levantava-se e ia para a administração. Nada era mais inventivo de que esta cena teatral autêntica.
Na província de Malange, na região da Baixa do Cassange, no posto de Xissa há uma campa na berma da estrada, com um ar abandonado onde está sepultado um dos mais famosos “salteadores” portugueses do século XIX. O verdadeiro Robin Hood português, já que roubava aos ricos para distribuir pelos muitos pobres, o famoso Zé do Telhado (1816-1875), José de Matos, alcunhado de Telhado porque era o único numa aldeia minhota que tinha a casa com telha ao contrário de todas as outras que eram cobertas com colmo. O seu bando saqueou anos a fio casas de nobres e burguesas da província portuguesa do Minho, e todo o espólio do roubo era distribuído pelos mais necessitados para tentar mitigar a fome que grassava, o que lhe granjeou enorme popularidade e respeito entre as populações do norte de Portugal.
Acabou preso e privou na prisão da relação do Porto com o sublime escritor português Camilo Castelo Branco, preso por paixões improváveis e simultaneamente possíveis, que inspiraram argumentos ao cinema português ao longo dos anos.
Enviado para Angola, local de eleição dos presidiários portugueses até ao primeiro consulado de Norton de Matos, Zé do Telhado evade-se da prisão com a conivência das autoridades e fixa-se na Baixa do Cassange, dedica-se à agricultura e morre serenamente em 1875, com o respeito das populações locais que mantém a sua campa, com telhado, sempre limpa e arranjada. A guerra obrigou as pessoas a abandonarem a região e a campa acabou por se ir deteriorando.
José do Telhado é tema de filmes, romances, novelas, canções, peças de teatro e também homenagens diversas na zona onde teve actividade, elevando-o a uma figura mítica e referenciada no contexto dos portugueses notáveis, o que de certa forma não deixa de ser bizarro.
Em Malanje, brincava-se com o assunto, pois dizia-se que a campa do Zé do Telhado, ficava em Xissa que ainda por cima tinha um chefe de posto Chato. De facto o chefe de Posto de Xissa era Tobias de Sousa Chato, um homem que percorreu muitas terras na província de Malange e que para além da invulgaridade do apelido, destacou-se na defesa intransigente da Palanca Negra, movendo uma verdadeira cruzada contra caçadores furtivos e guardando dia e noite as crias contra ataques de outros animais ou de homens ávidos de lucro e da vã glória de predador.
Num dia em 1949 o governador de Angola, Comandante Lopes Alves, resolveu visitar a então província de Malange. Angola ao tempo estava administrativamente dividida em províncias, estas em concelhos e circunscrições, e estas últimas em postos administrativos.
Mas voltando àquele dia, o dito governador pretendeu contactar todas as autoridades administrativas, através dos aparelhos sem fios P19, como eram conhecidos. Através do operador do rádio foi ouvida uma voz que entrando em antena disse:”Daqui fala o Chato do Xissa passo à escuta”. O Governador mandou logo suspender as comunicações e quis explicações que eram afinal simples: o chefe do Posto chamava-se Tobias de Sousa Chato e o posto onde estava colocado era o posto do Xissa. Logo ali o Governador sentenciou: Isto não pode ser, ou se transfere o chefe, ou se muda o nome ao posto. O mais fácil foi alterar a toponímia do posto que por Portaria publicada no Boletim Oficial passou a denominar-se de Mucari, nome que ainda hoje conserva.
Agradeço algumas dicas ao mais velho António Ferreira Alves, um homem que percorreu todos os lugares na então administração ultramarina em Angola desde 1949, que era um deleite ouvi-lo.

