DE OLHO NELES
“Por
trás de todo o paladino da moral, vive um canalha”
Nelson
Rodrigues
Aí temos o tempo dos Santos
Populares. Confesso que despercebo quais são mesmo os santos impopulares, ou
melhor terei percebido em parte pela votação no Pedro Nuno Santos!
Este
ano para além dos santos populares vão aparecer os andores de indivíduos (as)
que se querem afirmar resolvedores de todos os problemas nas urbes pelo País
todo. Vai ser um fartar de febras, entremeada, imperiais em copos de plástico,
vinho de qualidade duvidosa, e sorrisos em barda para tentar agradar a gregos,
troianos e beócios!
Para
abrilhantar o período vão aparecer uma parafernália de candidatos presidenciais
de todos os tamanhos, cobertos de ética e sobretudo “assumidores” convictos da
defesa de uma Constituição da República que muitos não conhecem. Mas começa a
ser o quotidiano dos atores da política espetáculo a que nos fomos ambientando
nos últimos anos. “O essencial é invisível aos olhos” Saint Exupery
Vamos
ter festa redobrada e a sensação que teremos tudo resolvido. Como diria alguém,
“não há nada tão monótono como a perfeição”!
Como o
Verão se aproxima, vamos aligeirar as vestes e tentemos voltar a irritar-nos
com coisas pequenas para ficarmos um pouco mais confortáveis.
Uma das
coisas que mais me “perplexam” é o facto de quando há uma alteração
significativa do quotidiano dos portugueses a primeira reação é uma corrida
desenfreada ao papel higiénico. Sinceramente gostava que me explicassem este
assalto às prateleiras dos supermercados. Desculpem a brejeirice, mas o
português parece que perante uma situação anómala gosta do olho limpo!
Verdadeiros herdeiros do “semiótico” Camões!
Esta
história do papel higiénico faz-me lembrar uma conversa com um velho amigo
português que se manteve em Angola depois da independência. Eu tentava
mostrar-lhe as virtudes da revolução, do que então se chamava, “trincheira
firme da revolução em África” e ele calmamente ouvia-me e rematou uma vez com
esta: Enquanto Angola não resolver o problema donde entra e donde sai não há
revolução que aguente. Falava disto pela falta quotidiana de pão e papel
higiénico nas lojas estatais então criadas no dealbar da revolução.
Uma
outra coisa que me irrita é encontrar as pessoas nos supermercados a abrir
tampas de detergentes, amaciadores, sabonete líquido e correlativos para
cheirarem e depois fecharem mal, para o cliente seguinte ficar com as compras
cheias de produto no saco. Que sagradas pituitárias que tanto mal vão fazendo.
Hoje é
uma crónica leve, ao saber do sol num Portugal que em certos casos foi bem
definido por José Cardoso Pires no Alexandra Alpha: “Isto não é um País, é um
sítio mal frequentado”.
Fernando Pereira
6/6/2025