Verão do nosso descontentamento
Acabou o período determinado pelo
governo para que se fizessem as limpezas das áreas circundantes das casas. Vem
o tempo de fiscalizar e multar os prevaricadores.
Esta intervenção na floresta mais
não foi que um eufemismo, pois nas florestas nada aconteceu de especial a não
ser o corte da lenha queimada, o que irá fazer com que seguramente a área
ardida este ano seja muitíssimo inferior à do ano passado.
Irão aparecer os balanços com os
sorrisos habitueis a salientarem o trabalho coordenado de todos, não se
poupando a autoelogios, e a darem a imagem de grande empenho no combate
continuado aos incêndios e a um maior ordenamento florestal, como gostam de
dizer os dignitários do eixo Terreiro do Paço - S. Bento, quando se
contorcionam para tropeçar numa camara ou num microfone.
O que importa mesmo é que as
populações sejam protegidas, e que as poucas pessoas que resistem a viver no
interior, consigam deixar de ter os sobressaltos do Verão já que o País decisor
passa no Algarve ou noutras paragens mais longínquas as suas férias.
Não vou fazer como certas
pessoas, que despercebendo o que é o fator produtivo vem com indisfarçável
histeria para as TVs clamarem contra determinado tipo de árvores, esquecendo-se
que as pessoas do interior vivem sobretudo da floresta, afinal a que lhe permite
fazer face a despesas tão comezinhas como comer, pagar água, luz, gás, escola
dos filhos, medicamentos, etc.
As populações das zonas de floresta
não podem ser transformadas em “vigilantes de um qualquer jardim botânico”,
pois talvez as pessoas não saibam que direta ou indiretamente representam 11%
do PIB português. Convenhamos que é algo não negligenciável para os tudólogos
que enxameiam os canais de TV, falando de florestas, futebol, inundações,
guerras púnicas ou qualquer assunto, que lhes sirva para aparecerem e manterem
a sua notoriedade construída e perpetuada pela pobreza em que se está a tornar
a comunicação social, principalmente o audiovisual.
Já
agora, convém lembrar que há muito espaço florestal dependente do Estado e das
autarquias que permanece ao abandono, e que talvez não seja mau de todo
cumprirem o que fazem cumprir aos privados.
Aguardemos
que não tenhamos outro “Verão do nosso descontentamento”.
Fernando Pereira
8/04/2018
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