Alves Redol (1911-1969), foi um dos emblemáticos precursores do neo-realismo em Portugal, movimento cultural de inspiração marxista que teve enorme importância entre a crise de 1929 até ao fim dos anos 50, um pouco por toda a Europa, particularmente na literatura, artes plásticas e cinema (“Roma, Cidade Aberta” de Rosselini é a obra mais emblemática nesta arte)
Um escritor fascinante, Alves Redol, descreve a miséria e a pobreza de um Portugal, principalmente os que vivem nos tugúrios das margens do Tejo a escassas dezenas de km da Lisboa, capital do Império. Gaibéus, Avieiros e Barranco de Cegos, são algumas das obras de um escritor que descreveu de forma inigualável, as margens, o sofrimento, a vida, a luta e a morte de um “Tejo que levas as águas”, que bem cantou esse esquecido amigo de Angola, Adriano Correia de Oliveira.
Redol parte aos 16 anos para Angola em 1928, entusiasmado na aventura de uma vida que dizia “busco, e não encontro cá”, da sua Alhandra tão glosada nas suas obras. Deslumbra-se com a viagem, onde do alto do seu beliche, num habitáculo pequeno e sórdido, que era a terceira classe dos navios, observava tudo ao mínimo detalhe para descrever a viagem minuciosamente no “Vida Ribatejana”, jornal com que colaborou.
Aqui há um hiato na historiografia de militância de Alves Redol, inicialmente do MUD (onde andaram também Agostinho Neto e Lúcio Lara, entre outros nacionalistas africanos), e posteriormente no Partido Comunista Português, já que o jovem Alves Redol, tornou-se um entusiasta das colónias portuguesas, particularmente da obra discutível de Norton de Matos. Sobre este assunto, refira-se a propósito que só no seu V Congresso do PCP, em 1957 no Estoril, se afirma peremptoriamente anti-colonialista, assumindo desde então um alinhamento com os movimentos independentistas das colónias portuguesas, mantendo um importante apoio à sua luta, hoje muitas vezes esquecida e distorcida injustamente.
Alves Redol, começa por trabalhar na Direcção de Fazenda da colónia, e saúda algumas posições então tomadas pelo então ministro das finanças da ditadura, Oliveira Salazar, nomeadamente nos apoios aos colonos “testemunho às virtudes religiosas e cívicas, que de fracos mortais fizeram história”.
Regressa em 1932 a Portugal, com uma imagem muito marcada da importância do Império Colonial, assumindo uma posição quase homérica da afirmação de Portugal no mundo, em frases do tipo “…singravam ao mar em busca de florestas de oiro, de quimeras encantadas, donde qualquer outro povo não tivesse chegado, onde só a bandeira das quinas pudesse governar”.
Só em 1936, Redol começa a despir alguma do seu entusiasmo pró-colonialista, e isso revela-se num conto, “Kangondo”, publicado num jornal do PCP, “o Diabo”, onde ele faz o corte com África, para se dedicar ao seu Ribatejo e à luta do seu povo por ter uma dignidade que já não teve oportunidade de ver, já que a morte não o deixou assistir ao Abril de 1974.
Houve quem tivesse visto alguma similitude, na obra de Alves Redol com a de Castro Soromenho (1910-1968), principalmente em “Homens sem Caminho”, “A maravilhosa Viagem”, mas sinceramente nunca vi grandes convergências, nos pressupostos do neo-realismo, embora assuma que sou um leigo na matéria.
No passado dia 13 de Setembro comemoraram-se os oitenta anos da festa do L’ Humanité, órgão central do PC Francês, onde me deslumbrei quando em 1978, vi ao vivo os míticos Pink Floyd, no palco central de um espaço de cerca de 70 hectares no “Parc Départamental de La Courneuve”, nos arredores de Paris.
Gostava de lá ter estado, para ver a grande homenagem que a “Fete de L’Huma” fez a Jean Ferrat, um dos grandes da canção francesa de intervenção falecido há uns meses (13 de Março de 2010), e também ao enorme José Saramago, o Nobel português recentemente desaparecido.
“C'est un joli nom, camarade
C'est un joli nom, tu sais
Dans mon coeur battant la chamade
Pour qu'il revive à jamais
Aux cent fleurs du mois de mai”
Jean Ferrat (1930-2010) “Camarade”
Havemos de voltar!
Fernando Pereira
21/09/2010
Sem comentários:
Enviar um comentário