Comissão Organizadora dos 2ºs Jogos da àfrica Central,em scanner do documento oficial dos jogos. Participaram os seguintes países, distribuídos por 8 modalidades colectivas e 7 individuais: Angola,S.Tomé e Princípe, Gabão, Zaire, Congo, Gabão, Burundi, Rwanda,Camarões, Tchade,Guiné Equatorial e Republica Centro Africana. Para que conste fui com muita honra adjunto de um ilustre homem do desporto angolano, probo, bom amigo e afinal que é um dos muitos que merece uma Angola melhoradamente diferente...José Rocha Sardinha de Castro.
Por favor desperca este trabalho do José Mário Branco com 30 anos!
Vou, vou-vos mostrar mais um pedaço da minha vida, um pedaço um pouco especial, trata-se de um texto que foi escrito, assim, de um só jorro, numa noite de Fevereiro de 79, e que talvez tenha um ou outro pormenor que já não é muito actual. Eu vou-vos dar o texto tal e qual como eu o escrevi nessa altura, sem ter modificado nada, por isso vos peço que não se deixem distrair por esses pormenores que possam ser já não muito actuais e que isso não contribua para desviar a vossa atenção do que me parece ser o essencial neste texto. Chama-se FMI. Quer dizer: Fundo Monetário Internacional. Não sei porque é que se riem, é uma organização democrática dos países todos, que se reúnem, como as pessoas, em torno de uma mesa para discutir os seus assuntos, e no fim tomar as decisões que interessam a todos... É o internacionalismo monetário!
FMI
Cachucho não é coisa que me traga a mim Mais novidade do que lagostim Nariz que reconhece o cheiro do pilim Distingue bem o mortimor do meirim A produtividade, ora aí está, quer dizer Há tanto nesta terra que ainda está por fazer Entrar por aí a dentro, analisar, e então Do meu 'attachi-case' sai a solução!
FMI Não há graça que não faça o FMI FMI O bombástico de plástico para si FMI Não há força que retorça o FMI
Discreto e ordenado mas nem por isso fraco Eis a imagem 'on the rocks' do cancro do tabaco Enfio uma gravata em cada fato-macaco E meto o pessoal todo no mesmo saco A produtividade, ora aí está, quer dizer Não ando aqui a brincar, não há tempo a perder Batendo o pé na casa, espanador na mão É só desinfectar em superprodução!
FMI Não há truque que não lucre ao FMI FMI O heróico paranóico 'hara-quiri' FMI Panegírico, pro-lírico daqui
Palavras, palavras, palavras e não só Palavras para si e palavras para dó A contas com o nada que swingar o sol-e-dó Depois a criadagem lava o pé e limpa o pó A produtividade, ora nem mais, célulazinhas cinzentas Sempre atentas E levas pela tromba se não te pões a pau Num encontrão imediato do 3º grau!
FMI Não há lenha que detenha o FMI FMI Não há ronha que envergonhe o FMI FMI ...
Entretém-te filho, entretém-te, não desfolhes em vão este malmequer que bem-te-quer, mal-te-quer, vem-te-quer, ovomalt'e-quer, messe gigantesca, vem-te vindo, vi-me na cozinha, vi-me na casa-de-banho, vi-me no Politeama, vi-me no Águia D'ouro, vi-me em toda a parte, vem-te filho, vem-te comer ao olho, vem-te comer à mão, olha os pombinhos pneumáticos que te orgulham por esses cartazes fora, olha a Música no Coração da Indira Gandi, olha o Muchê Dyane que te traz debaixo d'olho, o respeitinho é muito lindo e nós somos um povo de respeito, né filho? Nós somos um povo de respeitinho muito lindo, saímos à rua de cravo na mão sem dar conta de que saímos à rua de cravo na mão a horas certas, né filho? Consolida filho, consolida, enfia-te a horas certas no casarão da Gabriela que o malmequer vai-te tratando do serviço nacional de saúde. Consolida filho, consolida, que o trabalhinho é muito lindo, o teu trabalhinho é muito lindo, é o mais lindo de todos, como o astro, não é filho? O cabrão do astro entra-te pela porta das traseiras, tu tens um gozo do caraças, vais dormir entretido, não é? Pois claro, ganhar forças, ganhar forças para consolidar, para ver se a gente consegue num grande esforço nacional estabilizar esta destabilização filha-da-puta, não é filho? Pois claro! Estás aí a olhar para mim, estás a ver-me dar 33 voltinhas por minuto, pagaste o teu bilhete, pagaste o teu imposto de transação e estás a pensar lá com os teus botões: Este tipo está-me a gozar, este gajo quem é que julga que é? Né filho? Pois não é verdade que tu és um herói desde de nascente? A ti não é qualquer totobola que te enfia o barrete, meu grande safadote! Meu Fernão Mendes Pinto de merda, né filho? Onde está o teu Extremo Oriente, filho? Ah-ni-qui-bé-bé, ah-ni-qui-bó-bó, tu és 'Sepuldra' tu és Adamastor, pois claro, tu sozinho consegues enrabar as Nações Unidas com passaporte de coelho, não é filho? Mal eles sabem, pois é, tu sabes o que é gozar a vida! Entretém-te filho, entretém-te! Deixa-te de políticas que a tua política é o trabalho, trabalhinho, porreirinho da Silva, e salve-se quem puder que a vida é curta e os santos não ajudam quem anda para aqui a encher pneus com este paleio de Sanzala e ritmo de pop-xula, não é filho? A one, a two, a one two three
FMI dida didadi dadi dadi da didi FMI ...
