21 de novembro de 2007

Contos Velhos, Rumos Novos





Publicado por mim no blog "Noite Vertical" do meu amigo Ged





Nestas coisas de andarmos com tralhas às costas, vão-se perdendo muitas coisas, menos as lembranças, ou como se diz em Angola, a "lembradura".


Acontece que aqui há muitos anos, em 1981 eu fui ao Kuito, na missão de reunir com os clubes e associações desportivas, para a construção do primeiro documento legislativo sobre a carta desportiva de Angola, e a lei das associações desportivas, entrei numa loja que era a mais "compostinha" do conjunto de lojas de um prédio, que era o orgulho dos habitantes do Silva Porto colonial, e que passou a ser o emblema mais marcante da ferocidade da guerra desencadeada pela UNITA em 1992. Essa loja era "compostinha" porque efectivamente não vendia nada que pudesse ser utilizado pela população local; De facto esta loja pertencia à CDA (Companhia de Discos de Angola), uma fábrica de discos que existia em Silva Porto, e que salvo erro pertencia à Valentim de Carvalho. Entrei, e fiquei maravilhado com o que por ali vi, o que comprei, e o que tive pena de não ter dinheiro para comprar. Convirá esclarecer que na Angola daquele tempo, se não andássemos com dinheiro atrás de nós, não podíamos comprar nada, e nem o vulgar cheque era possível trocar (Em muitas dependencias do BPA nem o cheque visado em Luanda era aceite).


Foi uma das lojas mais fascinantes que vi em Angola depois da independencia, e aí para além dos Kiezos,Carlos Lamartine,Rui Mingas,Jorge Manuel, Elias, conseguia ter verdadeiras preciosidades, que só me apetecia comprar essa loja, que em tempos se chamou Auto-Reparadora do Bié. Entre vários discos avultavam discos do tipo Luis Aguillé do "Quando Sali de Cuba", o Gabriel Cardoso e a sua "Ericeira",o "Adeus Guiné", o "Kanimambo" do Tudela, para já nem recuar um pouco mais, senão chegaria às nusicas preferidas por um topógrafo, que à frente de uma enorme manifestação, desafiou o governo português para pagar as compensações da descolonização (eheheh). Posso mesmo dizer que comprei lá um disco do meu querido e saudoso amigo, companheiro de tantas noites, o Mário Simões, que nunca vi vender em lado algum.


Podia continuar a falar dessa loja, e dos discos que por lá havia, mas o que aconteceu foi que encontrei um disco de José Afonso "Traz outro amigo também", e perguntei ao Laurindo (ex-jogador do Belenenses e Futebol Clube do Porto), que era na altura o delegado da Secretaria de Estado de Educação Física e Desportos, se sabia quem acompanhava o Zeca à viola? Ele dessabia, assim como todos os outros que por ali estavam a aguardar o início da reunião, inclusive o comissário municipal do Chinguar, terra donde o Carlos Correia, vulgarmente conhecido pelo Bóris (pela sua semelhança com Bóris Karloff, segundo Orlando Ferreira Rodrigues, que se assume como seu padrinho de alcunha) era natural.


O Bóris, andou pelo conjunto do Orfeon Académico de Coimbra, depois numa efémera passagem pelos Álamos e depois pelo conjunto académico Hi-Fi. O Bóris teve como companheiro até 1970, o viola-rimo, Luis Filipe Colaço, um homem de Luanda, que foi durante muitos anos director do Instituto Nacional de Estatística em Angola. O Bóris e Luis Filipe Colaço, foram os violas do José Afonso no disco já mencionado , como tinham sido nos "Contos Velhos, Rumos Novas". Para além disso o Colaço ainda participou nos arranjos do disco de Adriano Correia de Oliveira, o "Canto e as Armas", uma verdadeira pedrada no charco na musica portuguesa, pois o bom do Adriano resolveu dar a voz a um livro proibido pela censura, de um Alegre que clamava por liberdade directamente de Argel, nos negros anos do fascismo em Portugal e colónias.


Resolvi trazer aqui este episódio do Kuito, para poder falar-vos de dois angolanos, profissionais enormes em áreas que nada tem a ver com a musica, mas que fazem parte de um movimento importante da musica de intervenção, e simultaneamente participantes em conjuntos que marcaram o rock português na sua fase pré-histórica.


"Álamos" surgem em 1963, quando José Cid (o próprio, o das "favas com chouriço") decide largar o conjunto do Orfeon Académico para fundar os Babies. Da primeira fase, fazem parte o Daniel Proença de Carvalho (guitarra), o Rui Ressureição (piano) e o Luis Filipe Colaço (guitarra).Em 1968, os Álamos com a saída do Proença de Carvalho (o tal advogado de ca$$os difíceis), à formação anterior junta-se o Carlos Correia (Bóris), o José António Pereira (bateria),José Luis Veloso (guitarra-baixo) e António José Albuquerque (órgão). Quando em 1970 se dá a fuga de Portugal de Luis Filipe Colaço, os Álamos acabam e dão origem com o Bóris e o Ressureição ao Conjunto Universitário Hi-Fi, com a voz feminina da Ana Maria.


Espero ter-vos feito recordar, aos que sabiam deste episódio do muito que se fez por angolanos na Coimbra dos anos 60, e aos que desconheciam que comecem a procurar o "Stop that game", que é o album de referencia dos Álamos.

8 de junho de 2007

Se não houvesse pobres como se distinguiam os ricos?





Amália Rodrigues : Uma casa portuguesa!








Numa casa portuguesa fica bem
pão e vinho sobre a mesa.
Quando à porta humildemente bate alguém,
senta-se à mesa co'a gente.
Fica bem essa fraqueza, fica bem,
que o povo nunca a desmente.
A alegria da pobreza
está nesta grande riqueza
de dar, e ficar contente.

Quatro paredes caiadas,
um cheirinho á alecrim,
um cacho de uvas doiradas,
duas rosas num jardim,
um São José de azulejo
sob um sol de primavera,
uma promessa de beijos
dois braços à minha espera...
É uma casa portuguesa, com certeza!
É, com certeza, uma casa portuguesa!

No conforto pobrezinho do meu lar,
há fartura de carinho.
A cortina da janela e o luar,
mais o sol que gosta dela...
Basta pouco, poucochinho p'ra alegrar
uma existéncia singela...
É só amor, pão e vinho
e um caldo verde, verdinho
a fumegar na tijela.