Fernando Pereira
20/09/11

17 de setembro de 2011

Minhas coisas, palavras de outros!/ ágora/ Novo Jornal nº191/ Luanda 16-9-2011





Flaubert, um persistente estudioso da estupidez humana, concluiu ao cabo de anos de aturada investigação: "Estupidez, egoísmo e boa saúde são as três condições da felicidade; se bem que, faltando a estupidez, tudo estará perdido."
“Os dois Cês do momento - Caciquismo e Carreirismo:
1ºCê: Caciquismo
O Imperador logo de manhãzinha arrastava a figura de dinossauro e dava bons dias a si mesmo diante dos espelhos.
Perguntava: Espelho, fiel espelho, onde é que neste reino houve alguém que desafiasse o tempo como eu?
Jamais, Senhor, jamais. A vida regrada, o saber e a palavra tornam o homem Imortal, respondiam os espelhos ensinados”.
José Cardoso Pires, Dinossauro Excelentíssimo, Bertrand, Lisboa-1972 (pag. 74)
2ºCê: Carreirismo
“Após ter surripiado por três vezes a compota da despensa, seu pai admoestou-o.
Depois de ter roubado a caixa do Senhor Esteves da mercearia da esquina, seu pai pô-lo na rua.
Voltou passados vinte e dois anos, com chaufeur fardado. Era director Geral das Polícias. Seu pai teve um enfarte”. – Página 19 das Contas de Gin Tónic de Mário Henrique Leiria.
Porque hoje estou com duvidoso discernimento para falar de muita coisa que ocorre ou ocorrerá, e ao mesmo tempo falta-me motivação e palavras. Há momentos assim quando se aproxima o dia em que temos que entregar a crónica, e por muito que tente nada flui com a necessidade de me fazer entender perante os poucos que me vão lendo, onde naturalmente tenho os meus detractores de estimação com assídua e aturada presença.
Li um livro que saiu editado pela Leya da jovem jornalista portuguesa Rita Garcia, “S.O.S. Angola, os dias da Ponte Aérea”, e sinceramente a única coisa que me moveu para o acabar foi a certeza de vos poder dizer com toda a frontalidade, evitem-no .
Paupérrimo na abordagem, nada diferente dos livros que “enxamearam” os quiosques lisboetas no fim dos anos setenta, e que invariavelmente acabaram guilhotinados porque nem quase de borla as pessoas se arriscavam a adquirir. Rita Garcia, pode vir a fazer melhor, mas julgo que se o quiser, terá que procurar melhores interlocutores porque a maioria dos que ali foram citados só empobrecem qualquer argumento, tendo em conta o “lixo” que em tempos publicaram.
Fico a aguardar o último livro do português António Lobo Antunes, que julgo estar a sair e o tema tem a ver com o MPLA e a guerra colonial, e ainda um outro de contos do luso-angolano-brasileiro José Agualusa, que resolveu recentemente voltar à liça com uns despropositados dislates, que nada tem a ver com os seus interessantes trabalhos literários, que aprecio.
“1948: O meu pai foi às finanças fazer um requerimento, e como de costume fez questão de que eu o acompanhasse.
Para “aprender a vida”
Em casa explicou-me minuciosamente a fórmula e o motivo do requerimento. No fim meteu dentro da folha uma nota de cinquenta escudos, e disse-me: “Esta é a parte mágica da fórmula. Quando tiveres um pedido a fazer, já sabes, o segredo é este.
Passados uns meses enviei a minha primeira declaração de amor, e como 50 escudos era para as minhas posses, juntei uma moedinha de vinte e cinco tostões. Nunca tive resposta, decerto foi por ser tão pouco”. In Alberto Pimenta/ Repetição do Caos – Edições & Etc.
Hoje foi assim porque nem sempre estou assim, raras vezes sou assim!

Fernando Pereira 12/9/2011

JOGOS DA ÀFRICA CENTRAL, UM MODO DE TER ESTADO!/ Novo Jornal nº 191/ Luanda 16/9/2011