Come on you son of a bitch! Come on baby a ver se me comes! Come on Luís Vaz, 'amanda'-lhe com os decassílabos que os senhores já vão ver o que é meterem-se com uma nação de poetas! E zás, enfio-te o Manuel Alegre no Mário Soares, zás, enfio-te o Ary dos Santos no Álvaro de Cunhal, zás, enfio-te o Zé Fanha no Acácio Barreiros, zás, enfio-te a Natalia Correia no Sá Carneiro, zás, enfio-te o Pedro Homem de Melo no Parque Mayer e acabamos todos numa sardinhada ao integralismo Lusitano, a estender o braço, meio Rolão Preto, meio Steve McQueen, ok boss, tudo ok, estamos numa porreira meu, um tripe fenomenal, proibido voltar atrás, viva a liberdade, né filho? Pois, o irreversível, pois claro, o irreversívelzinho, pluralismo a dar com um pau, nada será como dantes, agora todos se chateiam de outra maneira, né filho? Ora que porra, deixa lá correr uma fila ao menos, malta pá, é assim mesmo, cada um a curtir a sua, podia ser tão porreiro, não é? Preocupações, crises políticas pá? A culpa é dos partidos pá! Esta merda dos partidos é que divide a malta pá, pois pá, é só paleio pá, o pessoal na quer é trabalhar pá! Razão tem o Jaime Neves pá! (Olha deixaste cair as chaves do carro!) Pois pá! (Que é essa orelha de preto que tens no porta-chaves?) É pá, deixa-te disso, não destabilizes pá! Eh, faz favor, mais uma bica e um pastel de nata. Uma porra pá, um autentico desastre o 25 de Abril, esta confusão pá, a malta estava sossegadinha, a bica a 15 tostões, a gasosa a sete e coroa... Tá bem, essa merda da pide pá, Tarrafais e o carágo, mas no fim de contas quem é que não colaborava, ah? Quantos bufos é que não havia nesta merda deste país, ah? Quem é que não se calava, quem é que arriscava coiro e cabelo, assim mesmo, o que se chama arriscar, ah? Meia dúzia de líricos, pá, meia dúzia de líricos que acabavam todos a fugir para o estrangeiro, pá, isto é tudo a mesma carneirada! Oh sr. guarda venha cá, á, venha ver o que isto é, é, o barulho que vai aqui, i, o neto a bater na avó, ó, deu-lhe um pontapé no cu, né filho? Tu vais conversando, conversando, que ao menos agora pode-se falar, ou já não se pode? Ou já começaste a fazer a tua revisãozinha constitucional tamanho familiar, ah? Estás desiludido com as promessas de Abril, né? As conquistas de Abril! Eram só paleio a partir do momento que tas começaram a tirar e tu ficaste quietinho, né filho? E tu fizeste como o avestruz, enfiaste a cabeça na areia, não é nada comigo, não é nada comigo, né? E os da frente que se lixem... E é por isso que a tua solução é não ver, é não ouvir, é não querer ver, é não querer entender nada, precisas de paz de consciência, não andas aqui a brincar, né filho? Precisas de ter razão, precisas de atirar as culpas para cima de alguém e atiras as culpas para os da frente, para os do 25 de Abril, para os do 28 de Setembro, para os do 11 de Março, para os do 25 de Novembro, para os do... que dia é hoje, ah?
FMI Dida didadi dadi dadi da didi FMI ...
Não há português nenhum que não se sinta culpado de qualquer coisa, não é filho? Todos temos culpas no cartório, foi isso que te ensinaram, não é verdade? Esta merda não anda porque a malta, pá, a malta não quer que esta merda ande, tenho dito. A culpa é de todos, a culpa não é de ninguém, não é isto verdade? Quer isto dizer, há culpa de todos em geral e não há culpa de ninguém em particular! Somos todos muita bons no fundo, né? Somos todos uma nação de pecadores e de vendidos, né? Somos todos, ou anti-comunistas ou anti-faxistas, estas coisas até já nem querem dizer nada, ismos para aqui, ismos para acolá, as palavras é só bolinhas de sabão, parole parole parole e o Zé é que se lixa, cá o pintas azeite mexilhão, eu quero lá saber deste paleio vou mas é ao futebol, pronto, viva o Porto, viva o Benfica, Lourosa, Lourosa, Marraças, Marraças, fora o arbitro, gatuno, bora tudo p'ro caralho, razão tinha o Tonico de Bastos para se entreter, né filho? Entretém-te filho, com as tuas viúvas e as tuas órfãs que o teu delegado sindical vai tratando da saúde aos administradores, entretém-te, que o ministro do trabalho trata da saúde aos delegados sindicais, entretém-te filho, que a oposição parlamentar trata da saúde ao ministro do trabalho, entretém-te, que o Eanes trata da saúde à oposição parlamentar, entretém-te, que o FMI trata da saúde ao Eanes, entretém-te filho e vai para a cama descansado que há milhares de gajos inteligentes a pensar em tudo neste mesmo instante, enquanto tu adormeces a não pensar em nada, milhares e milhares de tipos inteligentes e poderosos com computadores, redes de policia secreta, telefones, carros de assalto, exércitos inteiros, congressos universitários, eu sei lá! Podes estar descansado que o Teng Hsiao-Ping está a tratar de ti com o Jimmy Carter, o Brezhnev está a tratar de ti com o João Paulo II, tudo corre bem, a ver quem se vai abotoar com os 25 tostões de riqueza que tu vais produzir amanhã nas tuas oito horas. A ver quem vai ser capaz de convencer de que a culpa é tua e só tua se o teu salário perde valor todos os dias, ou de te convencer de que a culpa é só tua se o teu poder de compra é como o rio de S. Pedro de Moel que se some nas areias em plena praia, ali a 10 metros do mar em maré cheia e nunca consegue desaguar de maneira que se possa dizer: porra, finalmente o rio desaguou! Hão te convencer de que a culpa é tua e tu sem culpa nenhuma, tens tu a ver, tens tu a ver com isso, não é filho? Cada um que se vá safando como puder, é mesmo assim, não é? Tu fazes como os outros, fazes o que tens a fazer, votas à esquerda moderada nas sindicais, votas no centro moderado nas deputais, e votas na direita moderada nas presidenciais! Que mais querem eles, que lhe ofereças a Europa no natal?! Era o que faltava! É assim mesmo, julgam que te levam de mercedes, ora toma, para safado, safado e meio, né filho? Nem para a frente nem para trás e eles que tratem do resto, os gatunos, que são pagos para isso, né? Claro! Que se lixem as alternativas, para trabalho já me chega. Entretém-te meu anjinho, entretém-te, que eles são inteligentes, eles ajudam, eles emprestam, eles decidem por ti, decidem tudo por ti, se hás-de construir barcos para a Polónia ou cabeças de alfinete