Quatro paredes caiadas,
um cheirinho á alecrim,
um cacho de uvas doiradas,
duas rosas num jardim,
um São José de azulejo
sob um sol de primavera,
uma promessa de beijos
dois braços à minha espera...
É uma casa portuguesa, com certeza!
É, com certeza, uma casa portuguesa!

Havia uma canção portuguesa que enaltecia a pobreza!





Pobrete e nada alegrete!





9 de maio de 2007

Este texto não é meu...É da Isabela (clique em cima )


As beatas da minha rua




Ouço sem querer as conversas das beatas que passam por mim a caminho da missa das onze, sozinhas ou em grupo, ruminando, enojando-se das cadelas, tendo muito medo que lhes esfacelem a cara e uma orelha; "os cães que se caguem" ou "merda para os cães" dizem, comentam com as outras, muito indignadas, todas enfarpeladas com fato de saia e casaco, e sapato de bico; e continuam devassando a vida da Almerinda, que é uma porca, e a da Angelina, por quem fizeram tudo e nada receberam, e o Eduardo, que não larga o vício, e os filhos já vão pelo mesmo caminho; os costumes das próprias famílias, uma chusma de mal agradecidos. Tudo está mal, tudo é mau e sujo e vicioso excepto o senhor padre, tão lavadinho, e o corpo de Cristo que se regalam de receber no seu.
Dou comigo a pensar que Deus Nosso Senhor havia de preferir que as beatas não frequentassem à missa, e que fossem umas reais porcas, umas incorrigíveis ingratas, umas viciadas e viciosas sem remissão, enfim, umas perdidas, como aquelas em cuja casaca vão tesourando a caminho da missa. Deus haveria de preferir que fossem cadelas como as minhas, que tanto as enojam. Se fossem cadelas, Deus abençoá-las-ia mesmo sem oração, por não haver nelas mancha de pecado. Haviam de roubar uns ossos do caixote do lixo, mijar no tapete de vez em quando, havia de ser uma luta para as meter na banheira, tirando isso, umas santas!
Mas o pior seria o senhor padre, que não aceitaria abençoar cães, nem pregar para eles nem dar-lhes a comunhão, por não estar habituado a pastorear rebanho tão puro. Contudo, se o senhor padre pregasse para os cães, oh, haveria de pregar muito mais certo!


Publicada por Isabela

8 de maio de 2007

Entre em Sena quem é de Jorge de Sena




A talhe de foice...
Jorge de Sena observou um dia: "O nosso mal, entre nós, não é sabermos pouco; é estarmos todos convencidos de que sabemos muito. Não é sermos pouco inteligentes; é andarmos convencidos que o somos muito".



Engenheiro civil e escritor de fim-de-semana, primeiro, depois no exílio voluntário, professor na área das humanidades e escritor a tempo inteiro. Como tantos outros, recusou viver numa sacristia de 92.391 Km2. Abdicou de viver numa pátria povoada de sombrios contentinhos suficientemente «reaccionários» e suficientemente «dos nossos». Partiu com apoquentação de não poder pensar e dizer livremente. Leccionou, escreveu muito, imenso e fabulosamente. Viveu nos Estados Unidos até ao epilogo de 1978.
Homem atento, conheceu e pensou maduramente os americanos. A talhe de foice roubo-lhe um poema lucidamente recidivo.

Ray Charles

Cego e negro, quem mais americano?
Com drogas, mulheres e pederastas,
a esposa e os filhos, rouco e gutural,
canta em grasnidos suaves pelo mundo
a doce escravidão do dólar e da vida.

Na voz, há sangue de presidentes assassinados,
as bofetadas e o chicote, os desembarques
de «marines» na China ou no Caribe, a Aliança
para o Progresso da Coreia e do Viet-Nam,
e o plasma sanguíneo com etiquetas de blak e white
por causa das confusões.
E há as Filhas da Liberdade, todas virgens e córneas,
de lunetas. E o assalto ao México e às Filipinas,
e a mística do povo eleito por Jeová e por Calvino
para instituir o Fundo Monetário dos brancos e dos louros,
a cadeira eléctrica, e a câmara de gás. Será que ele sabe?

Os corais melosos e castrados titirilam contracantos
ao canto que ele canta em sábias agonias
aprendidas pelos avós ao peso do algodão.
É cego como todos os que cegaram nas notícias da United Press,
nos programas de televisão, nos filmes de Holywood,
nos discursos dos políticos cheirando a Aqua Velva e a petróleo,
nos relatórios das comissões parlamentares de inquérito,
e da CIA, do FBI, ou da polícia de Dallas.
E é negro por fora como isso por dentro.

Cego e negro, uivando ricamente
(enquanto as cidades ardem e os «snipers» crepitam»
sob a chuva de dólares e drogas
as dores da vida ao som da bateria,
quem mais americano?

Jorge de Sena
1964

Portugal foi governado pela demência durante quase quarenta anos...Um rato de sacristia,com uma governanta e com galinheiro no quintal, marcou a mentalidade de gerações,que de certa forma se perpetuam no tempo...Em Angola e em Portugal temos os resquícios mentais e materiais do que foi a insanidade de tanta letargia e água benta na resolução dos problemas políticos...Num século, quarenta anos de governo intolerante, num que já era atrasado em relação à Europa, deixou marcas profundas na sociedade e nas pessoas...Ainda hoje o recurso ao padre para inaugurar o que quer que seja em estados laicos, surpreende...é essa uma herança a todos os títulos má...Mas isso sucede em Portugal e em Angola...Vou dar um pequeno exemplo!!
Em 2000 inaugurou-se em Benguela a clínica de S. Filipe,a 1ª unidade privada da província, construída de raiz,bem equipada, etc.,etc. Eu era um dos proprietários e um dos animadores do projecto, e aquando da inauguração os meus sócios quase que me "exigiram" que o bispo fosse a figura quase central da inauguração...
Eu barafustei, mas fui vencido na discussão, e no dia da inauguração lá veio o bispo de Benguela e o acólito fazer as suas récitas e a aspergir o báculo sobre todas as divisões da clínica...eu só recomendei que ele deitasse a água benta ... (impublicável)
Como se vê esta velha prática fica perpetuada no tempo..e mantemos a política da ratice de sacristia nas práticas...em Estados laicos e de tolerância religiosa
Fernando Pereira

Ainda diziam que o tipo não gostava de mulheres! Coitadas delas!





