9 de maio de 2008

Dar Asas à Memória IV/ Ágora/ Novo Jornal/ 9 de Maio 2008






Dar Asas à memória (IV)

É claro que no meio destes hotéis dos anos 50, ainda temos o “eterno” Hotel Globo, que convenhamos é um nome muito esquisito, e se bem me lembro do logótipo é a tromba de um elefante a pegar num globo, numa imitação afro-colonial do “Grande Ditador “ do Charlie Chaplin. O “Hotel Europa”, um nome muito adaptado à realidade(???), e que fica em frente ao Hotel Continental, e que era o hotel preferido das primeiras núpcias dos colonos que casavam por correspondência, e recebiam cada encomenda que alguém com comenda se queria livrar na “santa terrinha”; O bar no andar de baixo era o “arame farpado afiadíssimo” de tudo o que se passava na recepção, e convenhamos que as conversas não deviam ser sobre estética de poesia.
Havia ainda o Hotel Paris, que de hotel talvez tivesse apenas o nome e uma casa de banho privativa para o primeiro hóspede de dez quartos que a ocupasse, e que curiosamente é quase paredes meias com o Hotel Central, que rivalizava em qualidade. O Hotel Luso, que era uma casa cor de rosa engraçada , ali perto do Largo das Ingombotas, o Hotel Magestic, que era ali para os lados de S. Paulo e tinha muitas “limusines”de 15 toneladas à porta desde Pegasos, Bedfords, MANs,Fargos, Volvos, Mercedes, enfim muita “traseira” com encerado, e que tinha uma cervejaria anexa que era um local de grandes disputas de encanadores de “canhangulos”, uma medida de cerveja só disponível para os futuros “companheiros da cirrose”
Timidamente e com alguma “decência” lá foi aparecendo o Turismo e depois o Continental, mas isso já foi mais nos sessentas.
Este artigo é engraçado, começou com o aterrar no “Aeródromo Emílio de Carvalho” e no levantar no projecto do Keil do Amaral e do Simões de Carvalho do que foi o “Aeroporto Craveiro Lopes”, com um painel notável do Neves de Sousa no seu interior, e que é hoje o “Aeroporto 4 de Fevereiro”, com outro movimento, com outras gentes, com outros aviões, com outros pensares, mas às vezes com as mesmas ambições, o que é preocupante.
Como digo no início desta série de artigos, eu não conheci muitas destas coisas que falo com vida, mas ouvi e fui apreendendo. Quando passo nos locais, olho para as que ainda vão subsistindo, e lembro-me do que me foi contado sobre uma cidade, e vem-me à memória a saudade de um determinado futuro, que não passasse por deitar abaixo estruturas que foram poiso de outros ócios e outros negócios, mas que ainda fazem a alma da cidade a alguns.

Fernando Pereira 8/04/08

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