3 de agosto de 2012
Pretextos / Ágora /Novo Jornal nº237 / Luanda 3-8-2012
O único sítio onde sempre gostei de bispos foi no tabuleiro de xadrez. O meu proverbial agnosticismo impede-me de pensar de forma diferente. Mas há sempre uma exceção e há alguns que me merecem muito respeito, particularmente D. Helder da Camara, bispo de Olinda e Recife durante os tempos da ditadura militar brasileira, à qual as igrejas brasileiras eram subservientes e silenciosamente cúmplices na prática continuada da limitação de liberdades, prisões e torturas de ativistas políticos.
O Bispo de Olinda e Recife, que um dia disse do Nordeste Brasileiro, tripudiando sobre os militares: “poucos são donos de tudo, muitos são donos de nada”.
Um dia talvez cheguemos a um estado de desenvolvimento que nos permita ter bispos deste quilate!
Neste “querido mês de Agosto” temos eleições, mas de facto desapetece-me falar do assunto porque a oposição simula que esteve sempre contra e quem governa espera ser naturalmente sufragado para mais um quadriénio de poder absoluto, absolutamente legitimado pelo voto popular. A oposição devia ter dado voz às suas propostas durante quatro anos e não nos últimos três meses. Assim, quando se confrontar com o resultado da falta de militância e trabalho político quotidiano, lá virá a eterna ladainha da “falta de democracia e irregularidades diversas no ato eleitoral”. Para a oposição deve ficar claro que “ninguém convida o peru para organizar a ceia de Natal” e que, se querem merecer o voto e o respeito dos angolanos, têm que despir os fatos cintados e trabalhar com propostas alternativas para sabermos o que pensam e como pretendem fazer o que pensam. Assim “Sic transit gloria mundi”! Só desejo mesmo que o meu “ 1º de Agosto” passe a ter sistematicamente resultados desportivos como os que o MPLA terá politicamente no 31 de Agosto de 2012.
Chegou-me à mão uma “Ilustração Portuguesa” (15/9/1923) que trazia desenvolvida reportagem sobre a “Exposição Agrícola, Pecuária e Indústrial, à qual concorrem os 14 distritos da província” em Luanda. Realizou-se junto à lagoa do Kinaxixe (Carnaxixe, segundo a revista) e o recinto era limitado pelo magnífico edifício dos serviços de agricultura, demolido no tempo colonial para rasgar a Avenida Valódia. A exposição decorreu entre os dias 15 e 22 de Julho e foi uma excelente mostra de “Madeiras lindissimas, cafés, algodões, fibras vegetaes, frutas, ceraes, tabacos, ceramicos, oleos, sabões, objectos gentilicos, maquinaria, parques de gados, toda uma infinidade de manifestações, que nos dizem o que hoje já vale este torrão longinquo, campo prodigioso aberto ás mais belas iniciativas”. “Ha ainda a notar que, tendo coincidido a Exposição de Angola com a realisação do 1º Congresso de Medicina Tropical da Africa Ocidental, excelente oportunidade se proporcionou aos muitos e categorisados hospedes de Loanda, membros d’aquele Congresso, de avaliarem o grau de adeantamento industrial da florescente provincia.”
“ O Gomes e Irmão” era uma firma de comércio misto, agricultura e pecuária, que tinha todos os terrenos demarcados e aramados desde a Praia Amélia até à Barra do Kwanza, tendo começado a loteá-los e a vendê-los quando se desenvolveu o Futungo de Belas e as urbanizações que entretanto foram emergindo no chamado perímetro de Benfica. O magnífico touro do “Gomes e Irmão” foi, segundo consta a reportagem, o ex-libris da exposição nesse longínquo 1923. Destaque também para a mostra de produtos da “Companhia do Amboim”.
Ao fim de 237 números de Novo Jornal e de Ágoras, “ameaço” talvez parar umas edições, para ver “passar as eleições”. Não sei que analogia há, mas lembrei-me do campeonato português de futebol: Jogam uns contra os outros e no fim ganha o Porto!
Que mais uma vez para os angolanos seja o “Agosto do nosso contentamento”.
Fernando Pereira
1/8/2012
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