Poesia satírica de Fernando Pessoa
sobre Salazar

António de Oliveira Salazar
Três nomes em sequência regular...
António é António.
Oliveira é uma árvore.
Salazar é só apelido.
Até aí está bem.
O que não faz sentido
É o sentido que tudo isto tem.

.......................

Este senhor Salazar
É feito de sal e azar.
Se um dia chove,
A água dissolve
O sal,
E sob o céu
Fica só azar, é natural.
Oh, c'os diabos!
Parece que já choveu...

........................

Coitadinho
Do tiraninho!
Não bebe vinho.
Nem sequer sozinho...

Bebe a verdade
E a liberdade.
E com tal agrado
Que já começam
A escassear no mercado.

Coitadinho
Do tiraninho!
O meu vizinho
Está na Guiné
E o meu padrinho
No Limoeiro
Aqui ao pé.
Mas ninguém sabe porquê.

Mas enfim é
Certo e certeiro
Que isto consola
E nos dá fé.
Que o coitadinho
Do tiraninho
Não bebe vinho,
Nem até
Café.

1935

Atrás de tempos vem tempos e outros tempos hão-de vir!



Recordo hoje, aqui e agora os tempos em que a então jovem Republica Popular de Angola não tinha em Portugal uma embaixada, fruto das "mixordices" de Soares e apaniguados, muito dedicados aos valores democráticos da musculada democracia da Jamba.
Nesses tempos um punhado de gente, ia mantendo a trabalhar um "Comité Coordenador do MPLA para a Europa", ali num andarzinho na Luciano Cordeiro, por cima do "Clube das Donas de Casa" e do famigerado "Elefante Branco"...e ironicamente em frente ao jornal "O Retornado". Foi aí que ainda conseguimos recolher algumas coisas subtraídas à CODECO (uma bosta que queria dizer: Comités de Defesa da Civilização Ocidental)destruiu num acto vil, as instalações da Casa de Angola, e que fez explodir uma bomba na Embaixada de Cuba (ao tempo num prédio na Fontes Pereira de Melo), onde morreram dois diplomatas, e que nunca foram julgados por ninguém.
Desse grupo de gente do "Comité Coordenador do MPLA para a Europa", recordo com saudade o Dr. Arménio Ferreira, o Adriano Correia de Oliveira, o Pitra, a Lili, o Pombeiro (que ainda vou vendo pela TAAG), o Artur Queiroz, o Mário e tantos outros que fomos resistindo quanto se podia à sanha revanchista dos colonialistas que iam pululando nas imediações.
Aqui fica este testemunho, com um conjunto de autocolantes que foram desse tempo em que a palavra Luta, Militância e Solidariedade tinham um valor enormérrimamente elevado e compartilhado
Fernando Pereira

25 de abril de 2007

Sempre Abril


...e hoje apetece-me dar-te a mão de novo companheira R...Abril somos todos...E ainda bem que o somos sempre!!!

Em 25 de Abril de 1974, Portugal reencontrou-se com os seus valores de liberdade, de esperança, de futuro...A esses homens que interpretando fielmente a vontade de um povo dorido responderam PRESENTE... Minha queria R, é tão bonito rever o rosto juvenil de um saudoso Salgueiro Maia, é tão bonito revermos-nos nas ruas apinhadas de gente numa Lisboa feliz com lágrimas de contentamento, é tão...Tanta coisa que nunca mais esqueceremos como um dos dias mais importantes da nossa vida colectiva. Ver os cravos vermelhos no cinzentismo de uma Lisboa que virava as costas para um rio que ia dar a um mar onde tão poucos fizeram tanto mal a tanta gente...Hoje já nada disso interessa, porque sentimos a nossa auto-estima a crescer nos floridos canos das armas que encheram Lisboa numa manhã cinzenta, mas que se tornou na tarde mais gostosa de todas as tardes da nossa vida. Sentimos aqui que era o fim de qualquer coisa mau e o princípio do fim porque tanto lutámos...A Independência do nosso País. Em Angola Abril fez-se em 11 de Novembro de 1975, e a nossa rubra e preta bandeira com a dentada, a catana e a estrelinha subiram ao mastro, com a guarda de honra merecida, pelos sobreviventes do 4 de Fevereiro de 1961. Aquele largo de Luanda, chegou a todo o mundo, e quando se hasteou uma bandeira, foi o subir um grito de liberdade e de dignidade para um povo que há muito o desejava, porque lutou por ela, e porque sentiu a sua liberdade...As naus de outrora deixaram-nos o tecido para a bandeira e a língua com que nos entendemos, mas também essas naus levaram muito da tralha que nunca mais desejaríamos e desejamos ter.

30 e tantos anos de Abril, olho para ti , minha querida R, e continuas linda como naquela manhã em que nos abraçámos numa qualquer praça de Lisboa libertada...A tua boca continua como duas pétalas de cravo vermelho, e o teu sorriso continua a ser o mesmo...a Liberdade...Nunca deixarás de ser bonita, porque nunca deixaremos que te toquem...Porque Abril somos mais que tu e eu, Abril somos milhões e nunca ninguem parou o que milhões quiseram...Deixa-me abraçar-te R...no Abril que temos dentro de nós...eternamente Abril, eternamente nós...

Fernando Pereira

24 de abril de 2007

25 de Abril de 1974


25 DE ABRIL
Esta é a madrugada que eu esperava

O dia inicial inteiro e limpo

Onde emergimos da noite e do silêncio

E livres habitamos a substância do tempo

Sophia de Mello Breyner Andresen


Minha querida amiga R.

