31 de julho de 2009

Tempo do Frias/ Ágora/ Novo Jornal / Luanda / 31-7-09



Como é o tempo do fresquinho, e como muita gente está de férias, nada melhor que um tema aligeirado, aguardando calmamente que “atrás dos tempos vem tempos e outros tempos hão-de vir”, como canta o Fausto, um homem do Huambo.
Numa recente viagem a Benguela, e depois de comer no “Olho”(!!!), um lúgubre restaurante junto à praia de Porto Amboim, e subindo em direcção ao morro Cambiri, veio-me à lembrança, uma discussão acalorada com o meu amigo Tchaveka, sobre a eventual importância desta baia no decurso da 2ª Guerra Mundial.
Tchaveka argumentava, mais com o argumento do pulmão, que teria havido um acordo secreto entre Roosevelt e Salazar, para que Porto Amboim fosse local de acolhimento da 7ª Esquadra naval americana, pois era a única baia no Atlântico com capacidade para albergar tamanha força. Admito que seja verdade que tenha havido este acordo, mas foi tão secreto que até hoje nunca ouvi falar dele a não ser pelo Tchaveka, não colocando em causa a sua verosimilhança. Mas não foi tão secreto assim, porque o Tchaveka tem-no divulgado insistentemente.
Este “acordo” traz-me à lembrança as histórias do Engenheiro António Frias, jogador de futebol da Académica de Coimbra na década de 40, que acompanhei nas tertúlias coimbrãs nos anos 70. O Frias era uma figura imponente, um autêntico cilindro de 2m3 de volume, onde acumulava entre gordura e órgãos um peso de 125Kg, a exigir continuadamente alimento e bebida a uma voracidade invulgar, a qualquer hora do dia ou da noite!
O Frias, contava histórias perfeitamente inacreditáveis, do tipo de certa vez jogar ao Campo do Lima no Porto, contra o Académico do Porto, com um sol azul, sem uma nuvem; Às páginas tantas, vem uma nuvem, em perfeito estilo de Hitchcok, com muitas gaivotas à volta, e mesmo por cima do centro do campo cai uma chuvada que interrompe o jogo, já que a chuva era de peixes, desde tainhas, douradas, carapau, pescada, corvina, enfim um verdadeiro “arrastão”! Contradizer o Frias não era fácil, já que o argumento físico era de peso e o mau feitio era um aliado conhecido.
O Frias, porque era um teimoso recorrente, resolve deixar a engenharia electrotécnica e passa para a engenharia militar, e ei-lo mobilizado em Angola para a tropa colonial.
Uma vez falava-se de Angola, e o Frias diz-me: “Você não percebe nada de Angola, sabe que Angola é tão rica que as solas dos sapatos se gastam numa semana, e os pneus dos carros em menos tempo?” Eu fiquei surpreendido e disse-lhe que nunca me tinha acontecido nada disso, e o Frias aos berros a dizer que em Angola a massa asfáltica misturava-se com pedras dos rios, que eram diamantes, que eram muito duros e nada resistia nas estradas e ruas asfaltadas recentemente! “ E sabe que o Rio Zaire é tão caudaloso, que até quarenta metros no oceano a água é doce?” “Sabe onde é que eu em Angola estrelava os ovos? No capot do Jeep!” “Uma vez em Angola estava a jogar a bola num aquartelamento, e rematei com tanta força que matei uma pacaça que estava a beber numa charca perto!” “Em Angola passávamos de carro em picadas, e ficávamos cinco minutos sem ver nada, e com o corpo cheio de pó de talco, que nalguns casos era perfumado!” País muito rico mesmo, que não se podia beber água porque sabia a petróleo”.
O Engº Frias era impagável, e certa vez pediu-me para lhe levar gindungo, e assim fiz; Mal abriu o saco pegou numa mão cheia, e valentão como julgava ser, pôs na boca, e o rosto ruboresceu, sem conseguir abri-la, nem dizer palavra em dez minutos, com todo a gente a gozar, já que era uma oportunidade única de nos rirmos do Frias à sua frente.
Desculpem este devaneio, mas não me apetecia escrever sobre outra coisa qualquer!