“Dentro de momentos, num acto pleno de significado, o Presidente da Republica Popular de Angola, declarará solenemente abertos os IIºs Jogos da África Central, manifestação que representa o vértice da actividade da Zona de Desenvolvimento Desportivo nº4 do Conselho Superior dos Desportos de África.
A realização destes jogos em Angola não acontece por acaso, nem é fachada vistosa que utilizamos para esconder as debilidades dum desporto sem princípios, sem organização e sem praticantes. E nem persegue sequer outros objectivos do que aqueles e bem generosos eles são que norteiam as relações desportivas internacionais, particularmente entre os Países do nosso continente”
Há trinta anos, 20 de Agosto de 1981, Ruy Alberto Vieira Dias Mingas, ao tempo Secretário de Estado de Educação Física e Desportos, e Presidente em exercício da Zona 4 do Conselho Superior dos Desportos de África, com estas palavras inicia o discurso de abertura da maior manifestação desportiva que há memória no País.
A realização dos 2ºs Jogos da África Central surge em Angola cinco anos depois dos primeiros em 1976 em Liberville, onde a então R. P. Angola participou como convidada.
Angola candidata-se em 1979, já com a equipa liderada por Ruy Mingas na ex-SEEFD a organizar em Angola os Jogos da África Central e simultaneamente a RPA fica com a sede da 4ª Zona de Desenvolvimento desportivo em África. Era secretário geral, o saudoso Fernando Matos Fernandes acolitado por um “espalhafatoso” André Milton Kilandamoko, controversa figura que em 1992 concorreu à Presidência da Republica de Angola e instado a responder pelo desvio de umas dezenas de milhares de dólares no Secretariado da Zona 4, respondeu com o seu proverbial à vontade: “ Os angolanos nunca conseguiram crescer e passar daqui, quando numa hora importante como esta se preocupam com miudezas”.
Logo que se teve conhecimento que seria Angola a organizar os jogos, mobilizaram-se vontades, motivaram-se pessoas e entusiasmaram-se os agentes desportivos e políticos de uma Republica Popular de Angola imberbe em termos de organização, mas excessivamente voluntariosa no querer participar em prol de conquistas políticas então alcançadas.
Simultaneamente começaram a fazer-se os planos mais hiperbolizantes para os jogos, algo recorrente nas organizações de eventos desportivos recentes em Angola.
Luanda, Benguela, Lubango e Huambo seriam os locais onde se iriam realizar os jogos, numa primeira triagem depois de se ter conseguido convencer os delegados provinciais de outras províncias que não haveria lá jogos, mas talvez jogos de preparação ou estágios de selecções pudessem por lá acontecer. As promessas inerentes às circunstancias!
As propostas de reabilitação de complexos desportivos, de infra-estruturas aeroportuárias, hoteleiras e urbanas eram de uma dimensão de tal forma empolada que para ser tudo levado a bom termo exigia-se que tudo tivesse começado no mínimo dois anos antes.
Piscinas novas ou reequipadas, campos de futebol relvados, pavilhões, centros de estágio, hotéis, edifícios públicos, tudo seria objecto de requalificação ou construção de raiz.
Com a aproximação da data dos jogos, muitas das propostas foram caindo e aí o Ruy Mingas e os seus próximos passaram a decidir com o argumento dos factos e do calendário, embora o seu dinamismo e a sua capacidade de mobilização e entusiasmo nos motivassem a todos, obrigando-nos a superar problemas que em determinadas circunstâncias pareciam-nos irresolúveis.
Algo que muita gente não sabe é que os jogos estavam para se realizar de 20 de Julho a 3 de Agosto de 1981, e o Ruy Mingas num dos últimos dias de Janeiro reúne-nos, depois de uma reunião do conselho de ministros e comunica-nos a decisão de adiar o início dos jogos um mês. Saíram da reunião vários grupos que visitaram todos os Países envolvidos e que entregariam a carta aos titulares dos cargos reitores do desporto com os argumentos ponderáveis para a alteração do evento, que não levantou o menor obstáculo por parte de ninguém. Não se deslocou ninguém ao Tchad, que ao tempo vivia uma guerra civil entre as forças partidárias de Hissène Habré e do presidente Goukouni Oueddei.
A realidade é que apesar do ciclópico trabalho e à medida que o dia se aproximava sentia-se que os jogos iriam ser um êxito, como realmente foram mesmo, por muito que se tente omitir esse facto.
A determinada altura descartou-se o Lubango e Benguela como locais dos jogos, perante o desalento do dinâmico delegado desta província, Victor Geovetti Barros.
Restou Luanda, onde em oito dias teve que se mudar o terceiro tartan da Cidadela, e o Huambo, que apresentava problemas de segurança complicados, como se observou no decorrer de estágios de preparação de diferentes selecções de Angola, como basquetebol (masculino e feminino), futebol e boxe, a maioria das quais alojadas no antigo Hotel Mondego, transformado em Casa do Desportista, junto ao Bairro de S. João.
Alojar, arranjar a logística apropriada, apoio médico, transporte de mil e trezentas pessoas entre atletas, árbitros, dirigentes, etc. foi uma tarefa particularmente complicada num País que ao tempo vivia dificuldades enormes.
Mobilizar voluntários para quadros humanos, apoio a delegações, tradutores, Intérpretes, comissários de provas, secretariado, em suma um conjunto de gente que garantisse o normal funcionamento dos jogos e simultaneamente conseguisse manter níveis de organização aceitáveis para a realização do evento pôs à prova a capacidade de organização do País.
Ruy Mingas seria naturalmente o principal responsável por um eventual fracasso dos Jogos, na realidade como correram bem houve a normal partilha dos louros. A forma brilhante como geriu esses tempos nunca poderá ser obliterada, muitas vezes tendo que vir a terreiro apagar fogueiras que as circunstancialmente se ateavam aqui e ali, conseguindo unir as pessoas pelo afecto, pela confiança, pela identidade de pontos de vista e pela bonomia que colocava em todo o seu relacionamento connosco.