Lembras-te quando chegámos de Luanda,naquele Outono frio de 197...??? Lembras-te concerteza, meu amor...O cinzento das casas, das pessoas, dos polícias, dos governantes,de tudo....Portugal era pintado de cinzento....O nosso pequeno quarto, num 3º andar de um prédio com uma entrada lugrube,onde uma enfezada passava dias inteiros a apanhar malhas de meias de nylon??Lembras-te das nossas primeiras aulas e o que por lá acontecia??Lembras-te da primeira carga policial que apanhámos, só porque resolvemos ir ver onde é que outros colegas nossos iam manifestar-se, sem percebermos bem o quê??Lembras-te dos comunicados que começámos a distribuir ??Lembras-te da eternização das noites de discussão que tínhamos em casa de L....???E a aflição que foi quando a Pide foi a casa de L.... naquela manhã cinzenta e triste???Os dias de angustia que se seguiram, com aqueles dois sempre junto aquela cabine telefónica amarela da esquina da praça, com uma gabardina e um chapéu enterrados, sem que nunca lhe conseguíssemos ver a cara???Lembras-te de A...vir ter connosco certa noite e dizer que eu teria de bazar, pois L...falou e não havia hipótese...Ainda por cima comigo era pior, porque era das colónias...Lembras-te??? Apartir dessa noite lembro-me eu...Fui para os lados de O...numa casa relativamente distante da aldeia, onde a comida era coisa que só se via de tempos a tempos, e chegar à janela era do pior...No rádio da sala íamos ouvindo coisas ...mas por cá tudo na mesma...Recebi e ainda guardo a tua carta, e não hesito em colocá-la, pq ainda a guardo...."Às vezes, apetece-me estar a conversar contigo ao pé da lareira (que bonita é a luz que dá aos nossos rostos), com tu gostas.Às vezes, tenho vontade de estar contigo na praia, em Luanda, como eu gosto.Às vezes podia ser na ribeira do teu jardim, onde tu gostas, mas também ao fim do dia olhando o nosso mar de Angola, porque é especial.Podia dar-te a mao e até encostar a cabeça no teu ombro. Teria vontade de te abraçar com forca e dizer-te ao ouvido... que gosto bue de ti.Mas, e depois?"....de facto....Tanto chorei quando a recebi...e compreendi que de facto....nada...a resignação....Numa qualquer madrugada de Abril,que não foi bem qualquer, foi o princípio de tudo...Abril, 25/1974...Lembro-me bem querida R., peguei na carta que me tinhas enviado amargurada e eis-me a caminho de uma Lisboa, que vi diferente, vi pela primeira vez, Lisboa diferentemente bonita, gente linda, alegria,e o frenetismo de uma liberdade que tanto ousámos e que afinal estava ali.Lembras-te como nos beijámos nesse dia....Lembras-te como vagueamos numa Lisboa que era enfim nossa, e que sentimos que pele de galinha por todos nós de termos medo de tanta euforia....Mas não esta liberdade tínhamos que a gozar , querida R, podia ser efémera e não podíamos perder um minuto que fosse que não a desfrutássemos...Pela primeira vez sentimos liberdade, e pela primeira vez olhamo-nos nos olhos e sentimos que a nossa Angola, a Angola independente estava perto.Querida R...o tempo e as circunstancias da vida separaram-nos, mas ambos vimos subir a nossa bandeira bi-color com a roda dentada,catana e estrelinha no Novembro do nosso mui grande contentamento. Escrevo-te 30 e alguns anos depois...depois de muita coisa, para te agradecer o que passámos nesses anos de lutas, alegrias, angustias, incertezas e tanto ou quase muito oportunismo....Mas não interessa, quero pegar na carta já amarelecida pelo tempo, e fazer tudo aquilo que desejávamos fazer nos anos da ditadura e do ostracismo...O 25 de Abril não foi nosso, mas tb foi nosso e por isso querida R...hoje sinto-te como ontem a desfilar por Lisboa de mãos dadas a cantar e a ebriar-nos por aquela contagiante amálgama de gente que sentia a diferença da linda palavra....LIBERDADE....Querida R, lembras-te quando os dois declamávamos Eluard, façamo-lo sempre onde quer que estejamos...porque de facto Estamos juntos...sempre e por perto!!!!Fernando

Só o vinho do Porto nos dá estas alegrias!

COLOQUEMOS A GARRAFA DE VINHO NO MUSEU EM SANTA COMBA DÃO COM UM AGRADECIMENTO DE UM PAÍS INTEIRO E COLÓNIAS!
Salazar não caiu da cadeira.
Conta o seu barbeiro- única testemunha do sucedido -que Salazar tinha por hábito pegar nos jornais e sentar-se. Naquele dia a cadeira não estava no sítio e Salazar deu com a cabeça no chão.Ajudado a levantar-se pelo barbeiro, logo proibiu o barbeiro de contar o que vira. Este, porém, não resistiu e contou à governanta D. Maria o que acontecera, tendo esta um ataque de fúria, destruiu a cadeira de lona e deitou os restos ao mar. Tudo se manteve em silêncio até que o médico pessoal o foi ver, numa visita de rotina, 20 dias após o acidente, e constatou o hematoma depois de alertado pela D. Maria. Quatro dias depois, como o Hematoma piorasse, o médico pessoal pediu conselho ao neuro-cirurgião, Dr. Vasconcelos, que foi de opinião que o paciente deveria ser imediatamente operado.A operação correu bem, no entanto, D. Maria que dava a comida ao enfermo, lembrou-se de lhe dar uns cálices de Vinho do Porto para ele arrebitar. Poucos dias depois Salazar teve o AVC...
"Máscaras de Salazar", de Fernando Dacosta, Casa das Letras, 14ª edição.