para a Suécia, se hás-de plantar tomate para o Canada ou eucaliptos para o Japão, descansa que eles tratam disso, se hás-de comer bacalhau só nos anos bissextos ou hás-de beber vinho sintético de Alguidares-de-Baixo! Descansa, não penses em mais nada, que até neste país de pelintras se acho normal haver mãos desempregadas e se acha inevitável haver terras por cultivar! Descontrai baby, come on descontrai, arrefinfa-lhe o Bruce Lee, arrefinfa-lhe a macrobiótica, o biorritmo, o euroscópio, dois ou três ofeneologistas, um gigante da ilha de Páscoa e uma Grace do Mónaco de vez em quando para dar as boas festas às criancinhas! Piramiza filho, piramiza, antes que os chatos fujam todos para o Egipto, que assim é que tu te fazes um homenzinho e até já pagas multa se não fores ao recenseamento. Pois pá, isto é um país de analfabetos, pá! Dá-lhe no Travolta, dá-lhe no disco-sound, dá-lhe no pop-xula, pop-xula pop-xula, iehh iehh, J. Pimenta forever! Quanto menos souberes a quantas andas melhor para ti, não te chega para o bife? Antes no talho do que na farmácia; não te chega para a farmácia? Antes na farmácia do que no tribunal; não te chega para o tribunal? Antes a multa do que a morte; não te chega para o cangalheiro? Antes para a cova do que para não sei quem que há-de vir, cabrões de vindouros, ah? Sempre a merda do futuro, a merda do futuro, e eu ah? Que é que eu ando aqui a fazer? Digam lá, e eu? José Mário Branco, 37 anos, isto é que é uma porra, anda aqui um gajo cheio de boas intenções, a pregar aos peixinhos, a arriscar o pêlo, e depois? É só porrada e mal viver é? O menino é mal criado, o menino é 'pequeno burguês', o menino pertence a uma classe sem futuro histórico... Eu sou parvo ou quê? Quero ser feliz porra, quero ser feliz agora, que se foda o futuro, que se foda o progresso, mais vale só do que mal acompanhado, vá mandem-me lavar as mãos antes de ir para a mesa, filhos da puta de progressistas do caralho da revolução que vos foda a todos! Deixem-me em paz porra, deixem-me em paz e sossego, não me emprenhem mais pelos ouvidos caralho, não há paciência, não há paciência, deixem-me em paz caralho, saiam daqui, deixem-me sozinho, só um minuto, vão vender jornais e governos e greves e sindicatos e policias e generais para o raio que vos parta! Deixem-me sozinho, filhos da puta, deixem só um bocadinho, deixem-me só para sempre, tratem da vossa vida que eu trato da minha, pronto, já chega, sossego porra, silêncio porra, deixem-me só, deixem-me só, deixem-me só, deixem-me morrer descansado. Eu quero lá saber do Artur Agostinho e do Humberto Delgado, eu quero lá saber do Benfica e do bispo do Porto, eu quero se lixe o 13 de Maio e o 5 de Outubro e o Melo Antunes e a rainha de Inglaterra e o Santiago Carrilho e a Vera Lagoa, deixem-me só porra, rua, larguem-me, zórpila o fígado, arreda, 'terneio' Satanás, filhos da puta. Eu quero morrer sozinho ouviram? Eu quero morrer, eu quero que se foda o FMI, eu quero lá saber do FMI, eu quero que o FMI se foda, eu quero lá saber que o FMI me foda a mim, eu vou mas é votar no Pinheiro de Azevedo se eu tornar a ir para o hospital, pronto, bardamerda o FMI, o FMI é só um pretexto vosso seus cabrões, o FMI não existe, o FMI nunca aterrou na Portela coisa nenhuma, o FMI é uma finta vossa para virem para aqui com esse paleio, rua, desandem daqui para fora, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe...
Mãe, eu quero ficar sozinho... Mãe, não quero pensar mais... Mãe, eu quero morrer mãe. Eu quero desnascer, ir-me embora, sem ter que me ir embora. Mãe, por favor, tudo menos a casa em vez de mim, outro maldito que não sou senão este tempo que decorre entre fugir de me encontrar e de me encontrar fugindo, de quê mãe? Diz, são coisas que se me perguntem? Não pode haver razão para tanto sofrimento. E se inventássemos o mar de volta, e se inventássemos partir, para regressar. Partir e aí nessa viajem ressuscitar da morte às arrecuas que me deste. Partida para ganhar, partida de acordar, abrir os olhos, numa ânsia colectiva de tudo fecundar, terra, mar, mãe... Lembrar como o mar nos ensinava a sonhar alto, lembrar nota a nota o canto das sereias, lembrar o depois do adeus, e o frágil e ingénuo cravo da Rua do Arsenal, lembrar cada lágrima, cada abraço, cada morte, cada traição, partir aqui com a ciência toda do passado, partir, aqui, para ficar...
Assim mesmo, como entrevi um dia, a chorar de alegria, de esperança precoce e intranquila, o azul dos operários da Lisnave a desfilar, gritando ódio apenas ao vazio, exército de amor e capacetes, assim mesmo na Praça de Londres o soldado lhes falou: Olá camaradas, somos trabalhadores, eles não conseguiram fazer-nos esquecer, aqui está a minha arma para vos servir. Assim mesmo, por detrás das colinas onde o verde está à espera se levantam antiquíssimos rumores, as festas e os suores, os bombos de lava-colhos, assim mesmo senti um dia, a chorar de alegria, de esperança precoce e intranquila, o bater inexorável dos corações produtores, os tambores. De quem é o carvalhal? É nosso! Assim te quero cantar, mar antigo a que regresso. Neste cais está arrimado o barco sonho em que voltei. Neste cais eu encontrei a margem do outro lado, Grandola Vila Morena. Diz lá, valeu a pena a travessia? Valeu pois.
Pela vaga de fundo se sumiu o futuro histórico da minha classe, no fundo deste mar, encontrareis tesouros recuperados, de mim que estou a chegar do lado de lá para ir convosco. Tesouros infindáveis que vos trago de longe e que são vossos, o meu canto e a palavra, o meu sonho é a luz que vem do fim do mundo, dos vossos antepassados que ainda não nasceram. A minha arte é estar aqui convosco e ser-vos alimento e companhia na viagem para estar aqui de vez. Sou português, pequeno burguês de origem, filho de professores primários, artista de variedades, compositor popular, aprendiz de feiticeiro, faltam-me dentes. Sou o Zé Mário Branco, 37 anos, do Porto, muito mais vivo que morto, contai com isto de mim para cantar e para o resto.
José Mário Branco - FMI
Nota: FMI foi editado originalmente em 1982 no maxi Som 5051106, e reeditado em 1996 em 'Ser Solidário' ( EMI-Valentim de Carvalho). Aconselha-se vivamente a sua audição.
