24 de dezembro de 2008

Quando chegam os reis Magos?



Foi há uns anos na LAC que o meu amigo Orlando Rodrigues, quando confrontado com a pergunta sacramental, sobre o que desejava para os angolanos no Natal, ele terá dito que com os números alarmantes de HIV /SIDA, com a quantidade de desnutridos, com a insegurança, enfim com tudo que eram desgraças era difícil desejar um bom Natal às pessoas.
Óbviamente que o tempo passou, já que isto foi dito num contexto em que já se tinha medo do dia seguinte, em tempos que se dizia que a “Angola de hoje é melhor que a de amanhã e a de depois de amanhã será bem melhor que a de ontem”, mas prevalecem algumas realidades confrangedoras, que me inibem de ser um “natalista” optimista.
Eu não gosto do Natal, melhor não gosto do que comummente é designado pelo “espírito natalício”, um estado de espírito algo esquisito, em que todos sentem que devem fazer uma boa acção, ou um conjunto de boas acções, assim como os seguidores de Baden Powell vão tentando fazer uma vez por dia, como forma de catarse para expiar pecadilhos diversos, feitos durante o ano.
Sinceramente, eu gostava muito mais do “Dia da Família”, dos tempos de um socialismo a caminhar pesadamente para o científico, do que gosto da época do Natal, destes tempos de capitalismo emergentemente pujante e criativamente hipócrita.
Ver uma árvore decorada com enfeites na Assembleia Nacional, é o topo do kitsch que tem sido o quotidiano da Luanda actual, que curiosamente me mereciam comentários do mesmo tipo, que o escritor português António Lobo Antunes fez da sociedade luandense na antecâmara do finar do colonialismo, em livros como “Os cus de Judas”, “ as Naus” ou nas suas cartas de guerra no “D’ este viver aqui neste papel descripto”.
Lembro-me do Natal no Uíge, onde vivi a minha meninice, e recordo-me de ter em casa uma árvore de folhas postiças de plástico, polvilhada de algodão hidrófilo, a tentar ilustrar uma coisa que só muito mais tarde vi, que era a neve, com uma série de penduricalhos a imitarem anjos, camelos e reis magos. Parece que era hábito as coisas postiças, pois nos anos sessenta, uma das coisas que muito dinheiro deu a ganhar a Horácio Roque foram as cabeleiras, com que se passeavam as senhoras da burguesia colonial, nos sítios in da cidade ao tempo, o Clube Naval ou o Clube de Caçadores entre outros lugares badalados.
Podia mesmo continuar aqui a debitar mais um conjunto de argumentos, para mostrar que esta festa de solidariedade tem muito pouco, e que nem a figura do Pai-Natal obeso, com destacada proeminência ventral, contrariando todas as recomendações de nutricionistas e endocrinologistas, consegue transmitir a bonomia generalizada que se pretende da época.
O Pai-Natal, que secundarizou o vetusto “menino Jesus das palhinhas”, foi “usurpado” com grande eficácia para todas as partes envolvidas, a uma globalizada marca de refrigerantes e acabou por fazer entrar o “espírito de Natal” entre judeus, muçulmanos, budistas, agnósticos e por aí fora, ficando apenas para os católicos como S. Nicolau. Um bom negócio para todos!
Como indefectível adepto do FC do Porto e do 1º de Agosto, ouso encerrar um artigo sobre o Natal, com a provocação de que a semelhança entre o Benfica e o Pai Natal é que ambos são vermelhos, aparecem uma vez no ano e só os parvos acreditam neles.
Um Bom Natal a todos que gosto todos os dias!


Fernando Pereira

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