Para quem andava distraído, antes do 25 de Abril, lembro as "sábias palavras" do então mais alto magistrado da Nação...Américo Tomás, vulgo, cabeça de Tarro...Era só para lembrar que nessa altura ele era o Chefe de Estado do Minho a Timor....
"Memórias de Tomás" (I)"Eu por mim próprio, não me decidi a escrever as «Minhas Memórias». Decidiram-me. É que, estando quase toda a gente, ex-chefes de gabinete, ex-subsecretários de Estado, ex-secretários de Estado, ex-ministros, ex-chefes de Governo, escrevendo as suas memórias, a minha família começou a insistir comigo para que escrevesse as minhas «Memórias», na medida em que, disseram-me, mal me ficaria não escrever, também eu próprio, as minhas «Memórias».
Habituado a falar e não a escrever, contando, segundo as minhas contas, nove mil trezentos e sessenta e quatro alocuções por sobre o território nacional, isto é, continente, ilhas adjacentes e províncias ultramarinas, não minto!, nove mil trezentos e sessenta e cinco alocuções por sobre o território nacional e internacional, ligadas ao meu cargo de Presidente da República, - eu nunca me afoitei a usar a caneta, coisa que disse repetidamente a minha família.
Não tive sucesso, como é obvio, dado que me compraram uma caneta e ma deixaram fechada na mão.Foi então que, pegando na caneta, carreguei no botão do gravador e comecei: "Senhor bispo da diocese, senhor ministro das Obras Públicas, senhor governador civil, senhor presidente da câmara municipal, senhor presidente da junta de freguesia, minhas senhoras e meus senhores" [in, revista Opção, Ano II, nº 30]"É esta, portanto, a ultima cerimónia que se passa na cidade da Guarda e eu não quero deixar passar esta oportunidade sem agradecer ao bom povo desta terra o seu entusiasmo, o carinho com que recebeu o Chefe do Estado. A chuva não teve qualquer influência no entusiasmo das populações. Elas vivem numa terra de granito, e a chuva não as apoquenta (...) A Guarda é um distrito de bons portugueses, de portugueses de uma só face, portugueses, portanto, sempre prontos a defender a terra que os viu nascer. E a Guarda tem uma particularidade: é a cidade mais alta da Metrópole" [ididem, discurso na Guarda, in Século]"... É uma terra [Gouveia] bem interessante, porque estando numa cova, está a mais de 700 metros de altitude. Pois o que desejo, sr. Presidente, para poder pagar, de qualquer forma a dívida que contraí, é que esta gente tenha um futuro feliz, abençoado por Deus. Que assim seja, para contentamento vosso e para contentamento meu... " [ibidem, em Gouveia, segundo O Século, 1/6/1964]

Oxalá seja sempre Abril!


Para não desvirtuar alguns fios,e depois de ler o que algumas pessoas aqui tem escrito sobre o 25 de Abril, resolvi criar este fio, de forma a que se possa debater com alguma serenidade uma data importantíssima na história contemporânea de Portugal, e determinante para uma alteração do mapa geo-político do mundo.As revoluções não surgem por decreto.O 25 de Abril de 1974 é o corolário lógico do fim das indecisões que o fascismo de Salazar e sem Salazar tinham alimentado de forma doentia e sem qualquer tipo de solução.O 25 de Abril é o corolário lógico, da fraude eleitoral de 1958, do Santa Maria, do 4 de Fevereiro,da queda de Goa, Damão e Diu, da Abrilada de 1961,do início e recrudescimento da luta armada em três palcos de guerra, e por aí fora.No plano interno é a luta pelo horário de trabalho por parte dos trabalhadores rurais, horário de 8h, são as greves nas fábricas e empresas por melhores direitos, são as greves académicas de 1962 e 1969, é a crescente fuga de gente para a Europa e o isolamento crescente de Portugal na cena política mundial.O 25 de Abril de 1974 é uma data que devolve aos cidadãos portugueses e aos povos sob dominação colonial uma nova identidade e uma nova dignidade.Não foi feito por aventureiros, como aqui já se insinuou, mas sim por aqueles que esperaram e desesperaram por uma solução tardia para os problemas que se arrastavam para um pântano de consequências perversas.Hoje quase trinta anos, podemos dizer que valeu a pena, e que podemos dar aos nossos filhos em Portugal ou no resto dos novos países de expressão portuguesa,um mundo melhor, de liberdade, de participação cívica e de perspectivas de futuro assente na melhoria da qualidade de vida de todos os cidadãos.Podemos dar as voltas que quisermos, pessoalizar as razões para se afirmar o contrário, mas de facto foram esses muitos homens fardados, que imediatamente tiveram uma adesão popular extraordinária, a quem se devem liberdades fundamentais, sem as quais não conseguimos respirar.

Como em todas as revoluções ou processos políticos, há avanços e recuos,há situações mais obscuras e menos, há aproveitamentos dos oportunismos que capeiam em qualquer sistema político, mas temos de ter em conta que Abril valeu a pena...Por Tudo.....!!
Fernando Pereira

22 de abril de 2007

Procissão que não vai ao adro...


Em primeiro lugar não digo que sou isento...aliás ninguém o é em circunstancia alguma, ou melhor são-o quando não tem conhecimento absolutamente algum de qualquer assunto, e nem sequer se interessa por ele.Eu sou crítico da gestão de João Paulo II...Mas sou um crítico circunstancial, pois em termos históricos não posso ter nada documental e factual que me permita analisar com objectividade a sua acção, nem tão pouco posso saber se de facto algo que ele faça será relevante na história da igreja e na sociedade ao longo destes dois milénios!!
Não defendo o islamismo,como não defendo nenhuma outra religião, embora eu possa afirmar do que conheço, e admito que não é muito, que em certos aspectos a prática do islamismo é menos hipócrita que a prática da igreja, nomeadamente no que concerne aos seus rituais. Por exemplo, não conheço nada na religião islâmica que seja paralelo às bulas.Reconheço que nenhuma destas religiões é tolerante com determinadas práticas, hoje aceites na sociedade moderna, e de certa forma o papel do islamismo é pior pois faz da religião o tema central de estado, desde os estados mais fundamentalismos aos aparentemente "moderados"...Mas será que ao querer-se incluir na constituição europeia a referencia ao judaico-católico, não se estará a fazer o mesmo, duma forma mais "clandestina", passando por cima de constituições de Países que assumem cabalmente o seu laicisismo??
Para ilustrar determinados exemplos sobre algumas formas de desrespeito pelos cidadãos por parte de alguns "soldados" da igreja, vou contar uma cena que se passa quotidianamente à minha porta...
Moro numa aldeia e com uma igreja ao pé da minha casa...Durante o dia e noite ouço as horas do relógio da torre sineira, que de meia em meia hora debita de forma roufenha umas "avé-marias"...Nos dias de missa a população é chamada por uns sinos que tocam várias vezes ao longo do dia por períodos longos, atingindo décibeis muito acima de tudo que a lei prevê, e cumulo dos cúmulos, o padre faz a missa toda cá para a rua através de potentes altifalantes...
Instado pelo padre sobre este verdadeiro desrespeito pelos valores das pessoas, ele respondeu-me que era para que os que estão em casa ouvissem a missa...Não tenho nada quanto aos locais de culto, eu próprio gosto de os visitar pela arte e magnificência da sua arquitectura,adoro o silencio dos claustros,mas de facto acho que o local de culto é dentro dos templos e nunca obrigar as pessoas a tamanho exercício de obrigar a ouvir o que não se procura nem o que se deseja...A igreja não pode pactuar com situações deste tipo pois este desrespeito da lei e da constituição, só a prejudica aos olhos ...neste caso ouvidos...dos cidadãos!!