Fernando Pereira
26/7/09

Jornalismo de Angola de luto!/ Novo Jornal/ Luanda 31-07-09



Morreu aos 75 anos a jornalista Edite Soeiro.
Começou a sua actividade em 1950 num jornal de Benguela, “ O Intransigente”, tendo depois embarcado para Lisboa onde começa a trabalhar na Flama.
Da Flama, transita para a revista angolana Notícia, onde se torna a primeira mulher a embrenhar-se na mata e a acompanhar os soldados portugueses na guerra colonial, normalmente acompanhada pelo fotógrafo Fernando Farinha.
Quando falece abruptamente João Charrula de Azevedo, a Neográfica, empresa proprietária da Notícia é adquirida, ainda que com alguns contornos de mecenato, pelo industrial Manoel Vinhas, que decide renovar o parque gráfico e passar a publicar em simultâneo uma edição em Luanda, Lisboa e Lourenço Marques (Maputo).
A delegação de Lisboa vai ser chefiada por Edite Soeiro, tornando-se das primeiras mulheres a assumir lugares de chefia na imprensa portuguesa.
Corajosa, coerente e profundamente exigente consigo, e também com quem trabalhava, aparece na fundação da primeira empresa colectiva de jornalistas, a Projornal, proprietário do semanário “ O Jornal”, que depois deu origem à revista “Visão”, tendo sempre pertencido aos seus quadros e trabalhando com grande rigor, que lhe permitiu receber muitos prémios e louvores, o ultimo dos quais, o Prémio Gazeta em 2006, já então algo debilitada fisicamente.
Edite Soeiro entrevistou a poetisa Natália Correia para a Notícia, curiosamente uma entrevista que a censura deixou passar na íntegra em Luanda, mas que sofreu cortes na edição de Lisboa.
Luis Pacheco, cáustico com tudo e quase todos, teve em Edite Soeiro uma boa amiga e que lhe desculpou muito atraso e ausências nas crónicas do Notícia, sendo o único cronista que recebia adiantado.
A sua morte, como a do Júlio Guerra, do Acácio Barradas, deixam Angola mais pobre, porque deram muito a um jornalismo de causas e de rigor, num tempo em que fazer jornalismo em Angola obrigava a compromissos, algo que eles nunca aceitaram.
Não podíamos deixar de evocar esta triste notícia, que nos caiu num 27 de Julho de 2009.

