29 de dezembro de 2011

THE NEXT / Novo Jornal 206/ Luanda 30/1/2011







No fim deste 2011, ano de muitas mudanças, algumas imperceptíveis no contexto geopolítico regional e mundial o que se nos oferece pensar é que anda demasiada indefinição no quadro da economia e um lodaçal autêntico no plano da ideologia.
Vinte anos depois de Gorbatchev ter feito o discurso de renúncia da presidência da URSS, o seu consequente colapso, onde simultaneamente todas as repúblicas ascenderam ou retomaram a sua independência, olhamos para o mundo de uma forma mais apreensiva, mau grado os dias de esperança que marcaram o fim da burocracia soviética, verdadeira causa do estertor final da grande revolução socialista na história mundial.
Como não sou economista e também tenho pouca queda para a tarologia admito com alguma dose de leviandade que acho ambiciosa a meta apontada para o crescimento económico de Angola no próximo ano, num cenário de aparente retracção da economia mundial e onde o nosso único produto de exportação estará exposto às contingências das alterações que se perspectivam.
Logo se vê o que acontece, porque mesmo para fracassar é preciso talento, e nisso ainda estamos longe do aceitável, mesmo no nosso modesto padrão de desenvolvimento.
Como sempre defendi que o pessimista é um optimista com experiencia, talvez eu não esteja a ver o quadro correctamente e vou-me limitar a esperar ver na imprensa notícias que há muito me desabituei e nalguns casos não me lembro de haver nada publicado.
Nunca consegui perceber como é que em Luanda se constroem novos bairros, se estruturam novas urbanizações e não se consegue ver um sistema aceitável de esgotos e estações de tratamentos de águas residuais. Acho que é quase o mesmo que mudar a fralda a um bebé sem lhe limpar o rabo.
Continuo a desperceber porque é que os colectores de águas pluviais, as suas bocas de drenagem estão sistematicamente obstruídos para além de estarem obsoletas e desadequadas do anárquico crescimento da urbe.
Recordo-me das grandes chuvadas em 1963, e lembro-me de ver o estado geral da cidade, com os alicerces do Colégio de S. José de Cluny completamente à mostra e em risco de derrocada para a rua do SANA. A cidade era um pandemónio, com a baixa inundada de lama, as ruas com crateras onde os velhos autocarros azuis estavam “afocinhados”. A Samba na altura ainda com pouca construção clandestina viu as areias dos seus morros depositarem-se na velha estrada da Corimba e a Praia do Bispo, com as casas da marginal cheias de lodo. Só víamos lodo, água e muita destruição um pouco por toda a cidade ao tempo com um perímetro urbano pequenino em relação ao de hoje.
Iniciaram-se de imediato toda uma série de trabalhos, nomeadamente muros de suporte, canais de escoamento de água (o Rio Seco) e melhoria do colector central da parte baixa da cidade para conseguir suster as chuvas que em Março caiam pouco mas bem!
O que vamos assistindo é que basta um borrifo e o caos na cidade generaliza-se, e não se consegue vislumbrar um projecto coerente que consiga acabar com uma das causas da vivibilidade de Luanda ser tão má. Era capaz de ser uma aposta interessante para uma cidade capital que quer ter sapatos de verniz mas tem que os ter a chafurdar no lodaçal!
Gostava de ver as grandes cidades de Angola criar nos seus arrabaldes uma estação de resíduos sólidos urbanos, vulgo lixo, já que amontoado e queimado de forma desordenada é dramático para a salubridade, e nem vale a pena repetirmo-nos sobre as consequências da inexistência de um sistema coerente para melhorar o quotidiano de vida dos cidadãos.
Era capaz de querer mais coisas em 2012, como por exemplo aproveitar a nova onda de envidraçar edifícios, espelhá-los, e sendo assustadores no aspecto e inadequados ao clima de Luanda, mas pudessem aproveitá-los para instalar um sistema em que esses vidros pudessem converter em energia a ser usado no prédio dispensando a electricidade dos geradores, mais uma chaga no ambiente urbano onde o luandense vive.
Sou capaz de querer ver mais coisas em 2012, mas vou ficando atento para ver se as coisas acontecem.
Um bom ano de 2012 e nunca esqueçam que Ernest Hemingway dizia: “O mundo anda três whiskies atrasado!”.
Fernando Pereira
26/12/2011
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