O JPS do Vaticano!






Este fio não foi feito para fazer julgamentos a nada, foi feito para se discutir de uma forma "suave" o enquadramento geral da Igreja na história recente da humanidade...Discutir João Paulo II seria desvirtuar o fio, pois ainda se encontra em funções e qualquer análise peca por não ter fundamentos documentais que possam provar se foi importante ou não a sua passagem pelo Vaticano.É óbvio que ao longo do fio foi citado por diversas vezes, mas para além do subjectivismo da opinião que cada qual possa ter da sua obra,ela será apenas isso pois do ponto de vista histórico a sua relevancia actual é pouco importante já que não há forma de se fazer elaborar nada com método e ciencia!! Eu tenho uma opinião sobre JP, mas não passa disso mesmo!!Os que o quiserem elogiar, não farão mais que um pangírico que a sua fé e a sua crença obrigam, mas sem relevancia na análise objectiva dos factos!! Quem o quiser denegrir fará o mesmo mas de forma contrária, e com os mesmos nulos resultados em termos de objectividade histórica, tendo em conta que a história é uma ciencia, com método e objecto próprio!!Há uma coisa pelo menos que não faria ao JP..seria beijar-lhe os pés,porque acho que a reverencia que se tiver de prestar a alguém deve ser olhos nos olhos, e não com gestos de quase humilhação. Sou também contra a "infalibilidade do Papa", pois entendo que ele é um homem, com defeitos e virtudes, aconselhado por homens, alguns deles com mais defeitos que virtudes, e por isso engana-se como todos nós iguais a ele...Os comuns dos mortais!!


O consulado de JP (Eu propositadamente não digo pontificado)não será relevante num futuro longíquo pois não promoveu um debate sobre a Igreja tendo em conta que no ultimo século tudo avançou a um ritmo vertiginoso, desde as tecnologias, aos sistemas políticos, às relações sociais e à modificação de valores e costumes.Teria sido importante um concílio que compatibilizasse a Igreja com tudo isso, e de facto pouco ou nada se fez na alteração dos conceitos...Os ultimos 40 anos (depois de VaticanoII) foram anos de grandes transformações e alterações e a Igreja continua ligada a conceitos que a tornam cada vez menos relevante na dinamica da sociedade como se prova na afluencia cada vez menor das pessoas aos templos nas sociedades mais desenvolvidas do planeta!!Um abraço

Fernando Pereira

Latinices que a SMI nos reserva!



De facto é saudável vermos que em determinadas religiões se procura alterar os procedimentos de forma a que possam acompanhar a evolução da história.
É relevante que isto tenha sucedido em Marrocos,pois o Islamismo é em todas as suas vertentes pouco disponível para mudanças abruptas nas suas concepções de base. Mesmo onde o islamismo já assume alguns foros de modernidade, como por exemplo em França onde 14% dos franceses são islâmicos, há um conjunto de princípios que sendo alterados, só com muita relutância são recebidos pela comunidade...E de facto a mulher no islamismo é colocada em situação de perfeita subserviência em relação ao homem e inerentemente à masculinização da sociedade!!Se tivermos em conta que nos Países islâmicos não há separação entre Igreja e Estado, ou melhor o Estado não é laico nem tão pouco se aceita uma sociedade laicizada, temos de admitir que poderemos esperar desenvolvimentos desagradáveis em Marrocos, o que de certa forma é preocupante, já que para além da Espanha,Marrocos é o país mais perto geograficamente de Portugal e o que maior importância teve na cultura ibérica...
Na análise que faço de certas coisas, e posso dize-lo que em algumas não estou muito seguro...acho que o islamismo com toda a dureza com que trata as mulheres, assume, assim como noutras coisas, menos hipocrisia que por exemplo a religião católica.
Para o quê vejamos...Na recente revisão do código dos ofícios da Igreja, a que preside o todo poderoso fascistóide Ratzinger,o homem que na hierarquia do Vaticano assume a importância de numero 2..entre várias alterações, já postas de lado por Vaticano II, e agora recuperadas numa cedência aos Lefébrianos, proíbe explicitamente as mulheres de darem missa (apenas lhes estava vedado o sacramento da comunhão), o que relega a mulher para um lugar inferior da Igreja, e que a sociedade vai acompanhando, sem que haja qualquer tipo de contestação por parte delas que são marginalizadas em muitas referencias bíblicas.
Por ora fico-me por aqui...e cumpre-me informar que o 1º livro da Bíblia foi escrito 200 anos depois da sua morte, o que revela que certas passagens foram empoladas q.b, dentro da lógica de que"quem conta um conto acrescenta-lhe um ponto", e que a proibição dos padres casarem, foi estabelecida quase mil anos depois.Importa referir que a Inquisição, um "MacCartismo" feudal fez desaparecer definitivamente muitas passagens da Bíblia, o que desvirtuou os fundamentos da Igreja de Pedro,já que foi esse apóstolo o primeiro a ter esse estatuto!!


21 de abril de 2007

Serviço Militar quase obrigatório


Meus caros
Não venho para aqui para disputas...Se as quisesse procurar bastava-me entrar em certos locais e dizer uma "frase assassina" e estava a coisa montada...Estou aqui para opinar e aceitar as opiniões, que na maior parte das vezes divergem das minhas...
Eu quando falei do canto IX dos Lusíadas não quis falar dos velhos do Restelo, que acho que está no canto IV, mas sim na descrição de certos actos pecaminosos, e daí a Igreja sempre ter olhado com enorme desconfiança a maior peça literária da língua portuguesa...
Vou-vos reproduzir uma coisa engraçada de um poeta português que poucos conhecem e que se chama Mário Henriques Leiria....
"Torah
Jeová achou que era altura de pôr as coisas no devido lugar.Lá em cima acenou a Moisés.
Moisés foi logo, tropeçando por vezes nas lajes e evitando o mais possível a sarça ardente.
Quando chegou ao cimo, tiveram os dois em conferencia, cimeira, claro.A primeira se não estou em erro.
No dia seguinte Moisés desceu.Trazia umas tábuas debaixo do braço.Eram a Lei.
Olhou em volta, viu o seu povo aglomerado, atento, e disse para todos os que estavam à espera:
-Está aqui tudo escrito. Tudo.è assim mesmo e não há qualquer duvida.Quem não quiser que se vá embora.Já.
Alguns foram
Então começou o serviço militar obrigatório, e fez-se o primeiro discurso patriótico.
Depois disso é o que se vê"

Um abraço
Fernando Pereira

O HIV é um castigo para as tentações do Demo?


