16 de março de 2018

Interior a quanto obrigas / O Interior/ 15-3-2018




Interior a quanto obrigas
Resolvi adaptar esta frase aos tempos que se avizinham: “O interior de Portugal nunca perdeu uma oportunidade de perder uma oportunidade”!
Desculpem a desfaçatez, mas de facto não deixa de ser risível este movimento que se criou para a defesa e o desenvolvimento do interior.
Sem pompa, mas com alguma circunstancia um grupo de cidadãos, com provas dadas enquanto membros do governo nos períodos mais catastróficos para o interior, resolveram constituir um “Movimento pelo Interior”. Caras conhecidas como Miguel Cadilhe, Jorge Coelho e Álvaro Amaro, entre outros de menor notoriedade aí estão cheios de energia para devolver ao interior o que se perdeu em décadas a fio.
Estas figuras, ao entrarem já na esfera da gerontocracia política, foram titulares de pastas governamentais importantes para que se mantivesse a coesão territorial e o que fizeram foi malbaratar muito da riqueza produtiva do interior sendo responsáveis diretos, provavelmente involuntários, pela situação a que se chegou.
Se vão fazer um exercício de expiação, e tentarem ser um lóbi atuante de forma a conseguirem a materialização de algumas ideias que por aqui vão pululando de quatro em quatro anos, já não é mau de todo, embora me pareça que este grupo é mais para darem uma “prova de vida”, do que propriamente para trabalharem em prol do que quer que seja.
O interior transformou-se num lugar habitado por idosos, já com pouco presente e sem futuro. Confesso que gostava de ver propostas para o interior, mas feito por gente de eleição em termos académicos, com protagonismo ao nível intelectual e não um movimento reduzido a políticos reformados, que estão já a gozar as suas reformas douradas.
Para movimentos destes já demos, e por isso o meu proverbial ceticismo em relação ao interior vai-se mantendo, e porque vivo cá assisto a esta agonia continuada cada dia que passa, com tristeza e perante a apatia de muitos dos que me rodeiam.
                Não acho que Jorge Coelho, Miguel Cadilhe ou Álvaro Amaro e outros não tenham algumas ideias ou alguma vontade de fazer alguma coisa pelo futuro do interior, mas tantas oportunidades tiveram quando tiveram protagonismo e poder real, e foi com eles que a maior parte dos serviços foram deslocalizados para o litoral e hoje reunidos todos em Lisboa e Porto.
                Só tenho que pedir que os programas de desenvolvimento que eventualmente vierem a sair, porque isto começa e a maior parte das vezes acaba com relatórios, não mos venham dar em livrinho de pano da Majora, porque já não tenho idade para receber prendas dessas.

Fernando Pereira
12/03/2018 


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