14 de agosto de 2010

Subterraneos da Liberdade/ Ágora/ Novo Jornal/ Luanda 14-8-2010



Fiquei muito agradado, quando constatei que a editora D. Quixote, reeditou os “Subterrâneos da Liberdade”, trilogia escrita por Jorge Amado (1912-2001) em 1954, e que se assume como denúncia, e a consequente luta do povo brasileiro, contra a ditadura fascista de Getulio Vargas.
Um conjunto de três livros, “Os Ásperos Tempos”,” A Agonia da Noite” e “ A Luz do Tunel”, exalta-se a vivacidade com que se descreve a luta e a organização do PC Brasileiro, a prisão e a tortura que sofrem os oponentes ao “Estado Novo” de Vargas e a construção da esperança num Brasil livre e mais equalitário.
Um romance que irradia optimismo, mesmo naqueles sombrios anos em que as ditaduras proliferavam na América Latina, e encerra uma força, que faz dela uma obra de referencia para todos que a leram, e que a releram, como foi o meu caso.
As personagens deste entusiasmante romance, são pessoas que todos sabemos quem são, desde o próprio Jorge Amado a Oscar Niemeyer, Lúcio da Costa e Luis Carlos Prestes, Ary Fontoura, Olavo Bilak, entre alguns outros.
Inegavelmente, é uma obra com uma carga ideológica marcada por matizes de certa forma desusadas no quadro político contemporâneo, mas não deixa de ser um documento arrebatador de um quadro de luta de uma geração, que através deste romance construiu e multiplicou muitas das suas vontades, engajando-se claramente nas lutas que irromperam pelo mundo, em prol da liberdade e da solidariedade.
Poucos da geração que precede a minha, não deixaram de o ler, e pedir-se que o releiam, ou entusiasmem outros a lê-lo, não será excessivo pedir, pois não deixa de ser corajoso por parte da editora, reeditar este romance, depois de trinta anos em pousio, no que concerne a edição.
Por falar em autores daquilo que Pepetela chamou a “geração da utopia”, seria da mais elementar justiça, que de vez em quando nos fossemos lembrando de pessoas, que parafraseando Agostinho Neto, “ as minhas mãos colocaram pedras nos alicerces do mundo/ mereço o meu bocado de chão”.
Há anos li de António Faria, um trabalho editado pela Colibri, sobre a Casa dos Estudantes do Império, espaço de intervenção política determinante, para a mobilização de pessoas e vontades na luta de libertação colonial.
Acompanhei algumas intervenções do cineasta e realizador de televisão António Faria, sobre outro “esquecido” da Angola libertada, Inocêncio da Câmara Pires, e talvez por isso acabei por comprar o seu romance de 1987, “A Emenda e o Soneto”, editado pelas Publicações Europa-América.
O romance, que hoje só já é possível encontrar num ou noutro alfarrabista, ou livrarias que adquiram fundos de edição, é todo um percurso de famílias que se estabelecem em Angola no dealbar da década de cinquenta, com as dúvidas e contradições inerentes a um colonialismo a que as pessoas não se afeiçoavam, mas dificilmente rejeitavam. A história já assume contornos diferentes quando os filhos são obrigados a vir estudar para Portugal, e aí as fronteiras ideológicas são bem mais definidas, e as imanentes roturas potenciam dramas irrecuperáveis na artificialmente sólida estrutura familiar.
Um romance interessante, com os condimentos simultâneos de um romance histórico e autobiográfico, a merecer que se perca (ganhando com isso) tempo, a procurá-lo em parte incerta.
Esta gente também fez Angola, e talvez ainda esteja disponível para fazer, a outro ritmo naturalmente, que as pernas já pesam!

Fernando Pereira
11/08/2010

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