Este texto e um conjunto deles são alguns que escrevi num site, donde fui expulso por "indecente e má figura", e donde consegui tirar o pouco do muito que escrevi. Naturalmente que muitas coisas estarão desinseridas, e pontualmente há aqui referencias que podem ser desajustadas, mas acho que seria intelectualmente desonesto copiar as intervenções de outra gente, sem autorização para isso...Convenhamos que na maioria das vezes os comentários ao que eu escrevia revelavam muito de pouco bom em termos de honestidade intelectual e nalguns casos a nescialidade era evidente...
O tempo disto foi entre 2003/2006


Meus caros..isto são pequenos exemplos para o debate, e alguns deles nem são da minha lavra.....O Conselho das Igrejas Sul-africanas declarou-se anteontem indignado com o apelo do Vaticano, revelado no dia 9 pela BBC, para que os católicos contaminados pelo vírus da sida renunciem ao uso do preservativo.
«Estou chocado e desgostado com a Igreja católica», afirmou o padre Joe Mdhlela, porta-voz do Conselho, referindo-se ao apelo do Vaticano contra o uso do preservativo, justificado por razões de índole moral.

Mdhlela sustentou que na perspectiva do SACC, incluindo os representantes da Igreja Católica que o integra, o Vaticano não está a tomar em consideração «as realidades do mundo». «Existem provas médicas indiscutíveis de que os preservativos podem ajudar a salvar vidas», sublinhou.

«A HIV/sida é uma pandemia, e a nossa convicção é tudo fazer para salvar vidas e conter a propagação da doença», acrescentou.

JP2 há 25 anos no cargo mais importante da ICAR, proclamou 476 santos e 1314 beatos enquanto os seus antecessores, todos juntos, se ficaram por 300 canonizações e 1310 beatificações.
Sabendo-se que a sua principal ocupação é rezar e dar conselhos sobre moral, fica-se estupefacto com a produtividade deste emigrante polaco que criou ainda 232 cardeais.
Se não fossem os esforços despendidos a combater o preservativo e a promover a castidade poderia ter ido ainda mais longe nesta onda de santidade.
Percorreu uma distância equivalente a quase 29 vezes a volta à Terra e quase três vezes a distância entre a Terra e a Lua, a promover a ICAR e a espantar o demo.
Apesar da avançada idade e do seu débil estado de saúde recusa a reforma e demonstra uma notável capacidade intelectual, continuando a distinguir a água benta da outra.
«O Estado também não pode ser ateu, deísta, livre-pensador; e não o pode ser, pelo mesmo motivo porque não tem o direito de ser católico, protestante, budista. O Estado tem de ser céptico, ou melhor dizendo indiferentista.»
(Sampaio Bruno, in «A Questão Religiosa», 1907)
Eu não sou detentor da razão,já aqui foi provado, e por pessoas que duma forma séria contestam as minhas opiniões...Gosto de debates...e que eles sejam protagonizados por pessoas com argumentos convincentes que me façam calar em determinada altura, o que prova que o debate está a ser conseguido com uma carga argumentativa assente em conhecimentos fundamentadamente científicos.
Não pretendo discutir ou beliscar a fé das pessoas, por muitas coisas que vá vendo e que não acredito...Eu suporto-me em factos históricos.
Acho que quem leu a minha introdução no fio sempre me ouvia falar de homens..Não falo de divindades, nem ataco a religião católica...Ataco pessoas que em determinados momentos se apropriaram da Igreja, essa sim, actor principal da história dos últimos dois mil anos!!
Não sei se leram o ultimo parágrafo da introdução ao fio onde elogio João 23, PauloVI,D. Helder da Camara, o Bispo de Nampula, podendo acrescentar D. António Ferreira Gomes, D. Eurico do Nascimento,"Os padres brancos" de Moçambique, Felicidade Alves,Mário de Oliveira,Cónego Manuel das Neves, Padre Joaquim Pinto de Andrade,Desmond Tutu e tantos outros que foram vozes incómodas da Igreja e dos regimes totalitários a quem a Igreja prestava subserviência.
Não peguei no Canto IX dos Lusíadas para ilustrar o que quer que fosse,não peguei em Alberto Caeiro (heterónimo de Pessoa) como 2menino desceu à terra", nem peguei nas versões de Alberto Pimenta para ilustrar o que quer que fosse!! Nem sequer fui ao ponto de pegar nos "Ballett Rose" descritos na Time em 1967.
Eu procurei criar um fio em que se discutisse,em que se tornasse possível saber que há gente que talvez não pense segundo determinados padrões quase comuns, e que se possibilitassem novos debates sobre coisas que são o nosso quotidiano, ou que de certa forma foram o nosso quotidiano...nalguns casos de mistificação histórica!!
Por exemplo alguém sabe quanto custou o reconhecimento papal pela independência de Portugal?? E quando Portugal pagou simultaneamente ao Papa de Roma e Avignon para que as fronteiras fossem determinadas,ao contrário do que fez Castela que só pagou ao Papa de Roma!!...Como foi a verdadeira conquista de Lisboa aos mouros???...São pequenos detalhes que importaria serem conhecidos, caso alguém quisesse!!
Porque é que a carta do achamento do Brasil de Pero Vaz de Caminha chegou a Portugal truncada???
Pequenos detalhes...e por tudo isso não vale a pena pegar nas palavras dos outros e desconstrui-las, vale a pena sim apelar a algum cartesianismo discursivo para podermos discordar no factual e não na pequena trica subjectiva, sempre mais fácil..mas que não leva a lado algum!!
Um abraço
Fernando Pereira

