19 de dezembro de 2008
Jean Depara, percurso de um fotógrafo angolano./ Ágora/ Novo Jornal/ Luanda 19-12-08
Bilbao é provavelmente uma cidade que fica fora de quase todos os circuitos de referencia, para gentes com grande dinamismo para o negócio, para o ócio e acima de tudo para fazerem de beócios.
Faz agora um aninho, que aproveitei um périplo pelo País Basco, e tive oportunidade, melhor dizendo, criei a oportunidade, de ir ver a exposição 100% África no museu Guggenheim, essa verdadeira obra prima de Frank Gehry, que transformou a degradada zona, da decrépita industria metalo-mecânica de Bilbau, num espaço apelativa à modernidade e á fruição dos bilbaínos, em torno de um edificio que será uma obra imorredoira.
Durante seis meses, essa museu acolheu uma exposição de trinta e cinco artistas da África subsaariana que mostraram numa colectiva de artes-plásticas e fotografia, argumentos artísticos que os europeus nunca tinham visto em termos de um conjunto tão diversificado.
Neste edifício, onde acaba por ser difícil as pessoas alhearem-se do espaço criado, por muito que o revisitem, todo o 3º piso foi ocupado por esta exposição, que se deveu a Jean Pigozzi, um suíço, herdeiro dos patrões da Simca, com um misto de profissional e de diletante como fotógrafo, riquíssimo, e que desde 1989 com a colaboração do seu conservador André Magnin, tem adquirido em África tudo o que acha que valorize a sua colecção, que é já a maior colecção de arte contemporânea africana com um acervo de milhares de obras diversas.
Nesta exposição de 25 artistas, que a CAACART da Pigozzi Colection e o Guugenheim de Bilbao deram a conhecer, releva-se o facto de entre algumas obras de alguns desconhecidos, ou menos conhecidos, estarem trabalhos de Abu Bakarr Mansaray, (1970), da Serra Leoa, e Pascale Marthine Tayou (1967) dos Camarões e de Pathy Tshindele (1976) de Kinshasa. Notou-se contudo algum desiquilíbrio pois de Moçambique estava apenas Titos Mabota(1963), da África do Sul apenas Esther Mahlangu (1935) e ninguém de Angola.
Se nas artes plásticas não encontrámos nenhum angolano, já na fotografia encontrámos Jean Depara, que nasceu em 1928 em Kboklolo no norte de Angola, e chega a Kinshasa em 1951, cidade onde acidentalmente pega numa Adox e começa a fotografar, tendo deixado de o fazer apenas quando da sua morte em 1997, na cidade onde se casou e viveu desde o dealbar dos anos 50.
Depara nos trabalhos expostos, mostra a noite em Kinshasa e noutras cidades da RDC, onde há fotos notáveis das rumbas, cha-cha-chas, bem como muitos testemunhos de night-clubs, principalmente onde actuava o cantor “zairense” Franco, tendo nessa altura aberto o estúdio Jean Whisky Depara, onde até ao seu encerramento em 1989, a fotografia a preto e branco testemunhou três décadas da noite congolesa.
Paradoxalmente, as suas fotos só começaram a ser expostas na Europa e em África, depois da sua morte, quando Pigozzi comprou todo o seu acervo.
Era bom que em Angola pudessem ver uma exposição de Jean Depara, nem que fosse só com as fotos que vi no Guggenheim, pelo que creio que há-de haver vontade bastante, para que isso possa ser uma realidade em breve.
Para já o que posso dizer é que na Tate Modern em Londres, e até 31/3/09, Seydou Keitha do Mali tem uma exposição de fotos, que mostram um quotidiano interessante, polvilhado de gentes de Bamako.
Confesso que fiquei maravilhado com o que vi, naquela visita à referencia maior de Bilbao, que é uma das cidades europeias mais equilibradas arquitetónicamente dentro de um conceito de cidade de vale e montanha, e onde se tem desenvolvido ao longo de décadas propostas de urbanismo interessantíssimas.
Fernando Pereira
10/12/08
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