Fernando Pereira 28/07/09

24 de julho de 2009

O Mato e o Morro /Ágora/ Novo Jornal / Luanda 24-7-09



Na Luanda colonial, ali para os lados do Prenda, havia um conjunto de ruas com uma toponímia no mínimo curiosa. Era a rua dos Funantes, que entrelaçava com a rua dos Sertanejos, e que por sua vez acabava na rua dos Empacaceiros (caçadores de pacaças).
O Funante, o Pombeiro (Pumbeiro ou Pumbuelo) e o Aviado faziam parte de uma estratificação “corporativa”, no contexto de determinado patamar da economia colonial até ao dealbar do século XX.
Conde de Ficalho sobre as relações entre o Pombeiro, o chefe de mercadores e o seu subalterno, o “Funante” dizia o seguinte: “…Outras relações mais sérias e úteis se começaram desde Noronha Montanha, montado em boi cavalo, acompanhado de intérprete, guia e carregadores logo a desenvolver… Negociantes portugueses, chamados Funantes, penetravam e penetram até ao coração de África, ou mandam ali emissários, denominados, na África Ocidental Portuguesa, aviados e Pombeiros e na oriental Moçambazes”.
O Funante estava sempre na mão do dono da feitoria, pois não tendo capital próprio, obrigava-se a aceitar as condições do dono da mercadoria, que impunha percentagens altíssimas, nada muito diferente das instituições de referência do capitalismo moderno, os Bancos.
Segundo António de Oliveira Cadornega, para “disciplinar” um comércio, que liberalizado não dava impostos ao reino de Portugal, em 1761, o governador António de Vasconcelos, obrigou-se a fazer alterações, limitando o negócio a cinco capitanias mores: Muxima, Massangano, Cambambe, Pedras de Mapungo e Ambaca.
Cresceu assim um tentacular comércio de mato, que muitos já conhecemos, e que foi a teia da perpetuação colonial em Angola, mas também foi o factor decisivo para a delimitação das actuais fronteiras do País, no âmbito da Conferencia de Berlim de !885, recomendando para o efeito uma leitura de um livro interessante, muito documentado, e com o rigor judrídico indispensável: “Aspectos da delimitação das fronteiras de Angola”, do professor da faculdade de direito da Universidade Agostinho Neto, Joaquim Dias Marques de Oliveira, editado pela Coimbra Editora, à venda em Luanda e no Lobito, onde aliás há uma belíssima livraria, a ocupar uma parte da estação do CFB.
Nesta passagem pelas figuras do tempo colonial, que andavam pela mata, havia um elemento fundamental, o Kambulador, um quase ilusionista, indivíduo de” insuspeita” oratória, hábil tocador de instrumentos musicais, e muito loquaz na procura de agradar ao chefe tribal. Hoje, podemos denominá-lo o que diz em gíria de forma depreciativa, o “grande artista”!
Associado a tudo isto surgem alguns termos adaptados ao negócio, e o que mais se tem perpetuado e passou a ser transversal a toda a língua portuguesa, é indiscutivelmente a Kandonga, que segundo a Enciclopédia Ilustrada Portuguesa de 1899 é “um contrabando de comestíveis, para os subtrair aos direitos de consumo”, sendo naturalmente um candongueiro, “homem que se emprega na candonga”, segundo o dicionário Lello de 1986.
Este artigo dá para muita coisa, e poderemos começar por aqui e escrever o que foi o comércio, os malabarismos, agentes, dependências, mixordices e por aí fora, não hesitando em pegar nalguns testemunhos de livros ou outros, principalmente do Dr. José Carlos de Oliveira, “ O comerciante do mato”, ou recorrer ao tributo do saudosos Raul David, Domingos Van Dunem e a Uanhenga Xitu, entre vários.
Quanto ao título, um devaneio brejeiro, que a tropa colonial usava sobre um mote de uma companhia qualquer: “Mato ou Morro”, que queria dizer que quando o inimigo estava no mato, eles iam para o morro, quando o inimigo ia para o morro, eles iam para o mato”
Havemos de trocar mais algumas ideias sobre o assunto!