A sua equipa, onde com muita honra participei não pode ser esquecida nesta singela passagem destes trinta anos da realização dos 2ºs jogos da África Central. Sardinha de Castro, Helder Moura, Paulo Murias, José Martins, José Cohen, Franklim Dias, Espírito Santo, Raquel Grácio, os já desaparecidos Juca Figueiredo, Sande Lemos e Matos Fernandes, entre alguns outros que o tempo faz desmemoriar.
Quando o falecido Evaristo Domingos Kimba, na qualidade de comissário provincial de Luanda faz o seu discurso de boas vindas aos visitantes passa a contribuir com um novo léxico: “ Atletas e atletistas, bem vindos a Luanda”!
A Cidadela nesse dia 20 de Agosto de 1981 engalanou-se a preceito para receber os atletas do Burundi, Rwanda, S. Tomé e Principe, Gabão, a então Republica do Zaire, Republica Popular do Congo, Tchad, e Camarões. A Republica Centro-Africana não compareceu por razões políticas e económicas, e a Guiné Equatorial não deu qualquer justificação para a ausência.
Como não se conseguiu acabar o estádio fizeram-se intervenções interessantes que acabaram por não ser perceptíveis para os que encheram o Estádio nesse dia pouco soalheiro de Agosto.
O presidente José Eduardo dos Santos declarou abertos os jogos depois dos discursos de Ruy Mingas, Evaristo Kimba e da atleta Filomena Maurício ter ateado a tocha na pira situada num dos extremos do estádio. Convém recordar que o ministro centro-africano dos desportos Georges Petro—Koni-Zeze, presente na abertura dos jogos já estava demitido das suas funções por causa de um golpe de estado que decorria em simultâneo.
A cerimónia de abertura e encerramento dos jogos foram inesquecíveis pelo colorido emprestado pelas delegações, a garridice dos quadros humanos e a coreografia perfeitíssima de todos os executantes, mobilizados nas escolas de Luanda, e que tão boa conta deram de si.
Durante treze dias Luanda transfigurou-se com o bulício dos jogos, não só pelas actividades desportivas que “calcorrearam” as ruas da cidade, nomeadamente em modalidades como o ciclismo e o atletismo, na sua disciplina de maratona, como também no movimento de atletas entre locais de alojamento, jogos e treinos.
Desportivamente Angola ganhou apenas sete medalhas de ouro, muito longe dos Camarões que ganharam 28, o Congo com 9 e o Gabão com 8, mas a realidade é que fomos vencedores porque conseguimos organizar uns jogos de grande competitividade e com o elevado espírito organizativo que muito nos orgulha.
Angola foi muito grande, e convém recordar que em boxe foi medalha de ouro José Paulo Mohongo (48kg), Eduardo Candido (71 Kg), em Judo João Merino (71kg) e no atletismo o bis de Bernardo Manuel (5000 e 10.000m), António Reais no Martelo e José Ernesto na Maratona.
Um dos momentos de grande simbolismo retratado pelo Carlos Pinhão nas páginas da “Bola”, terá sido quando o antigo recordista “português” do salto em altura Ruy Mingas coloca a medalha de prata no peito do então recordista angolano Orlando Bonifácio. Bonitos e assertivos os textos do saudoso Carlos Pinhão na “Bola”!
Atletismo, Futebol, Andebol, Boxe, Ciclismo, Voleibol, Judo e Basquetebol foram as modalidades dos Jogos, com participação entusiasmada de atletas e com forte presença de público, que não queria perder pitada dos eventos desportivos e da componente cultural associada, que trouxe muitos artistas africanos de renome a Luanda.
Se tinha que se fazer um esforço enorme para arranjar locais para disputa dos jogos, as dificuldades eram acrescidas para os treinos das equipas. Acrescente-se a tudo isto a disparidade horária das refeições, os transportes das equipas na cidade e o alojamento disperso por vários locais, para além de se salvaguardarem as condições dos árbitros, técnicos, médicos, dirigentes federativos e governamentais, dirigentes de confederações internacionais de diferentes modalidades, jornalistas e gente da imprensa. Admita-se que tudo conseguiu correr quase na perfeição, o que era completamente impossível de prever quinze dias antes, em que a placa do aeroporto 4 de Fevereiro parecia um acampamento com o descarregar de material diverso, alimentação, atoalhados, equipamento desportivo, tudo o que se achava que seria importante para que os 2ºs Jogos da África Central corressem bem.
O que acabou por ensombrar os jogos, nada teve a ver com a sua organização. A 23 de Agosto de 1981 a Republica Popular de Angola é invadida pelas tropas da África do Sul na sua fronteira com a Namíbia, ocupando 250km para o interior do País. Foi a ofensiva que acaba por marcar de forma indelével o princípio do fim do apartheid, pois a partir desse dia a comunidade internacional endureceu de forma significativa a sua posição contra o regime racista sul-africano.
Desapetece-me fazer extrapolações que ultrapassem a razoabilidade, mas se há algo que não bate a “bota com a perdigota”, como dizem os portugueses, são as razões que levam um regime a endurecer a sua posição militar num momento em que a visibilidade sobre Angola era grande, pelo facto de se estarem a disputar jogos com muitos Países africanos, com muitos atletas prestigiados e com a presença de muito profissional da informação. Há muita coisa que se despercebe na política internacional, mas na realidade esta ofensiva militar neste momento parecia ilógica! Comentou-se que Angola saberia previamente dessa situação e marcou os jogos para essa altura, para recolher benefícios no campo da diplomacia. Foi um dos múltiplos cenários que se colocaram, e o que acabou por suceder foi que no domínio da visibilidade informativa interna e externa as atenções viraram-se naturalmente para esta afronta à soberania da então Republica Popular de Angola.
No discurso de encerramento dos jogos, Ruy Mingas: “No panorama desportivo Africano de hoje não pode passar em claro, nem deixar de ter um significado bem forte, o facto de 9 países da África Central se terem reunido numa vasta competição multidisciplinar, onde se aliaram a dimensão notável da própria realização, um nível desportivo de relevo em todas as modalidades, um clima de festa permanente que tornou mais transparentes os laços entre desporto e cultura e um ambiente de camaradagem e amizade que garantiu aos Jogos o selo de unidade sob o signo da qual eles foram promovidos” (3-09-2011).
Trinta anos depois, fica a mensagem que resume esses dias: “ Angola ganhou!”
Fernando Pereira
4-9-2011