Vaticano


Este texto e um conjunto deles são alguns que escrevi num site, donde fui expulso por "indecente e má figura", e donde consegui tirar o pouco do muito que escrevi. Naturalmente que muitas coisas estarão desinseridas, e pontualmente há aqui referencias que podem ser desajustadas, mas acho que seria intelectualmente desonesto copiar as intervenções de outra gente, sem autorização para isso...Convenhamos que na maioria das vezes os comentários ao que eu escrevia revelavam muito de pouco bom em termos de honestidade intelectual e nalguns casos a nescialidade era evidente...
O tempo disto foi entre 2003/2006





Resolvi criar este fio, porque ao ver que religião era um tema pouco apetecível para a sanzala, eu poderia ser mal interpretado quando se põe em causa "o princípio da infalibilidade do Papa"...Portanto este fio é meu e escreve só quem quiser...Pode ser o jornal de parede do Vaticano, numa versão da "revolução cultural" chinesa ao "Observattorio Romano".
Bem sou João Paulo I...morri ao fim de um mês quando quis ver como funcionavam as contas do Vaticano, quem financiava, quem controlava, enfim pequenos pormenores que acabaram por me pôr a dormir definitivamente com a graça de eu por ser Papa nunca poder ser autopsiado, em circunstancia alguma...Mas graças a isso muitos antecessores meus baikaram, como se diz numa terra chamada Angola. A partir deste momento passarei a ser Torquemada...um santo, que só séculos mais tarde tive um sucessor com pedigree...Escrivá de Balaguer, um rapaz aliado de Franco (o tal que ergueu o Vale dos Caídos com prisioneiros republicanos, feitos escravos na ascensão por ilegitimidade democrática e força de apoios alemães, italianos e portugueses, no dealbar da 2ª guerra).O Balaguer foi beatificado por SS o Papa J.P.2.Continuando...Hoje sou SS o Papa e visito Timor Leste a 23ª província Indonésia, onde até parece que houve um raio de um bispo que foi Prémio Nobel da Paz, e que cumprimentei de soslaio!!Sou o Cardeal Cerejeira que assinou o Acordo Missionário, que foi anexado ao Acto Colonial, em que distinguia portugueses de 1ª , de segunda, assimilados e indígenas!!!Nem no campo da retórica eram todos iguais face à Igreja!!! Sou Pizarro ou Cortez, que a mando dos reis católicos de Espanha resolvi exterminar os pagãos dos Indios e Aztecas que queriam o ouro e a prata para divindades esquisitas, quando o Vaticano precisava tanto desse material. Sou o gestor do Banco Ambrosiano, estou exilado no Vaticano, porque ninguém percebeu que a fraude que fiz foi para apoiar os desígnios do Papa nas missões do mundo...o reino dos homens é cruel às vezes!! Sou Pio XII, e tenho umas fábricas de armas que vendo a Mussolini porque é boa pessoa e detesta os vermelhos!!Sou florentino de gema, sou Papa por vontade de Médicis e tive milhares de devaneios sexuais com muita mulher, até com a minha filha..meu apelido Bórgia!!Sou o Cardeal de Boston...um padre Frederico em versão americana..mas são todos bons rapazes!!
Mas também sou o Papa Paulo VI que recebeu Amilcar Cabral, Marcelino dos Santos e Agostinho Neto e fui a Goa quando em Portugal ainda estultamente se dizia que Goa, Damão e Diu eram portugueses. Sou o Cardeal Romero baleado pelos Somozistas na Nicarágua, sou Helder da Camara, sou o Bispo de Nampula...Afinal sou tanta e tanta coisa na história...Mau afinal sou eu..Fernando Pereira

8 de abril de 2007

Homenagem a Nuno Bragança 1929/1985





NUBO BRAGANÇA
A NOITE E O RISO

Os Vimioso e a Banda de Bucelas
Quando nas suas iras, o Rudolfo gostava imenso de bater. Arrumar um adversário despachável à primeira, nem pensar. Organizava as lutas de molde a chegar à última trancada nuns vagares, gourmet de sexo a retardar o orgasmo. Escolhia as vítimas a dedo, sem as estudar antes de lhes saltar em cima. Tinha a pontaria de quem se movimenta em função do puro instinto.
O homem de Bucelas mostrava-se uma presa ideal. Porque tinha agilidade e força, e era corajoso.
[...] Durante um naco de tempo, o Rudolfo foi demolindo o outro, camponesa de bons dentes absorvendo um cacho de Ferral
Os bucelenses extra-banda, estarrecidos, não tinham receita apropriada. De cada lado dos contendores(1) , uma fila de tocadores de Banda desfilava, narizes no papel pautado.
Foi um saxofonista quem virou a página. Ao ver o sucedente, passou o instrumento ao companheiro de trás. Atravessando tudo e todos numa implacabilidade de furão em rasto certo, chegou-se ao Zé-Rudolfo e deu-lhe uma na nuca com o talhe da mão.
O Rudolfo fez plaff no asfalto, como um sapo despejado do sétimo andar. «Este é músico», disse o Simão, olhando o saxofonista atenciosamente, nuns carinhos. Após o que, chegou-se a ele e foi-lhe às ventas, com o sorriso duma Madre Superiora afagando noviça que promete.
A intervenção do [Simão] C. C.: copo de gasolina entornado em chama de caruma. Num já-está, a selecção de Bucelas e o meu grupo defrontaram-se num vale-tudo incluindo instrumentos musicais servindo de matracas. Para os polícias, que andavam pela orla dos passeios de cacetete em erecção constante, esta oportunidade de molhar a sopa em nova frente foi éclair de chocolate à mão de uma madame.


Nuno Bragança, A noite e o riso

7 de abril de 2007

Cooperação

2ºS Jogos da África Central





Comissão Organizadora dos 2ºs Jogos da àfrica Central,em scanner do documento oficial dos jogos.
Participaram os seguintes países, distribuídos por 8 modalidades colectivas e 7 individuais: Angola,S.Tomé e Princípe, Gabão, Zaire, Congo, Gabão, Burundi, Rwanda,Camarões, Tchade,Guiné Equatorial e Republica Centro Africana.
Para que conste fui com muita honra adjunto de um ilustre homem do desporto angolano, probo, bom amigo e afinal que é um dos muitos que merece uma Angola melhoradamente diferente...José Rocha Sardinha de Castro.

Fernando Pereira
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