24 de outubro de 2008

Um Batalha de cem anos/ Ágora/ Novo Jornal / Luanda 24-10-08






Tem sido recorrente neste espaço, falar-se do património cultural edificado em Angola, ao longo dos séculos.
Do património aparecido, desaparecido, em processo de desaparecimento ou em fase de recuperação, há um nome que é transversal, que é o do arquitecto Fernando Batalha, com cem anos vividos.
Várias vezes, a sua obra tem sido aqui revelada e relevada, já que insisto na necessidade de se tentar manter, com um mínimo de dignidade, algumas edificações que são referencias de um passado da história de Angola.
Há pouco mais de quatro meses, surgiu nas livrarias o livro “Povoações Históricas de Angola”, de Fernando Batalha, editado pela Horizonte. Já em tempos se falou deste livro, a propósito da Igreja de Nossa Senhora da Muxima, ou Nossa Senhora do Coração, corruptela local de Nossa Senhora da Conceição, nome original do templo existente, edificado em 1599.
Este livro é um documento muito interessante, de uma viagem nas margens do Kwanza, e o regresso à história setecentista e oitocentista de um rio, marcante para as populações ribeirinhas e também no enquadramento económico do território.
Para além desse percurso entre a foz e as portas do Kwanza, onde hoje se localiza a barragem de Cambambe, há um trabalho fotográfico interessantíssimo sobre a primeira Igreja de Angola, construída pelos Jesuítas em 1548, e elevada à categoria de Sé pelo Papa em 1596, na localidade de Mbanza Kongo.
Não deixa de ser interessante nesta obra, o detalhe com que o arquitecto Batalha vai mostrando todas as iniciativas levadas a cabo na descoberta, requalificação, preservação e tentativas de protecção legislativa sobre todos os monumentos, ou conjuntos de património edificado, nestas “Povoações históricas de Angola”.
Mbanza Kongo, Massangano, Muxima, Cambambe, Nova Oeiras e a Vila do Dondo tem neste livro um tratamento muito peculiar, embora pontualmente, o léxico é algo desfasado, com as mutações históricas e políticas que Angola viveu nas últimas décadas, não retirando, nem desvalorizando o emérito trabalho de Fernando Batalha.
Acho que este livro é de tomo para quem se interessa pela arquitectura militar e também pelo contexto económico e social de períodos de Angola entre os meados dos séculos XVII a XIX. Acho que este livro e os três volumes da “História Geral das Guerras Angolanas” de António de Oliveira Cadornega, complementam-se e podem proporcionar, uma visão lúcida de um período pouco conhecido da história angolana, e daí permeável a muita estultice, que tem sido dita e escrita por gente, a quem se obrigou e obriga a outra honestidade intelectual.
Voltarei inevitavelmente a citar este livro, quando tiver oportunidade de me debruçar com mais detalhe na vila do Dondo e na Real Fundição de Nova Oeiras, dois lugares marcantes da “revolução” pombalina em Angola.
Dondo, a “Manaus de Angola”, por ter sido o grande entreposto do comércio da borracha, viu todo o seu esplendor de um século desaparecer, com a construção do Caminho-de-ferro de Ambaca. Manteve contudo uma traça muito característica, que pode-se dizer que será provavelmente, o ultimo exemplo edificado de uma arquitectura, e de uma estrutura de lógica urbanístico marcadamente colonial no País.
Voltando ao livro, exijam-se lê-lo.

Fernando Pereira 21/10/08

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