17 de setembro de 2011

Minhas coisas, palavras de outros!/ ágora/ Novo Jornal nº191/ Luanda 16-9-2011





Flaubert, um persistente estudioso da estupidez humana, concluiu ao cabo de anos de aturada investigação: "Estupidez, egoísmo e boa saúde são as três condições da felicidade; se bem que, faltando a estupidez, tudo estará perdido."
“Os dois Cês do momento - Caciquismo e Carreirismo:
1ºCê: Caciquismo
O Imperador logo de manhãzinha arrastava a figura de dinossauro e dava bons dias a si mesmo diante dos espelhos.
Perguntava: Espelho, fiel espelho, onde é que neste reino houve alguém que desafiasse o tempo como eu?
Jamais, Senhor, jamais. A vida regrada, o saber e a palavra tornam o homem Imortal, respondiam os espelhos ensinados”.
José Cardoso Pires, Dinossauro Excelentíssimo, Bertrand, Lisboa-1972 (pag. 74)
2ºCê: Carreirismo
“Após ter surripiado por três vezes a compota da despensa, seu pai admoestou-o.
Depois de ter roubado a caixa do Senhor Esteves da mercearia da esquina, seu pai pô-lo na rua.
Voltou passados vinte e dois anos, com chaufeur fardado. Era director Geral das Polícias. Seu pai teve um enfarte”. – Página 19 das Contas de Gin Tónic de Mário Henrique Leiria.
Porque hoje estou com duvidoso discernimento para falar de muita coisa que ocorre ou ocorrerá, e ao mesmo tempo falta-me motivação e palavras. Há momentos assim quando se aproxima o dia em que temos que entregar a crónica, e por muito que tente nada flui com a necessidade de me fazer entender perante os poucos que me vão lendo, onde naturalmente tenho os meus detractores de estimação com assídua e aturada presença.
Li um livro que saiu editado pela Leya da jovem jornalista portuguesa Rita Garcia, “S.O.S. Angola, os dias da Ponte Aérea”, e sinceramente a única coisa que me moveu para o acabar foi a certeza de vos poder dizer com toda a frontalidade, evitem-no .
Paupérrimo na abordagem, nada diferente dos livros que “enxamearam” os quiosques lisboetas no fim dos anos setenta, e que invariavelmente acabaram guilhotinados porque nem quase de borla as pessoas se arriscavam a adquirir. Rita Garcia, pode vir a fazer melhor, mas julgo que se o quiser, terá que procurar melhores interlocutores porque a maioria dos que ali foram citados só empobrecem qualquer argumento, tendo em conta o “lixo” que em tempos publicaram.
Fico a aguardar o último livro do português António Lobo Antunes, que julgo estar a sair e o tema tem a ver com o MPLA e a guerra colonial, e ainda um outro de contos do luso-angolano-brasileiro José Agualusa, que resolveu recentemente voltar à liça com uns despropositados dislates, que nada tem a ver com os seus interessantes trabalhos literários, que aprecio.
“1948: O meu pai foi às finanças fazer um requerimento, e como de costume fez questão de que eu o acompanhasse.
Para “aprender a vida”
Em casa explicou-me minuciosamente a fórmula e o motivo do requerimento. No fim meteu dentro da folha uma nota de cinquenta escudos, e disse-me: “Esta é a parte mágica da fórmula. Quando tiveres um pedido a fazer, já sabes, o segredo é este.
Passados uns meses enviei a minha primeira declaração de amor, e como 50 escudos era para as minhas posses, juntei uma moedinha de vinte e cinco tostões. Nunca tive resposta, decerto foi por ser tão pouco”. In Alberto Pimenta/ Repetição do Caos – Edições & Etc.
Hoje foi assim porque nem sempre estou assim, raras vezes sou assim!

Fernando Pereira 12/9/2011

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