8 de setembro de 2011

O TEMOR NÃO MORA AQUI / Ágora/ Novo Jornal 190/ Luanda 7-9-2011




No passado 29 de Agosto de 2011 comemorou cem anos Vo Nguyen Giap.
Poucos se terão lembrado disso, mas certamente lembram-se que Giap foi provavelmente o maior estratego militar da segunda metade do século XX. Obrigou a capitular os franceses na definitiva batalha de Dien Bien Phu (13/3/1954 - 7/5/1954) e conseguiu expulsar em condições dramáticas o exército americano de Sai
gão (Ho-Chi-Minh) em Abril de 1975, impondo aos americanos a primeira derrota militar da sua história, trauma ainda hoje evidente na sociedade americana.
Giap manteve-se até 1991 como ministro da defesa da Republica do Vietname, resignando ao cargo, mas mantendo-se um cidadão politicamente activo e respeitado por todo um povo, que nele reconhece valores de dedicação à causa do socialismo e à luta contra o colonialismo. Giap foi sempre muito discreto e a sua probidade era exultada pelos seus próprios adversários e inimigos, o que o transformou numa das enormes figuras do “Terceiro Mundo”.
Não copio os maoistas a desejar “Longa vida ao general Vo Nguyen Giap”, porque felizmente tem uma vida longa e o seu exemplo multiplica-se num mundo onde a luta de classes não passou para o “memorial da história”. É bom tê-lo entre nós!
A Líbia, sessenta anos depois é revisitada pelos mesmos protagonistas de El Alamein unidos numa pretensa “Operação Humanitária”. O Afrika Korps de Rommel em 1941 uniu-se às forças do marechal Montgmery e às bizarrices de Mussolini, para lutarem contra uma figura de opereta, Kadhafi, que já é ditador há décadas, e que só agora pelas razões mais cínicas, terão premeditado esta aliança espúria para o derrubar.
Não me surpreende que a Libia não tivesse armamento sofisticado, já que quando posta à prova a fanfarronice do seu leader, a resposta em termos militares foi sempre paupérrima; O maior argumento de Kadhafi é o pulmão, num jeito de “agarrem-me já senão desfaço-o”.
Não gosto de lideranças políticas assentes em pressupostos religiosos, e como sempre defendi a laicidade total dos estados, a separação entre igrejas e estado, o que me parece existir cada vez menos, principalmente quando os chefes vão sendo cada vez mais idosos e esperam que com essa união possam ter acesso às “mil virgens” ou ao reino dos céus ou à companhia de outras Isís, Vénus e quejandos. Justifica Woody Allen: “ Interessa-me o futuro porque é o lugar onde vou passar o resto da vida”.
Uma das situações que me surpreendem na Líbia é o facto de a guerra ser muito parecida com um Paris-Dakar com gente pendurada em veículos de todo-o-terreno, cheia de armamento ligeiro e a dispararem para qualquer lado à aproximação de qualquer câmara de TV.
Penso que á partida a grande vencedora da confrontação da Líbia é a Toyota, porque são emblemáticas as pick-ups que vão andando num afã de um lado para o outro, sem percebermos muito bem para que “lado é a guerra”. Vou continuar expectante para saber se a “varridela selectiva dos ditadores” vai alargar-se a prepotentes sultanatos, onde a mulher é aviltada nos mais elementares direitos humanos e de cidadania.
Porque estamos em tempos de efemérides, lembro-me de ouvir contar que há cinquenta anos, no dealbar da guerra de libertação em Angola, Salazar faz um daqueles discursos roufenhos e sensaborão, entrecortados com uns gritos imperceptíveis por parte dos seus apoiantes, sempre disponíveis a promover em todo o território manifestações patrioteiras de glorificação do “chefe supremo da nação”. Em Coimbra no edifício ocupado pela Legião Portuguesa, contíguo ao Governo Civil, onde se realizou uma “espontânea” manifestação, estava desfraldado uma enorme tarja que dizia:”Angola 1961, o temor não mora aqui!”; No edifício da frente, uma bela república de estudantes, os irreverentes moradores pegam numa tarja e com letras garrafais colocam na varanda: “Aqui também não”, o que provocou a ira dos apoiantes do regime, autoridades, PIDE e simultaneamente o gáudio e a hilaridade dos muitos que presenciaram a cena.
Ah, esquecia-me, havia um anúncio que dizia no fim dos anos sessenta: “E quando passa todos dizem: Toyotahuéee” !
Fernando Pereira
1-9-2011