Em "O Esplendor de Portugal", Lobo Antunes define o labirinto crítico da situação política e econômica da colonização portuguesa em África, através da voz de uma das personagens evocadas pela filha:
O meu pai costumava explicar que aquilo que tínhamos vindo procurar em África não era dinheiro nem poder mas pretos sem dinheiro e sem poder algum que nos dessem a ilusão do dinheiro e do poder que de facto ainda que otivéssemos não tínhamos por não sermos mais que tolerados, aceites com desprezo em Portugal, olhados como olhávamos os bailundos que trabalhavam para nós e portanto de certo modo éramos os pretos dos outros da mesma forma que os pretos possuíam os seus pretos ainda em degraus sucessivos descendo ao fundo da miséria, aleijados, leprosos, escravos de escravos, cães, o meu pai costumava explicar que aquilo que tínhamos vindo procurar em África era transformar a vingança de mandar no que fingíamos ser a dignidade de mandar, morando em casas que macaqueavam casas européias e qualquer europeu desprezaria considerando-as como considerávamos as cubatas em torno, numa idêntica repulsa e idêntico desdém... (OEP, 255)
Este texto é do meu amigo António Ferreira, ilustre advogado da Guarda, campeão de xadrez, brilhante cozinheiro, bom companheiro, e que me autorizou a publicá-lo, depois de o ter publicado no Jornal "O Interior".
As caricaturas são do João Abel Manta
Karipande
Farto do Salazar Continuo a ler, por aqui (por exemplo Alves Ambrósio) e por aí, textos sobre Salazar. Ouço notícias sobre um museu em Santa Comba Dão, descubro sites na Internet sobre o personagem (por exemplo em http://www.oliveirasalazar.org/), falam-me de truques utilizados pelos seus admiradores para levar incautos a votar nele na eleição do “maior português de sempre”. Do lado dos detractores vejo manifestações em Santa Comba Dão, ouço denunciar o branqueamento da figura do ditador. É verdade que, para todos os efeitos, Salazar esteve no poder durante muito tempo, uma vergonha de tempo. Habituados hoje a ouvir falar de alternância no poder, fomos obrigados, como nação, a contentar-nos com o mesmo chefe de governo durante trinta e seis anos – e não contabilizo o tempo em que ele pensava que ainda era primeiro-ministro (entre 1968 e a data da sua morte, em 1970) ou ministro das Finanças (entre 1928 e 1932). Se o fizesse, teria de dizer que esse homem nos governou durante mais de quarenta anos. Acham isso normal? Eu não e interpreto o silêncio sobre ele das últimas décadas, especialmente a partir dos anos 80, como um recalcamento colectivo, uma generalizada manifestação de vergonha pela nossa tão longa passividade. Irrita-me sobretudo é que se louve a figura porque no seu tempo havia “respeitinho”, coisa que não haverá agora. E irrita-me essa ignóbil palavrinha porque não passa de uma máscara para outra, ainda pior: subserviência. Dizem também, o que é ainda mais irritante, que dantes não havia a corrupção, a dissolução de costumes, a criminalidade que há hoje. Pelo menos, e aí dou-lhes razão, não apareciam nos jornais. É que, como dizia o próprio António de Oliveira Salazar, na inauguração do Secretariado Nacional da Informação: "Politicamente, só existe aquilo que o público sabe que existe." Por isso havia, caso não se recordem, censura prévia a tudo o que era publicado. Podia haver gigantescos apitos dourados, suculentos escândalos sexuais, milhares de funcionários corruptos, que o público não sabia nem tinha meios de saber. É por isso especialmente grotesco o argumento de que esses tempos tinham um qualquer tipo de predomínio moral sobre os nossos. É um duplo branqueamento: o da censura e o da baixeza ética própria de um regime ditatorial. De resto, há é que recordar números e factos e comparar o pais de hoje com o do antigamente. Sugiro, por exemplo, os dados sobre mortalidade infantil, pobreza, esperança de vida, nível de protecção da segurança social, percentagem de casas com electricidade, água canalizada, saneamento básico, telefone, televisão, frigorífico. Verifiquem ainda as percentagens de analfabetismo (e dou de barato que quem acabava a quarta classe de antigamente sabia de cor todos os rios, montanhas e estações de caminho de ferro do Minho a Timor), de abandono escolar, a distância a que estavam então de um serviço de urgência os que agora protestam contra o seu encerramento. E sugiro outra coisa: tentem recordar a última vez que viram na rua alguém descalço (e essas hippies malucas não contam). Posto isto, acho muito bem o museu do Salazar. Sugiro é que coloquem lá, em lugar de honra e devidamente envernizada, a cadeira de que ele caiu em 1968. Essa é, muito provavelmente, a peça de mobiliário a que os portugueses mais devem nos oito séculos de história da nação.
Sugestões: Uma viagem: à Coreia do Norte, que é o pais mais parecido com o Portugal do Salazar. Um livro: A Independência de Portugal (Rafael Valladares, a esfera dos livros, 2006). Sobre a guerra que se seguia a 1640 e como Filipe IV descobriu à sua custa, e do seu reino, o significado de um antigo provérbio polaco: “o pai bateu ao filho não por ter perdido ao jogo, mas por ter tentado recuperar”.
Este conjunto de caricaturas, pertencem a uma obra mais vasta de João Abel Manta, "Caricaturas Portuguesas dos Anos de Salazar", editado pelo "Jornal" em Dezembro de 1977, tendo sido reeditado recentemente pelo "Campo das Letras, Editores".
E dizia o Américo Tomás ao inaugurar a fábrica Riopele, que tinha como inovação, um refeitório para os trabalhadores: -So tenho um adjectivo para qualificar aquilo que vi: Gostei!!!
"Foi então que topámos com um grande aparato militar de castelhanos protegendo uma tenda alumiada de barraca de feira, centenas de estandartes, bandeiras e cozinhas de campanha, cirurgiões que amolavam bisturis e ilusionistas que divertiam a tropa, e uma sentinela que nos informou que o rei Filipe se reunia com os seus marechais na rulote do Estado-Maior a combinar a invasão de Portugal, porque D. Sebastião, aquele pateta inútil de sandálias e brinco na orelha, sempre a lamber uma mortalha de haxixe, tinha sido esfaqueado num bairro de droga de Marrocos por roubar a um maricas inglês, chamado Oscar Wilde, um saquinho de Liamba."
