19 de dezembro de 2009
Capacete obrigatório/ Ágora/ Novo Jornal/ Luanda/ 18-12-09
O Novo Jornal faz o brilharete de 100 números. Esta coluna está pertinho de o fazer, por isso vão preparando os V. encómios (Narcisista q.b.).
Findou o VI Congresso do MPLA, e do que fui acompanhando, ressaltou que os Congressos do MPLA, já não se efectuam na Av. do 1º Congresso, o que é um claro distanciamento, onde pela primeira vez se fez um Congresso do MPLA de 4 a 10 de Dezembro de 1977.
Admito que há aspectos hitchkokianos neste congresso, pois o 47º elemento do Bureau Político do MPLA, permanece em suspenso e muito a propósito levante-se o véu, porque é um elemento feminino.
Para além do Congresso, começa a debandada dos expatriados para a Europa, não querendo partilhar a panóplia de cabazes disponibilizados pelo comércio a retalho e grossista do País.
Sou suspeito, porque realmente sempre gostei mais de “Dia da Família” do que do “ Natal”, e quando vejo os eventos que emolduram a festa que se aproxima, só me vou lembrando que também vai sobrar para mim, num primado para o fígado de “que resistir é vencer”!O escritor Baptista Bastos, quando vê alguém permanentemente ruborescido, tem uma tirada com imensa piada: “O meu amigo não engana ninguém, tem o seu fígado no nariz”!
Já que se fala em cabazes, longe vão os tempos em que as latas de sardinha em conserva, não eram especialidades de lojas “gourmet”, nem havia tanto “especialista” em vinhos, fumados e destilados, e em que os rebuçados se colavam invariavelmente ao celofane. Podíamos dizer que, um dos símbolos do colonialismo português era o bacalhau, que mantém a tradição nas novas gerações de angolanos, como a herança saborosa de um período cada vez mais esquecido da história. Aqui cabe referir que o bacalhau português é inigualável pois há povos, como os britânicos que o comem fresco, frito e sem azeite!
Mas o verdadeiro ex-libris do sistema colonial português, era o “capacete”, que era um garrafão de cinco ou dez litros, com o gargalo envolto numa camada de gesso, que era um certificado duvidoso de inviolabilidade, de vinho do Dão ou do Cartaxo, pois nesses tempos nem Douro nem Alentejo, e as mixórdias de vinho verde Lagosta, Casal Garcia e Gatão o máximo que conseguiam era dar uma enxaqueca terrível!
Macieira 5 Estrelas, vinhos doces abafados, aguardente “Paraíso”,a “D´uvas Portuguesas da casa” da casa Abel Pereira da Fonseca. Essa casa vinícola, já desaparecida, depois de um efémero reinado do vinho “Mosteiro”, proveniente do Brasil no fim dos anos 70, apareceu com um “Sanguinhal”, que convenhamos era para efeitos de uma cirrose, bem mais brando, do que o temível “Morteiro”,como era conhecido no léxico dos que a ele tinham direito e que tanta história deixou na cidade durante um determinado período entre o 1º Congresso do MPLA, e o 1ªCongresso Extraordinário do MPLA em 1980.
Recuando à década de 50, lembro-me de ouvir falar de um tal Porfírio Martins, um mágico perfeccionista na arte de baptizar o vinho.
Em altas horas da noite, o Porfírio escolhia dez barris mais cheios, perceptível com o chocalhar, depois de os deitar. Com uma chave de fenda, retirava o selo metálico que protegia o batoque, ou seja, a rolha que tapava o orifício por onde era introduzido o vinho, batendo em círculo com um martelo e um pano, até o batoque saltar e não ficar nenhuma réstia de que houvera violação prévia; Dois litros de álcool puro e oito litros de água trocava-se por igual “litrada” de vinho, já de si de discutível qualidade. Era o melhor de todos, e se houvesse seriedade na atribuição de licença profissional, ele seria um mixordeiro de 1ª classe. Não passou de um mediano “fubeiro”!
Um caso bem demonstrativo, em que a escassez de oportunidades impedem grandes voos!
Fernando Pereira
13/12/09
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2 comentários:
À medida que ia lendo o post - dado só ter conhecido Luanda depois da independência - ia-me lembrando do 'Morteiro' (ou bem-amado, como lhe chamavam os portugueses da era colonial, influenciados por uma novela brasileira que na época passava na tv angolana) e eis que subitamente lá aparece referência... sem dúvida que ainda mais perigoso que um qualquer Camilo Alves ou um Abel Pereira da Fonseca... recordo-o em garrafões e de o ter provado uma única vez (em versão branco), tendo o 'néctar' deixado uma mancha de cor verde vivo numa blusa de cor branca após lavagem (o que faria ao sistema digestivo?)...
O 'Dia da Família' vivido em Luanda já em finais de 80 - por vezes nessa data não havia recolher obrigatório à meia-noite - era sempre passado com amigos de nacionalidades várias, no Km 17 para onde levávamos o repasto natalício e respectiva caixa térmica com bebidas da loja diplomática (com tão bom tempo de praia e sendo nós de vários países europeus, o dia bem aproveitado não nos 'soava' a Natal pela ausência de chuva, lareiras, Porto e bolo-rei).
Os angolanos nunca se submeteram ao bacalhau.
Se o colonialismo impôs desde o futebol ao enchido, desde o vinho em barril de 100 litros (as aduelas serviam para vedar jardins e cadeiras) até ao capacete de 5 lt., o bacalhau, nunca acasalou com o óleo de palma nem com gindungo.
O carapau seco de 5 tostões até à garoupa e outros peixes com cara de bacalhau, sempre fizeram frente ao intruso bacalhau.
Isto no tempo antigo.
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