25 de outubro de 2009

A emenda vem do ouvido, o juízo da multidão/ Ágora/ Novo Jornal/ Luanda/ 23-10-09




“O que faz uma nação grande não é tanto os seus grandes homens, mas a estrutura dos seus inumeráveis medíocres”
Ortega Y Gasset (Madrid 1883-1955)
A propósito de um vídeo de uma multifacetada actriz brasileira, Maitê Proença, com talentos sublimados há tantos anos, levantou-se um coro de indignação que há muito se não via por terras de “além ar”(Portugal).
Vi o vídeo, que é uma parte de um programa “Saia Justa” do canal de cabo, GNT, e sinceramente a única coisa que consegui, foi mesmo encontrar alguma similitude na forma como Angola e os angolanos são tratados na blogosfera por alguns expatriados que falam o português, e que trabalham em Angola, de forma recorrente.
Só me apetece citar Eça de Queiroz, que no fim do século XIX, e ainda o número dos países que falavam português no mundo se limitava ao Brasil, dizia:” O brasileiro tem o defeito dos portugueses só que dilatados pelo calor”.
Desapetece-me ter que vir aqui, usar os estafados argumentos de um e outro lado, sobre a forma algo ignara como por vezes se embeiçam as partes envolvidas, mas a realidade é que o angolano pode ter muito defeito, pode dizer muito mal de tudo o que é seu, mas detesta que escarneçam das suas idiossincrasias colectivas.
Tudo isto me fez recuar no tempo, e resolvi reler um dos poucos exemplares que existem de literatura colonial, “ O Velo de Oiro” do escritor Henrique Galvão. Quando se diz literatura colonial, procura distinguir-se do que depois se apelidou de “literatura ultramarina”, que teve um serviçal permanente, Amândio César; acolitado por uns quantos apaniguados ideológicos, como Forjaz Trigueiros, Joaquim Paço de Arcos e outros.
Henrique Galvão (1895-1970) era um integralista indefectível, foi governador da Huíla, inspector superior do Ministério das Colónias, Secretário da Exposição Colonial do Porto, Director da Emissora Nacional e depois disso tudo intransigente opositor de Salazar, o primeiro homem no mundo a desviar um avião por motivos políticos, assim como a figura central do desvio do paquete português “Santa Maria”, que para além da denúncia do regime salazarista (Salazar, que tem como seu maior panegírico, com visibilidade, Jaime Nogueira Pinto), terá tido uma enorme importância, senão determinante, no levantamento de 4 de Fevereiro de 1961.
“O Velo de Oiro” (1931) é uma obra que deveria ser reeditada em Portugal, e devia ser lida pelos portugueses que demandam Angola na busca do dinheiro fácil, ou na procura de resolver os problemas que deixaram noutros lados, e que nalgumas circunstâncias só os agravam! É curioso como é que um livro escrito há 73 anos, tem tanta actualidade, pois “ o sonho que comanda a vida”, nem sempre tem um final razoável, e raras vezes um final feliz. “ O Velo de Oiro”, é basicamente a história de Rodrigo que embarca para África atraído pelo enriquecimento fácil, buscando muito dinheiro e pouco trabalho, e toda a narrativa é construído nas ilusões e desilusões numa África, que nada tinha a ver com o que ouviu e imaginava na sua aldeia distante.
Henrique Galvão ainda tem outro dentro da mesma sequencia, “O Sol dos Trópicos” (1936), mas já contextualizado de outra forma, talvez mais parecido com uma intervenção de Lobo Antunes na fase do “Esplendor de Portugal” ou o seu quase ignorado livro “As Naus”, uma critica muito conseguida ao colonialismo, socorrendo-se das figuras históricas, tão ao gosto da ideologia corporativista.
Há um provérbio popular umbundo que diz: “Ndao lia esila ku ka pohgolole. Ci kasi oko, haiko ci kasi oko”, que quer dizer mais ou menos “não devemos esperar escapar às dificuldades, indo para outra aldeia!
Gostava de poder integrar aqui, porque julgo pertinente no enquadramento do que se tem escrito, a obra de Gilberto Freyre, adaptada às circunstâncias de hoje, e a todo este movimento de gente que faz do “aeroporto 4 de Fevereiro”, primeiro local de peregrinação da lusofonia.
Por razões de enquadramento gráfico, e como pode ser um tema servido de forma “requentada”, sem que perca actualidade, a ele havemos de vir mais cedo que tarde!
Fernando Pereira 14/10/09

3 comentários:

Anónimo disse...

Incrivél o Ódio que sente por Portugal e pelo povo Português, arranje outro Hobby até porque os Portugueses foram tanto vitimas do sistema colonial como os Angolanos. E se o facto de tudo ter terminado "apenas" há 35 anos não lhe dá o direito de esquecer o sofrimento pelo qual passou o seu povo, também não lhe dá nenhum direito de ofender outro. Cumprimentos

Fernando Manuel de Almeida Pereira disse...

Creio que deve ter lido mal o que escrevi, porque na realidade eu não ataco os portugueses, mas faço reparos a alguns portugueses...Para que conste em remate final:O colonialismo existiu mesmo!

Paulo Araújo disse...

Prezado Fernando Pereira

Pesquisa sobre a metalurgia do ferro no século XVIII no Brasil. Interesso-me pela história da Fábrica de Ferro em Angola. Sei que Fábrica é objeto de estudo do Arquiteto Fernando Batalha.

Interesso-me sobretudo pelos registros fotográficos digitalizados da referida Fábrica. Outras referências bibliográficas também serão bem-vindas.

Encontrei em seu blog quatro postagens referidas ao arquiteto Fernando e em uma delas falava você a respeito de uma publicação do arquiteto José Manuel Fernandes. Quanto a este último, procurei sem sucesso um endereço de e-mail e sei que o mesmo leciona na Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa.

Também tenho interesse pelos processos tecnológicos de redução do minério desenvolvidos pelos povos que aí viviam antes da chegada dos portugueses. Em meu trabalho procuro investigar se houve no Brasil troca tecnológica entre os processos europeus (ditos biscainhos) e os africanos (ditos cadinhos).

Agradeço imensamente se você puder retornar a minha mensagem com alguma notícia sobre a Fábrica e o sobre ela existe aí em Angola, sejam estudos, plantas, mapas, fotografias etc, bem como sobre os processos de fabricação que lhe falei.

Atenciosamente

Paulo Araújo


pauloaraujo573@yahoo.com.br

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