"Esperámos, a tiritar no ventinho da manhã, o céu de vidro das primeiras horas de luz, o nevoeiro cor de sarja do equinócio, os frisos de espuma que haveriam de trazer-nos, de mistura com os restos de feira acabada das vagas e os guinchos de borrego da água no sifão das rochas, um adolescente loiro, de coroa na cabeça e beiços amuados, vindo de Alcácer Quibir com pulseiras de cobre trabalhado dos ciganos de Carcavelos e colares baratos de Tânger ao pescoço, e tudo o que pudemos observar, enquanto apertávamos os termómetros nos sovacos e cuspíamos obedientemente o nosso sangue nos tubos do hospital, foi o oceano vazio até à linha do horizonte coberta a espaços de uma crosta de vinagreiras, famílias de veraneantes tardios acampados na praia, e os mestres de pesca, de calças enroladas, que olhavam sem entender o nosso bando de gaivotas em roupão, empoleiradas a tossir nos lemes e nas hélices, aguardando, ao som de uma flauta impossível que as vísceras do mar emudeciam, os relinchos de um cavalo impossível."
Um retornado. Muitos retornados. Um país. Uma recusa. Mútua. Uma História.
"AS Naus" de António Lobo Antunes "Nunca encalhei, no entanto, em homens tão amargos como nessa época de dor em que os paquetes volviam ao reyno repletos de gente desiludida e raivosa, com a bagagem de um pacotinho na mão e uma acidez sem cura no peito, humilhados pelos antigos escravos e pela prepotência emplumada dos antropófagos."
"a minha família de queixo amarrado em moedas de prata nas órbitas a fitar-me com reprovação, Este é o que foi para Luanda morar no meio dos pretos em lugar de explorar uma tabacaria na Venezuela ou um escritório de transportes na Alemanha, este é o que montou um comércio de talhante nos museus que, vendia costelas aos cafres, fez um filho a uma mulata, habitava um prefabricado da Cuca, nem um coche, nem um batel possuía, aos domingos espojava-se na sala de calções, a ouvir relatos de futebol e a comer merda da sanzala (...)";
"(...) o governo desocupou o hospital de tuberculosos que passaram a tossir nos jardins públicos hemoptises cansadas, e vazou nas enfermarias de muros de cenas de guerra e de actos piedosos, impregnados pelo torpor da morte dos desinfectantes, dos colonos que vagavam à deriva, de trouxa sob o braço, nas imediações dos asilos, na mira de restos de sopa do jantar.";
"Os pretos tomaram conta disto tudo, instalaram ninhos de metralhadoras jugoslavas nas arcadas, assassinaram-se uns aos outros a tiros de canhão, iam e vinham da mata açudados por vinganças sangrentas. O porto encheu-se de canoas e galés, destinadas a carregarem de volta o azedume dos colonos, as cabanas da ilha esvaziaram-se (...)".
Não acredito, que este anuncio de 1974/75 estivessem os manos Portas...Penso que quem tem a ver com electrodomésticos é o pouco doméstico, aliás nada doméstico presidente da Camara Municipal de Gondomar...Garantiram-me que eram mesmo os manos Portas, pelo que desconfiadamente assim reproduzo.
A Associação 25 de Abril encarregava-se de todos os anos comemorar a data em Luanda.Fica aqui o cataz das comemorações em 1979.
Para os muitos que fizeram erguer esse espaço de liberdade ali nas traseirinhas da livraria Lello, num prédio de traça colonial antiga, a gratidão de quem por lá viveu momentos de solidariedade e de vida democrática.
O cartaz dispensa, logo existe. Na Republica Popular de Angola, que ainda descaminhava para uma híbrida republica ( igual a tantas outras) de Angola, ia havendo uns cartazes que incentivavam a prole a engajar-se na dinamica da Revolução. Nesses tempos de contidos maus hábitos, que o mercado colocou na montra, sem ter de recorrer a saldos, mas dizia eu, nesses tempos de contidos maus hábitos, as coisas iam correndo como qualquer revolução podia correr em Angola...Com toda a calma do mundo, e sem horários para que as coisas pudessem suceder. Desses tempos algo airosos sobrou a memória e os cartazes, que aqui coloco porque também eles fazem parte da História de Angola. Karipande
PS:Para além do cartaz vai um pequeno postal com a poesia do saudoso David Mestre, e com o fundo desenhado pelo António Ole, numa emissão comemorativa do Festival Internacional de Estudantes em Havana/ Cuba 1978. O cartaz é alusivo ao 14 de Abril, dia da Juventude Angolana
Aqui vão mais um conjunto de desenhos de uma Luanda que não conseguiu resistir ao camartelo. Rua Pereira Forjaz,Rua Paiva de Andrade, Antiga Travessa da Sé e Rua António C. Cunha, são algumas partes aqui referenciadas nestes desenhos. Vou tentar que se comece aqui um debate sobre a arquitetura das cidades de Angola, para também aqui tentar desmistificar as "diferenças do bom colonialismo português" Um abraço Fernando Pereira
Agradeço à UNAP (União Nacional dos Artistas Plásticos) este cojunto de postais! Aqui seguem três desenhos de C. Ferreira, sobre a Calçada de Santo António.Espero que vos ajude a perceber a Luanda de outros tempos, para provávelmente "desentenderem" o que em termos urbanísticos se passou desde então!
Instruções e conselhos para a jovem noiva Em 1894 Ruth Smythers
Sobre como se conduzir e proceder nas relações íntimas e pessoais inerentes
Ao casamento, para uma maior santidade espiritual que deve acompanhar
Este abençoado sacramento, e para a glória de Deus.
Para a jovem e sensível moça que alcançou o privilégio de crescer e
Chegar ao casamento, devemos dizer que este dia é, ironicamente o mais feliz
E também o mais aterrorizante de sua vida. Do lado positivo,
há o casamento propriamente dito, no qual a noiva é o centro das atenções
De uma cerimónia bonita e comovente, cerimónia esta que simboliza
O seu triunfo em lhe assegurar um homem que lhe proverá todas
As suas necessidades pelo resto de sua vida natural.
Do lado negativo, está a noite de núpcias, durante a qual a noiva
Deve "pagar para ver", vulgarmente falando, ao se defrontar,
Pela primeira vez, com a terrível experiência do sexo.
Nesse ponto, cara leitora, deixe-me revelar uma verdade chocante.
Algumas jovens, na realidade, aguardam a noite de núpcias com um misto
De curiosidade e prazer ! Cuidado com tal atitude !
Um marido egoísta e sensual pode facilmente tirar vantagem de tal noiva.
Nunca se esqueça de uma regra capital, para qualquer casamento:
dê pouco, raramente, e sempre de má vontade: do contrário,
O que tem tudo para ser um casamento feliz pode transformar-se
Numa orgia dos sentidos.
