23 de dezembro de 2011

Bom dia da Família / Ágora / Novo Jornal 205 / Luanda 23/12/2011





Cem mil mortos depois as ultimas tropas americanas abandonam o Iraque.
Deixam um simulacro de País onde as instituições não funcionam, as tensões sociais, religiosas e políticas se mantém num quadro de perigosidade permanente para o quotidiano dos cidadãos iraquianos, que eram governados por um tirano acolitado por um bando de tiranetes, mas que apesar de tudo conseguia ser mais tolerante que a maioria das oligarquias dependentes das receitas do petróleo que enxameiam a região, mas “bons” já que indispensáveis para a “economia de mercado”.
As “primaveras árabes” da Tunísia, Egipto, Líbia e as que se avizinham, Síria e Irão, vão “legitimar” um novo conceito de democracia, e eis-nos perante um difuso quadro de relações internacionais em que o despudor passa a ser quotidiano.
O mundo não se consegue livrar da sórdida aliança entre os mercados e “West Point” onde se começa a perceber que cada vez se constrói relações cada vez mais obscuras e imperfeitas.
A TV mostra em directo a “inevitabilidade” das acções para que a” liberdade” prevaleça no mundo. Como dizia o insigne e mal amado poeta português Jorge de Sena (1919-1978) – “De cada vez que há um governo”: “De cada vez que um governo necessita de segredos, /por segurança do Estado, ou para melhor êxito das negociações internacionais, / é o mesmo que negar, como negaram sempre desde que o mundo é mundo, /a liberdade. /
Sempre que um povo aceita que o seu governo, /ainda que eleito com quantas tricas já se sabe, /invoque a lei e a ordem para calar alguém, /como fizeram sempre desde que o mundo é mundo, nega-se/a liberdade. /
Porque, se há algum segredo na vida pública, /que todos não podem saber, é porque alguém, /sem saber, é o preço do negócio feito./E, se há uma ordem e uma lei que não inclua/mesmo que seja o último dos asnos e dos pulhas /e o seu direito a ser como nasceu ou fizeram, / a liberdade.”.
Esta semana fez cinquenta anos em que o som do “Angola é Nossa”, onde cronicava de Luanda, Ferreira da Costa para a Emissora Nacional de Portugal, foi substituído pelo enfático: “os sinos da Velha Goa e as bombardas de Diu serão sempre portugueses”, uma resposta retórica à invasão dos territórios incrustados na União Indiana de Goa Damão e Diu. A um exército de opereta mal equipado e sem estímulo para o que quer que fosse, Salazar, que apenas saiu de Portugal duas vezes (uma a Paris enquanto estudante, e duas a cidades fronteiriças com Espanha para falar com o ditador Franco), que nunca fez serviço militar, exigia que em nome das “pedras das fortalezas de Damão e Diu e das Igrejas de Goa” que os soldados resistissem até ao limite saindo “vitoriosos ou mortos”. Nem uma coisa nem outra porque prevaleceram o bom senso do governador da então província que num gesto de grande dignidade aceitou uma rendição honrosa, que lhe valeu o opróbrio aos olhos do regime. O que não deixa de assumir contornos de alguma bizarrice é que Luanda, tão ciosa nas suas mudanças de toponímia e alterações administrativas, ainda prevalece uma Rua da Índia, e em baixo uma referência ao Estado Português da Índia, próximo do Largo do Cruzeiro, paredes meias com o cemitério do Alto das Cruzes!
Morreu o filho do outro, que vai deixar o filho como sucessor. Isto vem a propósito da morte do Kim Jong-Il, filho e herdeiro da ideia Juche do grande líder Kim-Il-Sung. As relações visíveis com Angola estão no quotidiano urbano da cidade de Luanda onde as estátuas horríveis acabam por menorizar a imagem das figuras referentes da nossa história recente.
Há trinta anos a embaixada da RDP da Coreia resolveu promover um concurso literário alusivo ao trabalho do “Grande líder Kim-Il-Sung” na liderança do País. Em Angola ganhou o concurso o falecido Ricardo Manuel com um livro de poemas que julgo que se chamava “Coreia, meu amor”. O Ricardo ganhou o prémio e lá foi até à Coreia onde andou e recebeu todos os encómios pela obra publicada, “um enorme êxito em Angola” e outros elogios do tipo. O Ricardo Manuel era gerente da Lelo e em Luanda durante uns meses a montra central foi ornada com todo um conjunto de livros do “Grande Líder”, fotos das homenagens ao poeta e entre dois naperons de renda uma enorme fotografia do pai deste que morreu e portanto avô do que aí vem, numa perfeita estultice de um socialismo que talvez nunca o tenha sido.
Como não sou muito de Natais, e gosto mesmo é do Dia da Família, quero mesmo é que o passem bem!
Fernando Pereira
19/12/2012

1 comentário:

Retornado disse...

O Ricardo Manuel ganhou um prémio há 30 anos, atravez do elogio do grande lider Nortecoreano.

Ricardo era gerente da Lello.

Há 37 anos, um major de Abril sonhava para Portugal com uma Albânia do grande lider Enver Oxa.

Era o Major Tomé do partido UDP.

São memórias!

Cumprimentos de Natal

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