RIQUINHO DE PORTUGAL! /O INTERIOR/ 7-9-2011




Desculpem o arrojo desta crónica, mas tantos a lixarem-me julgo ter direito a este devaneio, porque como diria Chaplin, “tenho a impressão que os homens estão perdendo o dom de rir”, ou mesmo do mesmo "Através do humor nós vemos no que parece racional, o irracional; no que parece importante, o insignificante. Ele também desperta o nosso sentido de sobrevivência e preserva a nossa saúde mental”Hoje resolvi introduzir este tema!
Por falar em introduzir, hoje vou falar do paquete Infante D. Henrique, essa jóia da ex- Companhia Colonial de Navegação, onde viajei algumas vezes entre Lisboa e Luanda e ” versa ou vice”.
Para falar do paquete em causa, tenho de começar por falar do próprio Infante. O Henrique de Lencastre era filho do João e Filipa, que já nesse tempo era um nome da moda, e fazia parte da Ínclita Geração, e de facto era uma significativa parte da visão do que se tentava incutir na «raça» portuguesa ao longo dos séculos.
Essa tal ínclita geração tinha de tudo um pouco! Um gestor da treta que cavalgava em toda a sela, mas que se esquecia de deveres conjugais mínimos, que eram usurpados por outros cavaleiros e quiçá alguns pajens; Estou a falar do Duarte, depois um Pedro que era galfarro, e também enchia páginas da "Caras", e outras revistas mundanas ou “nundanas” do tempo, havia o Fernando, que levou na mona dos mouros em Ceuta, que virou santo, o que hoje seria fácil ao ritmo a que são feitas beatificações. Aqui uma certa semelhança com o F. C. Porto no tempo do fascismo, em que os clubes de Lisboa tudo ganhavam, com o beneplácito do regime. Roger Moore era Santo, porque atacava umas moças em filmes de alguma acção e beijoca a esmo.
Ainda havia duas infantas, que nunca entraram na dita ínclita geração, e devem ter sido sepultadas em Mouriscas do Vouga, pois não estão ao pé da “malta” na Batalha das Imperfeitas Capelas, ao pé de um infeliz, ou um conjunto de ossadas de uns infelizes, a quem em vida nunca perguntaram se porventura se importariam de ser soldado desconhecido, só para ser guardado toda a eternidade por infelizes conhecidos, com horário rígido copulado com um “faceas” esfíngico.
O quarto da Ínclita, já que eu a bem dizer ainda prefiro os quatro de Liverpool, era o Infante D. Henrique!
O Henriquinho de Lencastre era um tipo mal vestido, todo de negro, tipo anúncio da Sandeman, com uma tez de quem sofria da figadeira, com um bigode tipo anúncio da Gillett nos anos 60, complementado com um chapéu aparentemente com a aba muito ensebada. Ele lá corria as praias todas, com os cosmógrafos e compassos italianos na sua peugada, e era bom e bonito, o que eles faziam nas falésias de Sagres ou na” Meia Praia ao pé de Lagos”, como 500 anos depois cantava José Afonso.
Enquanto os italianos se entretinham com as cartas de marear, o Infante ia mareando nas faldas da Serra de Monchique, à procura de padrões de aspecto fálico para colocar em todas as possessões a achar, de forma a perpetuar em "Novos Mundos ao Mundo", também a sua ousada opção sexual, que a coberto da linhagem, possibilitava que a Igreja fosse permissiva” indulgendo” um pecaminoso nobre.
E eis que Portugal penetrava, pelos vistos por penetração também na epopeia dos achamentos.
E eu que ia falar do paquete “Infante D. Henrique”, que tinha um pianista que presumivelmente tocava melhor que o Bill Evans, mas havia gente que discordava, sem tampouco o terem ouvido numa dessas viagens de vice-versa!
Desculpem, esta linguagem homofóbica, mas calhou!
Fernando Pereira
1/9/2011