Por outro lado, o temor da noiva não deve ser extremo, porquanto o sexo,
Que, na melhor das hipóteses, é algo bastante doloroso, deve ser cultivado,
E o tem sido pela mulher desde o início dos tempos, e é recompensado
Pela união monogâmica e pelos filhos. A maioria dos homens, se não lhes for negado, desejam fazer sexo quase todos os dias. A noiva sábia deverá permitir
Um máximo de duas rápidas relações sexuais por semana durante
Os primeiros meses do casamento. À medida que o tempo passar,
Ela deve envidar esforços para reduzir tal frequência. Doenças simuladas,
insónia e dores de cabeça são os melhores aliados de uma esposa quanto a isso. Argumentos, apoquentações, repreensões e questionamentos também são
Muito eficazes, se usados tarde da noite, cerca de uma hora antes
De o marido normalmente começar sua sedução.
As esposas inteligentes devem estar sempre alerta e cientes de novas
E melhores maneiras de negar e desencorajar as aproximações amorosas
De seus maridos. Uma boa esposa deve reduzir as relações sexuais ao mínimo.
O ideal é uma só por semana ao fim do primeiro ano de casamento
E uma por mês ao fim do quinto ano.
Ao redor do décimo ano de casamento, muitas mulheres já completaram a sua prole
E atingiram o objetivo final de terminar todo e qualquer contato com seus maridos. Nessa época, ela deve fazer do seu amor pelos filhos e das pressões sociais elementos eficazes que mantenham o marido em casa.
Como já mencionamos anteriormente, a mulher, além de se manter alerta
Quanto a ter o mínimo de relações sexuais possíveis, deve também prestar
Muita atenção em limitar a espécie e a qualidade das relações sexuais.(..)
A mulher inteligente terá por objetivo nunca deixar que o marido a veja despida,
Nem que este se apresente despido. Praticar sexo, quando este não puder
Ser evitado, só em total escuridão. Muitas mulheres acham muito útil
Usar uma pesada e grossa camisola de algodão e providenciar pijamas para o marido, e não tirá-lo durante o ato sexual. Assim, um mínimo de corpo ficará exposto.
Uma vez que a noiva tenha colocado a sua camisola e apagado todas as luzes,
Ela deve deitar-se quieta e placidamente ao longo da cama e esperar pelo noivo.
Não deve fazer qualquer ruído que possa, na escuridão, orientá-lo em sua direção; caso contrário, ele poderá interpretar isso como um sinal de encorajamento.
Ela deve deixá-lo andar às apalpadelas no escuro. Existe sempre a esperança
De que ele venha a tropeçar e sofrer alguma lesão, que, por mais leve que seja,
Possa vir a ser usada como desculpa para negar qualquer contato sexual.
Quando ele a encontrar, ela deve permanecer tão imóvel quanto possível.
Qualquer movimento de sua parte pode ser interpretado como excitação sexual.
Se ele tentar beijá-la nos lábios, ela deve virar ligeiramente a cabeça de modo
Que o beijo alcance inocentemente as suas bochechas. Se ele tentar beijar-lhe
As mãos, ela deve mantê-las com os punhos fechados. Se ele levantar a sua camisola
E tentar beijá-la em qualquer outra parte do corpo, ela deve, imediatamente,
Puxar para baixo a sua camisola, pular da cama e anunciar que a mãe natureza
A chama ao banheiro. Isso, geralmente, amortecerá o desejo dele de beijá-la
Em territórios proibidos.
Se o marido tentar seduzi-la com conversas lascivas, a esposa inteligente repentinamente lembrar-se-á de perguntar-lhe alguma coisa trivial e não sexual. Uma vez obtida a resposta ela deve prosseguir a conversação,
não importando quão frívola ela possa parecer na ocasião. (...)
Ela deverá permanecer absolutamente calada ou falar sobre seus afazeres domésticos, enquanto ele realiza as manobras que o ato sexual requer(...)
Tão logo o marido complete o ato sexual, a mulher inteligente deverá começar
a aborrecê-lo com conversas sobre tarefas que ela quer que ele realize
no dia seguinte.
Muitos homens obtêm a maior parte de sua satisfação após a pacífica exaustão
que se segue ao ato. Sendo assim, a mulher inteligente deve assegurar-se
de que ele não tenha paz nesse período, pois, do contrário,
ele logo se achará tentado a querer um pouco mais. (...)
Bem! Acabou o Campeonato do Mundo de futebol! Propositadamente coloquei futebol com letra pequena, porque de facto foi um campeonato para esquecer tal a falta de qualidade do futebol apresentado. Embora seja um dos 13 melhores observadores do futebol mundial no activo (os outros 12 colegas meus estiveram na Alemanha a dar pontuações aos jogadores e a nomearem os melhores em cada jogo), não vou entrar em questões de natureza técnica,em aspectos tácticos, nem outras questões que me levaram a ser uma das maiores referencias do comentarismo europeu futeboleiro desde Finisterra a Vladivostock. Hoje vou mesmo dizer que apesar de Angola jogar malzinho e ter uma equipa fraquinha conseguiu ser parecida com todas as outras, e disfarçar as insuficiencias que trouxe ao Mundial e que já eram visíveis no CAN.Podia ter feito como os portugueses que jogando poucochinho conseguiram através do Chico-espertismo chegar aos quartos. Eu fui claro desde o início, pois sempre apoiei a selecção de Angola e apenas essa. Quando foi eliminada eu passei a olhar os jogos com pouco entusiasmo, embora tivesse um fraquinho pelo Gana, pois sempre era uma selecção africana.Quando o Gana acabou a sua participação fiquei sem preferencias e limitei-me a olhar as manifestações patrioteiras que aqui e ali iam pintalgando um ou outro local na Europa comunitária. Digo sem qualquer tipo de reserva mental, que não tive simpatia particular por Portugal, por razões várias, que seriam fastidiosas de enumerar.Nem o facto de ter um jogador que é meu familiar próximo, me fez alterar a minha indiferença em relação ao seleccionado. Durante toda a inundação de informação(???)que éramos obrigados a ter desde manhã até às quinhentas da noite, na maior concentração de mm2 por ecran de TV, fui-me lembrando de João Abel Manta. E lembro o caricaturista JA Manta, filho do mestre Abel Manta,a quem recomendo uma visita à sua casa-museu em Gouveia, mas dizia, lembro João Abel Manta que em 1967(?) resolveu fazer esta caricatura de um Portugal isolado do mundo, decadente, com uma guerra colonial com tres frentes de combate, um país ainda mais triste que "o paraíso triste" que Saint Expury tinha descrito em 1942 quando por cá passou a caminho da sua morte. Hoje como ontem as pessoas agarravam-se à sua selecção, e hoje como ontem uma santa no caminho dos portugueses, trazida por um Edir Macedo que só tem um detalhe suplementar: Talvez saiba de bola. O IPSS (Instituto para a Promoção da Scolariedade Social)com um ordenado que era o 3º no ranking dos ordenados dos seleccionadores, resolve começar a insultar a esmo e até mesmo a bitaitear (verbo adaptado do léxico do Hernani Gonçalves)sobre questões que não lhe dizem respeito, perante o enxamear da bandeira do Partido Republicano, e que persiste desde 1910(Este pequeno detalhe tem um recado óbvio:Angola não tem nada que mudar bandeira nenhuma). Nas procissões em Portugal há o costume de colocar colchas nas janelas e varandas à passagem das santas e dos Santos, e de meninos vestidos de anjos e senhoras com um naperon na cabeça, mas esta das bandeiras só lembra mesmo ao triunvirato Portugal/BES/FPF, não chegando ao ponto do senhor Scolari dizer que "O que é bom para o BES é bom para Portugal". Bem, fico-me por aqui, senão começo a falar muito mais da Scolaridade Social e desapetece-me mesmo.