Fernando Pereira
19/7/09

17 de julho de 2009

OBSERVATÒRIO DA MULEMBA / Ágora/ Novo Jornal / Luanda 18-7-09



“Este é um pequeno passo para o homem, mas um enorme salto para a humanidade”
Frase lapidar proferida em 20 de Julho de 1969, por Neil Armstrong,o primeiro homem a colocar o pé na lua.
Quarenta anos depois, a Terra e a Lua continuam à mesma distância, e as interrogações sobre o entusiasmo inicial do projecto e o seu crescente esmorecimento, vão permanecendo fora dos interesses quotidianos dos terráqueos. Por cá muito mudou, mas a realidade é que na Lua tudo parece estar calmo, a aguardar novas visitas e um renovado entusiasmo, pelo menos igual ao da Apolo XI, nave que levou os astronautas para a primeira abordagem ao “ mar da tranquilidade”.
Na Luanda serôdia desse final dos anos sessenta, sem emissões de televisão, o acompanhamento em directo desse acontecimento, só foi possível pela tenacidade de duas saudosas figuras: Sebastião Coelho e Bettencourt Faria.
Cúmplices durante muitos anos no programa de boa memória “Café da Noite”, onde Carlos Mar Bettencourt Faria tinha a rubrica “ O Cosmos em sua casa”( 1164 edições, até 25 de Fevereiro de 1975, fim do programa, por circunstancias conhecidas). O programa era emitido dos “Estúdios Norte”, num prédio hoje “premeditadamente” arruinado na Travessa da Sé.
Tive o privilégio de ter conhecido Bettencourt Faria, com ele ter convivido, e acima de tudo por me ter sempre fascinado e permitir-me toda uma série de sonhos e viagens exploratórias por um imaginário fértil de criança e adolescente. Era amigo do meu pai, e no cacimbo depois de um almoço domingueiro no Cacuaco a visita ao “Observatório da Mulemba” era uma quase rotina, a 13 km de Luanda, num tempo em que o controle da cidade era em frente à prisão.
A loquacidade e o entusiasmo de Bettencourt Faria eram extraordinários, e o que fascinava ainda mais era a forma como nos explicava tudo, quer no domínio da astronomia, astrofísica, mecânica, oceanografia, mineralogia, fazendo da “Mulemba” uma experiencia irrepetível. Tudo que era para mim entediante nas carteiras do Salvador Correia, era tão simples nas explicações do “cientista autodidacta”.
No cada vez mais longínquo 1969, Bettencourt Faria falou com Armstrong e Aldrin, nesse feito imperecível, que os luandenses tiveram o privilégio de acompanhar através de imagens sonoras, fruto da colaboração de B. Faria com a NASA.
Com uma enorme dimensão humana, despojado de todo o tipo de interesses materiais, avançadíssimo para a época, Bettencourt Faria aporta a Luanda aos 24 anos para trabalhar na Diamang. O seu “autodidatismo”, é motivo de ostracização por parte de alguns poucos “cientistas” da terra, o que não obstou que colaborasse com a NASA e simultaneamente com alguns astrofísicos da ex-URSS, e prova disso foi as experiencias partilhadas com o projecto Apolo e Sputnik, tendo neste caso, sido a Mulemba o único observatório africano a fotografar os sinais emitidos pelo satélite soviético.
Com muitas dificuldades económicas, B. Faria só recebeu uma vez o apoio de 500 contos da Gulbenkian, fruto do conhecimento que Mário António de Oliveira, ao tempo director da Fundação, que já o conhecia do Observatório João Capelo, onde o “ Wernher von Braun” angolano ia com frequência buscar livros, “que nalguns casos ninguém se tinha dado ao trabalho de abrir”.
Apesar de instado a dormir num local mais seguro, nos conturbados tempos do dealbar da independência de Angola, teimou em permanecer na Mulemba onde foi barbaramente assassinado em 4 de Julho de 1976, levantando-se no exterior um coro de comentários, em que o MPLA teria instigado o crime. Pura estultícia, já que o móbil do assassínio, foi comprovadamente motivado para assaltar um homem bom, de parcos haveres, mas de muitos saberes.
A comunidade científica angolana era muito pobre, e a morte de Bettencourt Faria fez que ela passasse a ser paupérrima, e neste quadragésimo aniversário da 1ª viagem do homem à Lua, fez-me bem relembrar o homem do “Observatório da Mulemba”, o lugar de todos os sonhos.
Angola devia recordá-lo mais vezes!

Fernando Pereira 11/07/09

12 de julho de 2009

Mas o pormenor mais suBreal…

Artigo retirado do blogue “subreal” de nome Aerograma
e de autor expatriado, além de “abuamado”  com a
versatilidade dos “dicúlos” da “banda” que o acolhe
e recolhe sem complexos nos amplexos dos kandandos.
 
