8 de abril de 2007

Homenagem a Nuno Bragança 1929/1985





NUBO BRAGANÇA
A NOITE E O RISO

Os Vimioso e a Banda de Bucelas
Quando nas suas iras, o Rudolfo gostava imenso de bater. Arrumar um adversário despachável à primeira, nem pensar. Organizava as lutas de molde a chegar à última trancada nuns vagares, gourmet de sexo a retardar o orgasmo. Escolhia as vítimas a dedo, sem as estudar antes de lhes saltar em cima. Tinha a pontaria de quem se movimenta em função do puro instinto.
O homem de Bucelas mostrava-se uma presa ideal. Porque tinha agilidade e força, e era corajoso.
[...] Durante um naco de tempo, o Rudolfo foi demolindo o outro, camponesa de bons dentes absorvendo um cacho de Ferral
Os bucelenses extra-banda, estarrecidos, não tinham receita apropriada. De cada lado dos contendores(1) , uma fila de tocadores de Banda desfilava, narizes no papel pautado.
Foi um saxofonista quem virou a página. Ao ver o sucedente, passou o instrumento ao companheiro de trás. Atravessando tudo e todos numa implacabilidade de furão em rasto certo, chegou-se ao Zé-Rudolfo e deu-lhe uma na nuca com o talhe da mão.
O Rudolfo fez plaff no asfalto, como um sapo despejado do sétimo andar. «Este é músico», disse o Simão, olhando o saxofonista atenciosamente, nuns carinhos. Após o que, chegou-se a ele e foi-lhe às ventas, com o sorriso duma Madre Superiora afagando noviça que promete.
A intervenção do [Simão] C. C.: copo de gasolina entornado em chama de caruma. Num já-está, a selecção de Bucelas e o meu grupo defrontaram-se num vale-tudo incluindo instrumentos musicais servindo de matracas. Para os polícias, que andavam pela orla dos passeios de cacetete em erecção constante, esta oportunidade de molhar a sopa em nova frente foi éclair de chocolate à mão de uma madame.


Nuno Bragança, A noite e o riso
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