Dizia o meu amigo Rui Castro e Silva, cada vez que pássavamos em frente ao Tamar, ardido na altura, hoje recuperado, que havia um buraco no balcão já que todas as noites lá estava sempre no mesmo banco, com o mesmo copo na mão, anos e anos a fio...Quem se lembra de ver aquele decrépito espectáculo do Ary Lopes com a Glória Norton, e mais um conjunto de bailarinas brasileiras recrutadas algures na Goiânia, ou no sertão favelar do Rio de Janeiro...Mas o Tamar era o Tropicana de Luanda nos anos 60 e 70...um Tropicana doméstico, mas referencia para muitos soldados de patente média que ainda hoje das poucas recordações boas que guardam é precisamente o Tamar, ali onde a Xicala ainda era imberbe como praia.Ao lado era a Gruta, que em tempos terá tido outro nome e que tinha um bar americano com um pianista cheio de artroses nos dedos a tocar.Logo a seguir era o Sporting, que mantinha um bar misto de respeitabilidade,batota e umas raparigas algo verdes comparadas com a visinhança.Na ilha havia ainda o Marialvas, e julgo que o Estoril...ou o Marialvas era lá para cima para S. Paulo??' Depois o D. Quixote,na Rua Direita , numa casa lindíssima, que se transformou num espaço de grande procura dos "que na frente combatiam".Em cima perto do nosso liceu, o Embaixador, uma outra referencia na noite de Luanda e que nos levantava em pensamentos pecaminosos algo que só na adolescencia começávamos a levantar como adereço primeiro e com outras habilidades depois.Havia ainda o Copacabana, creio que ali para a Samba, que depois foi transformado em casa de fado, onde durante muitos anos pontificou a Maria José da Guia. No Xeque, ali para os lados dos Coqueiros, anunciava-se a "escultural Bia", que anos mais tarde, já depois da independencia, era a dilecta cozinheira da Casa do Desportista na ilha, onde nós tentávamos que ela nos arranjasse mais um pouco de pitéu nos difíceis anos 80!! Havia o Cheique mais ou menos no mesmo local do Cheque, o el Chicote na marginal, o Nina Bar, ao pé da estofadora do Carmo, a Floresta ao pé da Mutamba, paredes meias com a Cubata (aliás nome algo apelativo para esse tipo de casas,eheh) e muitas outras que iam alimentando ao longo dos anos os nossos mistérios e tempos mais tarde alguns misteres.. Temos tema?? Um abração Fernando Pereira
Pode parecer provocação...mas é uma constatação (não deixando de ter um salutar cunho provocatório)... Ao longo destes tempos em que "vamos cantando e rindo" por aqui, não deixei de ficar surpreendido por não ter sido lembrado nenhum colega do Cazenga,do Sambizanga, do Marçal, do Mota, do Lixeira, do Catambor ou até de outros bairros, vulgo muceques de Luanda!!! Será que o nosso liceu só tinha gente da cidade do asfalto???Ou talvez a população desses bairros não gostasse de ver os filhos nas escolas (eheheheh)!! Por estas e por outras é que podemos ir encontrando respostas para coisas que não se passaram da forma como muitos concordariam. No ultimo fim de semana o aliado português do Samakuva, resolveu intervir sobre a descolonização...Do alto da sua "eloquencia", o Moderno Sacadura Cabral Portas, resolveu dar o mote...que alguns outros congressistas agarraram...sobre a "infame" descolonização!! Era bom que se tivesse a elevação e o espirito saudável de discussão em democracia,e que se começasse a falar da história, que não começou apenas em 25 de Abril de 1974 e acabou em 11 de Novembro de 1975 .Sem demagogias, sem insultos, duma forma divergentemente serena, era importante que se falasse das coisas e não se mantivessem estigmas, alguns deles artificiais, relativos a certos temas. À distancia de quase 30 anos , e com uma maior capacidade de análise fruto de experiencias,documentos e discussões publicas pode e deve debater-se tudo, sem alinharmos nos falaciosos argumentos comicieiros ou nas patéticas e surrealistas perversões de idolatrar certas figuras, como o menino Paulinho fez ´com grande hipocrisia no funeral de Maggiollo Gouveia Sei que estou a ser "políticamente incorrecto", mas como gosto de debater, de aprender e de congregar esforços para que outras discussões, apareçam no sentido de ir adiando alguns sintomas de escleroses que o debate sério pode ajudar a protelar..
Dos bairros de hoje..
Sobre os musseques de hoje, podemos dizer com alguma propriedade que invadiram o asfalto...Em vez do asfalto aumentar para os musseques, eles quase engoliram o asfalto, por razões várias...e por isso Luanda é hoje um passo antes do caos em termos urbanísticos, de limpeza, de distribuição de água e electricidade. Mas tb é verdade e neste caso senão com bela, a própria cidade tornou-se mais garrida, mais sonora, mais conversadora e mais democratizável!!