Posted by Toke
Toke_Seixas_anim
 
 
 
 
 
 
 
Início de citação:
 
 
3 11 2008

Afonso Loureiro

Angola é um país de contrastes a todos os níveis. No meio da miséria vemos sorrisos abertos e crianças a dançar, ouvimos música e risadas. Por entre as valas, onde escorre o que já ninguém aproveita, há quem retire o seu sustento. No meio dos candongueiros ferrugentos surge um carro de vidros fumados e muitos cromados, pago a pronto em dólares. Na anarquia que é o trânsito, os semáforos são obedecidos e as passadeiras, largamente ignoradas, passam a ser respeitadas sempre que alguém estende a mão de fora da janela – crianças a atravessar!

Mas o pormenor mais surreal que encontrei até agora, é um programa de rádio inesperado. Na rádio Luanda Antena Comercial, há sete anos que é emitido um programa de uma hora semanal dedicado, imagine-se, aos Beatles! Um programa com sete anos é uma raridade em qualquer parte do mundo, especialmente com um tema tão específico. O certo é que, mesmo depois de esgotarem o reportório do quarteto várias vezes, agora passam gravações pouco conhecidas, concertos ao vivo e reportagem acerca dos Beatles todos os Sábados, das 18h às 19h.

O indicativo do programa é um excerto do Yellow Submarine e o programa tem o curioso nome de O Submarino Angolano.

Esta terra, definitivamente, não pára de me surpreender.

   Fim de citação.

;)

O Dia dos Prodígios (II)/ Ágora/ Novo Jornal/ Luanda 10-7-09




Na madrugada de 6 de Junho de 1944, por cima das nuvens ouviam-se o roncar de centenas de aviões, que levavam a primeira leva de pára-quedistas, e ao raiar do dia começam a encher-se os batelões que iam colocar os soldados nas praias.
Dos navios divisava-se mal a linha de costa, e só quando os primeiros batelões chegaram à praia, é que o ribombar da artilharia pesada alemã e as sirenes se começaram a sentir. A um ritmo frenético desembarcava-se gente, e veículos na praia de Omaha, onde se afigurava ser o local mais difícil, pois era uma praia escarpada, com falésias altas e defendida com uma bateria de canhões, e muito dependente de um bom trabalho de sapadores, que tinham de se aproximar perigosamente das trincheiras alemãs.
Eduardo, que há oito dias deixara de sentir as pernas, e com a cabeça à roda, chega à praia numa das últimas levas, com a praia já pejada de corpos, e numa altura em que a resistência alemã começava a fraquejar. Como não se aguentava muito nas pernas, agarrou-se a uns toros de madeira no areal, que acabaram por servir de resguardo perante o conjunto de explosões que se iam sucedendo ao longo da praia, onde um tenente de forma temerária, berrava para que só os “feridos e os mortos” ficassem na areia.
No dia anterior, Ed e alguns dos seus colegas mais próximos trocaram algumas coisas pessoais, para no caso de algum deles tombar, os outros levassem à sua família, em sinal de “qualquer coisa que nem nós próprios, sabíamos o porquê”, segundo esta sua interessante e imorredoira descrição.
Eduardo foi rendido dois dias depois numa vilazinha que me deslembro o nome, cinquenta Kms depois de Omaha, o verdadeiro cemitério das tropas aliadas, onde faleceram 4.500 soldados, e onde o famoso Patton gritava a plenos pulmões: “Façam das tripas dos alemães óleo para as lagartas dos tanques, com que os iremos derrotar”.
Passado um ano foi desmobilizado, e durante um mês e meio andou pelos EUA a levar pequenas coisas aos familiares de seus três colegas mortos em Omaha Beach, tendo-me dito de forma peremptória que foi a parte mais pungente de toda a guerra.
Quando há quinze anos visitou Omaha, a sua comoção foi tão grande que teve que ser observado num hospital próximo, prometendo nunca mais lá voltar.
Instado por mim a comentar o filme “The Longest Day”, baseado no testemunho do jornalista Cornellius Ryan, Ed disse que só no filme, que contém partes filmadas na própria batalha, se deu conta da imensidão dos meios envolvidos, porque “de facto naquele dia todos se sentiram sozinhos em cada momento do dia em que durou aquele inferno”.
Convém esclarecer que ainda hoje, esta invasão da Normandia é um golpe de enorme audácia militar de Dwight Eisenhower, contrariando o inglês Montgomery e o seu conterrâneo Patton, sobre os locais desembarque, e a estratégia inicial da ofensiva terrestre.
Há uma imensidão de livros, filmes, documentários, depoimentos, e outros documentos sobre a segunda guerra, mas não deixa de ser interessante o livro “A Europa em Guerra” ,1939-1945, de Norman Davies, editado pelas Edições 70, em que o autor descreve de forma descomprometida a guerra, o que pouco ou nada se escreveu sobre a guerra na Europa, pois eram alguns factos que não interessavam a historiografia dos vencedores, ou pelo menos não lhe foi dada grande importância, pois também não os glorificavam. Interessante obra!
Um pouco à margem disto, louva-se aqui mais uma posição corajosa do governo espanhol de Luis Zapatero, ao introduzir na “lei da memória histórica” a possibilidade de todos os sobreviventes da guerra civil que fizeram parte das brigadas internacionais, estrangeiros que combateram ao lado dos republicanos na Guerra Civil de Espanha, tenham direito à nacionalidade espanhola, tendo sido dada ordem para que todos os consulados espanhóis no mundo disponibilizem passaportes espanhóis a todos os que o requeiram.
Uma justíssima homenagem!
Fernando Pereira
7/06/09