2 de setembro de 2011

CRÓNICA BREJEIRA / Ágora / Novo Jornal 189 / Luanda 2-9-2011





Sou um admirador confesso do Luis Pacheco.
Luis Pacheco (1925-2008) foi só o mais virtuoso provocador das letras portuguesas. Colaborador da revista angolana “Notícia” entre 1968 e 1973 brindou-nos com crónicas que são constantemente reeditadas em antologias diversas. Era um homem pouco atreito a regras e multiplicador de inimigos, corrosivo bastante para provocar iras e alimentava debates constantes, muitos publicados que já fazem parte do acervo literário português. Provocador indocumentado, muito poucos conseguia escapar ao gume das suas palavras.
Era recorrente não ter dinheiro e recorria aos amigos para lhe valerem nos seus cada vez mais curtos ciclos de aflição, que a determinada altura passaram a eternos; Costumava classificar os amigos em função de quanto lhe emprestavam: amigos de vinte escudos (muitos), de cinquenta (muitos ainda), cem (uns poucos), quinhentos (raros) e mil (um apenas, o nosso conhecido Manoel Vinhas).
Em determinada altura os amigos davam-lhe trabalhos de tradução para ajudar a minorar os seus eternos apertos financeiros. Numa ocasião, o tradutor Bruno da Ponte resolve entregar-lhe uma parte da versão francesa do “Dicionário Filosófico” de Voltaire, já que na circunstância os prazos eram curtos e sempre ajudava o Pacheco a ganhar algum. O Luis recebeu o dinheiro mas a tradução demorava a sair, mesmo por insistência do Bruno da Ponte que estava a ser pressionado pela Editorial Presença, pois precisava do livro para distribuição. Depois de muito esforço o Luis Pacheco numa noite sentou-se em frente à sua máquina de escrever, e sem nenhum dicionário de apoio “aviou” a tradução. Acontece que havia palavras e termos que desconhecia, e colocou-as a vermelho para posteriormente as emendar; As palavras a vermelho eram um chorrilho de asneiras do mais ordinário possível, em que as palavras “merda” e “puta” eram indiscutivelmente as mais brandas. Foi dormir e nunca mais se lembrou do assunto. De manhã telefonam-lhe pela enésima vez a solicitarem a tradução e pegou nela, foi ao Correio e mandou-a para Lisboa para o Bruno da Ponte, que sem ler a entregou ao editor e este sem rever enviou para a tipografia. Os tipógrafos tinham um princípio de nunca alterar uma linha ao que lhe era enviado, porque julgavam que todas as palavras a vermelho faziam parte do texto, tipo “coisa de intelectuais”, e o que fizeram foi colocá-las em itálico. A edição começou a ser feita e o Luis Pacheco, num rebate tardio de lembrança resolve sair das Caldas da Rainha, onde morava, e vem a Lisboa à pressa tentar travar a impressão, o que só foi possível em parte. A verdade é que os exemplares que existem dessa edição atingiram um preço proibitivo, porque quem a possui não se quer desfazer dela por nada. Convenhamos que o nome do Luis Pacheco não aparece, e o Bruno da Ponte ainda hoje diz ter passado a maior vergonha da vida.
Já que se fala em gafes recordo que nos anos sessenta o jornal portuense “Primeiro de Janeiro” mandou para a rua uma edição matinal em letras garrafais, na primeira página, que dizia “Publicadas as contas gerais do Estado”; O detalhe importante foi que a tipografia omitiu o “T” na palavra “contas” e o resultado ficou bem à vista em todos os quiosques e ardinas, até a edição ter sido toda recolhida, já que no jornal ninguém tinha previamente visto com cuidado a página principal.
Em Coimbra existe um vetusto jornal conhecido como o “Al Calinas”, uma derivação do célebre jornal egípcio “Al Aran”,o Diário de Coimbra, que de vez em quando brindava-nos com títulos deste tipo: “Octogenária de oitenta anos caiu do eléctrico e ficou contusa”ou “ Arma de dois anos fere gravemente criança de dois canos” ou “Faltou a luz no estádio da mesma”, e por aí fora.
Nunca nos haveremos de esquecer “das propriedades afro-asiáticas” de uma planta com propriedades afrodisíacas, como bem dizia uma jovem locutora da TPA, nos tempos em que esta era ainda Popular e não Publica e a caminhar para a Privada!
Acham por isso que alguém se surpreende pelo anedótico da revista portuguesa “Sábado” num recente artigo sobre Luanda. Brejeirice total!

Fernando Pereira
27/08/2011

MÁRIO PALMA: A SUSTENTÀVEL IDEIA DE VENCER / Novo Jornal / Luanda 2-9-2011




O Novo Jornal (NJ) deslocou-se a Coimbra para entrevistar Mário Palma, o mais titulado dos treinadores angolanos, que levou a selecção portuguesa pela segunda vez na história do basquetebol luso à fase final do campeonato da Europa de basquetebol, a disputar na Lituânia.

Esclareça-se que esta entrevista foi feita durante a primeira fase do campeonato africano de basquetebol a disputar em Madagáscar, e a pedido do entrevistado evitou-se que se fizesse qualquer referência à selecção angolana que defende o título.

NJ- Mário Palma recorda-se o título de 1980, que afinal foi o primeiro de 27 títulos conquistados em Angola, entre os quais seis campeonatos africanos seniores?

MP- Lembro-me perfeitamente desse campeonato africano de juniores em 1980 pelo entusiasmo de jogadores, técnicos, dirigentes e publico que permitiu que Angola conquistasse o seu primeiro campeonato continental, que foi um poderoso incentivo para colocar o basquetebol como a modalidade de maior visibilidade no País. Quem pode esquecer aquela final épica na Cidadela?

NJ- Regressa ao “1º de Agosto” num dos momentos piores do clube no contexto dos campeonatos de basquetebol. Admite que é um desafio com alguns contornos de risco?

MP- Quem anda em competição sabe que há momentos em que se ganha e momentos em que se perde; Faz parte do nosso quotidiano de treinador, e quando temos razões de sobra que o nosso trabalho é sério, é apoiado, é profissionalmente assumido com muitas certezas que ao longo da carreira se tornaram inabaláveis, permite-me aceitar o desafio num contexto que certamente iremos dar muitas alegrias a um clube para quem tenho uma dívida.

NJ- Dívida? Explique lá isso.

MP- Em 2005/6 pela 1º vez em toda a minha vida senti que desiludi todos que comigo trabalhavam, principalmente os jogadores e pessoas do clube com quem tinha grande afectividade. Conjugaram-se uma série de factores desde problemas de saúde, aliado a um desequilíbrio emocional , que não conseguia dar-me uma estabilidade indispensável para um trabalho profícuo e que desse ao clube os títulos que todo o seu empenho na modalidade exigiam.

NJ- Não estará à espera que o seu regresso seja do agrado de todos?