Nenhum de nós deve expiar as culpas do colonialismo.Ng deve expiar essas culpas pq o sistema era de facto colonialista, e cada pesoa por si só servia os interesses do colonialismo instalado, mesmo que não se desse conta disso...Qto`ao que se diz da descolonização é um tema que não me apetece entrar por certas Portas, como de querer recuperar os Silva Portos, os Fifis, os Aleixos e por aí fora tão ao gosto do Matoso e quejandos!!! Qto ao facto de se querer constituir uma célula M-L no Calhambeque, pode explicar o porquê de ter durado tanto o colonialismo, pois nunca vi nenhuma revolução começar com o patrocínio do With Horse ou um Rhum da Neto Costa (Pela aversão salazareira ao Havana Club). Voltando ao tema e tendo em conta as belíssimas fotos de Loanda que temos aqui no site, alguém se questionou do que foi o caos urbanístico que sofreu a fase de "desenvolvimento" de Luanda??? Que aconteceu à magnífica baixa da cidade de Luanda???Restou a Rua dos Mercadores...Mas a envolvencia era lindíssima Que se fez ao magnífico edifício no Kinaxixe onde funcionavam os Serviços de Agricultura, ao pé da centenária mulembeira...onde nasceu aquele feio prédio da Cuca???Que se fez ao bonito edifício dos Serviços Pecuários??Pq é que com muito mau gosto se destruiu a fachada do palácio do Governador e a torre que tinha??Pq é que se demoliram os prédios da Rua Salvador Correia???E no bairro das Ingombotas?? E por aí fora!!! Vcs lembram-se do Hotel Palace de Luanda??' E do Grande Hotel de Luanda??? E já agora numa de provocação...o Hotel Miradouro???? Um abraço Fernando Pereira
Quem me tira uma discussãozita picante tira-me tudo!!!
Por acaso alguém sabia que qd se deu o 25 de Abril de 1974, Portugal tinha 32% de analfabetos,mais 47% que apenas sabia escrever o nome???e que Angola tinha 82% de analfabetos ?? E que Cabo Verde tinha 26% de analfabetos devido ao facto de ter sido o segundo território africano a ter ensino secundário??? Sabiamos em Angola que em Maio de 1968 houve uma "revolução em Paris", liderada por estudantes, e que alterou a configuração das referencias das mentalidades da Europa?? Sabíamos que em 1968 só houve duas sessões do filme "crime da aldeia velha" no cinema Restauração, pq o texto de Bernardo Santareno ilustrava o ultimo auto-de-fé em Portugal numa aldeia, nos anos 60???Sabíamos que o Feyenord se recusava a jogar no estádio da Luz, para a taça dos campeões Europeus pq o estádio estava decorado com publicidade ao "Café de Angola", tendo a UEFA mandado tapar para que o jgo se realizasse??Sabíamos a quantidade de desertores do exército?? Sabíamos que o Niassa levou com bombas para não transportar tropas??? Sabíamos pq se sentava Bob Denard em mesas ao nosso lado, no Arcádia em Luanda com a mona entrapada??Sabíamos que Sartre se recusou a receber o prémio Nobel???Sabíamos que Chalie Haiden foi posto sob prisão e expulso em 1972 pq no Festival de Jazz de Cascais cantou um hino aos movimentos de libertação??? Apercebemo-nos que o Concord em Luanda não colocou a bandeira de Portugal no avião, mas outra...??? Temos tema!!!! Um abraço deste que vos provoca com elegancia Fernando Pereira
Tenho aqui falado um pouco sobre um conjunto de coisas,mas de facto certas pessoas gostavam de saber a minha opinião sobre outras...Eu sou angolano por opção, mas vivendo uma parte significativa do ano em Portugal, por razões que apenas a mim me dizem respeito, eu vou divagar sobre um tema recorrente aqui na sanzala relativo a José Eduardo dos Santos e outros dirigentes angolanos, ou figuras gradas da sociedade angolense actual.Não falo do que eles tem porque não sei, apesar de admitir que tenham bastante.
Angola herda do colonialismo o espírito do desenrasca,do amiguismo e das "luvas".Vamos a factos:Qtos chefes de posto no tempo colonial receberam dinheiro ou prendas de angariadores??'Porque é que não havia fiscalização às muitas cantinas e lojas do mato em Angola, onde a população se sentia enganada pelo Kg com 500g, ou o metro com 80cm...Não havia fiscais, nem as camaras tinham metorologistas ou aferidores???Nas estradas de Angola algum camionista se queixou de alguma multa por excesso de peso?? A desenfreada urbanização da cidade de Luanda, por exemplo ao arrepio do Plano Municipal terá sido apenas fruto de incúria?? As transferencias no Fundo Cambial eram para todos iguais???Como se obtinha uma licença de porte de arma ou uma simples licença de caça??...
Pronto por aqui fico-me sem querer prolongar nem querer desta forma desculpar a corrupção que reina na Angola actual, que existe e é factor de empobrecimento de um País...
Como sou angolano, começo a pensar que a Fátima Felgueiras é angolana!! 185 autarcas deste País que não cumprem os Planos directores municipais, e curiosamente os beneficiados são sempre os mesmos empreiteiros, curiosamente muitos deles os que abocanham todas as obras dos municipios, talvez tb sejam angolanos!! Que os 140 GNRs da brigada de transito de Albufeira são angolanos!! Que é em Angola que processos com fortes indicações de corrupção são arquivados porque prescrevem!! Que deputados não ficam sem imunidade parlamentar qd são indiciados em actos de corrupção..devem ser os deputados angolanos!! Deve ser angolano o ministro que quiz que a filha entrasse para medicina!! São angolanos em Portugal os que moram nos bairros in da periferia de Lisboa, Cova da Moura e outros!!Deve ser angolano o tipo que é funcionário publico e me resolve em tempo record algo que tenho direito a troco de uns tostões!! Deve ser angolano o fiscal da Camara a quem se dá algo para que não xateie numa obra clandestina!! deve ser angolano.... por aí fora...
Sei que nada disto é argumento, mas às vezes era bom deixar nos bolsos certas pedras para não se gastarem todas nos telhados alheios..às vezes ajudam a tapar buracos no próprio telhado...
Já agora uma pergunta inocente q. b....Qd há corrupção, há o corrupto e o corruptor...Só ouço falar de um lado!!
Hoje estou algo amargo, talvez por isso me tenha metido em assuntos portugueses, o que não devia legalmente fazer!!
E já agora, só leu o que eu escrevi quem quiz!!
Um abraço
Fernando Pereira
14-11-2003 10:15