4 de julho de 2009

Música angolana em Portugal nos anos 60.

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Sábado, 4 de Julho de 2009

Música angolana em Portugal nos anos 60

Foi um acontecimento histórico a actuação do conjunto angolano Ngola Ritmos (com Lourdes van Dunem na qualidade de vocalista) no único canal de televisão que havia em Portugal no já longínquo ano de 1964. Foi de tal modo histórico, que há em Portugal pessoas que ainda se recordam dessa actuação e do agrado que ela então lhes provocou.

Diversos cantores e grupos musicais angolanos vieram nesse tempo fixar-se em Portugal, com o fim de dar continuação às suas carreiras iniciadas em Angola. Ainda que fosse muito limitado, o meio musical português era, apesar de tudo, mais amplo do que o da Angola colonial de então. Assim, em busca de um maior êxito para as suas vidas, demandaram a capital portuguesa artistas como Sara Chaves, Eleutério Sanches, Trio Ouro Negro (que logo a seguir passou a duo) e outros mais. Quase todos estes artistas trouxeram consigo uma música de raiz angolana, sem dúvida, mas que eles mais ou menos adaptaram aos gostos e convenções então prevalecentes em Portugal e na Europa em geral, a fim de a tornarem aceite pelo seu novo público.

Talvez porque não tencionassem fazer carreira na metrópole colonial, os Ngola Ritmos fizeram precisamente o contrário. Na sua memorável viagem a Portugal, eles procuraram dar a conhecer ao público português a mais genuína música popular angolana, que eles faziam tão próxima quanto possível das suas raízes. Ao mesmo tempo, interpretaram canções portuguesas em jeito de semba, com resultados surprendentemente bons. A canção popular portuguesa "Margarida vai à fonte" foi uma delas.

Portanto, enquanto artistas angolanos radicados em Portugal aportuguesaram e europeizaram a música angolana, os Ngola Ritmos angolanizaram a música portuguesa... Excepção a esta regra foi a cantora Lilly Tchiumba, que sempre interpretou música angolana no pleno respeito pelas raízes desta. Depois que os Ngola Ritmos e Lourdes van Dunem regressaram a Angola, Lilly Tchiumba ficou sendo a voz mais genuína de Angola que se podia ouvir em Portugal. Cantou múltiplas vezes perante as câmaras da RTP, sempre com inteiro agrado do público. Alguns anos mais tarde, outras vozes se juntaram à sua, nomeadamente as de Rui Mingas e Bonga.




