16 de março de 2014

Empreendedorismo à la minute.-O Interior- !3/03/2014




Em tempos não demasiadamente idos incumbiram-me de marcar um lanche num restaurante da região.
O restaurante não servia nada de especial e a qualidade e o preço eram mais ou menos iguais a dezenas de estabelecimentos do tipo nas redondezas. Justifiquei a escolha aos meus companheiros de refeição por saber que o “tasco” tinha uma maravilhosa mousse caseira que levava ali muita gente a comer a iguaria.
Quando acabámos o repasto pedimos a célebre mousse, ex-libris da casa. Nas primeiras colheradas notei que nada tinha a ver com a que estava habituado a comer. Todos os meus parceiros começaram numa gozação enorme, já que estavam perante uma vulgaríssima mousse instantânea de sabor demasiado aguado. Chamei o proprietário e perguntei-lhe pela caseira e responde-me da forma mais cândida do mundo: “Dava muito trabalho e acabava muito rapidamente. Todos os dias a minha mulher tinha que a fazer duas e três vezes e mesmo assim esgotava. Esta dá até para dois ou três dias!”.
Perante este argumento não houve palavras, nem tampouco novas idas a esse restaurante. Sei que já fechou há uns tempos e os donos terão emigrado.
Com alguma regularidade costumava ir a um barzinho esconso beber umas cervejas com uns amigos onde entre outras trivialidades se falavam mal de outros e bem de alguns. Nada de extraordinário, se o proprietário e único empregado do bar sistematicamente não trouxesse amendoins descascados e dois pratos. Um era com amendoins e outro nunca percebemos para que servia. Uma vez alguém lhe perguntou para que era o segundo prato e pela reação ficámos com a convicção que a questão era de resposta muito difícil. Pensou e saiu-se com esta: “Isto é para as cascas dos amendoins”! “Mas os amendoins vêm descascados” replicámos quase em uníssono perante a nossa incredulidade. “Mas também servem para o milho das pipocas” , e de facto calou-nos imediatamente pois nunca houvéramos visto tal sucedâneo do milho naquele lugar. A tirada final foi deliciosa quando ele diz: “É o que aprendemos nas escolas de hotelaria”! Por razões de desavenças familiares fechou, segundo me disse o referido “bacharel” em hotelaria uns tempos mais tarde.
Na estrada, aqui nas cercanias da cidade parei num café que não tinha rigorosamente ninguém. Bati palmas, quase que gritei e perante muita insistência veio uma senhora algo despenteada com as mãos cheias de sangue e penas. Pedi um café e surpresa das surpresas vi a mulher ir à máquina, colocar a chávena e tirar o café. Bem, a asa da chávena vinha com sangue, o pires com uma pena ensanguentada e talvez o pacote de açúcar tivesse qualquer coisa. Educadamente disse que não bebia aquilo, nem pagava e logo a megera resolveu insultar-me porque a fui incomodar no meio de um abate de um galináceo e não tomei o que me deu. Voltei as costas e fiquei incomodado porque talvez tenha errado em ter pedido um café num estabelecimento aberto para o efeito. Não faço ideia se ainda está aberto porque não passo por ali há muito tempo.
Para os lados da raia entrei num misto de minimercado, bar e taberna. Estava um tipo deliciado a ver uma tourada na TVE e retorquiu à saudação com um boa-tarde murmurável sem olhar para mim. Lá continuou entretido e eu pedi-lhe uma água, e ele: “Um momento”; dois minutos depois nova insistência e lá veio o tipo a resmungar alguma coisa imperceptível mas que teria talvez a ver com o facto de lhe ter estragado a tarde. Deu-me a garrafa, sem me perguntar se queria copo e paguei. Voltou para a sua cadeira e continuou a delirar com a selvajaria. Pedi outra água e aí acho que só não me bateu porque a desproporção era enorme. Depois de me servir com toda a antipatia possível pareceu-me ouvir quando ia a sair: “ Olha o azar, com tantos cafés por aí tinha logo que vir ao meu”!
A culpa disto estar assim foi minha porque estes casos passaram-se comigo. Assumo a minha mea-culpa!

Fernando Pereira 11/3/2014


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