4 de abril de 2008
SENHOR PATRIMÓNIO HISTÓRICO!/Ágora/Novo Jornal/4/0408
Aos 90 anos, o arquitecto Fernando Batalha revela uma lucidez inaudita, e continua a trabalhar de forma empenhadíssima num dos seus sete últimos trabalhos que tem preparados para serem editados.
Este homem viveu em Angola entre 1938 e 1983 (curiosa capicua), e continua a vivê-la em Portugal, sozinho, num quarto andar sem elevador, no meio de mapas, projectos, fotos, livros e milhares de documentos em páginas amarelecidas e na expectativa de ainda ver publicada o seu livro, “ As Povoações Históricas de Angola”, conforme confidenciou a Leonor Figueiredo do DN, em meados do pretérito ano.
O seu percurso confunde-se com quase todos os passados que deixaram património edificado em Angola, como pode ser atestado por inúmeros edifícios por todo o País. Para conseguir ser sintético q.b., cito a título de exemplo os projectos do Grande Hotel da Huíla, a Sé do Lubango, a reconstituição do palácio do governo, do “Grande Hotel de Angola”, o cinema Monumental em Benguela, o palácio do comércio no Lobito, o mercado municipal no Huambo, a escola da missão de São Paulo em Luanda e a administração do concelho do Uíge.
Foi um dos fundadores do ICOMOS (Angola), estrutura da UNESCO para a preservação dos monumentos e sítios, e foi um dos responsáveis pela recuperação da estrutura da antiga fábrica de metalurgia de “Nova Oeiras”, perto de Cassoalala, e que é o único exemplar de arqueologia industrial de Angola. Esta edificação foi uma pequena unidade de transformação de ferro, que surge em Angola, na esteira das estruturas industrias criadas por Marquês de Pombal no Brasil no fim do século XVIII.
Conseguiu que Massangano não fosse vítima das pilhagens dos comerciantes locais, que utilizavam para a construção das suas casas, as pedras aparelhadas dos edifícios da vila velha entretanto abandonada, promovendo algumas reedificações ainda visíveis, apesar do acentuado abandono que se tem verificado. A parte baixa do Dondo (a Manaus angolana, como alguém já se atreveu a chamar), símbolo de um florescente comércio da borracha, principalmente no século XIX, Cambambe, Muxima, forte de S. Fernando no Namibe, Igreja de Nossa Senhora do Pópulo em Benguela, alguns fortes de penetração em vários locais do País, alguns já desaparecidos pela erosão do tempo, foram alguns dos muitos trabalhos deste “Senhor Património Histórico”.
Em Luanda a ele se deve a existência de alguns edifícios, embora muitíssimo degradados. O edifício onde se encontra o Museu de Antropologia, foi recuperado pela então Diamang, com a colaboração do arquitecto Batalha, e é hoje um dos excelentes exemplares de uma casa senhorial colonial dos séculos XVIII e XIX, que merece ser olhado no meio de tanta insalubridade visual em altura e superfície na vizinhança.
O trabalho feito em torno destes edifícios e monumentos estão bem ilustrados e explicados no livro editado pela Vega, Angola/ Arquitectura e História, uma obra de grande honestidade e reveladora de enorme talento e sensibilidade para com legados que importa preservar.
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