Lourdes van Dunem e o conjunto Ngola Ritmos em "Manazinha", uma peça do Carnaval de Luanda




Lourdes van Dunem e o conjunto Ngola Ritmos em "Mon'ami"


Depois do que escrevi sobre Lilly Tchiumba, seria de esperar que aqui aparecesse um video que a mostrasse cantando música angolana. Para minha grande estranheza, porém, não encontrei um tal video! Como escrevi acima, a Lilly cantou múltiplas vezes na televisão portuguesa. Com toda a certeza que haverá nos arquivos da RTP pelo menos uma gravação (uma só que seja!) em que ela interprete música angolana. Será possível que nenhuma delas tenha sido posta na Internet?! Na única gravação que encontrei dela, a Lilly Tchiumba canta uma musiquinha sem qualquer ponta de interesse, e que de angolana não tem absolutamente nada, num festival RTP da canção... Oh, sorte malvada!

Hesitei muito, mas acabei por decidir colocar aqui a referida gravação, apenas para mostrar como eram a cara e a voz da saudosa Lilly Tchiumba. Peço-lhes, por favor, que não se deixem influenciar pela gravação. Apesar do que nela se ouve, a verdade é que Lilly Tchiumba foi mesmo a voz angolana mais autêntica que cantou em Portugal na década de 60, à excepção de Lourdes van Dunem, é claro.



(Colocado por Denudado)




 
 
Posted by Toke

Pensar e Falar Angola

3 de julho de 2009

O DIA DOS PRODÍGIOS (I)/ Ágora/ Novo Jornal/ Luanda 3-7-09




Em 6 de Junho de 2009, Obama, Sarkozy, Gordon Brown, o príncipe Carlos e o primeiro ministro canadiano Harper, foram à Normandia, para comemorar os 65 anos do desembarque das tropas aliadas em França, que terá sido determinante para fazer inflectir a ocidente o desenlace da II guerra mundial e a concomitante derrota do nazismo.
Um parente meu, hoje com a provecta idade de 89 anos, e com a saúde debilitada, contou-me há 15 anos, todas as incidências do desembarque, ele que foi um dos bafejados pela sorte em “Omaha Beach”:” por sorte enjoei de tal forma, que quase não me consegui mexer, nos dias que precederam o desembarque, fiquei para o fim e safei-me”.
Eduardo Almeida tinha esperado e desesperado por uma carta de chamada para S. Tomé ou Angola, no fim dos anos 30 do século passado. Como essa carta não veio, órfão, o mais velho de uma família de uma prole grande demais para os escassos proventos que a casa tinha num Portugal salazarento rural e atrasado, fez-se à vida, e através de um familiar conseguiu visto temporário para os Estados Unidos, numa altura em que a única oportunidade que tinha para conseguir viver, era inscrever-se de imediato no serviço militar, e naturalmente adquirir a cidadania americana.
Assim o fez e foi para um campo de treino em Massachusetts durante um ano, sendo no fim enviado para um quartel algures no Reino Unido, perto de Bristol, integrado numa unidade de infantaria. Aí se manteve, entediado por não saber o que se lhe reservava o futuro naquela guerra, e também pelas circunstâncias daquele “barrete” de nevoeiro tão comum nas ilhas britânicas.
Em Abril, os exercícios intensificaram-se, e o tempo de repouso passou a ser mais curto, o indício claro que algo estaria para acontecer, e de facto em meados de Maio foram deslocados para Portland, um porto no Sudoeste de Inglaterra, onde estavam os barcos que os iriam levar às costas de França.
Nesta descrição minuciosa de Eduardo, ele terá dito que a primeira fase da guerra foi a mais dolorosa, porque nos 15 dias que estiveram nos navios, a maioria dos soldados enjoavam das oscilações, e os outros do nojo que era ver e sentir o permanente vomitado e não ver nada limpo. Barcos de passageiros e de carga transformados em dormitórios flutuantes, onde cada dia que passava era de desespero, para todos que sabiam que iriam para uma batalha decisiva.

(continua)
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