8 de maio de 2007
Entre em Sena quem é de Jorge de Sena
A talhe de foice...
Jorge de Sena observou um dia: "O nosso mal, entre nós, não é sabermos pouco; é estarmos todos convencidos de que sabemos muito. Não é sermos pouco inteligentes; é andarmos convencidos que o somos muito".
Engenheiro civil e escritor de fim-de-semana, primeiro, depois no exílio voluntário, professor na área das humanidades e escritor a tempo inteiro. Como tantos outros, recusou viver numa sacristia de 92.391 Km2. Abdicou de viver numa pátria povoada de sombrios contentinhos suficientemente «reaccionários» e suficientemente «dos nossos». Partiu com apoquentação de não poder pensar e dizer livremente. Leccionou, escreveu muito, imenso e fabulosamente. Viveu nos Estados Unidos até ao epilogo de 1978.
Homem atento, conheceu e pensou maduramente os americanos. A talhe de foice roubo-lhe um poema lucidamente recidivo.
Ray Charles
Cego e negro, quem mais americano?
Com drogas, mulheres e pederastas,
a esposa e os filhos, rouco e gutural,
canta em grasnidos suaves pelo mundo
a doce escravidão do dólar e da vida.
Na voz, há sangue de presidentes assassinados,
as bofetadas e o chicote, os desembarques
de «marines» na China ou no Caribe, a Aliança
para o Progresso da Coreia e do Viet-Nam,
e o plasma sanguíneo com etiquetas de blak e white
por causa das confusões.
E há as Filhas da Liberdade, todas virgens e córneas,
de lunetas. E o assalto ao México e às Filipinas,
e a mística do povo eleito por Jeová e por Calvino
para instituir o Fundo Monetário dos brancos e dos louros,
a cadeira eléctrica, e a câmara de gás. Será que ele sabe?
Os corais melosos e castrados titirilam contracantos
ao canto que ele canta em sábias agonias
aprendidas pelos avós ao peso do algodão.
É cego como todos os que cegaram nas notícias da United Press,
nos programas de televisão, nos filmes de Holywood,
nos discursos dos políticos cheirando a Aqua Velva e a petróleo,
nos relatórios das comissões parlamentares de inquérito,
e da CIA, do FBI, ou da polícia de Dallas.
E é negro por fora como isso por dentro.
Cego e negro, uivando ricamente
(enquanto as cidades ardem e os «snipers» crepitam»
sob a chuva de dólares e drogas
as dores da vida ao som da bateria,
quem mais americano?
Jorge de Sena
1964
Portugal foi governado pela demência durante quase quarenta anos...Um rato de sacristia,com uma governanta e com galinheiro no quintal, marcou a mentalidade de gerações,que de certa forma se perpetuam no tempo...Em Angola e em Portugal temos os resquícios mentais e materiais do que foi a insanidade de tanta letargia e água benta na resolução dos problemas políticos...Num século, quarenta anos de governo intolerante, num que já era atrasado em relação à Europa, deixou marcas profundas na sociedade e nas pessoas...Ainda hoje o recurso ao padre para inaugurar o que quer que seja em estados laicos, surpreende...é essa uma herança a todos os títulos má...Mas isso sucede em Portugal e em Angola...Vou dar um pequeno exemplo!!
Em 2000 inaugurou-se em Benguela a clínica de S. Filipe,a 1ª unidade privada da província, construída de raiz,bem equipada, etc.,etc. Eu era um dos proprietários e um dos animadores do projecto, e aquando da inauguração os meus sócios quase que me "exigiram" que o bispo fosse a figura quase central da inauguração...
Eu barafustei, mas fui vencido na discussão, e no dia da inauguração lá veio o bispo de Benguela e o acólito fazer as suas récitas e a aspergir o báculo sobre todas as divisões da clínica...eu só recomendei que ele deitasse a água benta ... (impublicável)
Como se vê esta velha prática fica perpetuada no tempo..e mantemos a política da ratice de sacristia nas práticas...em Estados laicos e de tolerância religiosa
Fernando Pereira
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