Interior a quanto obrigas
Resolvi adaptar esta frase aos
tempos que se avizinham: “O interior de Portugal nunca perdeu uma oportunidade
de perder uma oportunidade”!
Desculpem a desfaçatez, mas de
facto não deixa de ser risível este movimento que se criou para a defesa e o
desenvolvimento do interior.
Sem pompa, mas com alguma
circunstancia um grupo de cidadãos, com provas dadas enquanto membros do
governo nos períodos mais catastróficos para o interior, resolveram constituir
um “Movimento pelo Interior”. Caras conhecidas como Miguel Cadilhe, Jorge
Coelho e Álvaro Amaro, entre outros de menor notoriedade aí estão cheios de
energia para devolver ao interior o que se perdeu em décadas a fio.
Estas figuras, ao entrarem já na
esfera da gerontocracia política, foram titulares de pastas governamentais
importantes para que se mantivesse a coesão territorial e o que fizeram foi
malbaratar muito da riqueza produtiva do interior sendo responsáveis diretos,
provavelmente involuntários, pela situação a que se chegou.
Se vão fazer um exercício de
expiação, e tentarem ser um lóbi atuante de forma a conseguirem a
materialização de algumas ideias que por aqui vão pululando de quatro em quatro
anos, já não é mau de todo, embora me pareça que este grupo é mais para darem
uma “prova de vida”, do que propriamente para trabalharem em prol do que quer
que seja.
O interior transformou-se num
lugar habitado por idosos, já com pouco presente e sem futuro. Confesso que
gostava de ver propostas para o interior, mas feito por gente de eleição em
termos académicos, com protagonismo ao nível intelectual e não um movimento
reduzido a políticos reformados, que estão já a gozar as suas reformas
douradas.
Para movimentos destes já demos,
e por isso o meu proverbial ceticismo em relação ao interior vai-se mantendo, e
porque vivo cá assisto a esta agonia continuada cada dia que passa, com
tristeza e perante a apatia de muitos dos que me rodeiam.
Não
acho que Jorge Coelho, Miguel Cadilhe ou Álvaro Amaro e outros não tenham
algumas ideias ou alguma vontade de fazer alguma coisa pelo futuro do interior,
mas tantas oportunidades tiveram quando tiveram protagonismo e poder real, e
foi com eles que a maior parte dos serviços foram deslocalizados para o litoral
e hoje reunidos todos em Lisboa e Porto.
Só
tenho que pedir que os programas de desenvolvimento que eventualmente vierem a
sair, porque isto começa e a maior parte das vezes acaba com relatórios, não
mos venham dar em livrinho de pano da Majora, porque já não tenho idade para
receber prendas dessas.
Fernando Pereira
12/03/2018
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