MP- Claro que não, e não seria desejável que isso acontecesse, pois o monolitismo é sempre redutor em todas as vivencias colectivas, e só a divergência e a crítica permite melhorar o nosso desempenho no campo profissional e no nosso comportamento inserido numa sociedade de valores onde a seriedade e a ética tem que ser traves mestras de todo o edifício onde vivemos. Regresso a Luanda disposto a trabalhar e promover algum debate, porque os meus quarenta e cinco anos de Angola atribuem-me responsabilidade que acho que não devo alijar. Não estou disposto a abrir guerras pueris, mas também não estou disponível a que ser alvo de avaliações soezes de carácter, quando a única crítica que tenho que admitir tem que ser fundamentadas pela discordância das minhas opções em jogo, pois sou um técnico qualificado, e digo-o com justificada vaidade que tenho um palmarés que poucos a nível mundial se orgulham de o ter.





NJ- Voltando ao seu regresso ao “1º de Agosto”, que expectativas traz, quando já ganhou no clube tudo que havia para ganhar enquanto técnico?

MP- Costuma ser lugar-comum dizer-se que não se deve voltar ao lugar onde se foi feliz. Nunca devia recusar o convite feito para continuar às pessoas que insistiam comigo para ficar em 2006 e aos que afectivamente estou ligado .O Lutonda dizia insistentemente: “ O Prof não pode sair daqui” e expressava bem o carinho de todos, que eu provavelmente ao tempo avaliei de forma demasiado superficial, mas foi assim!
Quero colocar o “1º de Agosto” no seu lugar de topo no basquetebol angolano e quero ajudar a desenvolver estruturas que ajudem o clube a renovar-se e simultaneamente a formar jogadores, técnicos e dirigentes que o potenciem como o maior clube angolano de basquetebol.

NJ- O Mário Palma está a dar uma entrevista defensiva, sem querer falar do basquetebol angolano, selecção, clube e técnicos, a maior parte dos quais trabalharam consigo enquanto jogadores e começaram consigo como técnicos.

MP- Admita que seria deselegante da minha parte fazer abordagens críticas à FAB, à selecção, a técnicos ou jogadores, isto para me circunscrever aos agentes activos do basquetebol. Tenho as minhas ideias, partilho pontualmente as minhas concepções, mas acho que não é importante para o basquetebol angolano abrir guerras artificiais, autofágicas que apenas beneficiam os nossos adversários e fragilizam o muito de bom que se tem feito no País no domínio desportivo. Penso que por vezes exigir-se-ia à FAB uma melhor política de comunicação, de forma a dar visibilidade a um trabalho esforçado e dedicado do Gustavo da Conceição e seus colegas de direcção.
Conheço três gerações de jogadores ganhadores de Angola, treinei a maior parte deles, naturalmente que tenho que ter opinião, o que não devo é antes de chegar mandar recados, porque isso seria uma prática condenável. Admito sem rebuço que o Olimpio é potencialmente um dos melhores jogadores do Mundo na posição 2, como Lutonda que tem 40 anos e o Carlos Almeida deveriam ter sido convocados para a selecção nacional. Está a ver que não fujo a nada, mas há momentos para tudo, e este é o momento para regressar e trabalhar no propósito de alcandorar o 1º de Agosto aos patamares cimeiros do basquetebol africano.

NJ- E a selecção de Angola? Pensa um dia voltar a sentar-se como timoneiro da selecção?

MP- Sou um profissional de basquetebol, já passei por muito sítio, por isso nunca ponho de lado a hipótese de novos desafios ou repetir situações vividas com sucesso. Neste momento tenho um contrato com a selecção portuguesa que termina em Setembro de 2012. A selecção de Angola tem um corpo técnico a trabalhar, por isso parece-me extemporânea a pergunta. “ O Caminho faz-se caminhando” como dizia o poeta espanhol António Machado.

NJ- Na minha opinião já devia ter sido dada a nacionalidade Angolana ao Mário Palma, não apenas pelas suas décadas em Angola, mas também por ter sido obreiro de grandes alegrias que Angola vem vindo a ter em termos desportivos há trinta anos. Que expectativa leva para uma Angola, diferente da que deixou em 2006?

MP- Gostava de ser cidadão angolano, e também partilho consigo a ideia que o mereço, mas isso não me cabe a mim resolver, ou melhor talvez venha a pedi-la, porque afinal sempre aqui vivi e o tempo que cá não vivi, vivia por aqui.
No meu regresso vou gostar de visitar o País todo sem constrangimentos de qualquer ordem. Ir por estrada a locais onde já não vou há mais de trinta e cinco anos e que me marcaram na minha juventude vivida numa Luanda crioula dos anos 50 e 60. Vai ser um complemento excelente do basquetebol e revigorante para mim que sempre quis ver este País em paz e a desenvolver-se como parece acontecer a um ritmo interessante.

NJ- Muito obrigado e felicidades no seu “Reviver o passado no 1º de Agosto”, e fica já aprazada nova conversa no fim da época para uma avaliação.

Fernando Pereira
Hotel Tivoli Coimbra 22/8/2011


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